quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pronúncias








"Existem muitos métodos de transliteração e aqui no Brasil já estão nascendo outros devido ao uso no dia-a-dia. Outro ponto também é a questão de uma palavra passar a fazer parte de nosso idioma, já incorporada ao uso e à citação nos dicionários, como são por exemplo as palavras "deletar" que passou a ser usada largamente em português por causa da informática. Nós a recebemos do inglês, mas sua raiz é latina.



Segundo o Aurélio (que já está virando sinônimo de dicionário):[Adapt. do ingl. (to) delete, 'destruir', 'eliminar'; 'apagar ou rasurar (texto)', < lat. deletus,part. pass. do v. lat. delere, 'apagar', 'riscar' (v. delir e -ar2).]V. t. d. Inform. 1. V. apagar (9).Em português temos o verbo "delir":[Do lat. delere. Cf. deletar.]V. t. d. 1. Apagar, desvanecer, esvanecer, esvaecer: 2 2. Fazer desaparecer; destruir, desfazer: & 3. Dissolver, diluir, desfazer: 2 4. Abater, gastar, consumir: 2V. p. 5. Desfazer-se, desmanchar-se: & &[Conjug.: v. aderir. Defect. Falta-lhe a 1ª pess. sing. do pres. ind. e, dela derivado, o pres.subj. Pres. ind.: deles, dele, delimos, delis, delem; imperf.: delia, delias, etc. Cf. dele (ê) epl. deles (ê); délia, fem. de délio; Délia, mit. e antr.; e Délias, heort.]E para quem acha que são palavras estranhas, basta lembrar que usamos freqüentemente a palavra"indelével": Que não se pode delir; que não se dissipa; indestrutível.




A língua é viva e por isso vai se adaptando. Veja o curioso caso do "mouse" (rato em inglês) mas quando compro dois, eu peço 2 "mouses" e não 2 "mice" (que é o plural de "mouse"). Muitos outros exemplos poderiam ser dados quanto ao inglês e acho que os termos budistas já estão começando a se adaptar. Vejo por exemplo que tudo mundo fala "o" Buda, "o" Dharma, mas fala "a" Sangha (!?).Em alguns casos palavras orientais estão sendo incorporadas ao português e ainda me doem os ouvidos ao ouvir na feira o nome da abóbora cabochã (que vem do japonês Kabocha=abóbora) ou tatame que na verdade é "tatami". Mas assim é a língua.




No caso da língua chinesa, não posso afirmar com muita certeza, mas o sistema internacional de grafia adotado pelo governo chinês é relativamente recente e em meu computador eu possuo pelo menos 5 formas diferentes de fontes e pronúncias.




Mas existem algumas coisas que se incorporam pelo uso, assim como no exemplo do Tao (Dao), Tai-Chi (Dai-Ji) e Pen Juo (Ben Zhuo oucoisa parecida ) .No sânscrito também vamos encontrar também vários sistemas. Se você pegar por exemplo o livro Bhagavat-Gita traduzido pelos Hare Krishna's, você vai encontrar uma tabela da transliteração usada por eles, mas no nosso uso diário, temos alguns problemas como por exemplo a falta de sinaisdiacríticos, que são aqueles pontinhos embaixo de algumas letras ou "s" acentuado e etc. Por exemplo, na palavra "Shakyamuni", na verdade não é nem "Sakya" e nem "Xáquia", a pronúncia é geralmente algo entre essas duas opções, mas que em português nem faz sentido pois nossos ouvidos ainda não estão treinados para essas diferenças. O mesmo acontece quando pegamos alguns livros e vemos Shiva escrito como Xiva ou Siva. No caso do "n" também acontecem esses problemas e temos por exemplo o Prajna que na verdade seria Prajña e sua pronuncia original se aproxima de algo como"prá-nhá" (Hannya em japonês). Os sons longos e curtos também são problemáticos como por exemplo"Shari" que se for "Shári" (na verdade o sinal diacrítico seria um traço sobre o "A" para alongar)que são as relíquias, usado para os restos mortais do Buda, ou se for "Shari" é um nome de um pássaro, como no caso do nome de nosso Shariputra (o filho de Shari), pois Shari era o nome dado a sua mãe, que diz a tradição oral era dona de uma belíssima voz. Mas em português não faz nenhumadiferença você dizer o Shari de Buda ou Shariputra. Mesmo a palavra Buda ou Buddha (pronunciado compausa muda no "d" e "h" aspirado, como em inglês hot-dog) em português, não faz nenhuma diferença.




Já em japonês, a coisa fica mais complexa. O sistema internacionalmente adotado para documentos é o sistema Hepburn, mas este é baseado no inglês e às vezes causa confusão em português. Por exemplo o"kabocha" onde o "ch" por este sistema tem som de "tch" mas em português acaba-se lendo "caboxá" e não "kabotcha ou kabotya".Nos templos, ainda estamos tendo esse tipo de dificuldade e na verdade ainda não existe um sistema padronizado.




.........Parece difícil no começo mas quando se estuda a língua isso se torna natural e não há confusão, pois os alfabetos simplificados (usados para mostrar a pronúncia dos ideogramas) são silábicos e contémem si a pronúncia exata, evitando confusões."




Gasshô,Rev. Wagner (Sh. Haku-Shin)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Kenshô



Pergunta: Então o kensho é um pequeno momento sem ego?
Resposta: Uma boa explicação é o termo experiência mística. Realmente não tem ego, existe uma sensação de unidade e quando você pensa “eu”... pronto, perdeu. Na primeira consideração, o primeiro pensamento o kensho se esvanece. No pensamento de contar sua experiência, pronto, já se foi. “Não posso perder essa sensação”, mas ela se foi. É frágil e não muda sua vida. Você continua o mesmo, só tem a memória da
experiência. Na realidade é um momento de iluminação. Só que você não é proprietário dele. Assim como veio, foi. Enquanto que no satori, você pode recuperar essa sensação a qualquer instante. Você é proprietário. As drogas dão sensações que duram um tempo limitado e a pessoa não é proprietária delas e ainda tem inúmeros problemas associados, como o vício e a própria destruição. Você não pode mais se libertar. É o oposto do que estamos falando. Estamos falando de libertação. Nós podemos até dizer que as pessoas que têm algum tipo de experiência no zen sentem uma espécie de vício no zazen. É tão bom o que você começa a obter que você não pode mais parar de praticar. Se parar, você se sente entristecido. Mas isso dá trabalho, você tem que sentar, não é como tomar uma droga. Então, é bem diferente.



O texto integral da palestra "Os dez passos em busca do boi" está publicado no site Daissen em duas partes.



terça-feira, 28 de junho de 2011

Samadhi


Pergunta: (...) Samadhi já é realização espiritual?

Resposta: Não, Samadhi é concentração. Você senta em zazen e treina ficar em samadhi, tenta ficar. Quando você está no momento presente, concentrado no momento presente, sem cogitações, isso é samadhi. Quando você está em zazen, pode ser que no período de quarenta minutos você consiga isso por alguns segundos. Pode ser que você faça zazen e não entre em samadhi em tempo algum. Você senta e só tem pensamentos
inquietantes, luta, luta e a mente não pára. Setsugen diz que se você conseguir ficar em samadhi quarenta ou cinqüenta por cento do tempo em que você está sentado, a iluminação esta próxima. Mas eu diria que o kensho pode surgir mesmo com um samadhi ainda limitado, porque ele não depende muito da quantidade. Um bom samadhi e, de repente, kensho. Mas o kensho é evanescente. Então, kensho não é tão impossível
de obter, na realidade, é deveras comum. E até para pessoas que não praticam zazen, ele pode ocorrer. Em determinadas circunstâncias, em oração, ou passeando no campo, de repente uma grande felicidade, uma sensação de perfeição absoluta, uma comoção e aquilo surge; a pessoa nem sabe direito como explicar. Se você conta para alguém que já experimentou a pessoa entende, é mais ou menos como orgasmo. Se a pessoa
não teve, pede explicação. Quem já teve, não pede explicação, porque quem teve sabe o que é. Quem não teve não sabe e não adianta explicação. Talvez no dia em que tenha ela diga: “Ah, é isso!” E o kensho é exatamente assim também, uma experiência intransmissível para quem não teve.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pradaksina


"Prática que é inclusive muito mais antiga que o próprio Budismo, chamada de Pradaksina, ou seja, andar ao redor de um Mestre ou uma representação de uma divindade, no sentido horário. Isso é algo que já aparece nos antigos Vedas, os livros da sabedoria da antiga índia e fazia parte dos costumes, inclusive da Sangha budista, como podemos ler no Sutra da Vida Imensurável, quando Ananda cirucula o Buda Shakyamuni por 3 vezes, se ajoelha, descobre o seu ombro direito e o saúda com uma reverência.
Por que a circulação no sentido horário?
Porque na Índia desde tempos imemoriais até hoje, a mão direita representa o puro, e é a mão com que comem, oferecem incenso e etc. Já a mão esquerda é considerada impura pois é com ela que se faz a higiene pessoal (substituindo o papel-higiênico, inclusive). Então anda-se sempre mantendo de preferência o lado direito voltado para o centro, que é o sagrado."
Rev Wagner

"A respeito da circum-ambulação feita no sentido horário, quero lembrar aqui, do ponto de vista da Psicologia Analítica de Jung, ela representa um percurso que vai do inconsciente para o consciente, ou seja, um crescimento e enriquecimento psicológico e espiritual. A circum-ambulação no sentido anti-horário, pelo contrário, é um percurso do consciente para o inconsciente, ou seja, uma regressão ou involução psíquica.
Agora, mudando o enfoque, independentemente de questões como Jiriki ou Tariki, meditação ou não meditação, concordo com o que diz a Profa. Karen Armstrong em seu último livro "Em Defesa de Deus", ou seja, que toda vivência religiosa depende de disciplina e exercício. Na esfera do religioso, quando há disciplina e exercício, as coisas acontecem; quando não há, não acontece nada."

Gasshô,

Shaku Riman

(Trechos de conversa entre monges na lista Shin)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A identidade em que nos perdemos


Perguntas e respostas durante zazenkai, Florianópolis.

Pergunta - Poderia se dizer que esse eu que desapareceu se somou a vacuidade?

Resposta – Ele já era a vacuidade, só não podia perceber que era a vacuidade porque estava perdido nas fantasias de sua elaboração mental.

Pergunta – Mas na vacuidade muitos outros se tornaram divindades. Então, eu me somei, ou, eu sou uma soma...

Resposta – Por isso que a analogia não fica muito perfeita se usamos uma soma, porque, desde o inicio já era assim, o que havia era uma ilusão que impedia de reconhecer. Então o que fazemos quando calamos a nossa mente na meditação é criar terreno e possibilidade para poder reconhecer o que está perante nossos olhos, mas jamais vemos, porque estamos perdidos na nossa noção de identidade própria.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Faça-se a luz !


Há muito tempo o budismo insiste que a vacuidade é idêntica aos fenômenos.

Energia
Luz é gerada é partir do nada
Redação do Site Inovação Tecnológica -

Faça-se a luz

A maior parte dessas explicações ainda está no reino das hipóteses e das teorias. Ou, pelo menos, estava.

Pela primeira vez, uma equipe de físicos afirma ter conseguido gerar coisas desse "nada" quântico. Mais especificamente, eles fizeram com que vácuo quântico gerasse fótons reais. Ainda mais claramente, tentando trazer isso para o senso comum, eles emitiram luz do nada.

Será necessário esperar que outros grupos refaçam o experimento; mas, se confirmado, esta certamente se transformará em uma das experiências científicas mais bizarras e famosas da história, e uma importante prova prática da validade da mecânica quântica.


O vácuo quântico é um estado com a menor energia possível, uma espécie de sopa de campos e ondas de todas as frequências, de onde partículas virtuais saltam continuamente entre a existência e a inexistência. [Imagem: Lee Brain]Realizando o virtual

Ora, se o vácuo quântico é uma sopa na qual pululam partículas virtuais, deve ser possível detectar ou mesmo capturar essas partículas. Foi isto o que motivou Per Delsing e seus colegas da Universidade Tecnologia de Chalmers, na Suécia.

Os cientistas já sabiam como detectar indiretamente as partículas virtuais "emitidas" pelo vácuo quântico usando dois espelhos, colocando-os muito próximos um do outro.

Essa proximidade limita a quantidade de partículas virtuais que podem vir à existência entre os dois espelhos. Como passam a existir mais partículas virtuais fora dos espelhos do que entre eles, cria-se uma força que empurra um espelho na direção do outro.

Esse empurrão, conhecido como Força de Casimir, é forte o suficiente para ser medido pelos instrumentos atuais.

Luz do nada

Mas os teóricos previam que as coisas poderiam ficar mais interessantes se fosse usado um espelho só, que poderia absorver energia das partículas virtuais e, sendo um espelho, reemití-las na forma de fótons reais.

O problema é que, para isso dar certo, o espelho teria que se mover a uma velocidade próxima à velocidade da luz, algo impraticável com a tecnologia atual.

Delsing e seus colegas deram um jeito de sair desse impasse usando um sensor extraordinariamente sensível a campos magnéticos, chamado SQUID (Superconducting Quantum Interference Device), e fazendo-o funcionar como um espelho.

Quando um campo magnético atravessa o SQUID, ele move-se ligeiramente. Alterando-se o sentido do campo magnético vários bilhões de vezes por segundo força-se o SQUID-espelho a sacudir velozmente - tão rápido que ele atinge cerca de 5% da velocidade da luz.

E essa velocidade parece ter sido suficiente.

Segundo os físicos, o espelho gera um chuveiro de fótons, que saem desse nada chamado vácuo quântico, refletem-se no espelho, e surgem para o mundo real, onde podem ser detectados por fotocélulas.


O espelho gera um chuveiro de fótons, que saem desse nada chamado vácuo quântico, refletem-se no espelho, e surgem para o mundo real, onde podem ser detectados por fotocélulas. [Imagem: Wilson et al.]
Os cientistas afirmam que, conforme previsto pela teoria quântica, os fótons têm cerca de metade da frequência das sacudidas do espelho.

Luz de Feynman

No estágio atual, com este experimento pioneiro, ainda não é possível prever alguma aplicação para o efeito, uma vez que a luz gerada é muito fraca para fins práticos.

Mas pode ser uma luz suficiente para clarear as esquisitices da mecânica quântica e, quem sabe, tirar a razão de Feynman: quem sabe dos cientistas já não estejam começando a entender "alguma coisa" de mecânica quântica?

Se este for o caso, logo poderá ser dada razão a um outro grupo de físicos que, em 2006, previu que será possível, no futuro, construir nanomáquinas alimentadas pela energia do "nada".

Veja outras pesquisas sobre o vácuo quântico:

Matéria e antimatéria podem ser criadas do nada
Super laser poderá criar matéria do nada
Estrela de nêutrons pode acordar o vácuo quântico
Confirmado: a matéria é resultado de flutuações do vácuo quântico

Bibliografia:

Observation of the Dynamical Casimir Effect in a Superconducting Circuit
C.M. Wilson, G. Johansson, A. Pourkabirian, J.R. Johansson, T. Duty, F Nori, P. Delsing
arXiv
24 May 2011
http://arxiv.org/abs/1105.4714

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Zazenkai



Na foto parte dos praticantes de Florianópolis e algumas cidades próximas que vieram ao zazenkai de junho. Todos meditaram, trabalharam em conjunto para arrumar a sede da comunidade, e depois de uma palestra, assistiram o filme dinamarquês "Por um mundo melhor", história de um meninos que enfrentam os dilemas éticos de nosso mundo.
Mais fotos aqui
"Assim que o sol da consciência brilha, naquele mesmo momento uma grande mudança acontece. A meditação deixa o sol da consciência levantar facilmente, assim podemos ver mais claramente. Quando meditamos, parecemos ter dois egos. Um é o rio corrente de pensamentos e sentimentos, e o outro é o sol da consciência que brilha neles. Qual deles é nosso eu? Qual é o verdadeiro? Qual é o falso? Qual é bom? Qual é ruim? Por favor tranqüilize-se, meu amigo. Abaixe sua espada afiada de pensamento conceitual. Não tenha pressa de cortar seu "eu" em dois. Ambos são eu. Nenhum é verdadeiro. Nenhum é falso. Eles são ambos verdadeiros e ambos falsos." ~ Thich Nhat Hanh (Do livro "The sun my heart") (cortesia de Marcos da comunidade zen de Londrina)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Últimas palavras de Joko Beck



Segundo Joan Halifax Roshi, as últimas palavras de Charlotte Joko Beck foram:
- This too is wonder.

“Isto também é maravilha.”

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Charlotte Joko Beck falece aos 94 anos

Charlotte Joko Beck dies at 94; American Zen pioneer
Share
Print FriendlyPrint Article

By Adam Tebbe
June 15, 2011

Charlotte Joko Beck, Zen teacher, author and founder of the Ordinary Mind Zen School, has died peacefully today, June 15, 2011 at 7:30 a.m., at age 94.

Born on March 27, 1917 in New Jersey, Beck studied at Oberlin Conservatory of Music and taught piano for a time. She married and raised four children before separating from her husband and working as a teacher, secretary and assistant in a university department. She came to Zen practice in her forties and studied with the late Hakuyu Taizan Maezumi roshi. For many years she commuted between San Diego and Los Angeles to practice with the roshi. Of her experiences, Beck said in an interview with Shambhala SunSpace (http://www.shambhalasun.com/), “I meet all sorts of people who’ve had all sorts of experiences and they’re still confused and not doing very well in their life. Experiences are not enough. My students learn that if they have so-called experiences, I really don’t care much about hearing about them. I just tell them, “Yeah, that’s O.K. Don’t hold onto it. And how are you getting along with your mother?” Otherwise, they get stuck there. It’s not the important thing in practice.” Asked what is the important thing in practice, she replied, “Learning how to deal with one’s personal, egotistic self. That’s the work. Very, very difficult.”

Joko Beck also studied with both Haku’un Yasutani roshi and Soen Nakagawa roshi. She became one of Maezumi’s twelve Dharma successors in 1978 and went on to establish the Zen Center of San Diego in 1983 (where she served as head teacher until July, 2006). She is the founder of the Ordinary Mind Zen School, a loose fit organization of her Dharma successors which is non-hierarchical. As a teacher of Zen, Joko Beck was free from the patriarchal trappings of Japanese Zen. Joko’s approach to Zen ">">teaching was greatly informed by Western culture, and she discontinued shaving her head, seldom wore robes and seldom used titles.

Joko was the author of two very important books that are frequently recommended by interviewees at Sweeping Zen— Everyday Zen (1989) and Nothing Special (1993). Her first book, Everyday Zen, is a book in which she described what meditation is and, more importantly, what it is not. Author Ruthann Russo writes, “…she says it is not about producing psychological change, achieving some blissful state, cultivating special powers or personal power, or having nice or happy feelings. She does say that meditation practice is simple, and it’s about ourselves. To practice effectively, we need to remove ourselves from all external stimuli. Then we experience reality, which is challenging for most of us.”

Her second book, Nothing Special, is, as Maezumi himself once remarked, very special. In it Joko expresses what is the original essence of Zen—unencumbered by some of the formal practices and activities we’ve come to associate with Zen practice over the years. For Joko, Zen is simply being right here in the moment, with nothing extra. Zen practice will yield us nothing other than this moment. In the book she answers her students questions and helps highlight, again, what Zen practice is really about. She says, “Practice has to be a process of endless disappointment. We have to see that everything we demand (and even get) eventually disappoints us. This discovery is our teacher.”

In 2011 Joko began eating less and was rapidly losing weight. Her family placed her under the care of hospice. She is survived by her four children: Eric, Helen, Greg (Dharma name Tando) and Brenda (Dharma name Chiko).

Dharma successor Barry Magid says, “One of her great virtues as a teacher was that she did not try to clone herself. She let us digest her teaching and grow in our own different directions. Her Dharma seeds are scattered far and wide. They will go on sprouting in ways we cannot predict and cross-fertilize with other lineages. The Ordinary Mind School may grow or wither, but her influence is now everywhere.”">

Sobre o Zen - Época Negócios


Retiro de meditação zen em Florianópolis.

Meditação produtiva (Época NEGÓCIOS)

Conheça a empresa que levou seus funcionários a um templo budista, usou a doutrina como ferramenta de treinamento e criou o conceito de “personal monk”


Por Darcio Oliveira


A primeira regra era o silêncio absoluto. Não se admitia um pio, nem mesmo uma conversinha paralela, sussurrada que fosse, entre os jovens executivos que acabavam de entrar no templo budista de Barra do Sahy, no litoral paulista. Eles chegaram à noite, vindos de ônibus, da capital, com o propósito de participar de um retiro espiritual de dois dias. Após o jantar, deveriam se dirigir aos dormitórios, em grupos de seis ou sete, acomodando-se em colchonetes espalhados pelo chão. No dia seguinte, bem cedo, depois de arrumar os quartos, rumariam em fila e sempre em sepulcral quietude a uma das salas da casa. Era hora do exercício de alongamento, seguido de Zazen, uma espécie de meditação em que os integrantes ficam ajoelhados sobre almofadas, de frente para a parede, com os olhos semiabertos. “O Zazen é o momento único de cada um, a busca pela luz interior”, define Ângelo Palumbo, ou Anju, um aprendiz de monge da Zendo Brasil, comunidade zen-budista criada há dez anos em São Paulo. Foi Anju quem conduziu a cerimônia, os exercícios de alongamento e de respiração e as tarefas comunitárias do grupo. Cuidou até do cardápio, baseado em peixes e pão caseiro. A única extravagância foi a pizza do último dia para celebrar o sucesso da vivência espiritual.
A experiência zen-budista de Barra do Sahy reuniu 20 funcionários da Pieracciani, uma consultoria paulistana especializada em gestão da inovação. Criada em 1992, a empresa vem se destacando nos últimos anos por adotar internamente um modelo de administração inspirado em conceitos humanistas e espirituais. Eis o credo da casa: pessoas de bem com a vida transformam o ambiente de trabalho. “E essa transformação só ocorre por meio do autoconhecimento, algo que pode ser estimulado pelos preceitos budistas”, afirma Valter Pieracciani, fundador da companhia e pai da iniciativa de contratar a consultoria monástica de Anju para lapidar seus consultores executivos. Segundo Valter, o retiro no litoral paulista foi tão bem recebido pelo time que deu origem a outra ideia: as sessões individuais com os monges. O “personal monk” é realizado na própria Pieracciani.
Ana Paula Keller, gerente de projeto da consultoria, garante que as experiências aperfeiçoaram aspectos como domínio da ansiedade, concentração, organização e administração do tempo. Seu colega Francisco Tripodi também lembra com entusiasmo do princípio zen-budista do “não eu”. Traduzindo: é a prática cotidiana de se livrar do egocentrismo, privilegiando o espírito de equipe. “São conceitos que valem para a vida e para o trabalho”, diz Tripodi.
O problema é que conversas sobre luz interior e “não eu” ainda causam certo estranhamento no ambiente corporativo, movido geralmente pela objetividade dos números e das tradições administrativas. Existem, claro, empresários e executivos adeptos do budismo, mas a maioria não costuma socializar os ensinamentos. E só os pratica fora do escritório. Steve Jobs é o exemplo mais famoso desta casta: um cidadão budista, mas um homem de negócios egocêntrico e materialista. O que a Zendo Brasil propõe é algo diferente: a utilização das técnicas do budismo como ferramenta de recursos humanos, uma experiência pioneira no Brasil.
“Aos poucos as empresas perceberão que pessoas de bem com a vida tendem a ser mais produtivas e inspiradoras”, diz a monja Coen, mestre de Anju e fundadora da Zendo Brasil. No caso da Pieracciani, o zen-budismo também ajudou a manter em seus quadros os talentos da irrequieta geração Y. “Nosso programa de retenção não se resume às meditações, claro, mas elas foram importantes para reduzir o nível de ansiedade da galera”, afirma Valter. “O controle emocional traz perenidade à equipe.”



Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI229988-16363,00-MEDITACAO+PRODUTIVA.html

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os arquivos da memória


Pergunta – Quando se usa a expressa apagamento da memória, não é bem assim, não é um
apagamento da memória. Fica claro que o apagamento é complicado.

Resposta – Não, se fosse simples assim, se apagaria a memória e estava tudo resolvido. Na realidade tudo está disponível, mas existe pleno domínio, você vai acessar o que quer,como acontece mesmo no computador, você só acessa o arquivo que deseja. A emoção perturbadora é como um vírus que se encarrega de abrir arquivos que você não quer abrir.
Você deixou que o computador fosse infectado por uma emoção e daí ele abre arquivos que você não quer abrir, quando ele quer, e o arquivo está sempre retornando na tela, é um vírus desses destruidores, ele trás de volta e você não tem mais domínio nenhum. Domínio zero, esse é o estado em que as pessoas normalmente vivem.

Observação: – Mas isso é como uma crise, a pessoa precisa estar numa crise feia.

Resposta - Mas as pessoas vivem normalmente assim, as pessoas que estão andando na
rua, elas estão numa espécie de sonho que elas não dominam, elas estão andando mas
não estão vendo, não estão no momento presente, estão pensando – a conta que tenho
que pagar, será que isso vai dar certo, será que Fulano gosta de mim – qualquer coisa, uma sucessão de coisas sem fim rodando uma depois da outra, mas não estão realmente na calçada, estão vivendo um sonho, por isso não estão acordadas. No budismo nós treinamos nossa mente para despertar, para sermos donos do sistema, abrirmos arquivos que quisermos quando quisermos, para não sermos dominados por uma emoção invasiva.
O termo para meditação em sânscrito é bhavana, bhavana significa treinamento. Na verdade nós estamos treinando uma habilidade, a habilidade de sermos senhores da mente e não sermos levados pela torrente. Podemos fazer o que quisermos, quando queremos. Abrir o arquivo que queremos, não sofrer inutilmente, não ser arrastado por emoções, podemos ser sensatos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O rabo e as patas do boi


Na alegoria dos dez passos do boi ver o rabo e as patas é um dos passos iniciais.

Pergunta: Essa percepção do rabo e das patas ela pode ocorrer e a pessoa não se dar conta de que sentiu isso?

Resposta: Não propriamente. O que pode acontecer é que seja uma mera lembrança,
você tem uma pequena experiência e naquele momento ela é muito significativa, depois você lembra dela e pensa – Será que era uma fantasia, será que foi um êxtase, será um pouco uma alucinação porque estava num treinamento tão forte? – você sabe, mas é uma memória como se fosse vinda de outra pessoa e você não recupera a sensação. É como lembrar-se – Ah, uma vez estive apaixonado, foi tão bom, mas agora não estou, não tenho nenhuma paixão, nenhum amor na vida – Aí você lembra do sentimento anterior, mas você não o recupera, ele está morto dentro de você. Então uma das características do Kensho é essa evanecência, você tem a experiência mas ela se esvai, você não é dono dela.
Enquanto em uma iluminação genuína e permanente mudou tudo, realmente, não foi só um
vislumbrar, agora, esse vislumbrar é muito importante, porque você está aqui no sesshin, faz meditação e de repente tem alguma experiência simplesmente olhando para fora e vê tudo maravilhoso. Esse pequeno instante de maravilha já é um vislumbre, você descobre – Eu posso atingir uma mente assim - e pensa - Ah se eu tivesse uma mente assim todo o tempo. Então isso é muito importante, porque a partir do momento que você esteja no terceiro estágio, depois que você vislumbrou o rabo e as patas, você sabe que o boi existe, que a iluminação é possível.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Revista Triratna


Publicação Oficial do Colegiado Buddhista Brasileiro


Assunto: Revista Triratna - 2o. número
*[image: Triratna
2.jpg] Revista Triratna -

Publicação Oficial do Colegiado Buddhista
Brasileiro "> *

cbb.bodhimandala.com

Budismo no Brasil, Filosofia, Religião, Buddhismo Brasileiro

O esforço


Pergunta: Se eu me esforçar certamente irei conseguir?

Resposta: A resposta para essa questão de que gosto muito é que “com esforço não se
consegue nada, mas sem esforço aí mesmo é que não se vai a lugar algum”. Então isso é um pouco paradoxal, se você se sentar com esforço, “eu estou ambicionando isso, eu quero a iluminação, estou treinamento para obter a iluminação, eu quero, eu quero, eu quero”, você não vai conseguir, porque é uma mente aquisitiva cheia de ambição. Mas se você pensar, bom, então eu não sento, vou continuar andando,estou praticando na minha vida, lendo, sem fazer o esforço de treinar. Por incrível que pareça
eu encontro pessoas que dizem isso. Essas pessoas também não chegarão a lugar algum.

É necessário um esforço, uma determinação. Aí que reside uma diferença entre as escolas zen e as terra pura, caracterizado em dois termos Tariki e Jiriki. Tariki é
confiar no outro poder, o poder de uma graça de fora, de um bodisatva que fez o voto de nos salvar. Jiriki é o próprio poder, eu vou me sentar em meditação e vou treinar duramente para me tornar senhor da minha mente. A tese da escola Terra Pura é que isso é confiar demais em si mesmo e que os homens são incapazes disso. O argumento das escolas Jiriki, como o zen, é que, esse é o caminho de Buda. Buda fez pelo seu próprio esforço e nós estamos seguindo o caminho de Buda.
Então é por esforço, nós somos capazes, se Buda foi capaz, nós somos capazes. Buda
não é uma divindade, Buda é um homem. Então o zen desdiviniza Buda, o traz para o nível humano. Algumas outras escolas elevam Buda à um nível sobre humano. A um ponto tal que Shakyamuni Buda não é quem está nos altares principais, porque evidentemente ele foi um homem, então Budha Amidha tornou-se o centro da prática. Alguém que representa a compaixão universal, o universo inteiro.

Então nós estamos em uma escola do esforço próprio. Por isso o sesshin é duro. O primeiro e segundo passo do caminho do boi, já ensinado, praticamente todos já trilharam, é mais fácil de entende-los. O primeiro é uma inquietação, depois encontrar as pegadas e o terceiro é vislumbrei, eu vi alguma coisa, eu tive alguma pequena experiência.
Não pensem que á grande coisa essa pequena experiência, embora ela seja magnífica ela é pequena perante os passos seguintes como nos textos já postados.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O décimo passo (cont)


Festa do Hanamatsuri em Florianópolis.

No décimo passo, Na cidade com mãos auxiliadoras, “nos mostra um homem em uma feira, se misturando ao mundo. A imagem mostra um homem gordo, barrigudo, despreocupado, quem sabe um Osho (título do monge com transmissão no zen), a quem nada importa sua aparência pessoal. Está descalço, peito à mostra, sem se importar de que forma está vestido. Tudo isso simboliza sua nudez mental. Leva uma cesta que contém algo para as pessoas da cidade. Seu único pensamento é levar alegria aos demais. Mas o que ele leva no cesto? Talvez o vinho da vida.” Finalmente, segundo Sekida, o mundo do antagonismo se dissolveu, o modo habitual de consciência caiu por completo. Já não leva você o antigo traje de cerimônias, vai descalço com o peito desnudo, tudo é bem vindo, pensamentos errantes? Tudo bem, essa é a grande meditação de Buda e a forma de consciência mais ativa. Goza da perfeita liberdade do samadhi lúdico, positivo.
Para nós todos aqui, o mais importante são os passos iniciais. A pratica do samadhi, a experiência de kensho, o futuro satori para quem chegar lá. Samadhi é com esforço, kensho acontece, não adianta querer que ele aconteça, ele irá acontecer sozinho.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Charlotte Joko Beck - Últimos dias



Muitos leram seus livros, por exemplo o best seller "Sempre Zen", agora esta grande professora do Zen americano está em seus últimos dias, abaixo a tradução de trechos de uma carta escrita por sua filha e publicada no blog de Monja Elihu Genmyo Smith, também renomada mestre zen.

De Brenda.

Minha mãe, Joko, está agora no hospital e eu não espero que ela viva mais do que uma ou duas semanas. Eu a coloquei no hospice (hospital para pacientes terminais) porque ela não estava comendo e perdia peso. Sei que ela é completamente feliz. Ela tem que estar na sua cama de hospital e ninguém diz que ela tem que se levantar e andar a cada hora. Ninguém está pedindo a ela para comer. Agora, ela vai ter porções no café, e talvez algo nas demais refeições e comer todo o seu sorvete de baunilha com calda de chocolate. Ela é feliz como um animalzinho, como ela me disse, irá morrer quando estiver pronta. Ela diz que é cedo.
Se você gostaria de visitá-la, há algumas orientações. Por favor, ligue o seu número de casa e peça ao cuidador (Robin, Olivia, Cari ou Diane) se não há problema em visitar e estabelecer um tempo. (O cuidador irá verificar com Joko.) Quando você visitá-la, um pouco de conversa é bom, mas a maior parte do tempo é só para estar com ela. Além disso, se seu cuidador lhe pedir para sair ou qualquer outra coisa, por favor, sei que eles têm a melhor das intenções.
......................

Como vocês sabem, minha mãe ama a todos vocês e queremos acomodar tantos visitantes como possível, desde que ela possa recebê-los. Mais uma vez, sei que ela está bastante contente e sem qualquer sofrimento.
Perguntei-lhe se ela tinha algum palavras para este e-mail e ela disse para você descobrir por si mesma.
Obrigado e amor a todos vocês.
Brenda


Tradução M. Genshô

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O nono estágio (cont)


No nono estágio, voltando à fonte, “basta que surja alguém da condição nem boi nem homem para saber que voltou simplesmente a fonte, um simples estalo e já te encontras no cálido e brilhante sol da primavera com as rosas que florescem, os pássaros cantando e a gente cochilando sobre a relva. Se alguém se fixar bem na cena perceberá que é o mesmo mundo velho que viu ontem. As ladeiras cobertas de cerejeiras em flor, os vales invadidos pelas flores da primavera, mas cada flor tem seu próprio rosto e fala contigo. As coisas que ele vê, os sons que ouve são todos Budas. O antigo modo habitual de consciência caiu e você voltou para a terra pura. Antes de alcançar esse estágio ele teve de passar pelo ”nem boi nem homem”.
Primeiro penetrou o interior de si mesmo, uma por uma foram se descascando as camadas da cebola até ficar reduzida a nada, isso é o samadhi absoluto. Mas agora você está no samadhi positivo no qual a consciência está ativa. Nesse estágio de voltando à fonte o que se experimenta é idêntico, em certo modo, ao experimentado no terceiro estágio, o encontrando o boi. Porem há toda diferença do mundo no grau de profundidade. Há um ditado zen que fiz: “sempre indo e vindo como um ioiô, do princápio ao fim”. Teus logros se aprofundam retornando repetidamente ao princípio, ao estado de principiante e logo traçando novamente o caminho que já percorreu. Deste modo tua maturidade se torna incomensuravelmente firme. Hakuin Zenji nos diz que quando tinha mais de sessenta anos teve o satori de novo”. Nos comentários de Sekida ele diz que no estado anterior se realizou uma total e decisiva purificação da consciência e se dragaram os resíduos acumulados ao longo de incontáveis
éons. Éon é uma palavra hindu para designar um tempo muito longo. Um éon é como se
fosse um dia universal. Um conto antigo diz, imaginem a montanha mais alta, de cem em cem anos, um pássaro vem com uma peça de tecido da mais fina seda e passa no topo do monte, quando o monte estiver desgastado, passou um éon.
Mas no estado presente, Voltando à fonte, a consciência começa a funcionar de novo em um estado mental purificado. É como aplicar um pincel sobre uma folha de papel em branco, cada pincelada se destaca com pleno brilho. Se escutamos musica, nos soa como incrivelmente linda. É um estado de samadhi positivo em que o kensho tornou-se permanente. O que se diz do tathagata será certo para ti, encontrarás o rosto de Buda para onde quer que dirijas teu olhar. Até ontem necessitavas de um grande esforço para desenvolver o estado de samadhi absoluto e um controle feroz de
toda a atividade da consciência. Agora deixa que ela se abra alegremente em toda sua
plenitude. Porque a consciência tornou-se límpida, o kensho é permanente e a isso se chama satori.” Satori é kensho permanente, tudo que olhamos é perfeito, tudo que
ouvimos é lindo, não existe mais nem bem nem mal, certo ou errado. Todas essas coisas são tão transitórias que o que parece mau é bom.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Shantum Seth em Florianópolis


O Professor do Dharma, ligado a Thich Nhat Hanh, Shantum Seth, fez palestra sobre as peregrinações budistas que realiza na Índia na Comunidade Zen budista de Florianópolis, passou aqui rapidamente com sua espôsa e duas filhas pequenas. Na foto ele brinca com uma mistura do aperto de mãos e do gasshô, misturando no gesto os dois cumprimentos.


O que espiritualidade significa pra o Senhor?

Consciência, estar presente e estar consciente do que está acontecendo dentro de mim e à minha volta. É uma forma de ser, não é algo que eu faço meia hora, cantando ou sentado numa almofada e depois abandono o resto do dia.
Shantum Seth.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O oitavo passo (cont)


O oitavo passo tem como símbolo o círculo vazio, Nem boi nem homem. “No estágio anterior,Perdido o boi, resta o homem você pode ter pensado que tudo terminou. Porem agora aparece outro estágio no qual tanto o boi como o homem são esquecidos. Aqui temos um verso zen; “De noite engalfinharam-se dois touros de barro, desaparecendo no mar enquanto lutavam, e esta manha nada se ouve deles”.
No momento em que o ego aparece, surgem as circunstâncias. Quando o ego se esfuma, se esfumam as circunstâncias. A subjetividade e objetividade se acompanham mutuamente. Vamos contar a historia de uma Deidade guardiã que desejava ver Tozan Osho, mas não conseguia. Ele colheu uma porção de cevada e arroz na cozinha e espalhou no pátio. Tozan ao ver os grãos pensou – Quem poderia ser tão negligente? –
naquele momento a deidade pôde ver Tozan, pois a deidade só vê egos. Na mente de Tozan manifestou-se pressão interna, como uma nuvenzinha num céu de verão. Veio e dissipou-se deslumbrante na brilhante serenidade do meio dia e logo tudo voltou a acalmar-se novamente”. Essa historia tenta nos mostrar que Tozan tendo se iluminado não era movido pelos pensamentos, dessa maneira era invisível para deidades. Então a deidade resolve espalhar cevada no chão e desperta aquele pensamento na mente de Tozan – Que monge seria tão descuidado, quem foi tão negligente? – E com essa leve indignação ele tornou-se visível, tornou-se visível é uma metáfora para ter um eu, e logo a seguir ele desapareceu de novo para as deidades. “Esse estágio corresponde ao dito do Mestre Hinzai “tanto homem como circunstâncias estão desaparecidos”.
Sekida diz que “podemos distinguir arbitrariamente um numero de graus de consciência. Nível A; o mais elevado em que os pensamentos e as idéias vão e vem. Nível B; um grau que compreende, mas que não forma idéias. Nível C; um grau
que é só consciente. Nível D; um grau que simplesmente reflete os objetos internos e
externos como faz um espelho”. Quando ele diz o mais elevado, ele se refere ao mais elevado nível de consciência existente, não quer dizer o melhor, mas sim o pior, o grau em que a consciência está mais presente, aquele em que as idéias vão e vem. A medida que diminui a consciência sobe o nível, logo, um nível mais baixo de consciência é o mais elevado de realização.
O segundo um grau que compreende mas não forma idéias, o terceiro um grau que
é só consciência, que simplesmente reflete os objetos internos e externos como faz um
espelho, neste estado aparecerão em ocasiões rastros de ação reflexiva da
consciência que iluminarão momentaneamente o cenário da mente.” Nível E; o
grau mais profundo, onde não penetra nem a mais tênue ação reflexiva da consciência,
aqui manifestam-se certos vestígios de nosso estado de ânimo, é uma espécie de memória do tempo de nossa vida e de nossos antepassados. Querem subir a superfície da consciência para expressar-se. Mesmo que a entrada não lhes seja permitida, não deixam de afetar,mesmo que de maneira remota, mas importante, a corrente de atividades da consciência que está em mudança afetada pelos pensamentos “nen” (impulso que precede o pensamento) que aparecem a cada momento. No samadhi absoluto a atividade cerebral fica reduzida ao mínimo limpando-se a fundo a procura da antiga memória. Varre-se o modo habitual da consciência, desaparece o reflexor e o refletido, um mundo de profundas nuances. Esse estágio é chamado de samadhi sem pensamentos que é idêntico ao samadhi absoluto. É o estado em que podemos dizer nem bois nem homens.
O que importa para nós é que o que queremos guardar da memória é algo tremendamente perturbador para o samadhi, porque ele retorna, e todas as vezes que retorna o samadhi está anulado. Nós praticamos zazen para treinar o samadhi, a concentração, o momento presente. Todas as instruções iniciais podem ser reduzidas a uma única, fique no momento presente. Não quer dizer realmente não pensar, mas é uma forma muito sutil de pensamento, que é mera percepção das coisas em volta. A sensação estou aqui nessa sala, ouço esse som, percebo. Há percepção mas não há julgamento, considerações, estimativas, planejamentos, intenções, só treinar o samadhi. Estou em samadhi, plenamente presente. Aí surgem memórias e quando elas surgem elas nos tiram do samadhi. Os pensamentos surgem um sucessivo ao outro, não existem dois pensamentos simultâneos, não existe um pensamento sempre presente. O que acontece é que um pensamento expulsa o precedente, normalmente encadeados, como um link num texto do computador. Você clica, acessa aquele substrato da memória, acessa aquele arquivo. É como na tela do computador, você não vê duas imagens ao mesmo tempo, sempre que surge uma imagem ela expulsa a anterior, pode até ter um alerta avisando que você tem um arquivo, mas você precisa clicar nele para abrir, sempre um arquivo expulsa o outro. Na tela da nossa consciência, só surge uma coisa de cada vez, é que normalmente ela chamam outras e nós ficamos fazendo essa sucessão de pensamentos e isso é a atividade mais baixa, é o nível de realização mais baixo, ou seja, realização zero, é uma mente que vive de encadeamentos de pensamentos ou presa a memória e emoções sempre invasivas, significa controle zero do boi,o boi vai para onde quer.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Recapitulando os passos (cont)


Recapitulando os passos anteriores. No primeiro passo, o principiante que nem vê, está apenas começando sua jornada, depois ele encontra as pegadas do boi e começa a praticar o zazen mas ainda não experimentou um kensho. No terceiro passo, vislumbrando o boi,quando ele já teve algumas experiências místicas mesmo fracas, mesmo de alguma emoção e percepção clara das coisas. Depois o quarto passo quando ele segura o boi,mas o boi é rebelde e ele se sente desanimado pelo fato de apesar de compreender o dharma e apesar de ter tido experiência místicas ele se vê sempre caindo de novo em angustias, desespero, raiva, cólera, ciúmes e reagindo à vida como um homem comum.
No quinto passo ele domina o boi e esse se torna um pouco mais manso, e o domador julga que agora pode lhe ensinar alguma coisa. Algumas pessoas tem a sensação de que no passado estavam melhores no zen, tiveram as primeiras experiências, e elas pareceram muito brilhantes, maravilhosas. O primeiro sesshin. A explicação para isso é nós estamos saindo do zero e o primeiro progresso parece um passo importante. Depois fica mais difícil subir, cada ganho é mais penoso e eventualmente se vê
descendo a ladeira, já tinha no passado alcançado um determinado nível e agora perdeu, ou se critica por não conseguir um bom samadhi. Sentam em zazen e a mente viaja todo o tempo, surgem coisas do passado que ela não controla. Esse é um momento importante por que é necessário não desanimar, porque houve grandes ganhos já, só que a pessoa não percebe com clareza.
No sexto passo, um boi agora manso e obediente, ele monta tranquilamente
sobre a garupa. Os acontecimentos normais da vida não o perturbam mais, quando acontecem ele lida com eles com naturalidade, aquilo que parecia terrível no passado, agora não é mais.
No sétimo passo, kensho, iluminação e o zen são esquecidos, ele não mora em lugar algum e deixa que sua mente trabalhe.