segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Para o ano novo



Peço desculpas, mas não vou desejar bom ano novo. Não irei desejar um ano novo ruim, tampouco.
Vou ficar aqui, à espera, olhando o sol passar pelo dia e a lua surgir no horizonte para anunciar a noite.
Mais um dia irá passar, e sua passagem será o início do resto de nossas vidas.
Não irei comemorar um novo ano. Pois, de fato, o que faz um ano se tornar velho e outro ser um horizonte de desejos e anseios? A cada dia, um ano inteiro se passou e novo ano começa. Portanto, por que esperar que um dia - um mero e comum dia - seja mais significativo do que todos os outros?
Diz o meste zen Eihen Dogen: "se há uma separação da mera espessura de um fio de cabelo entre o céu e a terra, então é como o infinito abismo a separa-los". Da mesma forma, se há uma separação de um décimo de segundo, então é como o golfo da eternidade a separar o passado e o futuro.
Não, não irei separar nada! Não irei criar a ilusão de uma distância, o conflito de uma diferença entre o ontem e o amanhã.
Vou continuar. Vou assumir que ainda não realizei objetivos, mas que já conquistei muito em mim mesmo; que perdi entes queridos, mas que ainda abrigo em meu coração o mérito de possuir bons amigos e belos amores.
Vou admitir que estou envelhecendo, mas que aprendi a rir e celebrar como as crianças; que estou amadurecendo em discernimento e consciência, mas que também esqueci de confiar mais na sutil sabedoria implícita em minhas próprias ignorâncias; que acertei muito, mas que também errei bastante.
Entre o céu e a terra, se há a distância de um fio de cabelo, é como um infinito abismo de separação. Entre um ano passado e um ano futuro, se existe a divisão de um mero segundo, é como se eu jamais fosse íntegro em minha história de vida.
O tempo é o rio do Tao, e nossa vida segue una enquanto vivemos. Não se prenda ao passado; não anseie o futuro. Assuma, corajosamente, o seu AGORA. Não crie sonhos para um tempo depois. Aja, agora, sem guardar promessas vazias.
Entre o Ontem e o Amanhã, mesmo que haja a lacuna de um mero segundo, o Hoje permanece.
Celebre o Agora. E, sem ansiar por se tornar outra pessoa em um futuro vazio, seja o melhor de si mesmo neste exato momento.
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Separação, dezembro 2012 (revisado em 2014)
Monge Kōmyō

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O apego a ritos e textos



4) Em relação aos sutras, é importante mesmo recitá-los em chinês arcaico? Há alguma diferença?

As cerimônias são interessantes. Algumas pessoas são mais impactadas por elas e outras menos. Nós recitamos em línguas antigas para você ficar presente no que está fazendo. O fato de você ficar recitando uma coisa que aparentemente “não tem sentido”, faz com que sua mente esvazie. Então o sentido é sem sentido.

Se você quer “entender” a mensagem do sutra, você o escuta na sua língua e compreende. “Ah, ele quer dizer isso”. Você vai raciocinar com sua mente e tentar entender logicamente a mensagem, mas isso não é iluminação, isso é conhecimento. E conhecimento não é sabedoria. São coisas diferentes.

Então a prática das cerimônias é útil, e o cerimonial em si ele tem um sentido de: “ah, vamos estabelecer uma maneira de fazer o ritual, e é essa aqui”. Cada templo acaba estabelecendo a sua, e então tenta-se fazê-lo perfeitamente, porque não vai dar para se pensar mais em nada, pois você está só ali.

Mas isso também é uma “coisa criada”, também é uma fantasia, um meio hábil. Então  há um ensinamento no budismo que diz assim: “um dos obstáculos à iluminação é o apego à ritos e cerimônias”. Um dos principais obstáculos à prática. Alguns monges começam a adorar fazer cerimônia, não gostam de fazer zazen mas amam cerimônias e adoram corrigir os erros dos outros.

Então, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Cerimônias são importantes, conhecimento é importante, mas você precisa das duas asas para voar, conhecimento e prática. Porem se tivermos que escolher, devemos escolher a prática, porque de eruditos que sabem de muitas coisas, nós estamos cheios, de ritualistas mais ainda. Há gente que acha que estudar o budismo é dizer: “ah em sânscrito a palavra quer dizer isso e aquilo”. Aí vem outro e diz: “não, não, tem essa sutileza aqui, porque em páli o autor tal diz isso e aquilo”, e começam a discutir esses detalhes. Parecem os bizantinos, que discutiam quantos anjos podiam caber na cabeça de um alfinete. Isso é inútil para o despertar, do ponto de vista do zen completamente inútil.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Aqui, neste momento


2) Dentro do que o Senhor está falando, o mais importante então seria estar no presente, independentemente de onde você esteja?

Monge Genshô: Considere que você pode estar em zazen (meditação sentada) e não estar fazendo zazen coisa nenhuma. Pode sentar e ficar lá o tempo todo pensando e elaborando um monte de coisas. Você não fez zazen. Porque zazen é ficar aqui, neste momento. Se você senta em zazen e consegue ficar alguns minutos realmente aqui, já é uma grande coisa. Se você consegue ficar 40% do tempo do zazen realmente em samadhi (concentração sem julgamentos), isso é ótimo, porque é muito difícil.

Ninguém precisa me contar aqui que na realidade ficou sentado fazendo coisa que não era zazen. Eu sei. Eu sei que é assim. Então o mais importante realmente é conseguir acessar este agora, estar realmente aqui.

3) Eu me percebi ultimamente, talvez, dentro de uma armadilha. Durante a prática fui relaxando e percebi minha mente muito inquieta e eu me questionei, porque quando eu tenho uma prática mais regular eu realmente me sinto mais acomodada, então eu vi um certo jogo dentro de mim.

Monge Genshô: Nem os mestres mais adiantados param de sentar. Ninguém para de sentar, você continua fazendo isso porque estabiliza a sua prática. E nada estabiliza mais a prática que um sesshin (retiro) de verdade. Porque não é como um zazenkai (dia de zazen). A gente acorda as 4 da manhã, às 4:20 estamos sentados e aí começa: zazen, kinhin, zazen. Café da manhã, cerimônia. Samu, trabalho. Acabou volta, zazen, kinhin, zazen. Palestra, zazen, kinhin, zazen. E assim vai indo. De tarde a mesma coisa, até as 22 hs. Quando você vê, fez em um dia 16 zazens de 40m.

Aí a mente muda muito. Porque você acumula prática. Fazemos até 7 dias seguidos. Zazen todo dia, sem parar. Tem até um monastério no Japão, Antaiji, que é famoso porque não faz mais nada nos retiros, zazen sem parar, só 6 horas de sono por noite.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Eu não sou assim...



(continuação)  Monge Genshô: Uma vez, 20 anos atrás, um homem num posto de gasolina desceu do carro para brigar comigo por um lugar em uma fila, também desci para não ser agredido sentado mas disse, “não, tudo bem, o senhor pode ir na frente, eu troco meu carro de lugar”. Então peguei meu cartão de apresentação, fui até o carro onde ele havia voltado a entrar entreguei e disse: “vamos transformar isso numa coisa boa”? E ele se desarmou, apertou minha mão etc., passaram alguns minutos, ele abasteceu o carro dele e veio falar comigo, andando com os braços abertos e disse: “eu não sou assim, eu não sou assim, o senhor veja eu perdi meu filho único de 21 anos, morreu semana passada, nem minha família me aguenta mais”. Aí todo mundo que tinha visto a cena no posto, não entendeu nada, porque os homens prestes a se engalfinhar estavam abraçados e um chorava. Então a gente não sabe o que está acontecendo na cabeça dos outros, porque é que ele está falando palavrões, porque é que ele está agredindo, você não sabe.

E tendo essa compreensão mais abrangente da vida, você poderá perdoar tudo. Você não vai pensar: “é para mim”, porque não é para você. Ele está brigando com o mundo e, por acaso você estava ali. Aquele homem se sentia injustiçado pela morte do filho, é isso, e então ele queria brigar com o mundo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Disciplina da mente




1) Dentro de uma prática regular, o que o senhor considera bom e razoável, para manter uma disciplina e um condicionamento da mente?

Monge Genshô: Seria bom fazer zazen duas vezes ao dia. Mas mais importante do que só fazer zazen, é começar a prestar plena atenção naquilo que se está fazendo. O que estou fazendo? Plenamente presente significa a mesma mente do zazen, sem ficar no passado nem no futuro. Lavar a louça: lavar a louça. A água caindo nas mãos, detergente no prato, tudo bem limpo, ficou sem gordura, enxaguar, sentir a temperatura da água, colocar para escorrer, outro prato. Aqui e agora. Nada de pensar no que eu vou fazer amanhã, o que aconteceu ontem, as contas para pagar, nada. Você vai fazer zazen lavando pratos, isso é bem importante.

Se você conseguir treinar no zazen estar presente naquele momento, você pode transferir para aquilo que você está realizando, e isso você pode fazer até 24 h por dia. Com uma prática assim, sua mente vai mudar muito, muito.

Dirigir um carro é um desafio. Você está andando, vem alguém atrás, buzina. Você não pensa nada, não se irrita, não se mobiliza, pensa que ele deve estar com mais pressa e dá passagem para ele. Ele passa do lado e diz uns palavrões porque você estava atrapalhando, e você não diz nada. Aceita como se fosse água caindo do chuveiro. Nada, não responde nada. E não continua pensando no assunto, continua dirigindo e dez metros depois você tem que ter esquecido os palavrões. Tentar não ficar com sentimento de ansiedade ou raiva depois, é isso que você tem que conseguir. Não levar nada em conta. (continua)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Paisagem mental



(continuação)
Um homem estava metido num grande problema, porque ele precisava “aparentar”, então ele precisava ter um carro muito caro, precisava ter um apartamento enorme, mas estava metido em dívidas impagáveis e isso causava uma grande infelicidade para ele, crise de hipertensão, e tudo o mais um monge lhe disse: “mas você pode vender tudo isso, não precisa ter esse padrão de vida. Vá dormir tranquilo”. “Mas o que é que os outros vão pensar”?
Para quem ele precisava mostrar que era milionário? Só que ele não era rico, ele era endividado. E ele não conseguiu escapar disso, era possível mas não conseguiu e continuou vivendo em ansiedade. Um monge não conseguiria entender o “mundo” dele, ele precisava usar um relógio Rolex.

Então, no fundo, a prisão está na paisagem que a pessoa criou dentro da cabeça. Ela acreditou em determinadas coisas e isso a aprisionou. Nós temos que olhar pra nós e dizermos assim: “qual é a fantasia na qual eu acredito”? No Zen queremos desarmar isso.

Então a mente pode mudar, mas, se você ficar preso numa paisagem qualquer, ela pode impedir sua vida. Porque você pensa: “eu vou ser monge e isso vai me fazer feliz”. E quando você se torna monge, o quê que acontece? É só trabalho. A prioridade são os outros, não é mais a “sua” prioridade.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Competições





(Continuação)
As guerras só existem porque os homens acreditam nelas, e acreditam na maldade do outro. Eu não vou dizer que essa maldade não exista, mas o que a sustenta  é a crença na identidade. Se não houvesse crença nas identidades, não haveriam guerras. Não precisaríamos temer os outros, bastaria esquecer que somos diferentes. As identidades de raça, de religião, xiitas, sunitas, cristãos, basta as esquecer e as guerras terminariam. Se entrarmos em guerra contra a Argentina, e houver invasões, essa guerra só existiria porque acreditamos que somos brasileiros e eles acreditam que são argentinos, o que é absolutamente tolo, não tem sentido nenhum. A guerra das Malvinas foi assim, entre Argentina e Inglaterra, “eu quero essas ilhas”. E a Inglaterra não queria ter seu orgulho desafiado e a Argentina queria possuir aquelas ilhas, e, por causa disso, morreram centenas de pessoas inutilmente, por pura vaidade e orgulho. Absolutamente desnecessário.

Mesmo se nós entrarmos nas religiões e mesmo no Zen, vamos ver pessoas que dizem “meu aluno”, “meu grupo”. Monges que caem nessas armadilhas, “minha escola”, “minha linhagem”, não é? Isso é bobagem, completa tolice, porque não pode existir um “minha” aqui neste mundo, nem um “meu”. É inútil. Competição sem sentido.

 Então na realidade, temos que concordar com o outro. Ah, ele acha que tem o “Deus verdadeiro”. Ah, sim. Qual é a resposta budista se alguém diz “meu Deus é verdadeiro”? A resposta budista é: “Ah sim, na minha terra tem muito isto de Deus verdadeiro.” “Não, mas o MEU Deus é verdadeiro”. “Ah, aqui no budismo também ocorre isto de o NOSSO é verdadeiro.” “Não mas o meu é o ÚNICO verdadeiro”. “Ah, nós também temos muitos deuses ÚNICOS e verdadeiros.” Até o interlocutor achar que está falando com um louco não é? “Você é louco”. “É, realmente, às vezes me sinto assim mesmo. Não tem problema.” E fim. (continua)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Arrastado pela fantasia





 (continuação)
Então depois do samadhi, kensho.  As pessoas pensam que iluminação é uma coisa fantástica e extraordinária, dificílima etc. Até é, mas pequenas amostras, são comuns. O problema é que a pessoa não é iluminada porque teve uma experiência assim:  viu um passarinho e achou, “Ah! Que lindo”! E não pensa mais nada, vive aquele momento intensamente, mas, 3 segundos depois, passou.

A iluminação está disponível, o que acontece é que nós não conseguimos agarrá-la, porque nós não estamos preparados para isto e, se a pessoa tiver a mente muito conturbada, ela não consegue nem ver o passarinho, e se vir o passarinho joga pedra nele. É uma questão de mente, não consegue ver nada, está perdido completamente. Mas uma pessoa razoavelmente normal, ela tem algumas experiências muito lindas, só que  não consegue mantê-las. Não consegue segurar aquilo e não pode decidir ter, não pode dizer assim: “agora vou me desligar de tudo e mergulhar numa experiência”. Essa habilidade de poder mergulhar na iluminação a qualquer momento, nós chamamos de “Satori”, e essa é dificílima, porque exige uma condição mental em que você acha e vê a sua vida a cada momento, como perfeita, em que a noção de um eu foi inteiramente esquecida.

E a diversão é mergulhar na falsidade, imagine uma pessoa que tem o Satori, ela vai ao cinema senta e vê: “são pontos de luz numa tela; os atores representaram isso anos atrás; tinha um roteiro; é tudo montado; é uma peça de teatro; não é nenhuma realidade”. Então ele aprecia a obra, mas não é arrastado por ela. Está vendo a realidade e não é arrastado por nenhuma fantasia. (continua)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A resposta que responde tudo


 (continuação)
Uma vez eu perguntei para um mestre: “como é quando se entra para um mosteiro”? E ele disse: “Quando se entra temos muitas teorias e no fim resta apenas uma pergunta: “quem sou eu?” Quando você resolve essa pergunta está tudo resolvido, porque você sabe o que fazer, quando e de que  forma. Está tudo resolvido.

Vocês estão vendo anotações que eu fiz para fazer a palestra? Não? Por que? Porque uma mestra da África do Sul me disse assim: “nunca prepare porque o Dharma tem que estar pronto dentro de você, tem que estar livre dentro de você. Quando você estiver na frente das pessoas, a palestra certa acontece, para aquele grupo de pessoas que você está falando”. Se você preparar, é a sua palestra, não é a palestra que aquele grupo quer escutar. Mas isso exige que você esteja pronto, não é?
(continua)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A verdadeira vida boa



(Continuação da palestra)
Então, vai aparecer lá, o insight, se você tiver preparado o terreno, no samadhi. E aí podem acontecer as oportunidades de kensho. “Ken” é ver, e “sho”, sua verdadeira natureza. Kensho é a experiência iluminada. Você nunca vê sua verdadeira natureza porque está perdido nesse mundo de ilusões. Nós estamos muito perdidos num mundo de ilusão própria, esse mundo não é bom, não é agradável, e por isso nós procuramos nos divertir e entreter, por isso procuramos outras vidas que são vidas falsas, não é? No cinema, na novela, em qualquer lugar. É aquela vida falsa substituta da sua vida, que é uma vida insatisfatória. Por isso procuramos nos divertir. Se uma pessoa tivesse uma vida absolutamente perfeita, maravilhosa, ele não iria querer se divertir, ele ia querer ficar “naquela” vida, aproveitando aquela vida, naquele momento. Para quê outro momento? Eu estou aqui apaixonado e feliz vivendo um amor maravilhoso, de mãos dadas com o meu amor, e alguém diz assim: “sai daí, vem aqui assistir uma novela”! Não, não vou, estou bem aqui, não quero ver novela. Isso seria vida realmente boa. Dá para entender? Isto não quer dizer abdicar das experiências prazeirosas e jogos se em cada um deles você estiver realmente presente, vivendo a vida plenamente.

Então a proposta no Zen é: vamos procurar a verdadeira vida boa? Mas a vida verdadeiramente boa, não está no resto, no mundo lá fora, está numa coisa interna minha. Se eu, dentro de mim, tiver olhos para ver, então eu posso achar o nirvana, pois ele está no mesmo lugar que o samsara. Os olhos de quem está olhando é que são diferentes. É por isso o nome do meu livro, “O pico da montanha é onde estão os meus pés”, porque a vida maravilhosa tem que ser aquela que você está vivendo naquele momento. Aqui e agora é o pico da montanha. Eu me preparei décadas para estar aqui sentado junto com vocês, estar vestindo essa roupa, e falando com vocês. Isso é o máximo, é um momento muito feliz, maravilhoso. Amanhã, é o pico da montanha de novo, e depois de amanhã, de novo. Isso é vida feliz. Assim é ser feliz, não é a euforia, é a sensação de justeza, eu estou fazendo o que eu queria, exatamente como eu queria. ( continua)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Os portais do Dharma são incontáveis



 (continuação da palestra)
Monge Genshô:  De frente para a parede, o que apareceu? Se interrogarmos um a um, vão aparecer várias histórias e mil pensamentos diferentes.

Mas o que é a melhor coisa de todas quando estamos sentados? É o que chamamos de samadhi. Samadhi é concentração real. “Eu estou sentado aqui agora, ouvindo o som do ventilador e mais nada”. Eu não saio daqui nem um segundo, não penso em outra coisa, eu ouço o som do ventilador, eu percebo os sutis movimentos em volta de mim. O colega do lado faz um pequeno movimento, eu percebo. Eu sei. É como se eu tivesse vendo a sala toda, não tenho olhos atrás da minha cabeça mas eu estou “vendo” de alguma forma, eu sinto o meu coração pulsando, e o sangue correndo. Eu sinto isso. Isso é estar realmente estar no momento presente.

Alguém sentiu seu coração pulsando?

Aluna – eu senti, mas foi tão intenso, que me deu medo.

Uma sensação comum é o medo. Mas não tem porque sentir medo. Temos que perguntar assim: “De onde vem esse medo? De quê eu tenho medo?” Você também pode sentir medo de uma grandiosidade que surge na sua frente e que é uma coisa que você não esperava. Um tempo infinito, um vazio, não sou eu, é algo mais, e esse expandir-se da consciência causa medo, porque nós estamos muito acostumados a viver agarrados na nossa identidade, ela “parece” uma âncora sólida, tranquila.  Então você pode se sentir assim, mas quando sentir qualquer medo, olhe para dentro de si e pergunte de onde vem , é originado de quê? Eu tenho medo que aconteça o quê? Então você pode olhar para  dentro e ver de onde vem.

Essa é uma grande oportunidade, porque nós temos portais, os “Portais do Dharma”, você abre uma porta, libertou-se daquele medo, passa para o espaço seguinte. Mas, tem outra porta. Você obteve determinada sabedoria, quando vê, tem outra porta. E se você passa para o outro lado, tem outra porta. Por isso um dos votos de Bodhissttva diz: “os portais do Dharma são incontáveis, faço o voto de atravessá-los todos”.

Você atravessa e cada pessoa tem uma experiência sutilmente diferente, e o processo de insights é diferente para cada pessoa. Mas se você consegue, durante o zazen, permanecer em samadhi, então, a sua mente ganha uma condição, como se fosse um terreno que nós aramos, tiramos a terra, tiramos raízes intocadas, e amaciamos a terra, adubamos, é isso que fazemos no zazen. Você prepara, prepara, prepara, está jogando pedras fora, acha outro pedregulho, vai jogando e aí sua terra vai ficando pronta. Sua terra ficando pronta nela podem ser plantadas coisas e podem ir nascendo frutos saborosos. Então samadhi é “preparação”. O zazen, todo ele é preparação. É raro que a iluminação aconteça num zazen, é mais comum que você tenha experiências iluminadas fora do zazen, numa caminhada, abrindo uma janela, regando uma planta, lavando pratos, etc. (continua)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Só o que está dentro de sua cabeça



(continuação de palestra em Brasília, 2014)
Monge Genshô: Há uma historinha de  que uma vez levaram um estrangeiro para um parque da Disney e passaram o dia inteiro, entrando em montanhas russas, filas, sempre aguardando a próxima surpresa, brinquedos que apelam para os seus medos fundamentais, de altura, de medo, fantasias etc. Então perguntaram ao estrangeiro o que ele tinha achado ao final, e ele disse: “que povo triste vocês devem ser”.

Vejam outro exemplo, existem muitas pessoas que assistem novelas e cujas vidas passam a ser as novelas.  Só discutem a novela, tentam interferir, dão palpites, escrevem para a empresa de televisão, a empresa até muda os roteiros em função das opiniões das pessoas que estão assistindo porque, o negócio real da televisão, é o máximo de ibope, porque o vendedor vai à frente do comerciante e diz quantas TV´s estão ligadas naquele determinado horário, e é isso que dá o valor do anúncio. Quanto mais audiência, mais caro. Esse é o verdadeiro interesse.

Então, estávamos falando sobre quais são as armadilhas que as pessoas usam para escapar da vida. Para escapar da realidade, você vai se divertir. Agora vejam bem qual é a técnica desenvolvida no Zen, a tanto tempo atrás, porque a diversão não é nova, antigamente os homens usavam jogar cartas, olhar pela janela e criar fofocas, os jogos de guerra, etc, porém o mecanismo é o mesmo, escapar da realidade da vida para uma vida falsa, que foi construída. E essa vida tem extremo poder, tão grande poder que as pessoas começam a confundir a vida falsa criada com a vida real.

Então o que nós fazemos com o praticante do Zen? Dizemos: Venha cá. Eu não vou dizer o que você vai ver, não vou dizer nada do que é a realidade, mas eu vou sentar você numa almofada de frente para uma parede branca, sozinho. Ninguém para conversar, todos estão em silêncio, nós estamos aqui, você vai ficar quieto e olhar para a parede. Qual é o material que você tem? Só o que está dentro da sua cabeça. (continua)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Divertir-se



Monge Genshô: Essencialmente os homens sofrem de angústia existencial porque eles se deram conta que vão morrer. Esses dias eu dei um exemplo de que nós somos gente que caiu da beira de um precipício. Todo mundo com a corda amarrada no pescoço. A única coisa que a gente não sabe é o comprimento da corda. Em algum momento, ela se esticará. É assim. Nós estamos aqui agora e não sabemos quem de nós vai morrer primeiro.

 Então todos nós procuramos um caminho espiritual e começamos a praticar porque temos essa angústia existencial. 

E como é a prática do zazen? Como ela funciona?

Primeiro a gente senta em zazen com o corpo completamente quieto e isso ajuda muito a fazer a nossa mente se acalmar, porque você não tem estímulos. Veja que nós andamos pela vida bombardeados com uma quantidade de estímulos impressionante. A maioria das pessoas não tem idéia de a quantas mensagens publicitárias nós estamos expostos por dia, mas são milhares.

Nós tentamos escapar da vida usando duas palavras: divertir-se e entreter-se. As pessoas dizem que precisam se divertir e se entreter. Mas veja a estrutura desta palavra, “divertir-se”, é escapar da realidade para uma outra realidade qualquer que nos retire dali. Por exemplo, nós temos a nossa vida e nós vamos ao cinema e entramos na vida de outras pessoas, na vida daqueles personagens, naquela estória, nos comovemos, choramos, damos risadas, mas enquanto estamos ali, todos lá fora sumiram e, se você estiver ali naquela sala escura e mergulhar profundamente naquela estória, a sua vida desapareceu. Você vive momentaneamente uma vida por procuração, é outra vida. E nessa vida por procuração você “di” de dividir, de divergir, “divertir-se”. Ou, se entreteu, saiu também da sua vida para uma vida qualquer que obscureça a sua vida, porque sua vida pessoal não é muito suportável. Então você procura outra.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O décimo preceito



10. Eu decido não desrespeitar os Três Tesouros (Buddha, Dharma e Sangha), mas sim nutri-los e apoiá-los.

Como os Três Tesouros são inseparáveis uns dos outros, o despertar modela a nossa prática e a nossa vida comunitária, a prática modela a nossa vida comunitária e o nosso despertar, e a vida comunitária modela o nosso despertar e a nossa prática. O desrespeito a qualquer um dos três tesouros acarreta também danos para os outros dois. Reconhecer as nossas transgressões, buscar reconciliação,  harmonia e renovar o nosso compromisso com os preceitos é o trabalho da Natureza Búdica e a reafirmação de nosso lugar na Sangha. Quando a integridade da Sangha é honrada e protegida, os Três Tesouros se manifestam.


 Fonte: http://monjaisshin.wordpress.com

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O nono preceito




9. Eu decido não me entregar à raiva, mas sim praticar a paciência.

O cultivo da má-vontade é um veneno para indivíduos e para a comunidade. Ainda mais corrosivo é o cultivo de ideias de vingança. Os membros da Sangha que estiverem em conflito ou tensão com outras pessoas, devem tentar resolver estes impasses diretamente em espírito de honestidade, humildade e de amor-bondade.

De:  http://monjaisshin.wordpress.com

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O oitavo preceito



8. Eu decido não sonegar ajuda espiritual ou material, mas concedê-las gratuitamente quando necessário.

Todos os cargos nos mosteiros e sanghas, existem para o apoio da prática e despertar de todos.

"Monge Genshô: Os praticantes devem estar atentos a não se colocarem na posição de meros receptores, isto ocorre quando outros sustentam os centros de prática, pagando aluguéis e insumos e contribuindo com seu trabalho e alguns não o fazem. Os praticantes budistas não devem ser receptores do esforço dos outros sem nada contribuir em troca, o simples ato de fazer limpeza, lavar as louças, varrer o chão, faz parte integrante do treinamento dos monges e dos leigos e serve como contribuição para os que tem dificuldades financeiras. Os que tem possibilidades devem ajudar a construir e sustentar os locais de prática afim de proporcionar meios para que novas pessoas possam despertar. Aqueles que se beneficiam devem estar conscientes das necessidades dos monges e dos centros para que estes possam subsistir, estas práticas existem desde os tempos de Buddha e trouxeram o budismo e suas instituições até os dias de hoje. Sem estas estruturas institucionais, apesar de seus defeitos humanos, nem textos nem monasticismo, nem ajuda espiritual teriam sobrevivido."

De: http://monjaisshin.wordpress.com

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O sétimo preceito




7. Eu decido não enaltecer a mim mesmo e desfazer os demais, mas sim superar as minhas próprias limitações.

Enquanto que alegrar-se com nossas melhores qualidades e feitos é uma prática Budista consagrada pelo tempo, elogiar a si mesmo ou buscar um ganho pessoal às custas dos demais é uma atitude derivada de uma compreensão equivocada da natureza interdependente do “eu”. Na sangha, poderá ser necessário, em alguns casos, criticar a ação de certos indivíduos ou grupos. Quando tal é feito, nós devemos prestar atenção especial aos nossos motivos, ao conteúdo específico do que é dito, a quem é dito, e às potenciais repercussões da crítica.

De:  http://monjaisshin.wordpress.com

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O sexto preceito



6. Eu decido não falar sobre as falhas de outros, mas sim ser compreensivo e solidário.

Este preceito deriva de nossos esforços para construir harmonia social e compreensão mútua. Declarações falsas e maliciosas, por sua própria natureza, são atos de alienação que originam-se de uma percepção ilusória de oposição entre “eu” e “outros”. Geralmente a injúria traz como consequências a dor para os outros, e a fragmentação para a Sangha. Quando surgir a intenção de injuriar, esforçar-se para compreender as raízes deste impulso.


De:   http://monjaisshin.wordpress.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O quinto preceito




5. Eu decido manter a minha mente clara, não abusar do álcool ou outros intoxicantes, e nem levar os outros a fazê-lo.

A prática budista ocorre dentro de um contexto de consciência e plena atenção, um estado de mente que não é condicionado por tóxicos de nenhum tipo. Quando a claridade é perdida, é muito fácil violar os demais preceitos. Além disso, nós pretendemos que o Centro Zen seja um ambiente que apoie aqueles que estão tentando viver sem tóxicos. Portanto, álcool e intoxicação por drogas na sangha são inapropriados e constituem causa de preocupação e possível intervenção.
Enquanto discípulo de Buda, devemos ajudar todos os seres a alcançar sabedoria clara e não, ao invés disso, induzir a um pensamento perturbado e turvo.

Fonte: http://monjaisshin.wordpress.com

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O quarto preceito



4. Eu decido não mentir, e sim falar a verdade.

Um discípulo de Buda não deve usar palavras ou expressões falsas, nem encorajar outros a mentir ou mentir mediante expedientes. Não deve envolver-se nas causas, condições, métodos ou karma de mentir, dizendo ter visto o que não viu ou vice-versa, ou mentindo implicitamente mediante meios físicos ou mentais. Como discípulo de Buda deve manter sempre a Fala Correta e o Ponto de Vista Correto e levar os outros a mantê-los também.
Mentir para si mesmo, para outro ou para a comunidade obscurece a natureza da realidade e cria obstáculos à prática do Budismo.


(Deve também ter sabedoria para não falar verdades desnecessárias ou em hora imprópria M.G.)
De: http://monjaisshin.wordpress.com

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O terceiro preceito




3. Eu decido não utilizar mal a minha sexualidade, e sim ser cuidadoso e responsável.

Nós reconhecemos que a sexualidade faz parte da nossa prática tanto quanto qualquer outro aspecto das nossas vidas diárias. Reconhecer e honrar a nossa sexualidade é uma forma de criar um ambiente onde relacionamentos conscientes e compassivos podem ser cultivados. Deve ser tomado um cuidado especial quando pessoas entram em uma relação sexual. Existem formas de relacionamento que podem levar a grande dano e confusão.

O Terceiro Treinamento da Plena Consciência diz: Atento ao sofrimento causado pela má conduta sexual, eu me comprometo a cultivar a responsabilidade, e aprender modos de proteger a segurança e integridade de indivíduos, casais, famílias e da sociedade. Eu estou empenhado a não me envolver em relações sexuais sem amor e sem um compromisso duradouro. Para preservar a felicidade de mim mesmo e de outros, estou determinado a respeitar meus compromissos e os compromissos alheios. Farei tudo em meu poder para proteger as crianças do abuso sexual, e para impedir que casais e famílias sejam separados devido à má conduta sexual.
De: http://monjaisshin.wordpress.com

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O segundo preceito



2. Eu decido não tomar o que não é dado, e sim respeitar a propriedade alheia.

Este preceito expressa o comprometimento de viver com base em um coração generoso, ao invés de viver com base em uma mente ávida. Este comprometimento está baseado na percepção de que, tal como nós somos, nada nos falta. Em um nível pessoal, o comportamento ganancioso prejudica a pessoa que rouba tanto quanto prejudica a pessoa que é vítima do roubo.
 Roubar pode comprometer ou mesmo destruir o ambiente de confiança mútua para a prática Zen. Nós reconhecemos ainda que o mau-uso de autoridade e status é uma forma de tomar aquilo que não é dado. Dentro da complexa vida da Sangha, vários níveis hierárquicos de autoridade e anterioridade desempenham uma função em determinadas situações. É particularmente importante que indivíduos em posições de confiança não utilizem a sua autoridade como uma forma de obter privilégios especiais, ou como uma forma de controlar ou influenciar os demais de maneira inapropriada.

De:  http://monjaisshin.wordpress.com

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O primeiro preceito



Sutra da Rede de Brama - Código Moral dos Bodhisattvas

Os Dez Preceitos Maiores ou Cardeais

1. Eu decido não matar, e sim cuidar de toda forma de vida.
Este preceito expressa a intenção de viver de forma compassiva e inofensiva, e deriva do reconhecimento da unidade intrínseca de toda existência. Quando compreendido em seu contexto mais amplo, “não matar” também pode ser entendido como não causar dano, especialmente não causar dano ao corpo ou a psiquê de outro. Violência física e comportamento abusivo (o que inclui ameaças física e demonstrações extremas de raiva e malícia) são vistos como uma forma de “matar”. Nós também reconhecemos nosso papel, seja diretamente ou em cumplicidade com outros, no aniquilamento de outras formas de vida. Como nós somos uma Sangha, quando questões que incluem o aniquilamento de animais e plantas são levantadas, nós precisamos cuidadosamente considerar as nossas necessidades reais e nossas responsabilidades, para que seja possível trabalhar para o benefício de todos os seres.

De:  http://monjaisshin.wordpress.com 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

As Três Resoluções Gerais



As Três Resoluções Gerais

1. Eu decido evitar o mal.
Evitar o mal significa abster-se de dano a si mesmo e aos demais – ou a animais, plantas ou à Terra – por meio de nossos pensamentos, palavras e ações.

2. Eu decido fazer o bem.
Fazer o bem significa agir com base na compaixão e equanimidade de nossa natureza desperta. Como parte de nosso esforço para viver eticamente, nós abraçamos as práticas Mahayanas da confissão, do arrependimento, reparação e reconciliação.

3. Eu decido libertar todos os seres sencientes.
Libertar todos os sencientes significa manifestar a nossa Natureza Búdica para o benefício de todos. Quando nós expressamos a nossa natureza desperta, nós damos aos demais a oportunidade de descobrir a sua própria Mente Verdadeira.

(Segunda parte dos votos que os leigos budistas fazem em sua investidura, a partir dela podem usar
um rakusu (miniatura do manto budista que se usa pendurado à frente do corpo))

De:   http://monjaisshin.wordpress.com

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Versão em inglês de "O Pico da Montanha é onde estão os meus pés"

Livro "O Pico da montanha é onde estão os meus pés" disponível em inglês na Amazon: http://www.amazon.com/Mountain-Peak-Where-Am-ebook/dp/B00PWGVK74/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1416585570&sr=8-1&keywords=monk+gensho

Os três refúgios



Os Três Refúgios

1. Eu tomo refúgio no Buda.
Refugiamo-nos em Buda porque ele é nosso grande mestre. Ao tomar refúgio no Buda, nós reconhecemos a Natureza Búdica de todos os seres. Embora haja diferentes níveis de autoridade administrativa e religiosa na sangha, nós reconhecemos que todos nós somos, igualmente, a expressão da Natureza Búdica.

2. Eu tomo refúgio no Dharma.
Refugiamo-nos na Lei porque é um bom remédio. Ao tomar refúgio no Dharma, nós reconhecemos a sabedoria e a compaixão do modo de vida Budista. É através do Dharma que nós exprimimos e tornamos acessíveis os ensinamentos de Buda tal como nos foram transmitidos através da linhagem de nossos professores. O termo “Dharma” é freqüentemente traduzido como “Lei”, e nesta perspectiva nós podemos ver os ensinamentos de Buda como diretrizes para nosso comportamento em todas as áreas de nossas vidas.

3. Eu tomo refúgio na Sangha.
Refugiamo-nos na Comunidade Budista porque é composta de excelentes amigos. Ao tomar refúgio na Sangha, nós reconhecemos o importante papel que a vida comunitária na sangha desempenha na nossa prática. A fim de que a Sangha seja um refúgio, nós aspiramos criar um ambiente inclusivo, com espaço para compreensão e aceitação de nossas diferenças.

 http://monjaisshin.wordpress.com/os-preceitos-do-bodisatva/

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Koun Ejo


Shobogenzo Zuimonki - Livro I


Koun Ejo (Tradução da monja Ivone Jishô, feita a partir da versão em inglês editada pela Sotoshu Shumucho, traduzida do japonês pelo Rev. Sohaku Okumura).
Numa palestra à noite Dogen disse:
Não use linguagem suja para repreender ou injuriar os monges. Mesmo que eles sejam ruins ou desonestos, não nutra rancor contra eles nem os ofenda descuidadamente. Primeiro de tudo, não importa o quanto eles sejam maus, quando mais de quatro monges estão reunidos, eles formam uma sangha, que é um tesouro sem preço do país. Isto deveria ser objeto do mais alto respeito e honra. Se você é um abade ou monge superior ou mesmo um mestre ou professor, se seus discípulos estão errados, você precisa instruí-los ou guiá-los com um coração parental(1) e compassivo. Ao fazer isso, entretanto, quando você bate naqueles que devem receber um tapa ou repreende quem deve ser repreendido, não permita a você mesmo difamá-los ou despertar sentimentos de ódio ou aversão.
Quando meu último mestre Nyojo era abade do Mosteiro Tendo, enquanto os monges estavam sentados em zazen no sodo (sala dos monges), ele batia com sua sandália ou os repreendia com palavras ásperas com o objetivo de mantê-los atentos. Ainda assim cada um deles era grato por serem batidos e o respeitavam muito.
Uma vez, em uma palestra formal ele disse: “Eu me tornei velho. Eu já devia ter me retirado do mosteiro e me mudado para um eremitério para cuidar de minha saúde em minha velhice. Apesar disso, eu sou o abade e vosso professor, cujo dever é quebrar as delusões de cada um de vocês e transmitir o Caminho; por isso, eu às vezes uso palavras duras para repreendê-los, ou bato em vocês com a vara de bambu. Eu lamento ter que fazer isso. Entretanto, esta é a maneira para fazer com que o Dharma floresça na terra do Buda. Irmãos, pro favor tenham compaixão por mim e perdoem-me por minhas ações”.
Ao ouvir estas palavras, todos nós vertíamos lágrimas. Somente com um tal espírito você pode ensinar e propagar o dharma. Mesmo que você seja um abade ou monge superior, é errado dirigir a comunidade e ofender os monges como se eles fossem seus pertences pessoais. Além disso, se você não está nessa posição, você não deveria apontar os erros dos outros ou falar mal deles. Você deve ser muito cuidadoso.
Quando você percebe os erros dos outros e acha que eles estão errados, e deseja instruí-los com compaixão, você precisa encontrar uma maneira eficaz para evitar despertar a ira deles, e fazer isso como se estivesse falando sobre outro assunto qualquer.

 
(1) A tradução da palavra coração possui também o sentido de mente, uma vez que Shin ou Kokoro pode ser usado para referir-se a ambos, que são considerados como uma só unidade. Mente aqui no sentido de consciência que é entendida como habitando o coração. A palavra usada no texto, Robashin, é referida pelo tradutor como literalmente significando a mente de uma velha mulher. No Tenzô Kyokun Dogen menciona três tipos de mente: kishin (mente feliz), roshin (mente parental) e daishin (mente magnânima). Ele diz: “Roshin é a mente ou atitude dos pais. Da mesma maneira que os pais cuidam de seu único filho, mantenha os Três Tesouros em seu coração”.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Zazengi




(ZAZENGI)

Dogen Zenji

Tradução de José Fonseca



Estudar zen significa praticar zazen. Para praticar zazen escolha um lugar calmo,
sem umidade nem vento, e um tapete grosso. Imagine que o lugar onde está é o Assento do Diamante, pois usamos a mesma postura de Sakiamuni ao ser iluminado. Alguns monges praticam em grandes pedras e outros seguem a prática dos sete budas, de sentar em almofadas de capins.
 No local do zazen não deve haver escuridão, mas brilho moderado noite e dia. Deve ser morno no inverno e fresco no verão. Mantenha corpo e mente em descanso - corte toda atividade mental. Não pense sobre tempo e circunstâncias, nem se amarre em bons ou maus pensamentos. Zazen não é nem consciência de si nem auto-contemplação. Jamais tente se tornar um buda. Desligue-se das noções de deitar ou sentar. Coma e beba moderadamente. Não perca tempo. Atente para sua própria prática de zazen. Aprenda com o exemplo do quinto patricarca Konin de Monte Obai. Todas as suas ações, todos os dias, eram prática de zazen.
 Quando praticar, use um kesa e uma pequena almofada redonda. Sente-se não no meio da almofada, mas na parte posterior dela. Cruze e pouse as pernas no tapete. A almofada deve estar em contato com a base de sua espinha. Esta é a postura básica transmitida de buda a buda, patriarca a patriarca.
 Use a postura de lotus, meia ou completa. Em lotus completo, o pé direito vai sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita. Mantenha as pernas horizontais e a coluna perfeitamente reta. Em meio lotus, o pé esquerdo é posto na coxa direita e o pé direito sob a coxa esquerda.
Folgue sua roupa alinhe-se para cima. Mão direita no pé esquerdo, mão esquerda no pé direito. Os polegares retos tocam-se levemente. Ambas as mãos devem estar contra o abdomem, o dorso dos polegares alinhados no nível do umbigo. Lembre-se de manter a espinha dorsal reta o tempo todo. Evite inclinar-se para frente ou para trás, esquerda ou direita. Alinhe as orelhas com os ombros. O nariz e o umbigo também devem estar no mesmo plano. Coloque a língua contra o céu da boca. Respire pelo nariz e mantenha seus dentes e lábios juntos. Os olhos ficam abertos naturalmente. Ajuste o corpo, inicialmente, com uma respiração profunda. A forma de seu zazen deve ser estável como uma montanha. Pense "sem pensar". Como? Usando "não-pensar".  Este é o esplêndido caminho do zazen. Zazen não é um meio de iluminar-se, ele é a ação completa do Buda. O próprio zazen é natural e pura iluminação.

 Dito aos monges de Kipoji em novembro de 1243.
(Capítulo 11 do Shobogenzo , Olho e Tesouro da Verdadeira Lei, edição traduzida por Kosen Nishiyama, Tokyo, 1988)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Há hierarquia entre os seres



Pergunta – O carma pode ter um peso menor conforme o nível de esclarecimento da pessoa? Por exemplo, duas pessoas cometem erros que irão gerar carma, o mesmo tipo de erro, porém uma é mais esclarecida, seu nível de consciência é maior, o carma sofrido pelo mesmo tipo de ato será pior, vamos dizer assim, para a pessoa mais esclarecida?

Monge Genshô – As consequências serão diferentes. Quanto mais consciência, mais culpa e mais a pessoa terá a tendência a se punir. Quanto mais inconsciência, menos consequências morais. Um índio, por exemplo, que vive na floresta e necessita caçar para alimentar sua família, é diferente de uma pessoa da cidade. Mas o ato em si tem um peso por si mesmo, ou seja, mesmo que você não esteja consciente que seu ato é errado, ele gera consequências. Pode não ser a mesma consequência de alguém que se sinta culpado, mas o ato gera consequência da mesma forma. Outra coisa importante é que o fato de você não se lembrar do ato, não significa que não sofrerá as consequências.
Há um detalhe que parece difícil para as pessoas entenderem, existe hierarquia entre os seres. É diferente você matar um médico que salva vidas ou matar um estuprador. Tanto maior é seu crime, quanto maior o prejuízo que você causa à sociedade ou ao mundo como um todo. Algumas pessoas pensam que matar é igual, não é. Por exemplo, quando você vai ao banheiro e lava suas mãos está matando bactérias. Qual o peso dessa sua ação? Baixíssimo, pois é mais importante que você tenha suas mãos limpas para não contaminar outras pessoas. Por isso existe uma relação de grandes crimes que causam grande marca carmica, matar o pai, matar um Buda, ferir um Buda ou um Bodhisattva e causar cisão na sangha.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Buddha se entristeceu



Pergunta – O que deve aprender o ser humano quando perde a pessoa que ama?

Monge Genshô – O grande problema de nossa mente, e que é fonte de grande sofrimento, é o apego.  Nos agarramos a todas as coisas e desejamos que sejam permanentes. Desejamos que as pessoas que amamos não mudem e sejam eternas. Todas as pessoas mudam, envelhecem e mudam também suas idéias. Nada e ninguém é permanente e todos iremos desaparecer um dia. Se nos agarrarmos muito às coisas e colocarmos nosso coração aí, sofreremos. A vida tem em si, grande sofrimento, pois é quase impossível você viver sem amar e sem criar grandes laços. Mesmo os grandes mestres sofrem com suas perdas, sejam elas de familiares, amigos ou discípulos.  Buddha teve muitos discípulos e um deles era Shariputra, que era mais velho que Buddha. Quando Shariputra morreu, Buddha se entristeceu.  Naturalmente sofreremos com nossas perdas, mas temos que entender que o sofrimento faz parte da vida. O que temos que fazer é tentar expandir nosso amor, abranger cada vez um numero maior de pessoas, é isso que você deve fazer, espalhar seu amor.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Dê um passo de cada vez



Pergunta – O senhor falou sobre o Dharma e confesso que ainda não encontrei verdadeiramente esse caminho. De onde tirar forças para não perder a esperança?

Monge Genshô – Não se preocupe em ter forças seja para alcançar algo ou para continuar no caminho. O melhor é não ter objetivos. Agora temos duas pessoas indo para o Japão para um período de treinamentos e eu sei que é difícil se manter estimulado a continuar. O segredo é não pensar no dia de amanhã e viver só por hoje, pensar, “Só hoje até o fim do dia irei tentar ficar”. Se acontecer um erro, não há problema, errar é normal, não devo exigir demais de mim e muito menos ter grandes esperanças. Apenas aceite o momento. Para andar na vida, não pense em ser forte, apenas dê um passo de cada vez. É como quando estamos em retiro e começamos uma sessão de Zazen. Se ficarmos pensando em todos os Zazen que teremos pela frente, que em geral são doze em um dia de retiro, nossa mente pode não suportar. Devemos pensar, “Vou ficar sentado até tocar o sino e terminar esse Zazen”.  Quando você faz assim, rapidamente chega o final do retiro e a sensação muda, você quer que continue, não deseja mais ir embora. Não se preocupe em ter forças, apenas dê um passo de cada vez.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A mente que se prende


(continuação)
Monge Kômyô:  Quando nós somos capazes de superar o impulso egoísta, nós vamos ser capazes de enxergar o que nós consideramos nosso inimigo e ter compaixão por ele. Enxergar aquelas coisas que nós não gostamos, compreender essas coisas. Nós temos o direito de ter critérios, podemos gostar de certas coisas e não gostarmos de outras, mas mesmo ao se ter um critério, não é necessário que você crie apegos e aversões. Isso é uma sutileza, mas nós podemos exercitar isso.
O exercício vem através da Quarta Nobre Verdade, o caminho do meio, o caminho óctuplo – agir, viver, com profunda atenção, profunda paciência para aprender para compreender, para reconhecer, descobrir as origens e, no que diz respeito às outras coisas e às outras pessoas, ter o dom de se colocar no lugar do outro, de conseguir enxergar a ignorância do outro, aquela pessoa que nos fez sofrer. Aquela pessoa que nos magoou, essa pessoa sofre muito, ela é profundamente ignorante, nós temos a nossa ignorância, ela tem a dela. Certamente foi a profunda ignorância dela que fez com que ela agisse ou deixasse de agir de certa forma, e nos fizesse sofrer.
Compaixão significa você compreender a natureza daquela pessoa que te fez sofrer. Compreender. Não é condescender. A pessoa pode ter feito um grande mal, ela pode por exemplo ter batido em você, ela pode ter matado, dado um tiro em você, uma coisa horrível e agora você perdeu um olho por causa disso. Ainda assim, é possível fazer surgir a mente Bodichitta, é possível ter compaixão por essa pessoa, ainda que reconheça, que ela cometeu um ato de grave violência.
Eu temo que talvez eu não esteja conseguindo explicar corretamente este contexto, porque é uma experiência muito intensa, muito delicada, de equilíbrio no exercício de compreensão dos aspectos cruéis e não saudáveis que existem e a compreensão profunda dos mecanismos que levam a essas crueldades e injustiças, ódios, etc.
Todos nós aqui somos praticantes, cada um de vocês assumiu uma responsabilidade de prática. E ao praticante é necessário aprender a trabalhar a si mesmo para evitar cada vez mais se deixar intoxicar pelos aspectos não saudáveis da natureza da mente. A mente quando se perde na distorção egóica, age com uma identificação mesmo que ilusória, muito intensa. Faz parte do mecanismo distorcido da mente, se prender a coisas, mesmo que ela não precise se prender.
O grande ensinamento de Buda, é que nossa mente é livre, nós não estamos presos a nada e a ninguém. “Em essência”, ninguém, nem nada, nos faz mal. A ideia de que alguém ou alguma coisa nos faça mal, é uma ilusão. É uma aparência. Uma mágica. Nós experimentamos essa mágica como se ela fosse muito concreta, às vezes vira uma dor física, mas é a sua mente construindo aquela dor. O mundo continua o mesmo, nós é que estamos em conflito com o mundo. A mente fica presa.
Existe uma historia Zen de um homem que gostaria de praticar o Zen, estava muito interessado, procurou ler algumas coisas, e finalmente ouviu falar em um grande Mestre, um grande professor do Zen, e foi até o local onde havia a prática e bateu na porta. Abriu um velhinho comum, um monge Zen e o rapaz disse que gostaria de praticar, que procurou se preparar lendo muito sobre a prática, e que queria que o monge o introduzisse. O velhinho olhou pra ele e disse: “você quer praticar o Zen? Então ok. Vá para casa e pratique apenas uma coisa: não pense em macacos. Volte amanhã”. O homem foi embora, agradeceu. Duas horas depois ele volta, bate à porta, desesperado: “Monge, eu não consigo deixar de pensar em macacos!”
É assim a mente, o objeto que a mente se prende, ele em si, não tem relação direta com a mente, mas existe um estímulo, algo que desencadeia uma mente condicionada, uma relação de envolvimento ilusório com a ideia, e ai a mente começa a criar todo um universo de ilusão em torno daquilo.
Apesar desse impulso egoísta ser muito arraigado em função dos nossos condicionamentos, ainda assim existem aspectos na nossa vida, na nossa existência pessoal que favorecem a superação de qualquer apego. A resposta para a superação de apegos ou aversões se encontra nos vários aspectos belos da vida, que não tem a ver com os macacos. Está na capacidade de compreender que, ao haver uma experiência, nós nunca estamos realmente presos a ela, nós somos sempre livres. Fazer o zazen não é um problema. Caminhar lá fora e praticar respiração também não é um problema. As mosquinhas em torno da gente também não é um problema. Perder pessoas que nós amamos não é u problema. Lidar com problemas em nossa vida, em si, não é um problema. O problema é o desafio, o que nós entendemos de “problemas” nas nossas vidas são, na ótica da prática contemplativa, desafios. Como vamos lidar com esses desafios?
O trabalho ou o esforço para libertar a mente tem uma dinâmica particular, de cada um de vocês e cada um de nós lida a seu tempo e da melhor forma possível. Mas o caminho para a superação do egoísmo está no favorecimento da mente compassiva, no favorecimento de nossa capacidade, nem que seja aos pouquinhos, de começar a compreender melhor o sofrimento ou a ignorância daquele outro, daquela outra coisa, do objeto que aparentemente nos faz sofrer tanto. Compreender a natureza do objeto, o copo é o copo, o copo não sou eu. Se eu esperava beber água pura no copo mas bebi algo amargo, que me desagradou, não é culpa do copo. É uma circunstância. É um acontecimento, é um desafio. E o desafio é saber lidar com a circunstância e não se perder nela. Eu esperava água pura, mas bebi líquido amargo. Vou tentar praticar, para tentar encontrar meios de não ficar com raiva do copo ou do próprio líquido amargo porque ele não atendeu as minhas expectativas e, quem sabe, conseguir água pura em outro lugar. (Final)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O apego


 (continuação)
Monge Kômyô:  O ensinamento de Buda é muito frequentemente tratado como medicinal, e ele mesmo se chama em alguns discursos, como um médico que vem trazer uma medicina, um remédio para curar as nossas mentes e por isso o Buda é frequentemente tratado como médico.
Na iconografia simbólica budista existe o Buda da medicina, que é apenas a “entronização” do simbolismo medicinal que o Buda manifesta. Ele vem trazendo um remédio, e esse simbolismo é interessante, porque ele procura mostrar que o ensinamento de Buda  é uma profilaxia, ele serve para que nós todos nos preparemos para enfrentar as situações que nos levam ao orgulho, ao ódio, ao desespero, à incompreensão, aos conflitos. Neste momento, todos nos estamos vivendo situações assim, mas a prática e o que o Buda ofereceu, é uma medicina, é uma cura, e como toda medicina, ela precisa ser tomada com regularidade, para que a “doença” possa ser curada propriamente.
O egoísmo é a doença.
A primeira nobre verdade de Buda é de que a vida, a forma como nos captamos e experimentamos a vida, se caracteriza pela insatisfação.  Cada um de nós se observar, e fizer uma avaliação pessoa, vai descobrir insatisfações em nossas vidas. A nossa mente é insatisfeita. A insatisfação leva à frustração, ao stress.
A segunda nobre verdade, é que o processo de insatisfação da mente se manifesta devido à ignorância, a esse vidro sujo, e somos insatisfeitos, porque não conseguimos enxergar a existência de maneira clara, e aquilo que nós percebemos não se adequa às expectativas do nosso eu, nós nos frustramos e nos tornamos insatisfeitos.
A terceira nobre verdade do Buda, em termos mais modernos, é que nós podemos cessar esse processo doentio em nossas mentes, não é impossível superar as situações. O campo de identificação profunda com aspectos egoístas é muito forte nas nossas mentes condicionadas, parece extremamente forte. A experiência que todos nós temos parece definitiva, mas não é, isso pode ser superado. Isso pode ser curado.
Eu me lembro quando eu era adolescente, eu me apaixonei por uma menina, nós namoramos por um tempo mas logo depois ela não quis mais o namoro. A experiência de dor era intensa, eu mal conseguia respirar. Era como se aquela dor não fosse acabar nunca mais. Era uma frustração e uma dor tão profundas que repito, eu tinha dificuldade de respirar. E eu olhava o quarto à minha volta e parecia que ia desabar sobre mim.
Todas as coisas que eu fazia, todos os lugares em que eu ia, eu pensava nela. E por consequência, como que um processo de sincronicidade, volta e meia aconteciam coisas que pareciam quase místicas, como alguém que passava por mim, falava um nome e era o nome dela, ou entrava em algum lugar, via uma cor, e era a cor que ela gostava.
Essa é a experiência do apego, do egoísmo. O meu desespero não era pela menina, mas com o fato de que as minhas expectativas foram frustradas. A projeção de paixão, a ideia de afeto, que pode ser no sentido de um namoro ou em qualquer sentido, tudo que nós vivemos é um afeto, o trabalho, a família, aqui na prática do retiro.
A minha mente em grande parte imatura, naquela parte não praticava nada, projetava intensamente. Eu queria aquela menina para mim, o meu “eu” queria que ela fizesse parte de mim mesmo. Mas isso não acontecia. Tenho 52 anos, e hoje em dia quando lembro daquele momento: nada. Mas naquela época, eu ia morrer.
É assim que trabalha a mente. Quando ela está perdida num espiral de identificação egóica, apego ou aversão, é como se o mundo inteiro se resumisse naquilo. Quando nós perdemos alguém que nós gostamos, entramos em desespero por isso. O que existe por trás desse desespero não é apenas o amor, dificilmente é o amor por aquela pessoa, mas é a vontade ou desejo do nosso “eu”, de fazer com que aquela pessoa continue viva para nós. Nós queremos que aquela pessoa não vá embora. Isso não é amor. O amor por alguém que nós perdemos, tem como resultado a tristeza, não o desespero. O desespero é egoísmo. A tristeza, a lamentação, faz parte do amor. Amamos, lamentamos. Mas não o desespero.
Existe um conto Zen, de uma Monja, uma grande Mestra muito respeitada por sua sabedoria, pela sua equanimidade e equilíbrio interior, e um certo dia ela soube que uma sobrinha dela tinha morrido. Ela soluçava de chorar. Os alunos dela chegaram até ela e disseram: “Mestra, a senhora está chorando tanto, e o desapego, o equilíbrio, a compreensão de que todas as coisas morrem”? A Mestra olhou para os alunos e falou: “Eu gostava muito dessa minha sobrinha, eu a amava”. Ela não estava em desespero, ela chorava, de tristeza.
Quando aprendemos a superar o apego, nós compreendemos a justa medida entre o sentimento de afeto e o desvio, o desespero, e sabemos viver todas as coisas, com a plenitude emocional saudável e natural. Não nos perdemos. (continua)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

As portas da percepção


(continuação)
Monge Kômyô:  O egoísmo é a atitude que nós tomamos, pensando apenas em nosso benefício, não preocupados com mais nada, com mais ninguém. E fazemos isso porque a ação que nós estamos fazendo é interpretada pelo nosso eu como parte dele mesmo. Por exemplo, estamos nos alimentando, e temos digamos, uma comida que é para todos, ai vem uma pessoa e pega a metade do bolo para ela, por exemplo, e vai embora. Ela quer metade do bolo, ela não se importa com os outros, nem se vai ter bolo para as outras pessoas. Ela quer favorecer a ela mesma primeiro.

Percebam que a atuação egoísta, frequentemente,  ocorre sem que nos percebamos, por isso é egoísmo. Se nos tivéssemos consciência que somos egoístas, não seriamos egoístas, o egoísmo é uma distorção.  Eu costumo dar a imagem de que, nós temos uma janela de percepção, vocês agora todos nesse momento, têm o campo de percepção de vocês. É o campo visual, auditivo, campo de cheiros, odores, paladar e tato. Esse complexo de campos, ao “ayatanas”, as portas de percepção, estão atuando neste momento, vocês estão captando o ambiente com isso. Costumo dar a ideia de que esse campo de percepção é como se fosse um vidro de uma janela, e o que esta sendo captado é uma paisagem que estamos vendo, mas esta janela não está limpa, está suja, em algumas partes, em alguns pontos do nosso campo de percepção há mais sujeira que em outros.

A pessoa do nosso lado também olha por uma janela, a mesma janela, é um vidro, e o vidro também é sujo do lado dela. E nos dois olhamos uma paisagem, e pode ocorrer que eu olhando para aquela paisagem, em meio à sujeira, eu consiga enxergar uma árvore, lá no meio do campo, na paisagem, e eu chego para a pessoa do meu lado e digo: “olha que árvore interessante, bonita”. Só que no ângulo de visão e de percepção daquela pessoa, o campo de sujeira e anuviamento da percepção é outra, e justamente onde ela poderia ver a árvore, ela não a vê, porque tem uma grande mancha de sujeira ali. Mas ela consegue enxergar uma rocha, que no meu ângulo de visão eu não vejo, porque esta sujo, e ela diz: “Que árvore? Não tem árvore nenhuma ali! Tem uma rocha, muito forte e sólida”. E eu olho para ela e digo: “Que rocha? Não tem rocha nenhuma ali, você está louca, tem uma árvore”. E aí entra o conflito.

Uma mente percebe e capta de uma forma, outra mente percebe e capta de outra forma, e quando não há uma integração, surge o conflito. Da mesma forma, internamente conosco, diante de situações e objetos de percepção, nós podemos enxergar esse objeto claramente ou não enxergar esse objeto de todo, e quando isso ocorre, a frustração, o ciúme, o medo, o ódio, a incompreensão, se manifestam.
Num retiro, nós trabalhamos a plena atenção e procuramos atuar com profundo cuidado e observação daquilo que nós fazemos. Estamos focados em nós mesmos, na nossa prática, mas como falei no primeiro dia, estamos unidos. Então em tudo que fazemos, fazemos para trabalhar a nossa atenção profunda e clara, mas sempre procurando estar atento ao fato de que existem outros que estão também praticando. Num retiro nos tentamos minar cada um dentro da sua possibilidade, o profundo domínio do egoísmo em nossas mentes.

Nas nossas vidas, as situações que nos frustram, que nos causam sofrimento, que são difíceis, elas assim são, porque nós estamos lidando com elas,  de forma excessivamente egoísta. Entendam que, a descrição do fenômeno egoísta no contexto budista, não é acusatória, o objetivo é despertar nas mentes, a compreensão mais clara de nós mesmos. (continua)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O egoísmo


 (Continuamos com palestras do Monge Kômyô no sesshin de Goiânia 2014)
Monge Kômyô:  Na nossa conversa de hoje eu gostaria de falar sobre dois temas muito importantes no estudo e na pratica budista, mas são dois temas antagônicos: egoísmo e compaixão.
Na tradição budista, o exercício da compaixão é uma experiência fundamental. No contexto contemplativo, o desenvolvimento das compaixão está associado ao que se chama de desenvolvimento de uma “Mente Bodichita”.
O sustentáculo da compaixão na ótica budista, é a compreensão. Nós praticamos para poder reconhecer e compreender a nós mesmos. Compreender a nós mesmos abre margem para que nos possamos superar os aspectos de nossa natureza que projetam conflitos, frustrações, e raivas e rancores. A superação da frustração, da raiva e do rancor, só vai se dar através de profunda compreensão.
Situações podem ocorrer nas nossas vidas que criem problemas graves, criem sofrimentos, decepções, situações difíceis. Quando a mente não consegue compreender plenamente o mecanismo não saudável que atua neste processo, a mente projeta rancores, medos, raivas.
Um assunto muito difícil é a questão da não violência. A questão da compaixão, também mobiliza. Nós vivemos em uma sociedade que tende a achar ou confundir a compaixão com condescendência. Isso não é verdade no campo da experiência contemplativa. A compaixão só pode ocorrer e a mente Bodichita só pode se manifestar quando nós aprendemos a superar qualquer projeção egóica. Portanto, eu hoje vou falar de compaixão e egoísmo, que são elementos antagônicos, mas no fundo interligados.
Na descrição budista, o egoísmo é uma projeção, aspectos emocionais, pensamentos, sentimentos, formações mentais, nível da consciência, que formam a nossa ideia de identidade pessoal. Entrando através dos nossos sentidos nesses quatro campos, existem experiências, aprendizagem, ancestralidade, cultura, e tudo isso vai forjando e consolidando a ideia de um “eu”. O “eu” desenvolve posturas, atitudes, desenvolve opiniões, concepções.
A grande questão é, como esse “eu “é constituído? O que o alimenta? O que o alimentou no passado para ser o que ele é agora? Independentemente disso, todo indivíduo, todo ser humano que tem a ideia de si mesmo, pode trabalhar a identidade pessoal para transformar e curar os aspectos negativos e valorizar os aspectos positivos, os “vassanas”.
Mas no campo fundamental do eu, existe um processo de distorção intensa das coisas que nós vivemos, entendemos, conhecemos, e aí nós criamos toda uma complexidade de comportamentos, atitudes, opiniões, interpretações.
O egoísmo é a distorção deste processo, mais intensa. O “eu”, no campo do samsara, tem uma função de manter o equilíbrio da mente, a mente imediata, a mente concreta, a mente que funciona no mundo. Se nós aniquilarmos o eu, ficamos loucos. Mas o eu condicionado, é uma distorção intensa, que faz com que o processo de projeção e expectativa se torne muito forte e, infelizmente, muito doentio.
O mecanismo do egoísmo é: eu projeto expectativas, desejos, opiniões, conceitos sobre um objeto. Objeto no conceito budista pode ser o objeto concreto, um pensamento, um sentimento, uma pessoa, qualquer coisa. Quando nós projetamos isso, o que nos estamos fazendo é transferir a ideia de que parte do nosso eu, é agora, o objeto. O construto do meu eu, agora engloba o objeto. E se esse objeto sou eu, ele tem que fazer, tem que agir, tem que existir, como “eu” quero, como eu projeto, como eu imagino que o mundo deva ser. Se esse objeto começa a agir ou existir de uma forma como eu não projetava,  eu começo a me frustrar, começo a tentar controlar esse objeto, “ele é meu” e se alguém vem aqui e pega isso, eu fico com ciúme, com raiva. É “meu”, é meu, não é seu.
Quando nos dizemos “é meu”, nós queremos dizer “sou eu”. E eu não vou permitir ser tomado por qualquer outra coisa. De uma maneira simbólica, simples, essa é a forma como o mecanismo do egoísmo se manifesta.(continua)

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O silêncio é uma oportunidade


 (continuação)
Monge Kômyô:  No Zen, muitos monges zen vem das artes marciais. Não é incomum. O monge Tokushi, por exemplo, é um professor de Aikidô. Genshô Sensei também teve uma origem, quando mais jovem, em artes marciais. Eu entrei no Zen pela arte: a poesia, a pintura. Então quando eu falo da prática zen, estou falando de arte. Para mim, Zen é uma arte. A arte aqui é a arte de estabelecer a capacidade de enxergar as coisas de forma mais clara possível, mais consciente. Para terminar, mais um aspecto do sesshin, que é a alimentação. Ao nos alimentar, também estamos fazendo zazen.

O silêncio, como eu falei para vocês, é uma oportunidade. E qual é o fundamento dessa oportunidade? É a chance de nós praticarmos a respiração, a atenção plena a tudo o que nós fazemos. Então quando vocês forem comer, cada bocado de comida, não precisa ser devagar, mas façam com atenção à respiração e com o máximo de cuidado possível. Observem o bem estar dos nossos companheiros, todos nós. Mesmo sem falar, nós podemos ajudar uns aos outros. Repito para vocês mais uma vez que o silêncio se estabelece como uma forma de nos ajudar a perceber as coisas com mais intensidade. Mas isso não impede que nós possamos nos comunicar uns com os outros de uma forma mais sutil.

A idéia de nós não nos cumprimentarmos no retiro não é para evitar o cumprimento em si. Mas é porque... o macaco louco dentro da nossa cabeça ainda está muito ensandecido. E até mesmo a pequena distração de olhar para alguém e falar “olá, bom dia”, já pode tirar a nossa mente do lugar. Quando você consegue estabelecer bem a sua mente, aí você pode cumprimentar. Mas o cumprimento também é zazen. Estamos aqui agora conversando. Estou tentando falar algumas coisas. Estou praticando a respiração aqui. Eu estou praticando o zazen. Aproveitem e pratiquem também.  (Final)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Samu


 (continuação)
Monge Kômyô:  O samu uma forma de estabelecer o zazen através do trabalho, da ação que tem como objetivo contribuir para melhorar o nosso espaço. O samu não é trabalho escravo. É zazen. Eu ouvi uma história muito interessante, de uma grande amiga minha... ela costumava ir no retiro de um dia  lá em São Paulo. E numa vez que ela foi, havia uma pessoa, uma moça, que era a primeira vez que tinha ido, estava muito interessada em praticar o Zen, etc. Teve o zazen e aí chegou o momento do samu. Aí a moça perguntou para o monge: “Espera aí, tem que trabalhar?” Ele explicou, é o samu. Faz parte da prática. Nós ajudamos a organizar o espaço, a limpar. Nós usamos o espaço e respeitamos o espaço, limpamos, etc. Mas a moça ficou indignada. Ela achou que não tinha que trabalhar. Ela estava ali para praticar. E foi embora do sesshin. Essa não é uma história incomum. Algumas pessoas se surpreendem com o samu. Algumas acham, por exemplo, em um retiro... ela vai pensar assim: “não, eu estou pagando pelo retiro, eu tenho que trabalhar? Não. Eu estou aqui para usufruir.” Essa é a mentalidade do lucro, do ganho. É quando uma mente não saudável entende que em tudo que ela oferece dinheiro, acha que ela tem direito de receber em troca, ela só recebe. Ela acha que o dinheiro é tudo. O dinheiro é uma doação. Mas o trabalho contemplativo se estabelece em aprimorar, intensificar a aprofundar a nossa capacidade de agir em grupo. Isso é o sangha. Vocês me desculpem porque eu chamo o sangha. A sangha não está errado. É que eu estudei sânscrito durante muito tempo, aí eu acabei me acostumando. Sangha é um termo masculino em sânscrito. É como o dharma, o sangha.
A comunidade então é um trabalho contemplativo de integração. Nós praticamos juntos, nós trabalhamos juntos. E o trabalho é uma forma de estabelecer o zazen, a atenção plena em uma ação construtiva para favorecer o próprio ambiente do sesshin. Ninguém está querendo se valer do trabalho de alguém para limpar o ambiente. Ao mesmo tempo, o samu – eu acho muito importante, justamente por esse aspecto –, ele nos dá uma oportunidade de compreender a humildade. Não tem empresário que ganha milhões, não tem um lixeiro... Em um retiro, qualquer um, todos nós, qualquer que seja o nosso nível financeiro, social, no samu, fazemos as mesmas coisas: lavamos pratos, varremos o chão, lavamos banheiro. Aprendemos a valorizar esses atos, de tal forma que com o tempo eles deixam de ser atos cotidianos chatos e se tornam atos maravilhosos de zazen. Bem, talvez seja assim meio chique ou místico lavar prato em um retiro. Mas e na casa de vocês? E na nossa casa? Quando nós retornarmos às nossas casas, voltarmos às nossas vidas, ao nosso dia a dia? Vamos continuar tendo que lavar louça, lavar roupa, lavar banheiro, varrer o chão. Bem, em geral, na vida, na sociedade moderna, contratamos alguém para fazer isso. Mas eu aconselho a vocês todos que, mesmo que vocês, nas suas casas, tenham pessoas, empregados,  que façam, nunca deixem de, de vez em quando, todos os dias, em algum momento que vocês tenham oportunidade, de fazer o mesmo trabalho também. Aquele trabalho que o empregado ou a empregada faz. Prestem atenção nisso.
 Observem que o mesmo mecanismo de interpretação daquela moça, que ficou indignada e saiu do sesshin, pode ocorrer conosco. “Eu estou pagando essa moça, ela que tem que trabalhar. Ela que tem que lavar a louça, tem que varrer o chão, lavar o banheiro. Eu não.” Não é assim. Nós precisamos saber estabelecer nas nossas vidas pessoais o regime de um sesshin, mas adaptado ao cotidiano. O trabalho pode ser muito. Provavelmente todos vocês têm famílias e, às vezes é um trabalho mais intenso. A pessoa que nós contratamos nos ajuda. Mas isso não significa que nós não devamos, de vez em quando, pegar na vassoura para varrer o chão, lavar o banheiro. “Hoje eu vou lavar o banheiro. Hoje eu vou lavar a louça”. Todos. Homens, mulheres. Eu estou falando para todos. O estabelecimento de uma prática que vise nos dar uma perspectiva mais simples e humilde ajuda a colocar a nossa mente na realidade das coisas como elas são. Ajuda a diminuir o condicionamento e a ilusão das nossas mentes. De que as coisas existem para nos favorecer. Nós favorecemos também. A natureza – a humanidade vive isso já há muito tempo, mas a hiper-modernidade está tornando isso pior e até mais intenso – a natureza pode ser usada para nos favorecer, mas nós temos que saber favorecer a natureza, senão ela acaba. Essa é a mentalidade exploratória. O Abhidharma chama de mente vikalpa. É a mente que entende as coisas separadas. A árvore agora me dá sombra. Me dá essa brisa extremamente refrescante. Mas, eu comprei esse terreno e vou construir uma casa. Ah, essa árvore está incomodando, ela é muito grande. Suja o chão. Eu já vi muita gente falando que folha suja o chão.
 Existe uma história zen. Havia dois mosteiros, dois templos. Um, um pouco mais bonito, um pouco mais elaborado, maior. No templo do lado – mais humildezinho – vivia um monge que já era bem velhinho. No outro templo, havia uma cerquinha baixa, que separava os dois templos. E ocorreu que, num dia desses, o monge velhinho do templo menor estava encostado no muro assim do templo dele e vendo um outro (um monge jovem) do outro lado, num templo grande, que tinha um jardim zen bonito. Esse monge estava empenhado em limpar o jardim. Então ele trabalhou, andou a manhã inteira catando as folhas, arrumando e passando ancinho na parte do jardim zen que tem os seixos com as rochas. No final de uma manhã cansativa de trabalho, ele foi até o muro e se encostou junto com o monge velhinho, cansado, suando e falou: “Agora sim está bonito e está lindo”. Aí o mongezinho, o velhinho falou: “Só está faltando uma coisa.” Aí ele pulou a cerca. No meio do jardim lindo tinha uma árvore. Ela estava no período de troca de folhas. Era uma árvore bonita. Aí o mongezinho foi lá até aquela árvore – não era uma árvore grossa, – ele segurou a árvore e sacudiu a árvore. Caíram folhas ali. “Agora está bonito. Agora está perfeito.”
Então, o conceito de harmonia, beleza precisa ser entendido dentro da integração do ambiente que nos favorece e nós favorecemos a ele. É a compreensão do movimento natural das coisas. As folhas caem! Isso é tão bonito. Talvez alguns aqui saibam que eu tenho uma formação em Arte. Sou artista. Mas também... sou biólogo. Sou artista plástico e sou biólogo. E esses dois aspectos da minha vida, se compõem muito bem nessa idéia de saber compreender o movimento da beleza nas coisas. Entender o que realmente é o lixo e o que é na verdade uma composição natural do ambiente. Uma folha de uma embalagem plástica de um chocolate, amassada e jogada aqui, isso seria um lixo. Nós iríamos retirar e levar. Se for possível reciclar, se for um papel, ótimo. Se não for, temos que retirar e colocar no lixo. (continua)