Então
de que trata o primeiro passo? O primeiro passo apresentado por Buda diz
respeito a uma profunda compreensão das Quatro Nobres Verdades, ou seja, que a
vida é cíclica, insatisfatória, cheia de altos e baixos, alegria, tristeza,
riqueza, pobreza, amor, abandono, desilusão. Isto é característica da própria
vida. Por isso a vida é chamada de Dukkha, que não quer dizer “sofrimento”, mas
sim ser cíclica, insatisfatória, sempre assim. E a declaração de que isso tem
uma causa e esta causa é o apego, o agarramento, a ignorância, que nos faz
querer que as coisas sejam permanentes em um mundo impermanente.
E a quarta
declaração é a de que se existe uma causa, ela pode ser removida. Portanto, os
sofrimentos com a insatisfatoriedade da vida podem ser eliminados com uma
Compreensão Correta de como eles funcionam. Então, nós temos que entender com
clareza que tudo é impermanente, que nada será estável. Temos que saber que nós somos jovens em
um dia e velhos no outro; que se nós nascemos, nós morremos; que todos os
nossos entes queridos vão um dia morrer.
É necessária essa visão com clareza de que não
existe algo com uma eternidade ou uma alma que nos permite sobreviver com nosso
"eu" tão amado a qualquer circunstância.; que não existem deuses lá fora para nos
socorrer e que não adianta fazer orações pedindo coisas para ninguém, nem para
Buda, porque Buda morreu também. Está extinto.
Essa Visão Correta, essa
visão que não cede às ilusões, é uma tremenda desconstrução que faz com que
muitas pessoas se sintam chocadas quando conhecem o zen budismo. E o choque existe porque você
está acostumado a ter bengalas para apoiar a fé, as crenças, e quando você vem
até o budismo, as suas bengalas são retiradas, e de repente você não tem no que
se agarrar. E mesmo se você tenta se agarrar no professor, ou em um mestre, ele
recusa isso, diz que não; diz que não tem as respostas que você quer e que quem
pode resolver seus problemas é você. O máximo que ele pode falar é sobre um
método para que você tenha clareza e se livre das crenças, das superstições e
ilusões.
(continua)
[N.E.: transcrição de trecho de palestra realizada pelo Monge Genshô Oshô, em novembro de 2016]