O Pico da Montanha é onde estão os meus pés.
Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas.
domingo, 14 de outubro de 2018
Amados usuários do Blog "O Pico da Montanha".
De forma a termos um contato mais integrado e homogêneo com aqueles que buscam o Dharma e os ensinamentos budistas, migramos o conteúdo deste blog para o site do Daissen Ji:
O blog pode ser encontrado em https://www.daissen.org.br/blog
O blogspot (este site) não receberá mais conteúdo novo.
O novo blog possui um layout mais moderno, e permitirá o uso de ferramentas de design mais atualizadas. A busca de artigos a partir de dispositivos móveis também é possível agora.
Estamos sempre buscando novos meios e ferramentas para disseminar e tornar disponíveis os ensinamentos de Buda.
Gratidão a todos que nos acompanharam ao longo desses anos. Esperamos que gostem do novo site.
Daissen Ji
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Sobre o Vazio (Parte 01)
Um texto diz assim:
porque existe o inominado, o inconcebível, o não-nascido, e porque existe o não
nascido, é por isso que pode existir tudo. Normalmente nós chamamos esse
inominado, esse inconcebível, de vazio. E usamos “n” metáforas para explicar o
vazio. Por exemplo, todo mundo já deve estar cansado de ouvir sobre “nós somos
ondas na superfície de um oceano”; nós somos ondas cármicas, o oceano é, nessa
analogia, o vazio. Em sânscrito, shunya. O vazio só se manifesta como forma.
Quando você olha o vazio, você só pode ver o vazio quando ele se manifesta como
formas, então você olha para esse oceano e vê a superfície do mar e as suas
ondas. Se você retira toda a superfície do mar e todas as ondas, o que tem
embaixo? Água. Como a água se manifesta? De novo, com ondas, irregularidades,
etc. E se você retirar essa superfície de novo, vai ter a mesma coisa embaixo
que só se manifesta daquela forma. Então o Sutra do Coração trata desse assunto
e ele diz: “O vazio é forma e a forma é o próprio vazio. O vazio nada mais é do
que forma. E a forma nada mais é do que vazio.” O vazio é aquilo que o Sutra se
refere como inominado, inconcebível, aquilo que não pode ser nomeado, por isso
dizemos que é vazio. Mas não é vazio no sentido de “nada”.
Eu já vi budistas
dizerem: “A ciência está provando que tudo é vazio”. Isso é uma incompreensão
profunda daquilo que nós estamos nos referindo como vazio. Eu sei que os átomos
são praticamente 99,99% de vazio. É tão vazio, tão vazio, que um neutrino, uma
partícula de neutrino, passa através de toda a Terra e sai do outro lado sem
bater em nada. Alguns raros neutrinos, da chuva de neutrinos que passa através
de nós, bate em algum núcleo atômico e então nós os podemos identificar. Para
ver um neutrino você tem que fazer uma piscina no fundo de uma caverna, para
identificar alguns lampejos de neutrinos que por acaso bateram num núcleo
atômico, porque nem notamos quando um neutrino passa através de toda a massa da
Terra e sai do outro lado sem bater em coisa alguma, tão vazia é de matéria, e
tão vazios de matéria são os átomos. Mas isso não tem nada a ver com o chamado
vazio budista que nós estamos usando. Então essa palavra, o vazio budista,
também é uma palavra que confunde na nossa tradução.
(Continua)
(Continua)
segunda-feira, 24 de setembro de 2018
O Movimento Mahayana (Parte 03)
Daí surge um Sutra muito importante que
é o Sutra de Vimalakirti, que é sobre um comerciante. Esse é um Sutra do Séc. I
e marca o momento em que o budismo mahayana se distancia do movimento anterior,
porque transforma em herói, em iluminado, em melhor que os monges, um
comerciante. O Sutra diz que todos podem ser Bodhisattvas, inclusive os
deputados, senadores, etc. Se quiserem, se tiverem a conduta adequada podem ser
Bodhisattvas e beneficiar todos os seres. Não é intrínseco ao papel de leigo
uma dificuldade, mas o que importa é a sua atitude.
Vimalakirti diz aos discípulos de Buda:
“meu mosteiro é na cidade, o seu é na montanha, mas o meu é lá onde estão as
pessoas que precisam de dinheiro e de comida, é lá que eu trabalho”. Ao fazer
isso, ele acusa implicitamente os discípulos de Buda, os monges, de serem
parasitas sociais e de estarem apenas recebendo da comunidade sem alimentá-la,
sem retribuir a ela com o seu trabalho, o que é diferente do que ele faz. Esse
é o grande momento do Sutra.
Então é um Sutra combativo na sua
declaração, e depois dele vem uma conciliação, através do Sutra do Lótus, que
tenta acalmar essa situação dizendo que os monges têm um papel, que os leigos
têm outro papel e que nós podemos conciliar isto. Esse Sutra também se torna
muito importante dentro do movimento mahayana.
A essência de tudo isso que estamos
falando é de que a prática budista é possível dentro do mundo, dentro do
trabalho, e isto é uma marca da nossa própria comunidade budista Daissen-Ji,
porque eu mesmo, que a fundei, ainda trabalho hoje. Trabalho como monge e
trabalho como consultor de empresas para poder viver, então não vivo do que a
sangha dá, e sim baseio a minha sobrevivência num trabalho profissional. Estou
inserido no mundo, então o nosso modelo é o de Vimalakirti, esse grande
personagem deste Sutra histórico.
Ao mesmo tempo, nós tentamos conciliar
o trabalho dos monges com o trabalho dos leigos, que é um trabalho
importantíssimo, porque sem os leigos nós não conseguimos fazer as sanghas
funcionarem. Os monges são muito poucos dentro de um modelo como esse e isso
exige um enorme sacrifício, que é o de trabalhar duplamente.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]
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