quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Os portais do Dharma são incontáveis



 (continuação da palestra)
Monge Genshô:  De frente para a parede, o que apareceu? Se interrogarmos um a um, vão aparecer várias histórias e mil pensamentos diferentes.

Mas o que é a melhor coisa de todas quando estamos sentados? É o que chamamos de samadhi. Samadhi é concentração real. “Eu estou sentado aqui agora, ouvindo o som do ventilador e mais nada”. Eu não saio daqui nem um segundo, não penso em outra coisa, eu ouço o som do ventilador, eu percebo os sutis movimentos em volta de mim. O colega do lado faz um pequeno movimento, eu percebo. Eu sei. É como se eu tivesse vendo a sala toda, não tenho olhos atrás da minha cabeça mas eu estou “vendo” de alguma forma, eu sinto o meu coração pulsando, e o sangue correndo. Eu sinto isso. Isso é estar realmente estar no momento presente.

Alguém sentiu seu coração pulsando?

Aluna – eu senti, mas foi tão intenso, que me deu medo.

Uma sensação comum é o medo. Mas não tem porque sentir medo. Temos que perguntar assim: “De onde vem esse medo? De quê eu tenho medo?” Você também pode sentir medo de uma grandiosidade que surge na sua frente e que é uma coisa que você não esperava. Um tempo infinito, um vazio, não sou eu, é algo mais, e esse expandir-se da consciência causa medo, porque nós estamos muito acostumados a viver agarrados na nossa identidade, ela “parece” uma âncora sólida, tranquila.  Então você pode se sentir assim, mas quando sentir qualquer medo, olhe para dentro de si e pergunte de onde vem , é originado de quê? Eu tenho medo que aconteça o quê? Então você pode olhar para  dentro e ver de onde vem.

Essa é uma grande oportunidade, porque nós temos portais, os “Portais do Dharma”, você abre uma porta, libertou-se daquele medo, passa para o espaço seguinte. Mas, tem outra porta. Você obteve determinada sabedoria, quando vê, tem outra porta. E se você passa para o outro lado, tem outra porta. Por isso um dos votos de Bodhissttva diz: “os portais do Dharma são incontáveis, faço o voto de atravessá-los todos”.

Você atravessa e cada pessoa tem uma experiência sutilmente diferente, e o processo de insights é diferente para cada pessoa. Mas se você consegue, durante o zazen, permanecer em samadhi, então, a sua mente ganha uma condição, como se fosse um terreno que nós aramos, tiramos a terra, tiramos raízes intocadas, e amaciamos a terra, adubamos, é isso que fazemos no zazen. Você prepara, prepara, prepara, está jogando pedras fora, acha outro pedregulho, vai jogando e aí sua terra vai ficando pronta. Sua terra ficando pronta nela podem ser plantadas coisas e podem ir nascendo frutos saborosos. Então samadhi é “preparação”. O zazen, todo ele é preparação. É raro que a iluminação aconteça num zazen, é mais comum que você tenha experiências iluminadas fora do zazen, numa caminhada, abrindo uma janela, regando uma planta, lavando pratos, etc. (continua)