segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Perguntas e Respostas - Palestra Pública Goiânia (Parte I)


Aluno: O budismo acredita em fantasmas e espíritos inquietos?

Monge Genshô: duas maneiras de responder isso. Resposta de monge Zen: o budismo não é religião de acreditar e sim de despertar. Pensando um pouquinho mais longe, Kodo Sawaki, Mestre Zen, respondeu uma vez: “se algo ou alguma coisa se manifesta nesse mundo, está tão perdido quanto nós”. Vou dar uma terceira resposta. Um Monge Zen estava numa guerra e os soldados queriam se abrigar em uma casa, mas disseram que o local era mal assombrado e então eles ficaram apavorados. Um monge Zen passava pelo local e eles perguntaram se ele podia fazer algo sobre a situação. O monge disse: “posso sim, vou dormir lá hoje à noite” e então ele dormiu. No outro dia de manhã disse para os soldados: “podem ir, não fantasmas ou espíritos rondando aquela casa” e então os soldados foram. Um dos soldados conhecia um pouco da doutrina budista e foi até o monge perguntar: “mas me diga uma coisa, o Zen não acredita nessa história de fantasma, não é?” e o monge respondeu: “não”. O soldado falou então: “mas o que você fez lá, afinal de contas?” e o Monge disse: “eu expliquei isso para os fantasmas”.

Aluno: Eu sou psicoterapeuta e um dos trabalhos que eu faço é com vítimas de violência sexual. Tenho uma dificuldade imensa em atender essas vítimas e pensar que elas são responsáveis pelo que aconteceu com elas, no sentido delas terem carma para terem sofrido aquilo, assim como o agressor teve carma para causar esse mal.

Monge Genshô: Também é verdade o que você disse. O agressor é assim, mas nós temos que ir pouquinho mais longe e ver que dentro de cada um de nós um agressor. Tem um assassino, um torturador e tem um sujeito capaz de ficar com raiva e recorrer à violência. Você tem filhos?

Aluno: Duas filhas.

Monge Genshô: Alguém sequestra as suas filhas e você conhece tudo que pode estar sendo feito com elas. Você pega um cúmplice, pergunta onde estão suas filhas e ele diz que não vai dizer. Existe a opção de torturá-lo para que ele diga. O que acontece com você? Tortura?

Aluno: Eu acho que sim.

Monge Genshô: Portanto dentro de você um torturador. Quando a gente se envolve emocionalmente, nós percebemos que na realidade somos assim. um poema de um Mestre Zen vietnamita, Thich Nhat Hanh, que diz: “eu sou o estuprador, eu sou a vítima, eu sou o assassino, eu sou o assassinado, eu sou...” e vai narrando tudo isso, porque na realidade nós seres humanos somos todas essas pessoas. Então, na realidade, a vítima também é potencialmente agressora, é por causa disso que ela está neste mundo onde coisas desse tipo acontecem. É tolice você olhar no espelho e dizer: “eu sou inteiramente bom, eu não faria nenhum mal”. Isso não é verdadeiro. Dadas as determinadas condições surge dentro de você aquilo que você nem acreditaria que existe, basta ler as histórias das guerras, basta ler os testemunhos dos soldados que depois que voltam não conseguem nem falar. Só podem falar com os seus pares. um livro famoso chamado “Nada de novo no fronte ocidental”, de Erich Maria Remarque, sobre a Primeira Guerra Mundial. Ele vai para a guerra, mata, leva bombas, vê os amigos sendo explodidos, numa cena alguém entra na caverna anunciando que duas pessoas morreram do lado de fora e que se quiserem enterrar vão ter que raspar das paredes os corpos deles com colheres. Viver tudo isso causou pesadelos no autor que foi escrevendo o livro durante as noites em que acordava sem conseguir mais dormir e então se sentava para escrever. Quando chegou na época da Segunda Guerra Mundial Hitler mandou queimar os livros de Erich Maria Remarque, porque eram pacifistas.

Mas eu queria contar sobre um episódio desse livro, quando ele volta para casa e encontra a família. A mãe dele pergunta: “estão te dando cobertor lá? A comida é boa, meu filho?” e ele dormia na trincheira, na lama, comia sabe-se lá o que. Ele não consegue responder para a mãe, não consegue explicar a situação. Quando ele vai para uma escola, um professor o chama na frente e diz: “aqui está um herói” e pede para ele falar com as crianças, mas ele também não consegue. Então ele quer apenas uma coisa: voltar para as trincheiras, porque lá pelo menos os seus companheiros que também estão matando e morrendo conseguem compreender a situação, então ele pode conversar, mas esse aqui já é um mundo com o qual ele não consegue se comunicar. Então dentro de nós coisas que nós não conseguimos imaginar, só faltam as condições para que essas coisas surjam.

Como Monge eu já fiz várias entrevistas assim, onde as pessoas sentam e contam que foram violentadas ou violentados, porque não acontece só com as mulheres, acontece com os homens e acontecem de mulheres que abusam de meninos, coisa da qual ninguém fala. Você, enquanto Monge, escutando esses relatos pensa: “mas o que posso fazer com relação a isso?” e a receita é: chore junto. Porque pelo menos nós temos que ter companheiros que entendam dos nossos sofrimentos.


(continua...)



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Palestra de Goiânia - Parte III

(continuação de Palestra Pública realizada em Goiânia, 30/11/15)


Eu estava num mosteiro na Califórnia, nos Estados Unidos, eram montanhas e era inverno então nevava sem parar e a temperatura ia a 15º abaixo de zero. Eu estava falando com uma cozinheira holandesa e ela perguntou como era o Brasil. Quando eu contei que aqui fazia sol e não nevava, a reação dela foi exatamente essa: “para mim parece o paraíso”.



As religiões tentaram sempre entregar para as pessoas uma solução para a questão da morte. Os egípcios embalsamavam corpos e construíam pirâmides para enterrar faraós com todas as suas riquezas, os vikings imaginavam um paraíso onde poderiam saquear e lutar sem parar, já os gregos tinham um paraíso que era um ilha onde não se precisava trabalhar, a comida caia das árvores e os homens caminhavam discutindo filosofia, paraíso de gregos... Cada um pensa uma coisa. Então as religiões tentaram entregar uma ilusão que fosse confortável, infelizmente no budismo não é assim. O budismo diz que esse desejo de escapar da morte só ocorre porque você acredita na sua individualidade separada, porque você acredita em seu eu.


Hoje nós sabemos neurologicamente que o cérebro produz essa ilusão de uma individualidade separada. Você vê tudo separado, eu aqui e tudo lá, todos os sentidos informam para você que nós estamos separados, não vemos a nossa interconexão, embora nós saibamos intelectualmente que estamos profundamente ligados. Todos sabem aqui que só respiram porque as plantas produzem oxigênio, portanto você e as plantas são um, é uma simbiose. Toda a vida é conectada, todos os nossos átomos são muito velhos e, na realidade, têm origem em estrelas muito antigas. Todo mundo aqui em termos químico-físicos é velhíssimo. O ferro que está dentro do nosso sangue, que faz o nosso sangue ficar vermelho, só é produzido por supernovas, no caso foram estrelas que já morreram bilhões de anos atrás. Eu perguntaria: “mas carmicamente será que é diferente?”, não é diferente. É que a nossa tempestade cerebral é tão imensa, tão complexa, que produz essa sensação de consciência. Dentro do cérebro 100 bilhões de neurônios e cada um deles faz perto de 5 mil conexões. Cada dendrito do neurônio faz de 5 a 8 conexões por segundo. O número de conexões dentro do cérebro de um homem é da ordem de 10 seguido de cem de zeros. O número de átomos que existe no universo é igual a 10 seguido de 80 zeros. Nós temos muitíssimo mais possibilidades dentro da nossa consciência do que o número de átomos dentro do imenso universo conhecido, tão imenso que não conseguimos calcular.

Normalmente nós não entendemos grandes números. Esses dias eu estava com um amigo e nós falávamos sobre um bilhão de reais, eu disse que ele não sabia quanto era isso e ele: “eu sei quanto é um bilhão”. Pedi então que ele me dissesse quantas maletas precisaria para juntar um bilhão. Fomos calcular quanto caberia dentro de uma maleta executiva e descobrimos que cabe por volta de 300 mil em notas de cem. Para fazer um milhão precisaríamos de três maletas. Para fazer um bilhão precisaríamos de três mil maletas. Daria um quilômetro de maletas, se colocássemos uma ao lado da outra. Se você roubar 100 bilhões, como já aconteceu num desvio em uma grande estatal brasileira, isso daria 100 quilômetros, o que seria como forrar a estrada daqui até Pirenópolis com maletas cheias de notas de cem. Isso é que é um bilhão. Eu estou fazendo esse raciocínio para dizer que se nós temos dificuldade de calcular de cabeça quanto é um bilhão, vocês têm noção do quanto é 10 seguido de cem de zeros? Ninguém tem. E depois nós nos admiramos por nossas mentes serem tão confusas, mas não tem como ser diferente.

Nós não sabemos como surge mente, cérebro e corpo, mas o Zen diz que mente e corpo estão conectados, portanto você só vai fazer sua mente se acalmar e funcionar de outra forma caso acalme o seu corpo, é por isso que a prática da meditação funciona. Eu disse na nossa demonstração inicial: sentem, fiquem eretos, respirem assim para atingir o sistema parassimpático, se acalmem e fiquem imóveis. No momento que se faz isso a mente tende a frear. Mas alguém aqui da sala conseguiu passar aqueles dois minutos sem pensar em passado ou presente? Conseguiu ficar aqui mesmo? Não é não pensando, é estando aqui. Alguém? Ninguém. Interessante. Ou seja, frear a nossa mente e mudar o seu estado é muito difícil, mas o que diz o budismo? Os diferentes métodos e escolas budistas existem para mudar a mente. Nós temos aqui nossos amigos da sangha tibetana que usam muitos métodos também, mas qual é a intenção final de todos eles? Mudar a mente. Por quê? Porque se eu mudar a mente eu consigo mudar as minhas marcas cármicas e se eu mudar o meu carma eu mudo aquilo que eu falei no princípio, mudo a minha continuidade.

Se eu mudar a maneira como a minha mente funciona, eu mudo toda a vida e o universo inteiro muda junto comigo. O que o budismo diz é que nós somos donos das nossas vidas, não dependemos de nada que vem lá de fora, não precisamos pedir nada para alguém fora de nós e não precisamos acreditar em nada além da experiência. Ou seja, método e treinamento podem mudar o carma e mudando o carma eu mudo a continuidade, portanto mudo não só esta vida como as outras que ainda irão surgir. Aquilo que vai acontecer com vocês não está escrito e é alterável por cada um de vocês. Vocês são donos de seus próprias vidas, portanto do próprio futuro. Nesta definição carma não passa de: ação e consequência. Isso explica como a gente pode sair de um início e ir para um fim diferente. Tudo o que vocês são agora é efeito de atos de vocês no passado, que ocorreram nesta ou em outras vidas. Não era o mesmo eu, mas era a sua continuidade. Vocês são continuidade do passado, portanto são responsáveis por tudo que acontece com vocês agora, então não reclamem.
  


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Palestra de Goiânia - Parte II


(continuação de Palestra Pública realizada em Goiânia, 30/11/15)
Você pode mudar seu carma? Pode, perfeitamente. Exige um bocado de esforço, mas é possível. Você pode mudar seu país? Pode, claro. Exige esforço. Não há injustiça se existem causas pregressas que permitiram que aquilo acontecesse e sempre existe uma causa anterior, basta que você raciocine da seguinte forma: não existe efeito sem causa. Portanto se existem consequências, existem causas. Se nós quisermos mudar as consequências, basta que nós mudemos as causas dessas consequências. Então, existe um fim tal como “minha morte”? Não, a morte é ilusória. No sentido de que tudo é continuidade, é impossível não haver continuidade, se tudo é causa e consequência então nada pode começar no sentido absoluto.

Não adianta eu dizer: “minha vida está muito infeliz”, logo em seguida pulo de um edifício e morro para acabar com a infelicidade. Aquelas causas de infelicidade permanecem neste universo e este carma produzirá uma pessoa com as mesmas tendências e os mesmos problemas que levaram àquela situação de desespero. Não existe uma maneira de sair deste mundo. Como Monge entrevisto diversas pessoas e sei que essas fantasias de suicídio são muito mais frequentes do que a gente imagina. Eu fui diretor de jornal e toda a imprensa tem uma regra: raramente se noticia suicídio. Porque se você noticia um suicídio hoje, amanhã acontece um igual. As pessoas imitam. Existe uma influência e para evitar essa influência você não noticia. Mas o que interessa para nós aqui é a ideia de que tudo é continuidade, não existe uma sensação real. Por causa disso a morte em si não é real, é apenas um evento que informa a continuidade.

A morte é o grande problema filosófico da angústia existencial e é o problema que Buda pensou. Ele vivia no palácio, tinha riqueza, esposa, filhos, concubinas e o que mais ele quisesse. Mas ele pensa em três problemas: velhice, doença e morte. Com 28 anos ele pensa nisso e se pergunta qual é o sentido de tudo isso? Aquela lenda de que Buda saiu e viu um velho, um doente e um morto é isso mesmo: uma lenda. Um homem de 28 anos, treinado nas artes da guerra obviamente já conhecia velhice, doença e morte, a lenda apenas nos informa que ele pensou nessas coisas como um problema e isso gerou uma grande angústia existencial. É por ter pensado dessa forma que ele saiu do palácio e disse: “eu vou resolver esse problema”. Resolver esse problema, para Buda, só ocorre seis anos depois. São seis anos meditando, jejuando, estudando com Mestres diferentes, mesmo Buda teve Mestres, e então ele desperta. Quando ele desperta, esse despertar é o entendimento dessas coisas que estamos falando. Mas não é um entendimento intelectual, é um entendimento claro, um sentimento interno de que não existe início nem fim, só existe continuidade e que a morte também faz parte das ilusões. Ele viu com clareza tudo isso e despertou. Esse despertar é o que o torna Buda, antes ele era Shakyamuni.

Quando Buda desperta ele vê a estrela da manhã nascendo depois de ter passado sete dias meditando embaixo de uma figueira e então ele diz: “óh, que maravilha! Eu, a grande Terra e todos os seres simultaneamente atingimos a iluminação”. Essa palavra “iluminação” é ocidental, em sânscrito é “despertar”, porque todos os homens estão sonhando sonhos de ilusão e já que vivemos isso, estamos perdidos. Na verdade é por isso que os homens criaram as religiões, para tentar dar uma solução para a morte. Dizem “você vai ressuscitar”, “você tem uma alma imortal”, “você vai para o paraíso”, ou qualquer outra resposta. E o paraíso é sempre de acordo com a circunstância. Para os esquimós o paraíso é quente, mas provavelmente para o pessoal de Goiânia lá tem ar-condicionado. Essa história é bem interessante porque os primeiros missionários que chegaram para conversar com os esquimós descreveram o inferno como um local cheio de fogo e os esquimós disseram: “para nós esse inferno parece o paraíso”.

(CONTINUA...)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Palestra de Goiânia - Parte I


ÍNTEGRA DE PALESTRA PÚBLICA REALIZADA EM GOIÂNIA, 30/11/15
Para quem nunca fez meditação vamos agora esquecer o passado e o futuro. Sentem bem retos, afrouxem os abdomens para que a respiração seja abdominal e deixem os braços pousados sobre as pernas. Vamos fazer só dois minutos de meditação e nestes dois minutos vocês vão tentar esquecer tudo que for passado e não pensar em nada futuro. Fiquem aqui no agora e somente isso. Olhem para baixo com os olhos semicerrados e não se movam mais.
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Pediram que eu falasse sobre início e fim. Nós temos o privilégio, no nosso tempo, da ciência ter progredido tanto que nos permitiu ter uma visão do passado muito mais ampla do que antes. No início do século XIX, as primeiras avaliações de quanto tempo a Terra teria chegavam a números em torno de 300 milhões de anos. Isso deduzindo-se através dos fósseis analisados, quando começaram a desenvolver a geologia e a examinar as camadas do planeta. As conclusões a partir desses estudos chegavam a esses números fantasticamente grandes e de números fantasticamente grandes o budismo e o hinduísmo estão cheios. O hinduísmo, por exemplo, iniciou a ideia de eras sucessivas e na realidade é essa ideia cíclica que o budismo desenvolveu. Mas é importante notar que quando as pessoas perguntam como é o início de tudo, ou como é o fim de tudo, elas estão perguntando como se deu o início delas mesmas e como serão os seus fins. É isso que elas na realidade querem saber.

Vamos examinar esse problema um pouco mais. A teoria predominante hoje, do ponto de vista científico, é que parece que o universo começou uns 15 bilhões de anos atrás e que tudo está se afastando. Se revertêssemos o tempo chegaríamos a um momento em que tudo está unido num único ponto. Quando tudo estava unido houve um momento de expansão repentina, que anedoticamente durante uma palestra de rádio na Inglaterra foi chamado de Big Bang. Na realidade, não teria havido uma explosão. Uma criança de nove anos me perguntou uma vez: “o que havia antes do Big Bang?” e minha resposta foi que ninguém ainda pôde responder a essa questão. É verdade que ninguém poderia responder essa pergunta do ponto de visto do conhecimento, até porque como podemos determinar algo antes do tempo existir? O tempo existe através de um intervalo entre dois eventos. Eu tenho esse sino e bato. Quando eu o bato de novo eu posso medir a distância entre um evento e outro, mas se não houver sino, não houver som, não houver ar, não houver mão, se nada existir, como eu sei se passou um minuto, um ano ou um século? Eu não posso dizer antes ou depois. Essa é a primeira questão. A segunda é: se o Big Bang reuniu tudo dentro dele e então tudo se expandiu, significa que havia energia. Não teria como haver surgimento do nada. Por definição o nada não cria algo. Do nada, nada surge. Portanto, e é essa ideia que quero trazer aqui para iluminar a nossa conversa, nós estamos falando de um tempo sem início e estamos falando de um continuidade permanente das coisas, porque nada surge do nada.

Agora vamos trazer isso para as nossas vidas. Um rapaz me perguntou ontem a respeito da justiça: “como se justifica um acontecimento?”. Tudo é consequência de uma causa anterior. Se acontece algo com você é porque você tem carma para que isso aconteça. Você pode dizer: “mas me parece injusto isso que acontece com uma criança”, ou coisa assim, mas não existe nenhuma criança ou pessoa aqui que tenha surgido ontem e possa dizer: “há injustiça no que acontece comigo”. Cada um que está aqui é muito antigo e existe desde um tempo sem início, porque sempre nós podemos recuar para um momento anterior onde algo aconteceu. Como eu disse, mesmo que eu recue 15 bilhões de anos, mesmo aquele momento da origem possui energia. Não teria como não haver energia contida nele. Ninguém sabe se o Big Bang é a expansão de um universo que se contraiu em um imenso buraco negro e então chegou a um ponto de singularidade em que se expandiu, fazendo surgir um outro universo. Isso faria muito sentido porque seria a expressão de uma continuidade constante. Então quando as pessoas perguntam “qual é o meu fim?”, ou “como é a morte?” elas não podem falar de fim, porque não existe uma coisa tal como o fim, assim como não existe uma coisa tal como o início. 

Se somos continuidade constante então existe um momento anterior e as consequências do momento anterior fazem surgir o momento presente, isso explicaria porque alguém nasce na Síria ou na Dinamarca, por exemplo. É justo ou injusto? Do ponto de vista budista é simples, você reúne condições cármicas para a sua manifestação e portanto a sua manifestação ocorre de acordo com aquilo que você plantou.  Não existe uma coisa tal como injustiça. motivo para você nascer no Brasil, motivo para nós termos esse tipo de democracia e vivermos o tipo de vida que nós vivemos. Eu tenho carma para estar aqui, de certa maneira eu pertenço a este mundo, eu não pertenço à Noruega. É por isso que eu estou aqui.

(continua...)