sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Que bom que esquecemos do passado



(Continuação) Nosso problema não é o registro do passado, mas o acesso a ele. Como acessar? Seria impossível para nós vivermos, se nós rememorássemos toda a nossa vida em seus mínimos detalhes e por isso o esquecimento é necessário. Há um conto de Jorge Luis Borges, no livro Ficções, que chama-se Funes, o memorioso. Funes é um indivíduo que lembra cada mínimo detalhe de tudo que aconteceu em sua vida. Cada árvore, cada posição de pés das pessoas, cada palavra dita, cada expressão, tudo. E tudo está presente na mente dele em todos os momentos, então Funes tem que se isolar num quarto escuro e a cabeça dele não para, porque tudo está presente a todo momento. Parece zazen, não é? Então, o esquecimento na verdade é uma benção, é bom que o tenhamos . Todos nós já fomos covardes, abjetos, mentirosos, desonestos, em algum momento. Que bom que esquecemos para podermos viver novamente. (Continua)