sexta-feira, 31 de março de 2017

Budismo e Religião (1)




Pergunta: É possível dizer que a visão da originação dependente, essa explicação do budismo, decorre de uma visão materialista?

Monge Genshô: Eu acho que ela decorre da necessidade de negar o niilismo e de negar o eternalismo, não é?

Pergunta: Mas ela não é idealista.

Monge Genshô: Não, ela não é idealista. Ela é só uma verificação de que as coisas são assim. Isto é porque aquilo é. As coisas dependem umas das outras e não são independentes, o que contraria a noção normal que nós queremos simplificar. 
 Nós dizemos "eu sou assim" ao invés de dizer "eu sou assim por causa de uma miríade de condições que me rodeiam - eu não sou assim por mim mesmo". Não existe nada que você possa dizer que é como é por si mesmo, pois não há uma identidade própria, não existe uma identidade própria no universo. Não há nenhuma alma universal a qual se unir ou uma identidade qualquer no universo que planeje ou pense etc. e tal. O budismo nega isso, que vem com a negação da própria existência de um deus criador ou qualquer coisa assim. Esse é o único sistema de pensamento no mundo que tem essa visão dissolvente em relação à realidade e a qualquer coisa que você pense lá fora.

Pergunta: Ou seja, não precisa de uma visão metafísica para dizer isso. Nesse sentido dá para dizer que é materialista…

Monge Genshô: Em certos momentos, questionamos: como é que o budismo, com todas essas visões, constitui-se como uma forma de caminho espiritual e uma organização, com organizações, que você olha e são aparentemente religiosas? Mas a palavra religião não se encaixa bem no budismo. 

(continua)

quinta-feira, 30 de março de 2017

Como posso ajudar?


Muitas pessoas nos perguntam como podem contribuir para ajudar o nosso trabalho de difundir o Dharma e diminuir o sofrimento. O Instituto Todatsu, mantenedor das Sanghas do Daissen Ji, criou um sistema eletrônico para facilitar as contribuições, 80% dos recursos são destinados a comunidade de origem, para contribuir regularmente basta preencher o formulário disponível no link abaixo:

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Os frutos do karma

quarta-feira, 29 de março de 2017

"Carma Coletivo"




Pergunta: Tal como os Dharmas têm uma originação interdependente, o carma tem originação interdependente? Também nesse sentido, querendo abordar a ideia de carma coletivo, como seria a modificação através da prática de carma coletivo?

Monge Genshô: Carma normalmente é entendido como ação intencional, e que muda a onda cármica. Mas todo carma, enfim, também se esgota, tanto o bom quanto o ruim. O carma também é interdependente, também se dissolve. É só uma questão de durabilidade mais longa, mas ele também cessa. 

Há pessoas que atingem um carma divino, mas os deuses também morrem no budismo. Nós chamamos no budismo de "deuses" os seres que atingiram tal qualidade, que suas vidas não têm sofrimento, são só prazer. Mas esses carmas também se esgotam - como dito, a longo prazo todos os carmas se esgotarão.



Não podemos dizer que existe um carma coletivo. De certa forma, por exemplo, todos nós nascemos no Brasil, porque temos uma atração por esse lugar, por essa forma como ele é, etc. E nos manifestamos aqui porque somos, de certa maneira, parecidos nesses aspectos. Por isso dizemos: "ah, o nosso povo é assim"; o nosso povo tem uma certa tendência. 

Portanto, partilhamos um determinado carma, e, por isso, certo destino cármico. Então, nós podemos dizer, nesse sentido, que existe alguma coisa como um "carma coletivo". Mas, por definição, o carma é uma manifestação individual, coesa, e não eterna. Ela também é como uma onda, e com o tempo se desfará. Ela também se gasta.