terça-feira, 31 de julho de 2007

Alienação e comodismo?

Onde termina a impermanência e o desapego e começa a alienação e o comodismo?

R: O Desapego significa não colocar um Eu em nada, perceber a unicidade e interdependência de tudo, não colocar o seu eu, meu, minha, nas coisas e pessoas. Assim nada tem a ver com alienação e sim com senso de posse, com o erro da ampliação do seu eu.

Ter uma postura compassiva seria equivalente a ter uma postura passiva onde apenas seguimos o que nós é mandando?

R: De maneira alguma, compaixão é ação compassiva, ser a mudança que se quer no mundo e não ficar parado deixando acontecer. Buda não ficou sentado embaixo da árvore Boddhi, levantou-se e agiu no mundo durante 40 anos, tentou evitar guerras, criticou pessoas, falou extensamente, ensinou, agiu, e seus alunos idem. Não foram cordeiros foram pastores. Ele mostrou o caminho com seu exemplo.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Como treinamos para fazer com que o nosso eu enfraqueça?

Primeiro nós sentamos em zazen. Por que sentar em zazen funciona para diminuir a noção de um eu? Porque se você senta e não cogita nem julga você é capaz de olhar, cheirar, degustar, tatear, sem colocar um eu nessas coisas, nem colocar um eu que está apreciando essas coisas. Todo o treinamento do Zen está focado em demolir o eu, é por isso que muitas vezes as pessoas não gostam do treinamento do Zen e se irritam com os professores, porque leram livros sobre o Zen Budismo e quando vêm conhecer um centro do Dharma, em vez de eles terem oportunidade para se manifestar, para mostrar o seu eu, eles são todo o tempo instados a calar a boca, a fazer tudo junto com os outros, a não criticar, a não elogiar, a não fazer nada que está ligado ao eu.

sábado, 28 de julho de 2007

Após o combate do Dharma

Após a cerimônia de combate do Dharma, Monje Napoleão tira foto com a espôsa e seu filho. O Rakusu sobre o peito da criança é uma lembrança que imita o compromisso de seu pai. Monge Napoleão fez uma palestra dividindo seu assento com o Mestre tal como Makakasho Daishô foi convidado a fazer por Buda Shakyamuni.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Não parece triste abandonar por assim dizer o palco do teatro, que é este universo, sem deixar nada de "herança" ?

O universo tem uma consciência coletiva na qual nada está perdido. Tudo ali está contido. Chama-se consciência alaya (depósito), e se você pertence ao universo e o eu é uma ilusão, o que haveria que deixaria de participar?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O Grande Caminho

Certa vez, um homem encontrou Joshu, que estava atarefado em limpar o pátio do mosteiro. Feliz com a oportunidade de falar com um grande Mestre, o homem, imaginando conseguir de Joshu respostas para a questão metafísica que o estava atormentando, lhe perguntou:
"Oh, Mestre! Diga-me: onde está o Caminho?"
Joshu, sem parar de varrer, respondeu solícito:
"O caminho passa ali fora, depois da cerca."
"Mas," replicou o homem meio confuso, "eu não me refiro a esse caminho."
Parando seu trabalho, o Mestre olhou-o e disse:
"Então de que caminho se trata?"
O outro disse, em tom místico:
"Falo, mestre, do Grande Caminho!"
"Ahhh, esse!" sorriu Joshu. "O grande caminho segue por ali até a Capital."
E continuou a sua tarefa.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Até que ponto, o apenas observar, da meditação zen, pode se tornar repressão?

Se você usar repressão estará completamente errado. Deixar ir sem qualquer julgamento de certo ou errado, seja o que for que venha até sua mente. Não se trata de lutar para eliminar este ir e vir, mas somente deixar que se manifeste livremente sem apego nem aversão.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Tenho problemas sérios com minha mãe, somos quase inimigas, o que o senhor me aconselha?

Não fale para ela o que você sente. Escreva, longas, cuidadosas cartas, sem nenhuma crítica sua a ela, apenas reconhecimento, amor, imagine que está escrevendo para ela após sua morte, sem esperar resposta, somente dizendo o que não conseguiu dizer em vida. Mostre-se por dentro, fale de você como quem fala ao melhor e mais ditoso amigo, se ela responder com críticas e acusações não se defenda. Apenas continue dizendo de seu amor por escrito, não ceda a tentação de falar, controlamos mal as palavras e as emoções nos arrastam.
Seja o que for que secretamente ela acalenta, mesmo competição com a filha, qualquer coisa, sem o alimento da discussão terá este carma paulatinamente aliviado e dissolvido, senão agora, em um tempo futuro. Faça isto sem esperar nada, nenhum bom resultado, só para doar a ela o que de melhor há dentro de si. Tente, não é fácil, talvez não pareça compensador agora, mas nada espere apenas dê.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Para recitarmos.Texto de cerimônia para os mortos e pessoas em dificuldades.

· "Budha Ensinou:

1 - Existe o sofrimento;

2 - Cada sofrimento tem origem;

3 - O que tem início tem fim;

4 - Existe um caminho para alcançar a cessação do sofrimento."

· Com a compreensão desta verdade cresce o desejo para o bem-estar dos outros.

· " A morte significa um novo início".

Solicitamos apoio durante a travessia deste estado e lembramos de todas as pessoas falecidas no acidente aéreo de hoje em Congonhas SP, assim como de seus familiares tristes e todos os atingidos de alguma forma.

· " Possam todos os seres serem felizes;

Possam todos os seres encontrar a paz;

Possam todos os seres rapidamente alcançar a iluminação."

To Guetsu

Estarei ausente do blog até o dia 23/7. Comparecerei a um retiro no Templo To Guetsu próximo a Ouro Preto, MG.

O que pensar da história de Buddha tendo uma dor de cabeça por ter, em outra manifestação, maltratado um peixe?

Esta história serve para ilustrar que Buddha também está sujeito ao carma. É útil para ensinar isto, se você não precisa destas coisas porque se importar? Nosso modelo de apreciação não necessita ser imposto aos demais, cada um tem sua forma de aprender. Tolerância e equanimidade são as palavras aí. Mitos são linguagem para o inconsciente, bom instrumento. Quanta a verdade ela é múltipla, depende do âmbito de aplicação.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

A Lua , é a mesma para o mestre e para o discípulo?

Em termos absolutos a lua não tem existência inerente (por si mesma, ela é Lua porque está neste universo, tem a Terra para ser sua Lua, é interdependente). Se o mestre é iluminado sua percepção de um objeto não é maculada por marcas adventícias, mas o discípulo certamente tem suas idéias sobre a Lua, as palavras que a ela se referem, o que sabe sobre a dita Lua, assim o que ele vê não é a Lua mas sua idéia de um satélite natural.
Estas perguntas estão todas maculadas pelas palavras e portanto as próprias respostas não podem ser puras nem perfeitas, desde que são expressas por meio destes símbolos verbais, desta forma a verdadeira comunicação, por este meio, é obrigatoriamente imperfeita. Por esta razão a insistência no zen em uma comunicação "ï shin den shin", de mente a mente, sem palavras.

sábado, 14 de julho de 2007

Refeição no Tan

Refeição no mosteiro, ela é realizada na estreita mesa que fica à frente do tan, estrado de meditação, onde sentam os praticantes de zazen no mosteiro de Ibiraçu.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Como o budismo vê o suicídio?

Aí está um ponto digno de comentário, o suicídio é visto normalmente pelo suicida como uma forma de sair de um estado mental, afinal é tão insuportável o que se está vivendo que melhor conseguir uma maneira de "parar" tudo.
O problema é que, do ponto de vista budista, na verdade nada cessará, o estado mental presente no momento da morte determina o estado futuro daquela onda cármica, e assim será muito influente em qualquer manifestação posterior que venha a ocorrer.
Visto assim o suicídio é a perda de uma oportunidade de solver o presente e uma projeção para o futuro de tudo o que está aqui e de forma bem menos controlável.
Este mesmo argumento pode ser usado para explicar porque a pena de morte não seria uma solução em absoluto para o problema de conduta, simplesmente acrescenta mais aversões e consolida a situação cármica projetando-a para o futuro.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Carma e causalidade são a mesma coisa?

Não exatamente, a lei da causalidade aplica-se a tudo que sucede, é expressa na segunda Nobre Verdade, tudo tem causa. Carma é um conceito que se aplica a uma ação que tem intenção, um EU por trás dela.
O carma do qual está livre o homem iluminado é o da geração de um carma próprio, que se aplica a ele mesmo, e seria sem sentido dizer que suas ações não geram carma vipaka , ou seja frutos cármicos no mundo, seria como se ele atirasse uma pedra na água e esta não gerasse mais ondas, o que é absurdo.
Em vários textos zen está expresso que o motivo é que não tendo um eu não há como haver uma geração de um carma próprio. Algo a que este possa aderir. Mas isto não significa que as ações de um iluminado não geram causalidade, consequências.
Vê-se curiosamente que o hábito de usar a palavra carma para todos os sentidos, tais como fruto (vipaka) ação (carma) e mesmo causalidade, vem já de muito tempo e causa confusões.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Qual é a relação entre meditação, iluminação e o cérebro humano?

O cérebro faz parte do instrumental para a meditação, suas ondas mudam para alfa e também teta (sono profundo) na meditação, embora a vigília permaneça.
A iluminação não pode ser descrita com precisão nem existem estudos fisiológicos que possam descrevê-la, é como examinar a anatomia de um cérebro e tentar descrever a emoção de um amor.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O fim do ódio

"O ódio não termina com o ódio nem com a raiva, o ódio só pode cessar com o amor" A reação correta as palavras amargas e carregadas de aversão precisa ser de palavras compreensivas e amorosas. Só desta maneira a aversão pode ser combatida. Prática budista é a prática deste tipo de ação, a ação amorosa. O que se afasta disto não é a ação de um praticante budista, é apenas um erro como os que todos cometemos por termos maus impulsos.

domingo, 8 de julho de 2007

Monge Napoleão

Monge Napoleão, de BH, carrega chá durante o serviço em mosteiro. Em julho ele fará o Combate do Dharma no templo Toguetsu, de Monja Simone Keisen, isto o fará um Shuso, um monge que defende a bandeira do Dharma e faz Teishô (ensina) no lugar do mestre.

sábado, 7 de julho de 2007

Zen no trabalho

Impermanência:
Veja a vida em seu fluxo, nada permanecerá, tudo, coisas, empresas, passarão.
Equilíbrio:
Olhe o mundo com equanimidade, não atribua "gosto não gosto" de sua mente aos acontecimentos, viva e aja naturalmente, responda a questão "quem somos nós" de forma correta sem fantasias nem sobrenaturalidades.
Desejo:
Não aja em função de suas paixões mas em função do papel que o mundo precisa de você, abdique da individualidade em favor da universalidade.
Desapego:
Esteja pronto para perder tudo, as coisas são impermanentes mesmo, não se deixe arrastar ou confundir pela nocão de que eu sou minha empresa, ou meu trabalho, isto é apenas um episódio...Assim você poderá correr os riscos com naturalidade e sem medos.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Respirar

Respirando profundamente, dialatamos o abdomem e passamos a mente a mensagem de que nada há de ameaçador no mundo em volta. A respiração deve ser profunda e a expiração lenta e controlada. Esta técnica permite um relaxamento que torna possível obter um sono reparador em qualquer lugar, como uma poltrona de avião, não importa o ruído dos motores nem as ansiedades anteriores. Você pode ser senhor de sua mente.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Os deuses

Os que têm vidas maravilhosas não procuram o Dharma. Aqueles que estão mergulhados em profundos e permanentes prazeres, e pulam de prazer para prazer sem cessar, vão à Ilha de Caras, mas não sentem sofrimento suficiente para encontrar o Dharma e tentar escapar da prisão de ter um eu. Pelo contrário, ficam com “eus” muito fortes, muito grandes. Nós podemos dizer que o treinamento budista é um método para a liberação. Sendo um método para a liberação mesmo essas coisas que eu falei aqui-agora não precisam ser acreditadas podem ser tomadas simplesmente como similares da vida, fazendo símiles como os freqüentadores da Ilha de Caras, e com os habitantes de mundos infernais onde há guerra, tortura, ódio sem parar, sofrimento sem parar, como a imagem que temos no Iraque hoje em que dois grupos tentam ganhar o poder fazendo terror um contra o outro e matando todos, explodindo gente com aquelas cenas de sofrimento imenso quando seus filhos são explodidos por uma bomba só porque tem a religião errada, só porque ou um é sunita o outro é xiita. ou os cristãos do outro lado do mundo que tem suas idéias de como deve ser um país e tentam impô-las com armas, bombas, fuzis, soldados e fracassam porque nos mundos infernais não se consegue resolver problemas com força, violência e ódio. Eles só aumentam. A única maneira de fazer o ódio cessar é com amor.
(Trecho de palestra em sesshin. )

terça-feira, 3 de julho de 2007

Só as primeiras escrituras tem validade?

Na nossa tradição Buda continua falando pela boca dos mestres. É tudo ensinamento de Buda. E é bobagem dizer que só o que foi escrito naquela época é ensinamento de Buda. Não, os sutras Mahayanas são ensinamento de Budas, surgiram da boca de Budas, mestres iluminados.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A árvore sem raiz

Para explicar isso melhor tem aquela história da carroça por Nagasena. Ele pergunta ao rei Milinda, o que é isso? E ele diz: uma carroça. E ele pergunta: as rodas são a carroça? O eixo é a carroça? O estrado é a carroça? Nada é a carroça, mas tudo junto composto daquela maneira é a carroça, então onde existe a carroça se nada que está ali é a carroça? Os carros nossos ali fora, o ferro, os bancos são os carros? O motor é o carro? O aço, a borracha etc O carro existe como uma organização da nossa mente. A casa também, nada é a casa em si, são só pedaços que juntos numa determinada forma nós olhamos e dizemos é...na verdade, não tem raiz. Todos os dharmas são sem raiz, mas quem são vocês? Nada, dharmas. Vocês são fenômenos. Todos nós somos fenômenos. Onde está nossa raiz? Na vacuidade? No vazio? Então não tem raiz. Temos que considerar este aspecto. Eu sou fenômeno, eu sou dharma, não tenho raiz. Como, se minha raiz é na vacuidade, como eu posso desaparecer? Como eu verdadeiro, a minha verdadeira natureza pode desaparecer porque aquilo que eu penso que sou eu é como carro, pedaços reunidos, fenômeno, mas na verdade eu mesmo sou vacuidade, manifestação na vacuidade, não é? Por isso o Cipreste no Jardim é uma Árvore sem Raiz. Então todos os dharmas são sem self. Em outras palavras todos os dharmas nada são senão a Árvore sem Raiz.Todos os dharmas não possuem self, não possuem existência intrínseca. São todos pedaços funcionando, somos nós ali sentados no zazen. Vejam que o que nós pensamos que somos são só pensamentos se sucedendo em nossas mentes e porque os pensamentos se sucedem na nossa mente nós dizemos eu existo. Quando não há pensamento em funcionamento ou atividade mental pergunto para vocês: onde estão vocês? Quando não há atividade mental, quando não há pensamento, quem existe? Nós penetrarmos estas coisas e respondermos verdadeiramente para nós, nos libertamos, mas o ensinamento disso parece confuso, paradoxal e sem sentido porque é muito profundo. Não são respostas fáceis porque quando nós olhamos, nós vemos porque não são mágicas nem sobrenaturais, são apenas penetrar mais fundo na realidade.A inexistência do self é a chave.

domingo, 1 de julho de 2007

Caminhos na floresta

A floresta atlântica rodeia os caminhos do mosteiro. Monges e leigos caminham à sua sombra.

Foto Seigen.