sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Como foi sua vida anterior



Aluno: Mas se não a continuidade para que me esforçar?

Monge Genshô: O que disse que não continua?

Aluno: O eu

Monge Genshô: Perfeito. Disse que o eu não continua, mas não disse que não há continuidade. Você olha para o mar e vê uma onda, se movimentando no mar. Se você botar uma rolha aqui, quando a onda passar, onde está a rolha? Ela estará no mesmo lugar. Só sobe e desce. O que passou no mar foi uma onda de energia. A água não se deslocou, só subiu e desceu. A mesma coisa acontece quando estou falando. Vibro o ar aqui, mas minha voz não tem nada que saiu concretamente daqui e foi até aos ouvidos de vocês. Vibro moléculas de ar que vibram outras, outras, outras e essas ondas sonoras chegam aos seus ouvidos. Eu não mandei nada. Só mandei movimento. O que sobrevive? O movimento, não a identidade. O que estou dizendo então, na verdade, é que existe continuidade de vidas. Posso dizer que você teve outras vidas  passadas. Mas o seu eu não passou de uma vida para a outra. Porque, você já percebeu aqui, já concordou que o eu é uma construção baseada em memórias. Então o eu dessa vida é diferente do eu anterior. Mas você é continuidade de movimento anterior como essa onda é continuidade da onda que estava logo atrás. É visível, mas não é uma entidade de matéria e sim um movimento. Como chamamos isso? Chamamos de carma.

O que nasce? Carma. Não é um eu que carrega carma. Para o budismo, o carma faz surgir identidades. Por isso posso dizer para uma pessoa daqui como vai ser sua vida futura. Alguém quer saber como foi sua vida passada?

Aluno: Sim

Monge Genshô: Igual a de agora, pois o carma é o mesmo. É a mesma vida. Era o mesmo carma, mesmo tamanho de onda, mesma intensidade, mesma velocidade, mesmas características. É a mesma onda passada! Para que mude a sua vida tem que mudar o seu carma. Tem que mudar as energias que constituem a sua onda. E como mudamos as energias que constituem nossas ondas? Mudando as nossas ações, pensamentos, palavras, ações. Se você mudar, muda o carma. E aí a vida muda. Não precisa ser a próxima, essa mesma vida muda. A gente pega uma pessoa que começa a praticar budismo e não precisa virar monge, a vida muda. Você vai vendo a vida mudando, mudam os interesses, muda o lugar que a pessoa se sente bem, muda o assunto que a pessoa fala, mudam os sonhos. Vai mudando o carma.


Carma significa ação. E tem uma outra palavra importante na questão do carma que é vipaka. Vipaka significa fruto. Então carma vipaka significa fruto da ação. Normalmente quando as pessoas dizem “meu carma” estão se referindo aos frutos do carma, a carma vipaka.