terça-feira, 31 de março de 2009

Pedras na Lama




Pedras na Lama

A imagem das pedras na lama, representa o trabalho de fundação, que os primeiros professores do budismo realizaram no Brasil, criar um alicerce sobre o qual o edifício pudesse ser erguido. Agora nos perguntamos, qual o futuro do budismo no Brasil? É demasiado cedo para fazer esta pergunta, seria prudente esperar alguns séculos para responder. Porém vivemos em tempos de aceleração, e a difusão boca a boca, o transporte dos pés e cavalos, foi substituído pelo fenômeno digital e as viagens quase à velocidade do som.
Assim sendo, podemos tentar presumir o que sucederá, à vista do presente e olhando sempre para o passado, para deduzir os movimentos prováveis desta difusão.
Em primeiro lugar é bom não confundir o espraiar das idéias budistas com o censo budista. O numero de budistas declarados decresce no Brasil, à medida que os imigrantes, que assim se declaram, são substituídos por novos e assimilados descendentes, os quais tornam-se cristãos, principalmente no movimento de integração. Os budistas praticantes são tardos em se assumir como tal, são influenciados pelo budismo, mas não passam por ritos de conversão que os façam se auto declarar budistas, levam anos para tanto.
Por outro lado, das novas e novíssimas seitas de raízes budistas, são a maioria dos que se identificam por budistas convertidos. Aos olhos da antiga tradição budista suas doutrinas se afastaram de tal modo do ensinamento de Shakyamuni, que não podem mais ser chamados budistas, dentro da definição adotada pelo Colegiado Buddhista Brasileiro, CBB, pois algumas destas seitas são deístas e outras sequer aceitam o Buda histórico como seu fundador, havendo-o transformado em mero anunciador de um mestre mais moderno.
Há que considerar que estes movimentos abrem portas, para pessoas, que iniciando por eles, venham a mergulhar no ensinamento mais tradicional, ou seja, servem de iniciadores para a parcela de buscadores mais profundos.
Paralelamente, temos o movimento de difusão das idéias budistas, em primeiro lugar vemos uma distorção dos conceitos, na tentativa etnocêntrica de adapta-los ao linguajar e conceitos já conhecidos, isto sucedeu fortemente na entrada do budismo na China, com o uso de palavras e conceitos taoístas. Somente com o tempo, foram criadas distinções que aclararam a sincretização inicial. Desta forma, vemos freqüentemente, a imprensa usar os termos reencarnação, ou alma, para descrever conceitos budistas, criando uma distorção respeitável - que permeia mesmo textos de pessoas mais esclarecidas - que crêem que o budismo preconiza permanência e eternidade de um eu particular, que será premiado ou punido, exatamente o contrário do ensinamento do Dharma.
Bem ou mal compreendidas, as idéias budistas gozam de simpatia generalizada, em 2006 o Ibope publicou uma pesquisa que revelava que 17% das pessoas declarava-se simpática ao budismo, e também é fácil perceber quantos de textos publicados se referem a conceitos budistas, de alguma forma. Este permear é tão freqüente, que mesmo a linguagem popular incorpora termos com o “zen”, designativo de calma e serenidade, ou mesmo como sinônimo de condutas “nova era”, para desconforto dos zen budistas, que vêem seu nome tornar-se uma marca genérica. Muitos textos de adeptos de outras religiões começaram também a ser eivados de historietas budistas e conceitos dhármicos, em especial os livros de auto ajuda, em que pesem as distorções e usos egóicos dos princípios utilizados.
Do ponto de vista ritualístico há um evidente atraso. São freqüentes o apego a recitações em línguas orientais, algumas baseadas no conceito de sons sem sentido lingüístico, mas carregados de tradição mística, este aceitável, mas outros, mera repetição de orações que poderiam ser facilmente traduzidas em benefício da própria prática. Muitos rituais sequer existiam originalmente nas escolas, mas foram incorporados por demandas populares, como mimetização de rituais pré-existentes nas culturas locais, um exemplo característico é a criação do “ritual do nome” - uma adaptação do batismo para crianças recém-nascidas - que é desconhecido no budismo antigo, mas freqüentemente demandado no ocidente.
Por estas razões é fácil concluir que certos rituais serão incorporados e outros abandonados, à medida que a aculturação do budismo se realize no ocidente.
Quanto às roupas e vestimentas, elas são em geral inadequadas para o clima brasileiro - quando vem de países frios como o Japão e China - onde o budismo floresceu em montanhas e locais gelados. A exceção é o budismo Theravada, por motivos óbvios para quem olha o mapa e vê as latitudes onde ele permaneceu. Os monges sofrem com as vestimentas quentes em demasia, mas alterar as tradições é um trabalho lento, pelo temor que sempre assalta os encarregados de adaptar, temerosos que ficam de jogar fora a criança junto com a água do banho.
A tendência orientalista, que ataca os leigos, deve permanecer, porem amenizada, a medida que o budismo se adapta ao novo mundo, os mestres podem desencorajá-la, como fez o Dalai Lama ao criticar ocidentais que chegam a alterar os móveis de sua casa, crendo que por mudar as aparências tornam-se mais budistas.
Os ensinamentos, em si, não são a parte mais lenta da adaptação necessária, porém intérpretes ocidentais muitas vezes perdem de vista o propósito dos textos, presos a alguma visão dogmática. Freqüentemente surgem teóricos, crentes de que sabem algo pelo muito estudar, mas carentes de prática real. Sendo essa uma característica ocidental, que faz com que não seja surpreendente um filósofo ser admirado por suas teorias, embora seja uma pessoa incapaz de vivenciar uma vida coerente com o que ensina. Perdido em emoções primárias, ou viciado em drogas, pode ser reverenciado mesmo assim. Do ponto de vista budista, uma pessoa com esta conduta não pode ensinar de maneira alguma, se não é um exemplo vivo de seu ensinamento então lhe falta qualquer legitimidade.
Simultaneamente, surgem centros budistas desconectados de escolas e seguindo uma mistura de conceitos de diferentes linhas. Esta salada, caracteristicamente libertária - de tomar apenas o que agrada - cria organizações frágeis, sem raízes e facilmente domináveis por lideranças questionáveis; a falta de disciplina conseqüente leva a acontecimentos que podem denegrir o budismo como um todo, e não é fenômeno ocidental, pois o oriente padece do mesmo mal.O CBB surgiu muito motivado por acontecimentos tristes acontecidos em organizações deste tipo.
Como vemos, o característico ciclo das coisas acontece sem cessar no budismo e no seu fenômeno imperfeito de manifestação no reino humano. No entanto a jóia do Dharma brilha, e, paulatinamente, se ergue sobre o fundamento jogado na lama. Por mais que o meio seja impuro seu fulgor é tal que sua pureza se impõe e floresce, nosso trabalho é erguer a jóia sem perder em nenhum momento nossa clareza e compreensão das dificuldades humanas.

No Dharma,
Monge Genshô
www.chalegre.com.br/zendo

segunda-feira, 30 de março de 2009

Praticante ou teórico?


P: Costumo ler muito sobre o budismo, mas não medito nem pertenço à uma Sangha, tampouco procuro um mestre, posso dizer que sou budista?

R: Ser um budista apenas intelectual é como ser uma falsificação, ou se é um praticante ou não se é praticamente mais que um curioso, é como o homem que quer aprender a nadar lendo livros e jamais põe o pé dentro da água, seria um nadador muito estranho...não acreditaríamos na sua capacidade sequer de boiar, o budismo é uma prática , uma experiência, não uma teoria, por isso o que se acredita não tem muita importância, o que interessa é nadar mesmo, e quando se sabe se faz sem pensar.

domingo, 29 de março de 2009

Leigos e monges podem se iluminar igualmente?


Vimalakirti

Há um sutra, em que Buda aparece perguntando a um professor leigo, como é que faz para ter alunos tão bons do Dharma, o leigo dá uma explicação a Buda sobre sua conduta de professor e Buda o elogia perante todos. No zen está bem estabelecido que, os leigos e os monges, podem igualmente se iluminar, os monges tem certamente facilidades provindas de um modo de vida dedicado somente a atividades espirituais mas é só isso, e na verdade é fácil ser um monge ruim. No templo Busshinji, em SP, o monge responsável informa: - "Para ser recebido aqui, como monge ou monja, você tem que se apresentar como tal, cabeça raspada e vestido com seu Kesa (manto)" Ou seja, atitude interna e externa.

Um sutra mais moderno, o sutra de Vimalakirti, se dedica a provar a superioridade de um leigo sobre os discípulos de Buda:

Vimalakirti era um famoso e rico comerciante discípulo de Buda. Ninguém podia vence-lo em debate. Os discípulos de Buda o encontraram quando iam para o mosteiro e perguntaram a ele, que vinha de visitar Buda: - Onde vais Vimalakirti? Vimalakirti respondeu: - Vou para o mosteiro. – Para o mosteiro? Mas a direção que você vai é a da cidade! E Vimalakirti calmamente: - Sim. Lá onde eu trabalho é que estão as pessoas que sofrem, precisam de ajuda, empregos e ensinamentos, lá precisam de mim. Lá é meu mosteiro.

sábado, 28 de março de 2009

O budismo e sua prática


Foto de retiro da Sangha de Florianópolis. (Michel Seikan)
A prática se apóia nas três jóias: O Buda (o ideal, o modelo) O Dharma ( o ensinamento) A Sangha ( a comunidade, os monges, a prática com os amigos) é por isso que tomamos refúgio nas três joias, sem elas não há budismo realmente.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Casamento Zen Budista




Dia 7 de março, casaram-se em Ingleses,Florianópolis, mais dois jovens que optaram pela cerimônia zen budista. Rodrigo e Christine tem uma alegria especial que iluminou um casamento feito à beira do mar.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Felicidade, motivação e eficácia - Palestra em Jacareí



Na foto Seidô San, praticante de Florianópolis, passa um pano úmido na sala de meditação durante um retiro. Este método de limpeza é usado há séculos nos mosteiros zen pelos noviços. É um excelente exemplo de trabalho eficaz, rápido e entusiasmado.

Hoje, às 19h, em Jacareí SP, estarei fazendo uma palestra no Auditório do Ciesp,à rua Antonio Ferreira Rizzini, 450, Jardim Elza Maria, confirmação de presença 12 3952-1600 (Monge Genshô)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Saikawa Roshi em Viena



Dias 18 e 19 de abril, Saikawa Roshi estará em Viena, ensinando sobre a prática de Shikantaza. O local será na Biberstrasse 9, Mezzanin, 1010 Wien. Inscrições com meiyo@gmx.net
Antes disso visitará Eitai-ji, na França, local fundado por Tokuda Roshi, no longo período em que residiu na Europa (atualmente mora no Japão) após ter vivido no Brasil.

terça-feira, 24 de março de 2009

África do Sul envergonha seu povo


Dois prêmios Nobel da Paz sul-africanos, o arcebispo Desmond Tutu e FW de Klerk, cancelaram sua ida à conferência contra o racismo que será realizada na próxima sexta-feira (27/03) em Johanesburgo em protesto contra a decisão do governo de proibir a entrada do Dalai Lama no país.

Ambos consideraram a decisão "vergonhosa". O Comitê do Nobel da Paz também deve boicotar a conferência. Desmond Tutu garantiu que, sem a presença do Dalai Lama, não irá ao evento para discutir sobre como utilizar os preparativos da Copa do Mundo de 2010 para combater o racismo e a xenofobia.

A Fundação FW de Klerk afirmou em uma declaração que a África do Sul é uma democracia constitucional soberana e não deveria permitir que outros países decidam quem pode ou não pode entrar em seu território, em uma clara referência à China. O governo da África do Sul negou que sua decisão tenha a ver com Pequim e disse que a presença do Dalai Lama desviaria a atenção dos preparativos para a Copa do Mundo.

Fonte: www.opiniaoenoticia.com.br

segunda-feira, 23 de março de 2009

O desejo é sempre mau?


O desejo que produz maus efeitos é identificado por "tanha" e outras palavras em páli, ele não pode ser confundido com os outros significados de desejo em língua portuguesa, por exemplo, o desejo de ajudar os outros, que é um bom impulso, ao contrário do desejo de acumular coisas para si mesmo. Trata-se de um problema de tradução, por a língua na qual Buddha ensinou ser mais rica de sutilezas nestas questões.Em páli, por exemplo:

Tanha - desejo por um ganho pessoal.

Mana - desejo de dominar.

Ditthi - desejo de impor suas idéias/opiniões.

sábado, 21 de março de 2009

Bruna & José Carlos



Hoje, casam-se, em cerimônia zen budista, Bruna e José Carlos, dois odontólogos de Florianópolis, a festividade será na Mansão Styllu 's sobre a Lagoa da Conceição.

Como do caos pode brotar ordem?


P: Se não há um Deus que interfira, o que mantém a estabilidade da minha mente cotidiana? Como do caos, de um universo sem criador, sem mantenedor e sem objetivo, pode brotar ordem?

R: Olhe em volta, o universo é caótico, a ordem relativa surge do equilíbrio da luta entre miríades de forças, que elas sim, são bem delimitadas, mas um evento externo pode causar extensas extinções e aniquilar toda a vida de um planeta.
Desejamos que haja um “pai” substituto que cuide de nós, que mantenha a ordem, mas se você não cuidar de sua mente ela se transformará em um caos de forças sem controle, como acontece com os que se drogam, ou mergulham em ódios e raivas.
Você pode tentar encontrar apoio em uma fé qualquer, em um ser superior que lhe dite regras, sejam quais forem, mas isso não é a libertação, é o aprisionamento. Olhe a natureza, a ordem surge do fluxo da vida, não é uma ordem simétrica, é o que pode surgir do movimento, um flutuar que por si mesmo tem uma beleza indescritível, como os desenhos que as nuvens fazem nos céus.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Yoga para o zen



Exercícios baseados na yoga podem ser úteis para auxiliar na prática do zen. Ajudam a obter uma postura melhor e aliviam dores musculares provenientes da imobilidade. Yoko San, membro da Sangha de Florianópolis, ensina esta técnica para os amigos regularmente. Na foto praticantes zen de Florianópolis fazem esta atividade num intervalo de retiro com o auxílio desse instrutor.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O zazen pode me desequilibrar?




Todos estamos meio doentes por vivermos mergulhados em pensamentos e fantasias. O zazen nos devolve o equilíbrio de podermos acordar, em lugar de viver em sonhos, às vezes em pesadelos. O zazen é nossa mente original, a mente cotidiana é que é desequilibrada.

No entanto é bom saber que pessoas com problemas sérios devem antes ser adequadamente tratadas, a meditação é solitária, e nestes casos é preciso acompanhamento e intervenção constantes, que não são a especialidade dos centros de meditação e sim de profissionais de saúde mental.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Respiração


(As fotos do Rio Bonito são gentileza de Cássia)


P: Minha respiração fica muito superficial na meditação, que faço?

R: Durante algum tempo (isto é provisório) você vai prestar atenção na respiração, faça uma inspiração profunda, abdominal, e deixe que a expiração seja lenta, mais longa, mas controlada, expire até o fim e então deixe que surja a inspiração, teste isso até ser automático, depois deixe que uma respiração natural se instaure, ela vai ficar menos superficial.

terça-feira, 17 de março de 2009

O observador cria a realidade objetiva ou a realidade interna?


Não seria correto afirmar que projetamos um universo, mas sim que damos realidade interna a ele através de nossas interpretações, de modo que ele existe coletivamente mas é sutilmente diferente para cada um de nós, não tanto que não possamos partilhar impressões entre nós, através da literatura, por exemplo.

As coisas existem, o que elas não tem é um eu inerente, são vazias de um eu, vazio não quer dizer não realidade mas sim vazio de um eu.
Existem dois extremos que o Buda contestou, um o eternalismo, o outro o nihilismo, por esta razão o budismo ( principalmente na descrição de Nagarjuna, patriarca do zen e de outras escolas relevantes) é o caminho do meio entre estes dois extremos. Se você nega a existência objetiva torna-se nihilista se você afirma a existência eterna dos fenômenos torna-se eternalista, ora nem as coisas são eternas nem não existentes, elas são somente transitórias e percebidas distorcidamente dada a nossa mente classificatória e discriminativa. É calar este mente discursiva, julgadora, que permite a percepção pura, iluminada, ver as coisas tal como são (talidade).

segunda-feira, 16 de março de 2009

Gasshô, reverência, prostração




Nas fotos vemos três formas, a prostração em que ajoelhado se encosta a testa e os cotovelos no chão elevando as mãos ao lado da cabeça, a reverência em gasshô que é inclinar o corpo a frente, gasshô: a postura de mãos unidas.


P:Por que fazemos as prostrações se não há "ninguém" (Deus, Buddha, etc) para observá-las? Qual o significado da prostração na qual levantamos as palmas das mãos?


R: Levantamos as mãos para receber os passos de Buddha, para que ele possa andar sobre nós. Isto é uma antiga história, em que narra-se que, numa vida anterior, um jovem encontrando um Buddha e havendo uma poça de lama no caminho, prostrou-se ao chão e levantou suas mãos para receber os passos de Buddha, este caminhou sobre o jovem e, voltando-se, predisse que 500 vidas mais tarde ele seria o Buddha de uma nova era, o jovem seria mais tarde Shakyamuni. Fazemos as prostrações para nós mesmos, enquanto acreditamos em nós, quando superarmos isso, de eu e os outros, todo o universo se prostrará junto conosco e Buddha poderá andar por toda parte.

sábado, 14 de março de 2009

Depois dos retiros


P: Sinto que perdi o "fio da meada". Quando voltei do Sesshim estava tão sensível. Parece que havia "tocado algo" grandioso. Agora estou mais "mental" do que nunca. O que será que aconteceu??


R: Para manter aquele estado, pós sesshin, você precisaria praticar mais meditação, não deixar cair, isso sucede com todos, alguns, com dois zazens diários, conseguem segurar os efeitos do sesshin, mas a isso precisaria acrescer uma prática cuidadosa dos preceitos, e também, um esforço contínuo de plena atenção durante o dia. Nenhuma das duas coisas é fácil, por isso os mosteiros acabaram existindo, para proporcionar um mergulho permanente e mais apoiado, tanto por cerimônias como por um ambiente especial em volta. Mas, de qualquer modo, isso é temporário no zen, e os monges devem retornar para o mundo em algum momento, não viverão num ambiente artificial para sempre.

sexta-feira, 13 de março de 2009

O mais importante


Num sutra, o rei Hashinoku falava com a rainha:

- O mundo é vasto, mas a quem amas tu mais do que a ti mesma?

- Eu gostaria de dizer-te que te amo mais do que a mim mesma; na verdade, porém, é a mim que mais amo - respondeu ela.

E o rei replicou:
- Com efeito, eu também sou mais importante que qualquer outra pessoa.

Assim falavam eles. Falavam palavras justas mas, por causa dos eus do ego, não podiam chegar a um acordo. Decidiram, então, ir visitar o Buda Shakyamuni e contaram-lhe a conversação que tinham travado.

- É certo que vossas respostas respectivas não estão erradas - respondeu ele. - Afinal, todo homem se ama a si mesmo e cada qual é importante para si. Apesar disso não pertubeis os outros. Quando nos amamos demasiado a nós mesmos perturbamos os outros.

Taisen Deshimaru

quinta-feira, 12 de março de 2009

A liberdade do crer no zen


Um monge perguntou ao mestre:
- O senhor foi aluno do grande mestre zen fulano de tal, não foi?
- Sim
- E o senhor aceita tudo que o grande mestre lhe ensinou?
- Aceito metade e rejeito metade.
- Mas como?! Como o senhor rejeita metade do que esse grande mestre disse?
- Se eu aceitasse tudo não seria digno de meu mestre!

quarta-feira, 11 de março de 2009

A confiança


Trechos de entrevista para a Folha da Região (SP)

P: Por que o budismo é baseado na visão das coisas pelo conhecimento e compreensão, e não pela fé ou crença cega? É a compreensão que nos possibilita a confiança (baseada no conhecimento)?

R: Porque o budismo não é uma revelação ou algo vindo do alto, a sabedoria é acessível a qualquer pessoa que se dedique adequadamente à meditação, como ele é experiencial não necessita de uma crença.

P: Como as pessoas podem alcançá-la, mesmo nos momentos mais difíceis da vida, sem desanimar?

R: A vida se revela a cada passo, se assumirmos que é assim não precisamos desanimar, basta dar um novo passo e mesmo as coisas que pareciam negativas podem se revelar novas oportunidades e caminhos inesperados. Seguir caminhando é a essência da vida.

P: A partir da confiança é possível driblar e vencer os problemas? Como?

R: Ela permite que os problemas sejam enfrentados, se pensarmos que nada adianta a inação não nos tirará do lugar, permaneceremos no problema atual.

P: Qual a diferença entre confiança e esperança?

R: A esperança, em geral, aguarda que algo fora de nós nos ajude, depende então de uma fé, a confiança ajuda na ação, ou seja depende de nós mesmos alterar nosso carma, nada sobrenatural nos ajudará, só nós mesmos podemos fazê-lo. Esta postura é claramente zen budista, nem todas as abordagens budistas seguem este pensamento.

terça-feira, 10 de março de 2009

50 anos da ocupação do Tibete pela China

Nos 50 anos da ocupação chinesa vale a pena ler uma entrevista sobre a verdadeira situação dos budistas tibetanos: aqui

Presente aqui e agora


Às vezes se pensa que o zen é desligar-se do mundo, dos sentimentos, para isto uma boa história zen:

Um mestre zen ia, com discípulos, por uma pequena cidade, numa casa de subúrbio, um velório, as pessoas choravam um morto, ele entrou na casa, abraçou-se com as pessoas e chorou copiosamente. Uma hora depois ele saiu, o rosto inchado, e os alunos espantados:

- O senhor conhecia esta pessoa? Era seu amigo?

- Não..

- Então porque se emocionou tanto? Por que entrou lá?

- Ah! ... Eles estavam muito tristes...e eu me entristeci com eles...

segunda-feira, 9 de março de 2009

"O Sagrado e o Profano"


Respostas a um aluno de filosofia,num trabalho sobre "O Sagrado e o Profano" livro de Mircea Eliade.

P: No Zen Budismo o tempo é dividido em Sagrado e Profano, existe em contraposição a história, um tempo real e imutável ou circular?

R: No zen o tempo é declarado um ponto, nele estão contidos passado e futuro, todos os seres são tempo. Não há distinção, ou dualismo, entre diferentes tipos de tempo.

R: Existe, no Zen Budismo, uma forma de acesso a esse tempo Sagrado? Através de rituais, por exemplo?

R: Sim, existem rituais, eles são encarados como métodos para ajudar a despertar, meios hábeis, não proveem acesso a algo chamado “o sagrado”.

P: O “agora”, do “aqui e agora”, alcançado no estado de Samadhi, pode ser considerado esse tempo sagrado, real, em contraposição ao tempo histórico e especulativo, considerado, por sua vez, como falso?

R: O tempo histórico, linear, é um método classificatório para organizar o mundo, é útil para tanto, mas, de novo, nem é falso nem verdadeiro, é uma construção mental, uma ferramenta.

sábado, 7 de março de 2009

Só os monges podem se iluminar?


Foto da mestra zen Charlotte Joko Beck

Não, os leigos tem as mesmas possibilidades de se libertar dos monges, só que no caminho monástico do zen existe reconhecimento formal, por um mestre, de alguma realização espiritual e ela é formalizada numa cerimônia chamada transmissão (shiho).

sexta-feira, 6 de março de 2009

"ESTÁ NA HORA!? – A Psicologia das Linhas do Tempo"


“As culturas orientais nos trazem outras formas preciosas de representar o tempo. Para o Budismo Zen, o tempo é um ponto e tudo que você chama de passado e de futuro nele está contido. O Zen não considera a existência do tempo linear, representação natural em nossa cultura. À pergunta “Quando é o início dos tempos?”, no Zen se responde “Desde tempos sem início”. A vida é uma continuidade sem tempo. Quando comecei minha conversa com o Reverendo Genshô, monge da escola Soto Zen, minha primeira pergunta sobre o tempo foi respondida com “Meu tempo é estar com você agora. Vivi toda a minha vida para estar com você agora”. Conversamos sobre o passado e o futuro: “O passado é um registro provavelmente de distorções. Não tem crédito especial. Cada vez que revejo algo em minha mente, ele é diferente. O futuro é mera expectativa. Posso terminar essa entrevista e cair morto. É uma construção mental. É como um sonho, uma bolha de sabão, uma fantasia não estável.” Sua linha do tempo, e era essa a busca central de nosso encontro, como linha não existe. Consistentemente ele apontou o passado, o futuro e o agora para dentro de sua cabeça: “É um grande espaço, percebido aqui, na mente evocável”. Sua linha era um ponto – ou um espaço. Em nossa conversa sobre memórias do passado e eventos futuros, suas mãos movimentavam-se ora para frente e para trás, ora para os lados, sem um padrão consistente. Alguns exemplos de sua vida diária não deixaram dúvidas sobre suas características NT, como era de se esperar pela localização do “ponto” do tempo dentro de sua cabeça. Insistente, busquei descobrir sua linha do tempo através do movimento das representações mentais ao longo do caminho de acesso às memórias, como já demonstrado neste capítulo. As imagens de memórias do passado e do futuro não se deslocavam em nenhuma direção – simplesmente se construíam ou se desvaneciam no mesmo lugar, o lugar de seu ponto do tempo.

O filósofo japonês e Mestre Zen Eihei Dogen Zenji (1200-1253) em seu célebre texto Uji (Ser-Tempo), coloca uma interpenetração ou quase identidade entre “ser” e “tempo” e fala desse ponto do tempo:

“Tempo não apenas passa - ainda que mesmo então ele não seja separado do eu - mas ao mesmo tempo está contido em cada instante presente, mesmo aqui e agora em mim, e em cada um daqueles pontos do meu ser-tempo os outros tempos estão incluídos. Ainda que meu instante presente seja sempre um ponto na passagem do tempo, este ponto único inclui os outros pontos passados e futuros.”

Para um Zen Budista, o tempo e o ser têm uma indissolubilidade, cada ser-tempo vive seu ser-tempo e o tempo próprio é uma experiência única e distinta do ser-tempo de outros. E o tempo não passa como um fluir de ir e vir, ele apenas e completamente é. O ser, nos seus movimentos, muda, e não o tempo, ele é estável. Este contem toda a experiência, incluindo um passado distorcido não importante e um futuro sobre o qual a afirmação de “provável” não tem sentido, apenas um "possível"de tamanho infinito. “Existe somente o presente imediato, no qual todo o tempo e todo o ser está englobado” (Dogen).”
( Extrato do livro "ESTÁ NA HORA!? – A Psicologia das Linhas do Tempo" de autoria de George Vittorio Szenészi MSc. Mestre em Psicologia, instrutor da Terapia da Linha do Tempo desde 1994, convidado pessoalmente por Tad James, seu principal criador. É Certified Trainer do American Board of Neuro-Linguistic Programming, Master Hypnotherapist e professor credenciado pelo American Board of Hypnotherapy. Especializado em PNL e Saúde pelo Institute for the Advanced Studies of Health. Professor de Psicotraumatologia e das psicoterapias da Psicologia da Energia. Diretor da Metaprocessos Avançados e Presidente da Sociedade Brasileira de Terapia da Linha do Tempo.)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Cosmogonia


P: Como o budismo concebe o universo, tradicionalmente?

O budismo partilha a herança hindu da idéia do universo como gigantesco, com míriades de mundos e do tempo como incrívelmente vasto, mais um aspecto: a visão do universo como algo cíclico que surge e se apaga em éons, ciclos gigantes de surgimento e cessação, mais ainda, a idéia de universos paralelos, mundos de não forma por exemplo.

Porém esta visão, embora confortavelmente próxima da presente na ciência atual, não é um artigo de fé, trata-se da visão presente nos sutras que foram escritos antes do século III AC , o que se acredita a respeito não impede nem ajuda a prática espiritual budista. No zen a idéia de tempo foi levada por Dogen (1200 - 1253) até o de um único ponto em que tudo está contido, um conceito elástico que só foi alcançado, parcialmente, na ciência no século XX.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Como posso superar o medo e o desejo?



Isso implicaria em superar o EU, e isso demanda um imenso trabalho, a própria iluminação. É importante saber que o zen não pretende formar santos, mas sim, homens despertos.

O primeiro passo é aprender a conviver com a condição humana sem rejeita-la. Após isso, uma pessoa razoavelmente equilibrada pode praticar meditação, mas para tanto, no modelo zen, precisa começar praticando a humildade, aceitar um professor, reconhecer os mais antigos, curvar-se nas cerimônias, isso é um primeiro e importante abalo neste eu que não quer dobrar-se.

terça-feira, 3 de março de 2009

Perguntas e prática

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Bodhidharma

P: Existe alguma pergunta que mereça ser perguntada, e que não pode ser respondida pelo praticante através da própria prática?



Em tese não, todas as perguntas da vida espiritual podem ser solucionadas na prática pessoal, isto foi o que sucedeu com Buddha. Porém, mesmo ele, se apoiou em treinamento com mestres antes de sua iluminação. Os professores auxiliam muito, ao ajudar o aluno a evitar os caminhos errados, já testados anteriormente. Como na ciência em que Newton diz "pude ver mais longe porque subi nos ombros de gigantes" referindo-se a seus grandes antecessores, como Galileu e Kepler. Nós subimos nos ombros dos mestres, eles podem nos ensinar a evitar os venenos mentais do apego, da aversão e da raiva, por exemplo, impedimentos certos para o progresso individual.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Como o zen budismo explica...


Acreditar em uma solução ou outra, lógica ou não, para o zen tem pouca importância. Se o problema é aqui agora para que pensar nisso? Que adianta? É questão de curiosidade? A ciência já não é boa para explicações? E não tem a grande vantagem de poder ser revista a todo momento, e aperfeiçoada?

Faz lembrar o mestre zen que perguntado sobre o que sucedia depois da morte disse que não sabia, o interrogador se enfureceu, então, como ele, um mestre, vinha com uma resposta dessas, como ele não sabia? E o mestre: - Não sei, ainda não morri.

O fato é que o budismo não foi criado para dar explicações, perguntei em um mondo (debate público) ao meu mestre , Saikawa Roshi: - Como surgiu o primeiro carma? E ele: - Quando você descobrir me conte.

domingo, 1 de março de 2009

Sesshin fev / 2009 em Florianópolis


Foto final/ Michel Seikan

Membros dos grupos ligados à Sangha de Florianópolis vieram de Rio do Sul, Joinville, Rio de Janeiro, para sentar em meditação e praticar o silêncio durante o carnaval. Quatro dias de meditação, palestras, caminhadas, sempre mantendo o conversar fora do programa, para que a mente possa se aquietar com menos estímulos.
Mais fotos aqui