Um texto diz assim:
porque existe o inominado, o inconcebível, o não-nascido, e porque existe o não
nascido, é por isso que pode existir tudo. Normalmente nós chamamos esse
inominado, esse inconcebível, de vazio. E usamos “n” metáforas para explicar o
vazio. Por exemplo, todo mundo já deve estar cansado de ouvir sobre “nós somos
ondas na superfície de um oceano”; nós somos ondas cármicas, o oceano é, nessa
analogia, o vazio. Em sânscrito, shunya. O vazio só se manifesta como forma.
Quando você olha o vazio, você só pode ver o vazio quando ele se manifesta como
formas, então você olha para esse oceano e vê a superfície do mar e as suas
ondas. Se você retira toda a superfície do mar e todas as ondas, o que tem
embaixo? Água. Como a água se manifesta? De novo, com ondas, irregularidades,
etc. E se você retirar essa superfície de novo, vai ter a mesma coisa embaixo
que só se manifesta daquela forma. Então o Sutra do Coração trata desse assunto
e ele diz: “O vazio é forma e a forma é o próprio vazio. O vazio nada mais é do
que forma. E a forma nada mais é do que vazio.” O vazio é aquilo que o Sutra se
refere como inominado, inconcebível, aquilo que não pode ser nomeado, por isso
dizemos que é vazio. Mas não é vazio no sentido de “nada”.
Eu já vi budistas
dizerem: “A ciência está provando que tudo é vazio”. Isso é uma incompreensão
profunda daquilo que nós estamos nos referindo como vazio. Eu sei que os átomos
são praticamente 99,99% de vazio. É tão vazio, tão vazio, que um neutrino, uma
partícula de neutrino, passa através de toda a Terra e sai do outro lado sem
bater em nada. Alguns raros neutrinos, da chuva de neutrinos que passa através
de nós, bate em algum núcleo atômico e então nós os podemos identificar. Para
ver um neutrino você tem que fazer uma piscina no fundo de uma caverna, para
identificar alguns lampejos de neutrinos que por acaso bateram num núcleo
atômico, porque nem notamos quando um neutrino passa através de toda a massa da
Terra e sai do outro lado sem bater em coisa alguma, tão vazia é de matéria, e
tão vazios de matéria são os átomos. Mas isso não tem nada a ver com o chamado
vazio budista que nós estamos usando. Então essa palavra, o vazio budista,
também é uma palavra que confunde na nossa tradução.
(Continua)
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