segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Errado não, Diferente


Quando nós nos sentamos para fazer cerimônia de oryokis, vocês receberam instruções, então aprenderam as regras. Quando você está fazendo, você esquece de determinada instrução e: “ah, me esqueci”, e fica chateado. Alguém até pode olhar e dizer “aha, errou!”, ambos estão loucos. Alguém pode chegar para mim e dizer: “Sensei, o senhor não vê que está fazendo errado?”. É como diz Saikawa Roshi, quando alguém diz: “o senhor não viu que no ritual fulano fez assim e está fazendo errado”, ele diz: “errado não, diferente”. Diferente, é o que ele tenta ensinar. Esse conceito de errado e certo, aplicado sobre essas coisas não tem o menor sentido. Sim, as regras foram criadas para seguir e fazer o procedimento de determinada forma para que você fique atento a ela, mas se você achar que essas formas são o verdadeiro, o certo, alguma coisa transcendental que os Mestres do passado ensinaram, você está louco, porque não foi nada disso.

Eu posso chegar no próximo sesshin e dizer assim: “não vamos mais fazer isso, vamos fazer assim, diferente”. Pronto, agora o certo é o novo e o antigo, que era certo, não é mais certo. Isso é constantemente feito dentro do Zen pelos Mestres e alguns Monges ficam bravos, porque estão burlando as regras, estão modificando, mas nada é fixo. Apareceu até um movimento no Japão dos que queriam retornar à prática exatamente como era no tempo de Dogen, 800 anos atrás, que diziam: “você tem que entrar por aquela porta assim, e tem que entrar de lá, e não de cá, tem que ser de tal e tal forma, porque esta era a maneira que Dogen fez”. Só que Dogen veio da China e trouxe métodos de lá e modificou. Tettsu Gikai também modificou. No passado mais remoto ainda, lá pelo ano 800, Pai-Chang, em japonês Hyakujo, mudou as regras para os mosteiros. Se você ler as regras antigas do tempo de Buda, os Monges não cozinhavam, era vedado aos Monges fazer qualquer coisa, eles tinham que mendigar comida pronta. Se a comida não lhe fosse dada, eles não iriam comer, porque eles não podiam amanhar a terra, cultivar, plantar, colher, cozinhar, não podiam fazer nada disso. Está lá nos Sutras no tempo de Buda, no Vinaya, mas quando o budismo chegou na China e o Zen teve que ir para as montanhas, houve perseguições e os Monges tiveram que fazer sua comida senão morreriam. Aquela prática da Índia não era era possível lá.

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]