quinta-feira, 3 de julho de 2014

As regras, o zen, o tempo



 (continuação)
Bom, a prática espiritual é constituída dessas coisas. Aumento da nossa consciência e aumento da percepção dos outros, o que acontece com os outros, como os outros sentem. E quem sou eu realmente como eu sinto, ao invés de fugir do mundo, tentando escapar para o mundo dos deuses ou para o mundo de obscurecimento, porque quando eu bebo, eu não tenho mais clareza. Agora quando eu sento e procuro a lucidez, aí sim a lucidez pode aparecer. Mas ela não pode aparecer com o uso de substâncias que alterem a consciência. Então nós temos cinco regras básicas, para o praticante leigo budista.

Começamos com cinco regras, depois, quem faz votos, tem que fazer 16. Antigamente as regras para monges chegavam à casa das centenas. Mas essas são regras do antigo Vinaya que como eu disse para vocês, para o Zen, hoje, não interessam, porque havia regras como por exemplo a de que um monge não devia falar com mulheres e se falasse não podia mostrar os dentes. Então são regras daquele tempo, regras de ascetismo. Outra é que os monges não podiam comer depois do meio dia, então todos os dias do meio dia em diante, jejum. Aí de noite eles tinham muita fome, na China, nas montanhas, era muito frio, então eles esquentavam pedras e colocavam em cima do estômago, para passar a dor e a fome, até que os mestres abandonaram o Vinaya, nas reformas do Zen e inventaram uma refeição da noite que não existe. Ela não existe porque ela não está nas regras antigas, então a gente não faz cerimônia nenhuma no retiro. Agradece, pega a sopa e come. A essa refeição da noite chama-se “pedra quente”. Evidentemente as mudanças trouxeram problemas novos, como uma independência dos monastérios em relação às comunidades leigas, e o envolvimento dos monges com atividades de trabalho remunerado que os foram tornando algo como os leigos. Assim, do mesmo modo que as tradições antigas congelaram visões primevas as regras novas foram afrouxando os laços, é difícil dizer qual o melhor caminho, então é melhor que estas opções convivam para diferentes tipos de pessoas.

 Quando a gente vê as tradições e as explicações, observamos o que surgiu durante este longo tempo  hoje, há um Mestre Zen vietnamita que está na França, chamado Tich Nhat Hahn, e ele escreveu de novo as regras, inserindo regras para computador, regras para entrar nas redes sociais, etc, como é que um monge tem que agir na sua linhagem. O mundo está constantemente mudando e nós temos que mudar junto com ele.


PERGUNTAS

Pergunta – O Senhor ia falar das 5 regras, quais são elas?

Monge Genshô:

Não matar;
Não roubar;
Não enganar;
Não usar a sexualidade de forma imprópria de forma a causar sofrimento;
Não usar drogas que alterem a consciência.

Todas essas regras têm lados relativos que você tem que olhar. Na verdade se diz “não matar”, mas, nós não vivemos sem matar. Até para cultivar plantas você mata animais na terra. Nós não vivemos sem causar sofrimento, então, tudo que nós podemos é minimizar, diminuir o sofrimento que nossa existência causa. Assim, o sofrimento inútil deve ser evitado. O praticante budista tem que olhar se esse sofrimento é necessário.