quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O amor ilimitado



 (continuação da palestra de Ven. Dhammadipa)
A próxima parte do sutra explica que todos os seres estão inclusos, não há possibilidade de exceções. Quando pratica-se o verdadeiro amor, você deve estender seu objeto a todos os seres. Quebrando a barreira entre você e o próximo, entre você e aquele de que gosta, entre você e aquele que não gosta e entre você e aquele que você é indiferente. Você deve ver todos os seres em um e um ser em todos. Este é o significado do amor como um incomensurável. Quando você abre seu coração, ao mesmo tempo abre sua mente. Uma mente limitada significa sentimentos limitados, como uma mente ilimitada significa sentimentos ilimitados. De fato, todas as fronteiras da mente estão conectadas às fronteiras dos sentimentos. Pelo fato de nos apegarmos ao prazeroso e termos aversão ao não prazeroso, nossa mente torna-se limitada.

A fim de reverter essa tendência, que é a causa do sofrimento, Buddha ensinou amor ilimitado, compaixão ilimitada, alegria ilimitada e equanimidade ilimitada. Como o amor torna-se ilimitado? Na medida em que você observa um ser em todos e todos em um. Este é o segredo do amor ilimitado, que está fundado na sua determinação de desejar o bem a todos os seres. Este é o verdadeiro significado da amizade. O amor no budismo é apresentado como amizade. Você sabe porquê? Porque o verdadeiro amigo é aquele capaz de sacrificar-se pelo próximo. Este é o significado do amor genuíno, quando nos tornamos capazes de louvar igualmente todos os seres. Com isso, você torna-se amigo de todos os seres. O Buddha explica em outros trechos, o amor como não enganar seus amigos. Ele explica que a virtude mais importante no sutra do amor está relacionada a ser direto. Quando você é direto com os outros, será capaz de amá-los, bem como a si. Somente assim será capaz de beneficiar-se nos outros. O desejo que os outros sejam felizes é o desejo de beneficiar-se nos outros. Isso também está vinculado à tolerância. Quando alguém ama, possui tolerância. E o Buddha explica que não há nada mais elevado que a tolerância. Portanto, é assim que pratica-se a tolerância: você deve desejar que todos os seres estejam a salvo e sejam felizes.

E quem são todos os seres? Ele explica “Ye keci pānabhūtatthi, tasā”, não importa se são grandes, médios ou pequenos. Até os seres microscópicos, invisíveis. Os seres que não podemos ver são muito mais que aqueles que podemos ver. De acordo com o Budismo, temos em nosso corpo 8000 famílias de diferentes organismos microscópicos. Todos eles devem ser incluídos. Até quando estamos escovando os dentes matamos alguns organismos microscópicos, por isso devemos fazê-lo com amor. Não importa se estão longe ou perto, se são visíveis ou invisíveis, todos devem ser incluídos em seu amor. Mesmo aqueles em processo de nascimento, todos esses devem ser incluídos em seu amor. A seguir, vale lembrar que tais desejos e, de fato, a prática do amor compassivo devem ser ativos, não só passivos. Buddha explica que não se deve enganar o próximo, rebaixar o próximo. Devemos sempre ter a mais alta estima por todos os seres. Devemos sempre desejar que nenhuma resistência, ódio e aversão surja na mente de nenhum ser.

Então tem-se uma comparação muito famosa, que vocês já devem ter ouvido. Buddha diz que, tal como a mãe protege com a vida seu único filho, assim devemos estender nosso cuidado a todos os seres. Devemos estender esse cuidado nas quatro direções, aonde quer que tais seres estejam, sem impor nenhuma resistência. Há um sutra na coleção dos discursos “médios”1 que alguns podem achar um exagero, mas demonstra uma importante atitude. É o sutra da “Analogia da Serra”2. Buddha supõe que houvesse dois homens fortes com uma serra e que tais homens tentassem cortá-lo ao meio. Caso surja qualquer resistência ou aversão para com eles, Buddha diz que você não é um discípulo dele. Então, podemos achar um pouco difícil nos tornarmos discípulos de Buddha, mas não tomem isso literalmente. Buddha apenas quer mostrar a importância da não-resistência. A não-resistência é, de fato, uma das mais nobres forças. Aquele que obtiver tal força terá sucesso em tudo. Portanto, o modo de obtê-la está explicado exatamente neste sutra. (continua)