terça-feira, 22 de dezembro de 2009

ZEN E O CRISTIANISMO


Conferência sobre o Zen e Cristianismo em Portugal

O Cristianismo está na origem da nossa civilização ocidental. O Zen, síntese do Budismo e do Taoísmo, está, por sua vez, na origem da civilização japonesa. Mas, para além da sua função histórica, o Zen e o Cristianismo falam ao coração do homem para o convidar a percorrer um caminho de libertação. Estas duas vias não são incompatíveis: elas são como dois caminhos que levam ao cume de uma mesma montanha. Um crente católico e um monge zen debatem as suas semelhanças e as suas especificidades.

Local: Fundação Oriente (Lisboa, Portugal)
Conferência
data: 23 Janeiro
Horário: 16.00
Piso 4
Entrada livre

Oradores: Yves Crettaz (monge zen) e Manuel Neves Tavares de Oliveira (licenciado em Direito, com o curso de Teologia do Seminário Maior)

Extraído daqui.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Angô em fotos



Mais fotos do Angô (retiro de três meses) que está sendo realizado nas montanhas da Califórnia nos EUA. Veja mais aqui!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Angô Sotoshu no Yokoji-Zen Mountain Center

(monge Genshô está ao fundo, à direita)

O Angô Sotoshu começou nesta terça-feira. A imagem é da cerermonia, logo após a abertura, e mostra Tenshin Roshi, Akiba Roshi, Shihomi Roshi e outros professores e funcionários. Lembre-se, nossa programação continua normalmente durante este Angô de 3 meses.

(este blog segue editado por Michel Seikan durante a ausência do monge Genshô até o seu retorno em março/2010)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Esforço conjunto para abolir as armas nucleares

Religiões se reúnem para enfatizar o desafio vital da abolição nuclear no Parlamento das Religiões Mundiais em Melbourn

Representantes budistas, cristãos, judeus e muçulmanos falaram em uníssono durante o Parlamento das Religiões Mundiais em Melbourne, Austrália, no dia 7 de dezembro, pedindo uma liderança moral por parte das religiões do mundo no esforço de abolir as armas nucleares.

Continue lendo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Aikidô


Fim de ano, na foto de celular podemos ver mais uma atividade da Sangha que finaliza o ano, o Aikidô, liderado pelo Prof. Altair.
O grupo de Aikidô é responsável por financiar várias benfeitorias da Sangha, uma prática ligada ao budismo desde suas origens.
Zazen, Aikidô e uma comemoração foram os acontecimentos de ontem.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Qualidades para cultivar no trabalho


Não dualidade: aprender a não ter visões fechadas, tipo certo errado, mas contextualizar, ser flexível mas sem esquecer a ética.
Impermanência: Veja a vida em seu fluxo, nada permanecerá, tudo, coisas empresas, passarão. Se concentre nas soluções, não emocionalize os problemas de trabalho, não durma com eles.
Equilíbrio: Olhe o mundo com equanimidade, não atribua o gosto não gosto de sua mente aos acontecimentos, viva e aja naturalmente, responda a questão "quem somos nós" de forma correta, sem fantasias nem sobrenaturalidades.
Desejo: Não aja em função de suas paixões mas em função do papel que o mundo precisa de você, abdique da individualidade em favor da universalidade.
Desapego: Esteja pronto para perder tudo, as coisas são impermanentes mesmo, não se deixe arrastar ou confundir pela nocão de que eu sou minha empresa, ou meu trabalho, isto é apenas um episódio...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Olhos Vagabundos


A COMPLICADA ARTE DE VER
Rubem Alves

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria!

Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de
estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.

De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas.
Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro:
'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca.
Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.

Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.

"Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.

Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram".

Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas,eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática.
Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.

Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.

Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar
para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão
seria partejar "olhos vagabundos"...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A ação não egóica


P: Enquanto houver um eu observador , mesmo que não julgador, ainda assim haverá um eu. Essa ausência total do eu implica em "nada fazer"? Ou, posso "fazer" sem a presença do eu?

R: Sim, a ação deveria ser “sem um eu” ou seja desinteressada, sem ambição de obter nada e assim por diante, sentamos em zazen “sem objetivo” já tentando treinar isso.
Não se trata de nada fazer, que seria quietismo, inação, e podemos ver como os mestres são realizadores. A ação não egóica tem a virtude de não gerar karma, desde que é desprovida de intenção aquisitiva, livre como um ato da natureza.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Moriyama Roshi com membros de Florianópolis


No Cinquentenário do Templo Busshinji, em SP, Moriyama Roshi conversa com alunos da Comunidade Zen Budista de Florianópolis.

Zazenkai de fim de ano em Florianópolis



Foto do zazenkai de fim de ano, no sítio do Gimyô, das famílias da Sangha de Florianópolis. Mais fotos podem ser vistas aqui.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Como se usa o termo "Sensei" ? E "Roshi"?


Cerimônia com noviços, monges, senseis e roshis no Templo Busshinji em 2009.

Explica Coen Sensei em seu texto "A Ordem Monástica da Escola Sôtô Shû e Sua Adaptação na Comunidade Zen Budista Zendo Brasil" :

“Sensei” (先生) são exclusivamente os Monges que receberam Transmissão de Darma.
“Rôshi” e “Dai-oshô” (大和尚) são títulos reservados aos Monges Titulares que tenham demonstrado, por sua prática e empenho, o merecimento. Na tradição Soto, é preciso que haja a recomendação de outro monge titular para que seja oficialmente reconhecido como digno de ser assim chamado. Nota: Na tradição Rinzai, quando o Monge recebe “Inka” (a conclusão do estudo sistemático de koans e a aprovação como professor do Darma), passa a ser chamado de “Rôshi”.


Notas do blog:
Literalmente "Sensei" significa "mais antigo" e é usado na língua japonesa para qualquer pessoa em posição de ensinar,(como um mestre escola por exemplo) no zen o uso é mais estrito e normalmente se usa para o monge graduado como "Oshô" (和尚)(que recebeu a transmissão) quando este tem alunos.
A palavra Oshô significa literalmente Mestre. No Soto Zen, Oshos usam manto amarelo mas para serem Sensei tem que ter alunos e trabalho de liderança em uma Sangha.
Dai quer dizer grande, Dai-oshô, grande mestre, se usa sempre para os mestres ancestrais na recitação das linhagens.
Roshi, traduz-se como "velho mestre" é um tratamento honorífico sem um registro especial ou cerimônia.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O casamento budista é um sacramento?


Sacramento é um ato de um sacerdote em nome de um Deus, algo feito por Deus então, já que entende-se o sacerdote como um intermediário entre a divindade e a humanidade, os monges ou reverendos budistas não são sacerdotes porque o budismo não considera a existência de deuses interferentes no universo.
Assim não é um sacramento o casamento budista e sim uma cerimônia espiritual/emotiva para o benefício dos noivos e das famílias, por isso não exigimos que os noivos sejam budistas, são eles que se casam, não somos nós que os casamos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A partilha do mérito


Foto de cabana em Yokoji, onde se realizará o Angô oficial da SotoShu.

Para graduar-se como Osho (Sensei) os monges precisam fazer angôs, treinamentos oficiais da Soto ZenShu para o qual são selecionados monges em treinamento nos continentes, neste ano de 2010 15 vagas foram abertas nos EUA, duas para o Brasil, para esse fim. Embarcarei dia 13 de dezembro. Três meses de retiro e aulas em um centro a 2000 m de altura, nas montanhas de S. Jacinto na Califórnia, durante o inverno. A SotoShu dá uma bolsa completa de estadia aos monges selecionados e fornece uma equipe de 20 professores vindos de todo o mundo.

No entanto passagem e implementos devem ser fornecidos pelos alunos do angô. Muitos alunos e amigos, sabendo deste fato, tem vindo oferecer auxílio que a tradição budista muito preza, não importando seu valor, pois permite partilhar o mérito do esforço pessoal, dando aos que ajudam karma positivo.

Agradeço imensamente a todos que tem ajudado, a cada um que o faz não posso evitar o sentimento de emoção provindo de sua confiança e generosidade com um monge em seu treinamento.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Triratna, revista buddhista do CBB



É um prazer anunciar o lançamento da Revista Triratna do Colegiado Buddhista Brasileiro, uma revista online que almeja trazer artigos e depoimentos de professores buddhistas brasileiros e/ou conectados com o Brasil, com temas atuais e informativos. O Colegiado Buddhista Brasileiro é uma entidade sem fins lucrativos criada com o objetivo maior de contribuir para a difusão, sustentação e correta orientação dos ensinos de Buddha. Com a Revista Triratna, uma nova frente se abre para a divulgação do Dharma (pali, Dhamma) em língua portuguesa. Seu número 1 pode já ser acessado aqui. Leiam e divulguem! (Texto copiado do blog Folhas no Caminho)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sobre o termo "monge"


Extrato de "aula" dada pelo eminente Rev. Wagner, Monge da ordem Otani do budismo Shin, em discussão aberta em site de relacionamento:

"Caros amigos e irmãos no Dharma,
Embora não esteja participando mais ativamente do fórum, acho que essa discussão em termos de compreensão é bastante válida, mas tenho sempre um pé atrás quando "de fora", digo, fora de uma instituição nós queiramos mudar usos e costumes da mesma. Acredito que movimento tenha que partir "de dentro", ou seja, a partir da compreensão e mesmo necessidade de adaptação dos termos por cada escola.

......
Vamos começar pela questão de se existem ou não "monges" budistas.
Bem, o termo "monge" já foi exaustivamente explicado em tópicos anteriores e por isso não carece repetir o que foi dito. (Monge vem do grego, "monos", e significa "só" uma referência ao isolamento dos primeiros contemplativos. NE) Então, na verdade, nem mesmo os Bhikshus atuais seriam exatamente monges, pois a maioria vive em templos "mosteiros" e levam vida comunitária e não solitária (caso que se aplica a quase todas as ordens "monásticas" cristãs, também).

No Japão há uma distinção entre os Bhikshus e "Sôryô" que seria o "monge" das escolas japonesas. O Sôryô não necessáriamente faz todos os votos do Vinaya e alguns nem mesmo os fazem oficialmente. É uma transmissão da linhagem.

No caso a Ordem Otani-ha do Budismo Shin (Higashi Honganji) à qual eu pertenço, vem trabalhando já a algum tempo, tentando melhorar o vocabulário em português e tentando evitar erros muito graves no uso desses termos, como por exemplo, chamar a cerimônia budista de missa, o "monge" budista de "padre budista" e etc.
Isso tudo tem raízes em dois pontos, um deles é a tradução e mesmo a publicação dos primeiros textos e livros em línguas ocidentais, em inglês é possível se ver até mesmo o termo "freira" budista para uma bhikshuni. Outro ponto desse problema está no fato de que o Budismo foi introduzido no Brasil pela colônia japonesa cuja língua não tem nenhuma relação com as raízes greco-latinas, e assim para se comunicar com os brasileiros, os japoneses, por exemplo, perguntavam aos católicos: "como se chama a cerimônia dominical que vocês frequentam na igreja?" e, ao ouvir a palavra "missa", imediatamente faziam a assimilação..... uma cerimônia religiosa se chama "missa" (o que é um grande engano).
E isso pode ser aplicado a muitos outros termos que foram se consolidando ao longo de décadas e é possível ainda se ouvir isso no dia-a-dia dos fiéis dos templos e até mesmo por parte de alguns religiosos.

No caso do termo "monge" na Escola Jôdo Shinshu, este seria totalmente inadequado, pois a nossa tradição não segue o Vinaya e nem mesmo parte dele, como no caso do Zen, Shingon, Tendai e outras escolas. Então, passamos a usar os termos correspondentes (também adaptados de tradições já existentes no ocidente) às funções, como por exemplo, Diácono (um religioso já iniciado mas não ordenado que realiza algumas cerimônias e serve a um templo ou comunidade), Ministro do Dharma para os ordenados, Missionários para os Ministros do Dharma que já possuem o grau de Mestre da Doutrina (Kyôshi) ou até mesmo Mestre do Dharma (Hôshi) e que recebem a incumbência específica de propagar o Dharma oficialmente em nome da Missão.
O título adotado para todos esses casos é o de "Reverendo", sendo esse um termo neutro que pode ser usado para qualquer religioso seja ele budista, cristão, islâmico, judeu ou outras denominações.
Mas confesso que ainda é complicado, pois quando as pessoas perguntam o que é exatamente um Ministro do Dharma, ou um Missionário da Otani-ha, a resposta mais simples é dizer: "um monge budista do Budismo Shin".

O fato de se utilizar o termo "monge Zen", "monge shingon", "monge nichiren" (acho que os religiosos do Nichiren-shu também usam esse termo, mas isso eu deixo para o nosso irmão Guilherme), e outras, apenas indica que essas pessoas receberam uma ordenação dentro de suas tradições.
Por mais que se proteste em listas do orkut, ou se berre à vontade, somente se os membros e praticantes de uma tradição discutirem e chegarem a um acordo e isso estiver de acordo com os Estatutos da Ordem é que poderá ser mudado.
Sem falar naquilo que eu já disse acima, "usos e costumes".
Se todos chamam o Genshô-san ou a Coen-san de Monge-Monja, ou Mestre ou Osho-san ou sei lá o que, vai depender da Ordem e da Comunidade.
Em minha cidade há uma colônia muito grande de imigrantes ucranianos que se dividem entre ortoxos russos auto-cefálicos (ou seja que não seguem as ordens do governo Russo) e de Católicos Romanos mas de rito oriental, nos dois casos há uma divisão entre monges (que fazem os tres votos: pobreza, castidade e obediência) e padres que apenas fazem o voto de obediência ao bispo, e portanto se casam, compram carros, casas e bens e sustentam suas famílias e filhos... isso aos olhos dos católicos romanos de rito latino é um absurdo, mas ambos são reconhecidos da mesma forma como "padres" pelo próprio direito canônico do Vaticano....
Então, para mim, é assunto interno.
Só vale a pena a discussão a nivel informativo.

gasshô."


rev_wagner@yahoo.com.br

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mais um monge brasileiro: Pháp Giang


Mestre Thich Nhat Hanh do budismo zen vietnamita, (chamado Thien no Vietnam).
Notícia sobre a primeira ordenação brasileira desta escola budista.

No dia 21 de novembro de 2009 fui ordenado como monge noviço em Plum Village, França, na tradição do ven. Thich Nhat Hanh. A cerimônia foi simples e leve, entremeada por pequenos descuidos que a tornaram mais leve e bem humorada ainda. sei que para os europeus isso soa estranho, por que eles adoram atividades muito formais e sem a presença do acaso, mas para nós, brasileiros, tudo isso é muito bem
vindo e me faz sentir mais em casa ainda...

Fui ordenado com mais dez amigos (seis homens e quatro mulheres, um do Canadá, dois da França, um estadunidense, dois vietnamitas, uma japonesa, uma holandesa, um alemão e uma chinesa - e eu do Brasil), no mesmo dia, vinte vietnamitas foram ordenados via internet.
Thay deu a essa família o nome de Lótus Cor-de-Rosa (já houve famílias com o nome de Lótus Branca e Lótus Dourada).
Essa família tem algumas características especiais, como diversidade de países e a idade (a maioria se situa na faixa dos 30 a 40 anos, um pouco velha para o costume).

Apesar dos muitos altos e baixos durante o período de aspirante, estou feliz com a minha escolha. Plum Village ainda é marcadamente européia, norte-americana e asiática, então espero tornar mais estreita a ligação entre Plum Village e o Brasil e a América Latina e enriquecer a diversidade cultural que é a marca dessa tradição.
Gostaria de destacar dois fatos que considero sintomáticos:

O primeiro foi que o monge responsável pela distribuição das roupas não sabia meu nome e como eu não estava no quarto na hora em que ele trouxe o meu hábito de aspirante, ele apenas escreveu num pedaço de papel "Brazil". Como único brasileiro e latino-americano desta comunidade senti nesse momento o peso da minha escolha e o impacto dessa escolha na vida da comunidade e, talvez, alguma expectativa também deles em relação a mim. Mas, é claro, uma das práticas aqui é não ter expectativas...

O segundo foi durante a ordenação, quando Thay pronunciou o meu nome de dharma monástico, Pháp Giang. Para os que não sabem 'Pháp' em sino-vietnamita quer dizer 'Dharma' (e em vietnamita moderno quer dizer França) e 'Giang'(pronuncia-se aproximadamente como Young em inglês, ou iang) significa 'Rio' - ou seja, Rio de Dharma. Para mim foi uma grande e agradável surpresa. Tendo vivido na Amazônia por muitos anos, quando ele disse esse nome, senti o rio Amazonas correr dentro de mim e me senti realmente como um rio. Mas sei que é um desafio ser realmente um rio, como nas metáforas que o Buda usou para expressar algo que a tudo abraça e a tudo transforma.

Interessante também ver que recebi o meu sanghati, hábito para grandes cerimônias formais, de um monge theravada da Tailândia, T. Pittaya, e que agora mora em Plum Village permanentemente. O Ricardo Sasaki sabe o quanto tenho apreço pelo budismo theravada e o quanto aprecio que o budismo praticado em Plum Village tenha uma mistura interessante com essa tradição, então foi com muito bom gosto que recebi de suas mãos.

Nesse período em que permaneci aspirante aprendi a duras penas a largar minha expectativas em relação a mim e em relação à comunidade e a não tentar pensar demais se serei um bom monge ou mesmo se serei um monge por toda vida...o que importa é o presente e no presente farei o melhor possível para mim e utilizando os elementos da nossa cultura para expressar esse melhor - não posso esquecer, e isso não é possível, que sou um monge cearense, de Quixeramobim, a maior parte de minhas raízes
está lá, trago dentro de mim o mandacaru e suas flores, a seca, a caatinga, a esperança de chuva, minha fala nordestina e muitos maneirismos dos meninos do interior do sertão e isso será, provavelmente, minha contribuição à diversidade cultural de Plum Village.

Agradeço a todos e todas que torceram por mim, direta ou indiretamente, ou que simplesmente se alegraram por saber que há um pedaço de Brasil nesta grande comunidade.

Samuel / Pháp Giang

sábado, 28 de novembro de 2009

O trabalho dos monges


Na foto à esquerda, Thomas Merton, escritor, conferencista, monge trapista católico. À direita o Dalai Lama, líder político e governante do Tibete,grande conferencista também, atualmente no exílio.

Ao tempo de Buddha, a primeira regra estabelecia que o monge viveria de mendicância, não trabalharia, nem guardaria nada para o dia seguinte. No zen budismo, quando este chegou à China, já havia se transformado em um movimento Mahayana, a grande tendência que levou o budismo a relativizar a distância entre leigos e monges, dissolvendo muitas diferenças. Os monges passaram a cultivar a terra dos mosteiros e ficaram menos dependentes da comunidade, um isolamento a ser considerado, desde que a mendicãncia criava laços fortes de interdependência.
O Sutra de Vimalakirti enfatiza que todas as profissões dignas são trabalhos do bodisatva, e seu principal personagem é um rico comerciante reverenciado pelos discípulos de Buddha a quem vence em debate do Dharma.
Hoje, no Brasil, e no ocidente em geral, é muito difícil que um monge seja plenamente sustentado pelas comunidades, em geral os monges são obrigados a ter seu trabalho pessoal, mais ainda se considerarmos que a maioria dos monges zen é casada em todo o mundo (um ponto relevante, em várias escolas japonesas de igual conduta a palavra usada tem sido trocada, da tradução "monge" para "reverendo") aumentando as necessidades financeiras.
Assim os monges tem preservado a profissão pessoal, uns são massagistas, outros, tem empregos públicos, médicos, consultores empresariais, tudo dependendo de sua formação e talentos pessoais.
A habilidade de conferencista é especialmente conveniente, permite falar a diferentes públicos entremeando as necessidades destes com os ensinamentos do Dharma, percebendo que o palestrante é um monge muitas pessoas entendem a possibilidade de uma vida espiritual dentro da atividade profissional, justamente o caminho disponível para o leigo. A maioria dos praticantes de nossas comunidades conheceram o zen através destas palestras para o público em geral.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Osho, o título do monge zen



Quando ordenado inicialmente um monge zen é um Joza, um noviço, não pode oficiar cerimônias e só pode executar tarefas autorizado pelo seu mestre, depois da graduação da batalha do Dharma, (Hossenshiki) ele é um Zagen, ou monge em treinamento, autorizado a algumas ações e a ensinar limitadamente, sempre com licença superior.
Após a transmissão (reconhecimento de uma realização espiritual por seu mestre) o monge zen recebe o título de OSHO, (monge completo, mestre por sua vez) o que encerra seu treinamento, este processo dura normalmente vários anos de esforço. Esta palavra, Osho, é um título genérico usado há muitos séculos no zen e não pode ser usado como nome próprio ou como uma marca de fundo comercial, como acaba de ser tentado no INPI.
Seria como se alguém quisesse ser chamado pelo nome de Bispo, no catolicismo, ou tentasse registrar esta palavra como marca exclusiva para seu uso pessoal ou de uma corporação.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Monges e leigos podem igualmente se iluminar?


Monges e leigos podem se iluminar, a diferença é que os monges se comprometem a colocar os outros em lugar relevante e estar dispostos a sempre servir. No Brasil ser monge significa provavelmente ter que continuar trabalhando para se sustentar, assim a tarefa de monge é um acréscimo aos afazeres diários, aos cuidados com a família e todos os múltiplos trabalhos da vida mundana.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Posso acreditar?


Alguns estão sempre voltando ao tema do que acreditar, ora, o que se acredita não tem muita importância na prática budista, o zen é uma doutrina do despertar não uma de acreditar, de modo que se alguém precisa muito de uma figura externa para se apoiar, e quer acreditar nela, fazê-lo é um mero passo intermediário, com o tempo ela se dissolverá a medida que a prática se consolida com a percepção de um absoluto que integra tudo mas que não tem qualquer pessoalidade.
Porém se se vê algum monge preconizando a existência de uma divindade criadora, com certeza ele não está falando da doutrina ensinada por Buddha.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ordenações monásticas e investiduras leigas



Foram ordenados, em 7 de novembro, (foto) dois novos monges no Busshinji por Saikawa Roshi:
Bruno - Daitetsu Seigen, Ezequiel - Dotetsu Wajun.

Além deles foram realizadas investiduras leigas (portadores de rakusu) de:
André - Endei
Claudemir - Gengaku
José Carlos - Ippo
Lauro - Rotsu
Vanderlei - Banrei
Fonte Sangha Marga (link ao lado)

Como algo pode surgir do Vazio?


Você está atribuindo ao vazio alguma entidade, uma existência, ora o vazio é uma qualidade das coisas, delas não terem um EU, apenas isto, não significa um "nada", tampouco pode ser reificado (transformado em algo) o resto é interdependência e interconexão, que o universo partilhe uma consciência ou consciências que provoquem complexidades é outro aspecto muito diferente e que o budismo sequer contempla, você acreditar em alguma coisa deste tipo em nada altera a impermanência do existir.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Moriyama Roshi em P. Alegre



Moriyama Roshi em visita à Sangha Águas da Compaixão, praticantes das várias Sanghas de P. Alegre estãp presentes, no fundo à esquerda, com barba branca e óculos, Celso Marques, um pioneiro do zen brasileiro, à frente da comunidade Monja Isshin ladeada pelo Roshi, este foi Superintendente Geral da América do Sul da Sotoshu em período anterior ao de Saikawa Roshi, a organização mundial do zen. À direita do Roshi, o primeiro é o Monge Prof. Joaquim Monteiro, da escola Terra Pura, em trajes leigos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ROHATSU SESSHIN - BUSSHINJI



ROHATSU SESSHIN - BUSSHINJI

Sesshin da Iluminação

Acontecerá de 13 a 20 de dezembro no Templo Busshinji, São Paulo, o Sesshin da Iluminação, conhecido também por Rohatsu Sesshin. O valor da doação é de R$ 200. Tendo a frente o Superior Dosho Saikawa, abade desta instituição, as sessões iniciam-se às 5hs, sendo 4h30 o toque de acordar – shinrei – encerrando-se as atividades às 20hs.
NÃO HAVERÁ POSSIBILIDADE DE ALOJAMENTO NO TEMPLO. Como o prédio novo, o pavilhão Daikankaku, ainda não está 100% pronto, embora já tenha sido inaugurado, os engenheiros da obra resolveram por cautela não disponibilizar o prédio para uso ainda, até que seja entregue finalizado.

Sendo assim, aqueles que vierem para o retiro terão que se alojar em casa de amigos ou hotel. Para informações sobre hotéis próximo ao templo, favor entrar em contato com Templo Busshinji pelos telefones: 11 3208-4515/4345

Será este o primeiro sesshin no zazendo do Pavilhão Daikankaku (Pavilhão do Grande Espelho) recentemente inaugurado.
Será também este o primeiro sesshin com a utilização de tan, seja para o zazen, seja para as refeições. Em torno de doze zazen de 40 minutos serão realizados diariamente, incluindo-se a mesma postura para as cerimônias e refeições. Somente a refeição da tarde será servida em mesa em estilo ocidental.
As inscrições podem ser feitas no local, dia 13 de dezembro, na parte da manhã. Após o almoço daremos início ao sesshin. O encerramento ocorrerá na manhã de 20 de dezembro, em torno das 3hs (da madrugada).

Postado por Jisho no blog Sangha Marga.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cerimônia do monumento do fundador


Saikawa Roshi oficia assistido por dezenas de mestres que acorreram de todo o mundo.
(Clique nas imagens para amplia-las)


Monges assistem, na primeira fila, da esquerda para a direita: Monge Napoleão, Monja Simone Keisen, Monja Mariângela, Monge Genshô, Monge Pedro (Barcelona), Monge Álcio, Monja Isshin, (irmãos no Dharma, atualmente alunos de Saikawa Roshi, com exceção de M. Álcio, do RJ, aluno de Mestre Tokuda)(chamam-se irmãos no Dharma os alunos de um mesmo mestre e pertencentes a uma mesma Sangha de monges)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Florianópolis e Porto Alegre


(clique na foto para ampliar)

Moriyama Roshi, Monge Genshô, e membros das comunidades zen de Florianópolis e Porto Alegre à frente do novo Centro de Treinamento do zen.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Uma cerimônia histórica no zen brasileiro

Três dias de cerimônias, 13, 14 e 15, marcaram a inauguração do novo pavilhão Dai Kankaku e o Cinquentenário do Templo Busshinji em São Paulo. Representantes do zen do mundo inteiro e os líderes das Sanghas Zen do Brasil assistiram os ofícios, que marcam uma nova era para o zen brasileiro, permitindo a formação de monges, com treinamento oficial, em terras da América do Sul.


Cerimônia das 10 000 luzes foi oficiada por quatro mestres zen autoridades gerais,Rev. Takashina Gyokuko, Rev. Onoda Shuki,Rev.Miura Shinei, Rev Yamamoto Kenzen.



Cerimônia das dez mil luzes foi assistida por numerosos leigos que lotaram o Templo Busshinji.

Oficiante, Superintendente Geral Administrativo da Soto Zenshu e Presidente do Conselho de Representantes, à frente do monumento aos fundadores.

Autoridades monásticas do Japão, EUA, Europa oficiaram cerimônias no Cinquentenário do Templo Busshinji.

Cinzas do fundador do Templo Busshinji são depositadas no monumento funeral, as recebe, na foto, Saikawa Roshi,Superintendente Geral do Soto Zenshu da América do Sul. O monumento fica no novo pavilhão escola Dai Kankaku inaugurado na mesma ocasião.

Fotos gentilmente oferecidas por Emerson (SP)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cinquentenário do Templo Busshinji


Foto geral do encerramento, com membros de várias Sanghas brasileiras.
(Clique nas fotos para amplia-las.)

Foto dos noviços, monges e mestres presentes ao encerramento do cinquentenário do Templo Busshinji e inauguração do novo pavilhão do centro de treinamento.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A prática da meditação


Meditação Zen - A prática da meditação traz a paz interior.

Vamos falar sobre o zazen. Meditar é voltar para nosso verdadeiro si mesmo. Esse si mesmo é aquilo que tem a natureza búdica. Aquilo que nós realmente somos. Aquilo que todo universo em volta de nós também é – e que aparece sob a forma de manifestação. Então, esta pura natureza original é aquilo com que nós realmente sentamos, porque o resto todo, todas as nossas ilusões vão sendo descartadas ao longo de meditações, zazen após zazen.

Na medida que a gente vai vivendo este processo de fazer o zazen é como se nós fossemos descartando coisas de nós mesmos e ficasse sobrando uma coisa única, pacífica, uma coisa com paz e é por isto que tudo começa a ficar mais bonito porque nós começamos a descartar tudo aquilo que está em volta da nossa verdadeira natureza, da nossa natureza búdica.

Esta é uma oportunidade muito interessante porque aqui sentado agora, zazen após zazen, você tem que observar que espécie de pensamento surge na mente. Que mente é esta, porque estes pensamentos e conteúdos que aparecem é aquilo que vocês verdadeiramente são. Então o zazen pode ficar difícil, porque de repente nós vemos a nós mesmos. Quem sou eu? Você é aquele conteúdo que está se apresentando porque você não é algo especial, você é um funcionamento, uma mente funcionando, um corpo funcionando. Como é que você se manifesta? Você se manifesta de acordo com aquilo com que você alimentou a sua mente, com aquilo que você colocou na sua vida dentro de você. Você não consegue evitar. Não tem como obstar isto. Este é o você que você construiu com aquilo que leu, com aquilo que amou, com aquilo que determinou, com os problemas que teve, com os planos que você está fazendo para o futuro. Estas coisas são as que vão aparecer

Tudo o que eu sinto é conteúdo da minha mente, é só a minha mente não é mais nada, porque se eu tirar o conteúdo todo da minha mente vai sobrar o que? Este lindo dia, este ar entrando pela janela, o sol lá fora, a respiração na almofada, a parede na nossa frente, e isto é perfeito. Torna-se imperfeito porque nós deixamos entrar todo o resto, todos aqueles conteúdos e são estes a verdadeira perturbação que nós temos

Voltar. Este voltar para o momento presente é realmente difícil por causa de todos os conteúdos com que nós nos alimentamos. Por isto na vida real nós deveremos evitar também as coisas que entram na nossa mente e a alimentam de forma errada. São os filmes, os programas de TV, os vídeos etc, as conversas e todas as coisas que não são boas. Vocês já sabem que não são boas e são perturbações, conteúdos que não constroem felicidade para você, mas nós somos muito viciados neles e então nós vamos procurá-los porque eles são prazerosos ou meramente interessantes. Até que você tenha uma mente imperturbável, você tem que evitar estas situações. Quando você tem uma mente que não deixa entrar os sentimentos você pode assistir a um filme vendo apenas o filme, sabendo que é meramente fantasia e não sentindo abalos. Se você não os tem, se os sentimentos conseguiram ficar de fora, então você está pronto para ver. Agora enquanto você assistir e ele o influenciar então a sua mente não está livre ainda. Você ainda é alimentado, arrastado por aquelas coisas. Quando você vê alguém no filme, um personagem que está procurando vingança e torce por ele, enquanto você sente esta satisfação no lugar dele a sua mente não é livre. Você é arrastado por aquilo que está vendo. Então se você é arrastado por aquilo que está vendo tem que evitar tudo o que arrasta.


Por isto em um retiro a gente faz um modelo. Este modelo é não alimentar a mente com nada. Então zero notícias, zero leituras que não sejam o Dharma, zero conversas, zero músicas, nada. Os sons que nos chegam já são suficientes quando vocês estão sentados no zazen, já tem de madrugada os animaizinhos que correm em cima do telhado, depois os cantos dos galos, as cigarras. As coisas estão bem quando você ouvir estes sons e sentir grande alegria como se fossem presentes. Estar aqui parado, sentado, que lindo o som desta cigarra começando a tocar, parece um prazer. Aí você está bem porque você está realmente ouvindo a cigarra. Se tivesse uma televisão na sala nós ignoraríamos a cigarra, nós não estaríamos aqui de verdade.

Nós somos um com o universo inteiro mas não o sentimos Não percebemos assim. Nós nos sentimos como? Separados, cada um sentado na sua almofada. Por isso em retiros zen a gente faz tanta pressão no sentido tudo junto, tudo junto. Não pense, não decida, não faça, vá junto com o fluxo, obedeça sinais sonoros, comece as coisas na hora junto com todos, termine junto com todos, faça reverência junto com todos, não cogite, não ache bom, não ache ruim, faça junto, só isto. Para que? Para voltar, voltar para nós mesmos porque nós nos perdemos de nós mesmos com os nossos pensamentos.

Se nossa mente estiver silenciosa então há espaço para a unidade. O homem cansa, a gente cansa e então surge o espaço para a gente perceber a Vida-universal. Quando vocês estão em zazen prestem bem atenção, às vezes o sono começa a tomar conta e naquele momento que o sono está chegando se a gente não se entrega para o sono e abre os olhos, aquela mente que vem a ser um pré-sono ela é uma mente muito especial, muito vazia, então este é um bom momento de agarrar aquele estado. Mas se você deixar que o sono se instale aí você dorme e entram outras fantasias. São as fantasias dos nossos sonhos que também manifestam o conteúdo da nossa mente. Então enquanto estamos fazendo zazen estamos sonhando acordados e se nos libertarmos do sonho então poderemos ver a perfeita felicidade e é a percepção da Vida-universal, da unidade. Quando percebemos isto, nosso verdadeiro eu, então nos sentimos muito, muito bem e aí desejaríamos não sair daquele estado nunca. Mas quando surge este sentimento, este sentimento também é uma armadilha porque é armadilha ficar neste estado prazeroso. E este estado prazeroso a gente começa a atingir na prática, mas também não deve se agarrar a ele, tem que ir mais longe.

E por isto na Escola Soto, Dogen já ensinou assim: sente, sem procurar atingir a iluminação, só pratique aqui sentado porque já é uma mente iluminada a mente sentada ou tem grande potencial de ser. Não tente alcançar nada porque se você ambicionar alcançar isto também vira outra armadilha. Uma mente aquisitiva, um materialismo espiritual, a tentativa de obter algo para si mesmo. Não precisa. Só sente e olhe, mais nada.

Às vezes a palavra zen é muito mal usada. Quando dizemos, esta pessoa é zen. Não. Zen também é encontrar a infelicidade, o sofrimento, então devemos andar dentro do sofrimento completamente. Saber sofrer também é a prática do zen. Entender a infelicidade completamente, percebê-la inteiramente. O pensamento que vem com ela, o sofrimento que vem com ela, a angústia que vem com ela também.

Monge Genshô (palestra em sesshin)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Lendo os sutras - vidas passadas



P: - consta que Buda se lembrou de todas as suas vidas passadas;
- noutro trecho, Buda diz que o "eu" não existe.
Fiquei num impasse: se o "eu" não existe, QUEM viveu todas as vidas das quais ele se lembrava?


R: Boa pergunta.

Primeiro: O Eu existe, mas é um fenômeno transitório, o produto da operação mental.
Segundo: Não há um eu sobrevivente, mas uma onda de carma que se move e se manifesta em numerosas mentes diversas ao longo do tempo, há uma continuidade nisto, mas não de um eu ou de uma identidade.
Em outras palavras é o carma que manifesta eus por gerar mentes que operam.
Lembrar-se de manifestações passadas é acessar a memória de numerosos eus diversos na consciência depósito universal (alaya vijnana).

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Fazendo o rakusu


No zen o aluno só toma os preceitos quando faz um rakusu, um modelo resumido do manto budista que se porta ao peito, não significa uma ordenação nem confere autoridade, tampouco seu portador pode se entender como "monge leigo" erro comum (um oxímoro como "civil militar").
Em uma cerimônia ele assume 16 preceitos perante a Sangha e recebe um nome do Dharma de duas sílabas (diferente dos monges que tem 4 sílabas/ideogramas). Esta cerimônia demora um bom tempo para ser autorizada pelos mestres no zen, normalmente mais de um ano de prática regular e significa um compromisso sério com a linhagem daquele mestre.
Normalmente são os portadores de rakusu que podem vir a solicitar uma ordenação como monge noviço. O noviço deve raspar os cabelos (homens e mulheres) para ser reconhecido como ordenado, e ser recebido como tal nos templos. Como diz Handa Sama: "Para ser recebido como monge no Templo Busshinji o noviço precisa se apresentar como tal, cabeça e barba raspadas e okesa (vestido com o manto)."

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pode haver um mau destino?


Não há destino, Buda ensinou que tudo é ação e consequência, no entanto marcas cármicas que vivemos em uma vida se manifestam em outra com suas consequências. Mas o que é importante é que você pode mudar seu karma, pode modifica-lo com as ações corretas. Boas ações produzem belas consequências cedo ou tarde.
Portanto desconsidere qualquer outra explicação e olhe para a frente. Se tomar as iniciativas corretas, se agir determinadamente, naturalmente os rumos da vida se alterarão.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dogen e a individualidade


"Portanto, quando o grupo se senta, sente-se junto com eles; quando o grupo [gradualmente] se deita, deite-se também. Em atividade ou quieto, em unidade com a comunidade, por todos renascimentos e mortes não se separe do mosteiro. Destacar-se não traz benefício; ser diferente dos outros não é nossa conduta. Isto é a pele, carne, ossos e medula dos budas e ancestrais, e também abandonar nosso próprio corpo e mente."

Dogen ( 1200-1253)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss


A República Acadêmica Mundial está de luto: o implacável vento da imprmanência arrebatou de seu convívio, na noite de sábado para domingo, um de seus menbros mais ilustres, o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Além de ter sido o pai da Antropologia Estrutural,um importante precursor do pensamento ecológico e ambientalista contemporâneo e um grande amigo do Brasil, onde iniciou sua carreira de pesquisador e professor lecionando Sociologia na Universidade de São Paulo entre 1935 e 1938, ele foi também, o que poucos sabem, um dos mais lúcidos intérpretes ocidentais do budismo Ele entendeu o budismo muito melhor do que muitos orientalistas profissionais. Ele valorizava o budismo por ser uma religião ecológica que não estabelece uma dicotomia radical entre Homem e Natureza. No último capítulo de seu livro "Tristes Trópicos" (1955) desenvolve ele importantes considerações sobre o budismo. Apresento abaixo um breve trecho, à guisa de ilustração:

"Os homens fizeram três grandes tentativas religiosas para se libertarem da perseguição dos mortos, da maleficência do Além e das angústias da magia. Separados pelo intervalo de aproximadamente meio milênio, conceberam sucessivamente o budismo, o cristianismo e o islamismo; e é impressionante que cada etapa, longe de marcar um progresso em relação à precedente, antes testemunha um retrocesso. Não há vida futura para o budismo; nele tudo se reduz a uma crítica radical de que a humanidade nunca mais deveria mostrar-se capaz, à qual o sábio acede, numa recusa do sentido das coisas e dos seres: disciplina que anula o universo e se anula a si própria como religião. Cedendo novamente ao medo, o cristianismo restabelece o outro mundo, as suas esperanças, ameaças e o seu juízo final. Ao islamismo só resta encadeá-lo a esse mundo: o mundo temporal e o mundo espiritual acham-se reunidos... Com efeito, que outra coisa aprendi dos mestres que escutei, dos filósofos que li, das sociedades que visitei e desta própria ciência de que o Ocidente extrai o seu orgulho senão fragmentos de lições que, unidos uns aos outros, reconstituem a meditação do Buda junto da árvore? Todo o esforço para compreender destrói o objeto pelo qual nos tínhamos interessado, em proveito de um objeto de natureza diversa; exige de nossa parte um novo esforço que o elimina, em proveito de um terceiro, e assim por duante até que tenhamos acesso à única presença duradoura, que é aquela em que se desvanece a distinção entre o sentido e a ausência de sentido; a mesma de onde partíramos. Eis que já são decorridos 2.500 anos desde que os homens descobriram e formularam essas verdades. Desde então, nada descobrimos, a não ser - experimentando, umas após outras, todas ass portas de saída - outras tantas demonstrações suplementares da conclusão à qual teríamos querido escapar.
(Claude Lévi-Strauss - "Tristes Trópicos", Lisboa, Edições 70, pags. 387-390.)

Shaku Riman - Prof. Dr. Monge Ricardo Mario Gonçalves

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Por que iniciar um grupo de estudos buddhista em sua cidade?


1. Por que iniciar um grupo de estudos buddhista em sua cidade?


Você quer praticar o Zen, porém em sua cidade não existe nenhum centro budista. Você conhece outras pessoas que tem interesse em começar a estudar o budismo, ou mesmo ainda não conhece ninguém. Será que você mesmo pode começar um centro de estudos buddhistas? Sim, e isso é um belo início de prática!

A prática individual é incompleta comparada à prática em grupo. Esta é mais rica e forte. A prática em grupo possibilita a troca de experiências, auxiliando a superação das dificuldades. Os praticantes mais antigos podem ajudar os mais novos, principalmente dando um bom exemplo. Os mais novos também auxiliam aos mais antigos, permitindo que esses possam treinar a prática de ajudar aos outros. Sentar em meditação em grupo é mais fácil, ver que os outros estão persistindo ajuda a não desistir. Isso aumenta a disciplina e força da prática. Ver a dificuldade dos outros ajuda a aceitar a própria dificuldade. Ver a evolução e superação dos outros ajuda a evoluir e a se superar.

A prática em grupo ajuda a despertar a mente de boddhisatva - que pratica para ajudar aos outros. Praticar para si próprio é uma forma incompleta de prática. No buddhismo Zen um grupo de prática buddhista bem estabelecido é informalmente denominado de Sangha, que é considerada uma das Três Jóias - juntamente com o Buddha e o Dharma (conjunto de ensinamentos buddhistas, a lei, a doutrina).

Criar um grupo de prática pode parecer difícil, mas os primeiros praticantes do Zen muitas vezes tinham que percorrer centenas de quilômetros a pé à procura de professores e dos ensinamentos! Hoje a tecnologia permite uma maior facilidade de acesso ao conhecimento e orientação à distância, porém a prática em grupo, o contato pessoal com professores experientes e qualificados (o tanto quanto for possível) e a participação em retiros de prática sempre serão essenciais.

Obs: Trecho do manual para instalação de grupos preparado pela ONG Todatsu, mantenedora da Comunidade Zen Budista de Florianópolis.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Depoimento


Querida sangha,

Queria compartilhar com todos o depoimento bonito de uma querida amiga que começa a praticar o zen. _/\_
(enviado por Michel Seikan)


Hoje comecei minha prática no Centro Zen Budista. Primeira vez que faço meditação 40 minutos seguidos. Tive receio antes de ir, pois faço meditação em casa e com 10 minutos tudo já está dormente. Mas consegui.

Melhor do que isso. Ultrapassaram todas minhas expectativas. Foi à melhor experiência que tive zen até hoje. Claro que teve um momento que um olho coçou e minhas costas doeram ou as pernas ficaram dormentes. Mas passou.

Pensamentos iam e vinham.

Antes de sentar pude ver a monja numa postura que me deixou maravilhada. Que excelência. Alguns barulhos surgiam de algumas pessoas que falavam alto do lado de fora do zendô. No começo escutava cada palavra deles, mas aos pouquinhos eles sumiram da minha mente.

Senti um amor por aquele lugar e todas as pessoas que nele estavam. Tive uma sensação de que ali era meu lugar, que aquilo era eu.

Pela primeira vez senti minha mente doer de tantos pensamentos, como se ela gritasse por alívio. E ela silenciou.

Meus olhos em algum momento se encheram de lágrima. De felicidade, de sentir como eu sou e como é a vida que me rodeia. De sentir uma energia tão grande e tão bonita. De perceber que sou dotada de forças muito maior do que eu imaginava.

Agora sei seu significado.
Quando fui embora, me senti na “Matrix”. Via tudo de forma diferente. Ainda estou vendo. Estou com medo de dormir e essa sensação ir embora.

Mas se for, buscá-la-ei todos os dias através da meditação. Algumas coisas estão mais claras pra mim. Muito mais. Já fazia meditação em casa, mas por ser a primeira experiência no Centro eu diria que transcendeu tudo que eu imaginava.

Com certeza estarei lá sempre, o pensamento é inesgotável e essa minha busca será para sempre.

Gasshô

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nome no Dharma



Significado dos kanjis do nome de Dharma de Saikawa Roshi, atual Superior Geral para a América do Sul do Soto Zen, e de seu templo no Japão...

Dôshô - "dô" de "caminho" e "shô" de "luz, brilho"
Hôsenji - "ji" de "templo", "hô" de "tesouro" e "sen" de "fonte, nascente"

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Conduta sexual - Preceito budista


P: O que pode ser caracterizado como conduta sexual inadequada?
Vivemos num tempo de muita liberdade de comportamento sexual.
Para mim seria a sexualidade desvinculada do afeto, objetivando só o instinto e o prazer.
Pediria, por gentileza, esclarecimentos.

R: Use o critério do sofrimento. Se causa sofrimento a alguém é conduta inadequada. Se envolve enganar é inadequado, se não produz conforto e bons sentimentos é inadequado e assim por diante.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mais um amigo que se vai



Herr Korner faleceu na Alemanha dia 21, lembro de seu abraço e olhar amigo. Sua filha Stephanie, que aparece na foto, foi e é uma amiga muito especial, marcante na sua passagem pelo Brasil, e durante um bom tempo sentou em zazen com a Sangha de P. Alegre na década de 90. Herr Korner marcou sua vida com afeto fiel e constante aos seus, calmo e afável, mostra seu ser nos seus olhos claros. Dia 29 terá seu funeral.
Sentiremos sua falta.

Amor e apego


P: Sentimentos também não são apegos?

R: A amizade e amor verdadeiros podem ser desapegados, por que não? Um bom pai encoraja o filho a ir fazer longa viagem boa para sua vida, lhe dói a cama vazia, mas seu amor é forte o suficiente para permitir ao filho alçar vôo.
A fonte do sofrimento é o apego, o sentimento altruísta é desapegado.

domingo, 25 de outubro de 2009

Costurar seu manto



Os alunos do zen são instados a costurar seu próprio manto, no caso dos leigos trata-se de fazer uma miniatura de um manto budista cosendo retalhos de pano em tiras até conseguir um resultado harmônico, bem codificado pelos modelos tradicionais. Em uma cerimônia própria ele será dado ao aluno que faz votos públicos, os votos de um bodisatva. Com dizeres escritos por um mestre em seu verso de seda branca ele será usado pendurado sobre o peito. A tarefa de costurar é especialmente difícil para quem nunca a realizou, leva muitos dias e as desistências são frequentes, refletem o espírito do zen de tornar realmente difícil qualquer graduação e assim valoriza-las, os que não conseguem a tempo não tinham suficiente determinação para merecê-la.
Na foto vemos um aluno aprendendo com uma encarregada de ensino de costura, a tradicional costura de seu rakusu.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Depressão budista"


"Plena de encanto é a vida"

P: Estava conversando com um amigo sobre a depressão "budista", que como não vemos mais verdadeira felicidade nas coisas externas a nós, nas pessoas, objetos, lugares , as situações perdem muito de seu atrativo, causando assim um desinteresse por elas. Como não buscamos mais a felicidade/satisfação no mundo e sim em nós, não conseguimos nos empenhar com real vontade na busca por coisas mundanas, além do que precisamos para sobreviver, nem traçar objetivos, sem que enxerguemos neles um enorme vazio.
Assim há um grande desinteresse pelo mundo e por outro a difculdade de se vivenciar a atenção plena, ainda mais quando se está emocionalmente mal e se quer uma solução mais imediata, pelo menos para abrandar um pouco essa "depressão". O senhor poderia falar algo sobre isso?

R: Este mundo é o que nós temos, tenho profundo interesse por ele e por realizar coisas novas e mais significativas, é por isso que continuo na carreira de monge, estou praticando para ajudar mais pessoas, e me comprometo a libertar todas que puder. Este é um grande trabalho e uma tarefa plena de profundo encanto e compensações de alegria.
Se for necessário ganhar dinheiro, fazer empresas, viajar para mais aprender, qualquer coisa ligada ao mundo e a vida, para melhor realizar o Dharma, farei isso. Só há vazio se olharmos só para nosso umbigo esquecendo todos as seres que nos rodeiam e procuram escapar desta roda.
A vida é plena de maravilha e encanto, suave e bela desde que nos voltemos para as necessidades de libertação dos outros seres.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Além de um eu


P: Em um texto sobre o zazen li esse trecho e não compreendi.

"A menor noção de guardar, de permanecer na consciência, é um obstáculo.
A harmonia com o sistema cósmico é o abandono de tudo. Somos unidade e recebemos então a energia do cosmo."

Fonte:FUKANZAZENGI, OS PRINCÍPIOS DO ZAZEN DE MESTRE DOGEN (1200 - 1253)

R: A noção de guardar qualquer sentimento de apego, de pertencimento, de posse, mesmo de pensamentos é um obstáculo, e abandonando tudo podemos penetrar na unidade, nossa face original, além da ilusão desta manifestação pessoal fenomênica de um eu.