quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Datas no Busshinji - Sesshins


Foto de sesshin em Paulo Lopes, Reserva Passarin, perto de Florianópolis.

O Nambei Sesshin de treinamento de monges acontecerá no templo Busshinji entre os dias 31 de outubro e 4 novembro.
O Rohatsu Sesshin entre os dias 11 e 17 de dezembro.


Lembranças de outros sesshins

Por Jisho Handa

Nunca um sesshin é igual ao outro: os participantes são diferentes, os instrutores, inclusive o mestre. Cada vez que participamos, alguma coisa aprendemos, algo acabamos abandonando. Acredito, que acima de tudo aprendemos a abandonar, sem nada ganhar, sem lucro, sem perda. No início, queremos apenas participar. Maior é o entusiasmo do que a capacidade em sentar-se. Logo surgem as dores nas pernas, nas costas e a paciência vai se esvaindo a cada sessão de zazen. Torna-se árduo o período de uma sessão, um alívio o seu término. Pessoas que costumam sentar-se uma vez por semana, talvez por suas dificuldades de adaptação, não conseguem enfrentar um sesshin de mais de dois dias. Dois dias? Muito pouco! Penso que não seja apenas uma questão de ordem física, como o surgimento de dores. É muito pior do que isso. É a mente. Por excesso de condicionamento mental, a concentração torna-se um imenso delírio. Não se trata de uma hipótese, antes uma possibilidade demonstrada pelo próprio príncipe Sidharta. Nos sete dias seguidos, dia e noite, em que ele sentou-se abaixo da árvore da sabedoria - árvore bodhi - toda forma de dores surgiu. Em forma do demônio Mara, o incômodo das dores tinha por reflexo o medo, a sensualidade, a vaidade, o orgulho, a ira, a inveja, a preguiça e outros mais.
Tomemos estas manifestações por referência. Bem, não estamos falando mais de Sidharta, mas de nós mesmos. A única diferença entre os que se submetem ao sesshin e os outros é que uns desistem pelo caminho, convencidos pelo demônio Mara a alimentar mais o medo, a sensualidade, a vaidade... Os que insistem na prática, com determinação continuam no sesshin, não são melhores que os primeiros, mas podem estudar a sí próprios diante de manifestações do tipo medo, sensualidade, vaidade... Quem sabe, os que realizam todo o sesshin têm a capacidade de verificar que o demônio Mara não passa de uma ilusão, pois não tem substância própria. Mara existe apenas na mente dos iludidos. Ainda que se saiba disso, uns sabem porque todos os caminhos do dharma levam a isso, outros porque experimentaram no corpo e na mente a inconsistência de sua existência. Ainda que a certeza possa ser um ato de fé, a certeza pode ser conclusiva quando a experimentamos na pele e ossos. Dito de outra forma, não acredite naquilo que está fora de você, e se existir algo fora, temos que eliminá-lo.
Quando chega-nos o carnaval, podemos descansar, ou participar das atividades carnais desta festa popular. Vejo que não conseguimos fugir da carne. Se todos os caminhos levam à pele suada, aos exercício frenéticos do corpo e da mente em igual intensidade, podemos também participar do carnaval. Lembro-me que numa dessas ocasiões, um jornalista veio visitar o dojo de prática, e perguntou ao monge qual era a diferença entre os carnavalescos de avenida e salões e dos que recolhiam-se em retiro em atitude inversa. "Que inverso - disse o monge - nós também participamos usando o corpo em nossa atividade". Percebi naquelas palavras que existia mais semelhanças do que diferenças.
Foi também num Sesshin de Carnaval que perguntei ao mestre se existia uma atitude mais nobre por parte dos que submetiam-se ao zazen intensivo do que aqueles que se divertiam nas festas de carnaval. "Não, nada de nobre existe na sua prática", ensinou-me ele. Disse-me que a mente de quem participava do sesshin, devia ser de atenção. No caso do carnavalesco, se a mente dele também estivesse em permanente atenção, que diferença existia com a mente em atenção de um praticante de budismo?
Assim praticamos o Caminho. O Sesshin é um ótimo momento para intensificar o nosso entendimento. Uns realizam o sesshin nas montanhas, respirando o ar puro das matas, mesclando zazen, relaxamento e ecologia. Outros internam-se além dos muros dos templos. Para alguns, o sesshin é uma realização mística. A forma de realizá-la depende da orientação de seus mestres. Pode ser um treinamento árduo ou leve. Mas acredito sobretudo que temos por referência Sidharta, o Buda, que não se importou com conforto, nem com as condições ambientais, apenas sentou-se. Disse na ocasião: "Daqui não arredarei pé, nem que fique ossos e pele, antes de atingir a Iluminação". Não seria esta a atitude mais sensata para um praticante de budismo?

Postado por Jishohanda

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Folhas caídas



Por muitos anos de sonhos,
deixei o mundo.
Onde encontrar o elixir da imortalidade?
Num mundo confuso e decadente,
Sorrindo, deixo os sutras de lado
E repouso em retiro.
O dragão voltou para o mar,
O tigre foi para as montanhas.

Os ventos do outono empilham
Levas de folhas caídas.
Eu as varro por mil vezes,
Mas persistem em cair...
Súbito sorrio e me sento confortado:
Que caiam e se tornem cinza por si mesmas!

Mestre Chan Budista Nan Huai Chin

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Steve Jobs e o Zen budismo



Steve Jobs disse: “Há uma frase no budismo, mente de principiante. É maravilhoso ter uma mente de principiante”.

Jobs chegou a cogitar, no início da Apple,(1975), tornar-se um monge zen budista viajando ao Japão, temia que a empresa se tornasse gigantesca e o engolisse, foi desencorajado por um dos discípulos de Shunryu Suzuki, Kobin Chino, que vivia em um pequeno templo zen em Los Altos, que divertido lhe disse que "tudo era a mesma coisa" que ele descobriria que comandar negócios é o mesmo que sentar em um templo. Conta-se que seu livro predileto é "Mente Zen Mente de principiante" um conjunto de palestras deste introdutor do zen no ocidente.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A instrução do silêncio no retiro zen


Instrução distribuída aos praticantes zen budistas em Florianópolis antes dos sesshins:

SOBRE O NOBRE SILÊNCIO

Este é um sesshin com prática de silêncio, este significa silêncio de comunicação. Não nos cumprimentamos, não cochichamos, não dizemos obrigado ou desculpe, simplesmente prestamos a máxima atenção ao que estamos fazendo e nos empenhamos em ser perfeitamente gentis, sempre cedendo lugar aos outros ou esperando que passem. Evitamos olhar os outros nos olhos ou fazer qualquer gesto de comunicação, como sorrir ou acenar com a cabeça. Se um coordenador dá instruções as ouvimos em silêncio e executamos o solicitado sem considerações egóicas ( nem em pensamento: está certo, podia ser feito de outra forma etc...)


Tome como princípio em todo o sesshin que você está voltado para sua descoberta interna e que qualquer agitação trazida por palavras, elogiosas ou não, será uma perturbação. Assim nunca ande em duplas, ou ceda a tentação de conversar, respeite o silêncio alheio, ande sempre sozinho e faça o que tem de fazer: meditar, ouvir e calar.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Busca


"O macaco busca a lua na água
Até que a morte o encontre, não desistirá
Se apenas abandonasse o galho e sumisse no lago profundo
O mundo inteiro brilharia com surpreendente claridade"

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Jöriki


P: Se estivermos ao ar livre, podemos fazer Zazen igualmente? Por que meditamos em frente à parede?

R: Podemos sim, e as vezes se faz isto nos mosteiros, exige melhor concentração. A parede tem a vantagem de diminuir os estímulos ao máximo possível, é uma prática mais dura. Na escola Rinzai usa-se meditar de frente para o centro da sala, é mais ameno e adequado para principiantes, mas na Soto zen não se faz esta concessão.

P: Outra pergunta: o que é jiriki? Vi num site que o "jöriki" é uma decorrência natural do Zazen, mas não é o Zazen. Só que não diziam o que era Jöriki.

R:
"The Encyclopedia of Eastern Philosophy and Religion":

"Jöriki: literalmente, "poder da mente"; aquela força particular que surge da mente concentrada e que é produzida através da prática do zazen. Jöriki torna a constante presença da mente possível tal qual a habiliadde, mesmo em circunstâncias adversas, de fazer a coisa certa. Segundo Yasutani, aquele que desenvolve o joriki deixa de ser um escravo das paixões (...), mas enquanto o jöriki traz poderes espetaculares, este não conseguem romper as raízes de nossa visão ilusória do mundo."


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mensageiros celestiais


Todos sabem que o coração precisa de amparo espiritual em momentos de dificuldade. A crise é um convite para o espírito, não apenas na infância, mas sempre que a vida passa pelo sofrimento. Para muitos mestres, o portão para o espiritual se abriu quando a perda ou o desespero, o sofrimento ou a confusão os levou a buscar consolo para o coração, a buscar uma totalidade escondida. A longa viagem de um professor começou já na vida adulta, em outro país.

"Eu estava em Hong Kong. Meu casamento ia mal, fazia dois anos que minha filha mais nova tinha morrido ainda bebê e, no geral, eu não estava feliz. De volta à América, vi um anúncio de aulas de tai chi na Stanford Business School. Inscrevi-me e a prática começou a acalmar meu corpo, mas meu coração continuou triste e confuso. Separei-me da minha mulher e experimentei várias formas de meditação para me acalmar.
Então, uma amiga me apresentou a seu professor de meditação, que me convidou para um retiro. A sala era formal e silenciosa e ficamos sentados por várias horas. Na segunda manhã, de repente me vi jogando uma pá de terra vermelha no túmulo da minha filha. Vieram as lágrimas e soltei um gemido. Aos sussurros, os outros alunos me mandaram calar a boca, mas o mestre pediu que ficassem quietos e me abraçou.
Chorei durante a manhã inteira, cheio de dor. Foi assim que começou. Agora, 30 anos depois, sou eu que abraço os que choram."

O encontro com o sofrimento que leva à procura de uma resposta é uma história universal. O príncipe Sidarta, o futuro Buda, vivia isolado em belos palácios, protegido de todos os problemas pelo pai. Finalmente, quis sair para ver o mundo. Percorrendo o reino de carruagem, na companhia do cocheiro Channa, viu três cenas que o chocaram profundamente. Primeiro viu um velho curvado e frágil, andando com dificuldade. Depois viu um homem gravemente doente, atendido pelos amigos. Depois viu um cadáver. A cada vez, perguntou ao cocheiro: "Com quem essas coisas acontecem?" E todas as vezes Channa respondeu: "Com todo o mundo, senhor".

Essas visões são chamadas de "Mensageiros Celestiais", pois assim como despertaram o Buda, elas nos fazem lembrar de buscar a liberação, de buscar a liberdade espiritual nesta vida.

Jack Kornfield

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Primeiro Zazenkai em Londrina


Iniciando no zen, alguns dos praticantes que estiveram no primeiro zazenkai do grupo de Londrina fazem kinhin, a meditação andando. O evento foi no fim de semana passado e liderado por Marcos.

Mais informações do grupo de Londrina em seu blog

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Os meios hábeis


P: Uma coisa que esse discurso budista sempre procura esclarecer (pelo menos nas experiências que já tive) é o não-julgamento de tais religiões, embora esteja implícito um certo julgamento de valor, evolução ou escala gradativa. Lembro de uma situação em que me disseram algo como: "Não julgamos tais práticas. Apenas seguimos o caminho do Buda e servimos de exemplo que eles possam tomar como referência". Essa ideia de "servir de exemplo" não carrega consigo certa lógica de superioridade? Ainda que somente no plano soteriológico, doutrinário e, até, metafísico...?

R: (Do Prof.Dr. Monge Ricardo Mário Gonçalves)
Muito pertinente seu questionamento sobre preconceito, que vou tentar responder.
Existe, no Budismo Mahayana uma chamada "Filosofia da Assimilação" pela qual lidamos com as divindades das demais religiões. Essa filosofia repousa sobre dois pilares:
1.O conceito de "hábeis meios salvíficos (sanscrito "upaya"; japonês "hôben").

2.Os conceitos de "essência e manifestações" (japonês "Honji-Suijaku).

Segundo o conceito de "hábeis meios salvíficos", os Budas e Bodhisattvas, em sua infinita Compaixão, assumem inúmeras formas e emitem discurso em vários níveis, adequando-se à índole e às características dos diferentes seres viventes para intruí-los e conduzí-los à Iluminação. Aplicando esse conceito "lato sensu", praticamente todas as religiões seriam "hábeis meios salvíficos", do ponto de vista budista, convergindo para o mesmo.

A teoria do "Honji Suijaku" que foi usada no Japão medieval para harmonizar o xintoísmo com o Budismo, diz que uma divindade cuja essência (Honji) é budista, faz emanar de si múltiplas manifestações (suijaku) que correspondem aos deuses nacionais dos diferentes povos, para conduzir esses povos ao Dharma. Para dar um exemplo, o mestre do Shinshû Zonkaku (século XIV)aplicou essa teoria ao Budismo Shin: aproveitando o fato do Buda Amida apresentar características "solares" - Shinran se referia a ele como "Sol da Sabedoria", interpretou a deusa solar do xintoísmo Amaterasu como uma emanação -suijaku - de Amida - honji.

Nada nos impede de aplicar essa filosofia aos Orixás e outras divindades do panteão afro-brasileiro, vendo nelas emanações dos Budas e Bodhisattvas.

Existe, porém, um único ponto em que o Budismo expressaria uma nítida reserva em relação aos cultos afro: trata-se do sacríficio sangrento de animais. A mesma reserva tinha o próprio Buda em relação aos sacrifícios adotados por alguns cultos hindus, como lemos nos Sutras. Em seu relacionamento com religiões étnicas, o Budismo sempre aconselhou a substituição de sacrifícios sangrentos por oferendas incruentas como lamparinas, flores, água, incenso, etc.

As religiões monoteístas procuraram eliminar os deuses das religiões étnicas, demonizando-os ou rotulando-os de falsos deuses. O Budismo, pelo contrário, absorveu-os, dando uma interpretação budista aos mesmos.

Concluindo, verificamos que o Budismo lida com as religiões étnicas não de um ponto de vista evolucionista, mas sim do ponto de vista oposto, ou seja, um emanacionismo. Usando uma metáfora taoísta muito empregada no Japão, Budas e Bodhisattvas "atenuam seu brilho" para "misturar-se à poeira" das divindades étnicas.

Gasshô,
Shaku Riman (nome monástico Shin do Prof)
(copiado de uma brilhante resposta do Prof em uma lista Shin)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Iluminação, nada de especial


Seigen San, na casa de retiros do Morro das Pedras

"Se você continuar esta simples prática todos os dias, obterá um poder maravilhoso. Uma coisa maravilhosa antes de ser atingido, mas nada de especial uma vez obtido. É simplesmente você mesmo, nada especial. Como diz um poema chinês: "Eu fui e voltei. Não era nada especial. Rozan é famosa por suas montanhas; Sekko por suas águas". As pessoas pensam que deve ser maravilhoso ver a famosa cadeia de montanhas abraçada pela bruma e a água que se diz cobrir toda a terra. Mas se você for lá verá apenas água e montanhas. Nada especial.

É intrigante o fato de que a iluminação seja uma coisa maravilhosa para aqueles que não têm experiência dela e, contudo, não seja nada para aqueles que a atingiram. E, no entanto, não é apenas nada. Você entende? Para uma mulher com filhos, ter filhos não é nada especial. Zazen é assim. Portanto, se você perseverar nessa prática, mais e mais você obterá alguma coisa -nada especial, porém alguma coisa. Você pode chamar essa coisa de "natureza universal' ou "natureza de Buda" ou "iluminação". Muitos nomes podem lhe ser conferidos, mas para a pessoa que a possui, é nada, e ao mesmo tempo, é algo."
Shunryu Suzuki Roshi

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Realizar-se neste mundo


Pergunta: O que significa que nós termos que lutar contra o dragão?

Resposta: Esta luta é porque nós temos ignorâncias incontáveis. Isto desde muito tempo atrás, e por isto estas raízes são muito fortes. Tem que cortar . Esta é a luta. Agora, o Budismo Mahayana, o Zen, vai muito mais além: tentar sem cortar estas ignorâncias, vivendo neste mundo com família, com mulheres, com filhos, com pai e mãe e realizar a iluminação.
Esta é que é a libertação verdadeira. O Zen é assim. Dentro do Shingon esotérico é assim. Aceitação. Se uma pessoa resolveu tudo e se iluminou, vem aquela exclamação do Buda: “Que maravilhoso! Todas as coisas são douradas! Todos os seres têm a natureza de Buddha. Céu, terra, todos os seres viventes realizaram a iluminação comigo. Quem tem ouvido, escuta o meu sermão!” Como o orvalho do céu: quem toma uma vez deste orvalho, nunca mais morrerá. Quem está sofrendo com esta mortalidade, impermanência, quem encontra este ensinamento, é como tomar esta goteira do céu. Este é o ensinamento do Buddha. Aí nunca perderá a sua vida. Todo mundo tem medo de doença, envelhecimento e morte. Então, para quem pode ter esta pureza,esta tranqüilidade absoluta, esta é a melhor coisa que existe. Não são
somente os bens materiais que contam, mas é dar segurança e vida, este é o trabalho dos monges. Com esta missão, o egoísmo de seguir o Caminho sozinho deve ser contrabalançado. Por isto, este é um trabalho de herói. Com um herói, lutando contra milhões de inimigos, pode-se mais ganhar para si mesmo. É um trabalho muito difícil. É isto.

(Igarashi Roshi, 1986, trecho de palestra)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Inquietude


P: Minha inquietude está acima da minha capacidade de me concentrar...

R: Já aprendi que não adianta ficar dando argumentos para olharmos melhor o mundo do samsara. Melhor instruir sobre meditação, ela permite resolver tudo de que você falou, mas notei algumas coisas que precisam de instrução:
Você falou que está tentando se concentrar, não faça isto, simplesmente sente com aquela mente turbulenta e deixe que ela se manifeste, olhe a turbulência, os pensamentos e agitações surgindo, a cada momento que eles se manifestem diga a si mesmo: ah! aí está como surge meu sofrimento! isto agora foi mera ansiedade, preocupação com o futuro, ah este outro é vaidade! ah ! este é ambição, este apego! e a cada momento em que se der conta, retorne para a respiração e o solo, a parede e o momento. Faça isto os 40 minutos a que se propôs, sem levantar por mais agitado que fique, aguente firme, não se levante porque a meditação está ruim. Faça-a somente. Não pense em capacidade, ou coisas semelhantes, apenas sente, não tente controlar, a mente não pode controlar a mente!
Haverá efeito, em um sesshin pode levar dois dias até que tudo passe, de tanto se apresentar, corcovear, a inquietação cansa e o samadhi naturalmente começa a ter seus momentos.
Na verdade com tanta inquietação é preciso aumentar a frequência, duas vezes por dia fica melhor. Se possível faça um sesshin, se puder, para encontrar outro patamar também.
(2003, resposta em correspondência)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A Grande Mente


Shunryo Suzuki Roshi (1905-1971)

"Vai levar muito tempo até encontrares a tua mente calma e serena na meditação. Muitas sensações aparecem, muitos pensamentos e imagens surgem, mas são apenas ondas da tua própria mente. Nada vem do exterior da tua mente. Habitualmente pensamos que a nossa mente recebe impressões e experiências do exterior mas essa não é a verdadeira compreensão da nossa mente. A verdadeira compreensão é que a mente inclui tudo. Quando pensamos que alguma coisa vem do exterior significa apenas que algo surge na nossa mente. Nada fora de ti te pode perturbar. Tu próprio é que crias as ondas na tua mente. Se deixares a tua mente tal como é, ela tornar-se-á calma. Esta mente chama-se Grande Mente."

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Denshô Sensei - Amigo em viagem


Queridas amigas y queridos amigos,

Quisiera en estas pocas líneas compartir con ustedes mi gratitud por haber encontrado este camino y tener un grupo de amigos con los que me siento a compartir el silencio. Lo único que se me ocurre para expresar este sentimiento es continuar caminando por el sendero. Continuar a pesar de las dificultades o gracias a ellas. Asir cada oportunidad de una práctica profunda e intensa cada vez que se presente. Sentarme en silencio, visitar maestros, conversar del dharma, hacer retiros, compartir.

He saboreado este camino a lo largo de más de la mitad de mi vida y he disfrutado cada instante de la práctica; los duros, los divertidos, los dolorosos, los cuestionadores, los irreverentes, los reveladores. He vivido momentos extraordinarios y he aprendido de numerosas personas. He compartido mis experiencias con innumerables personas con el placer de que la enseñanza se expanda y para que más seres encuentren un camino que es en sí mismo la liberación del sufrimiento y la paz del nirvana. Es maravilloso que cada vez se estén produciendo más espacios y momentos de Dharma: sesshines, charlas, ceremonias, grupos de estudio.

El próximo 23 de agosto viajo a Japón a visitar el templo Antaiji, junto con mi hermano en el dharma Shoryu Bradley y realizaré una sesshin al estilo de Uchiyama Rōshi durante cinco días, “sin juguetes,” a comienzo de septiembre. Visitaré al Abad Muho Noelke, con quien practiqué hace más de diez años, cuando él era sólo un monje. La vía ha seguido, gracias al empeño de personas como ellos, que han continuado en el camino, relevando a los que nos precedieron y nos guiaron, manteniendo la llama de la lámpara viva y transmitiéndola a las generaciones siguientes. Es la continuidad de la enseñanza del Buddha a través de linajes ininterrumpidos. Después de mi visita a Antaiji iré a Myōkōji, a visitar al Abad Yamamoto Rōshi, quien me abrió las puertas de su templo en marzo de este año. En total estaré cerca de un mes.

Debo agradecer a cada uno de ustedes por apoyar mi camino, por darme aliento a continuar y por la ayuda económica que muchos me han brindado. Ustedes son quienes me han dado valor para continuar en mis momentos difíciles. Quienes me han impulsado a seguir estudiando cuando mis respuestas incompletas no han logrado satisfacer sus dudas. Los que me han ayudado a renovar mis votos cuando me descubro insuficiente en mi deseo de ayudar a aliviar su sufrimiento.

El camino de la vida espiritual comienza pero nunca termina. Es difícil e incierto, pero he estado bien equipado para recorrerlo. Mi lámpara, mi brújula, mi mapa y mi refugio, los he encontrado en las enseñanzas de los maestros de la tradición y a ellos también mi profundo respeto y agradecimiento.

Que la rueda de la enseñanza siga girando para el bien de todos los seres.

En gassho,

Denshō
- - -
Denshō Quintero
Sacerdote budista zen, Superior de la
Comunidad Soto Zen de Colombia
Carrera 22 # 87 - 25, Barrio El Polo
Bogotá, Colombia
www.sotozencolombia.org

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O modo de vida


Praticantes de Florianópolis na cozinha durante o Hanamatsuri de 2011

Vamos agora então ao quinto passo que é o modo de vida correto. O modo de vida correto, no entendimento de Buda, é uma maneira de viver e de sobreviver, que evita o sofrimento.
Naquele tempo Buda recomendou aos monges uma vida absolutamente desligada do mundo,
eu diria a vocês que ele tinha plena razão. Eu mesmo, tendo que trabalhar, agir como
consultor de empresas, gerir o restaurante, sou testemunha de que esse tipo de vida causa perturbações e preocupações, tudo isso tira algo da paz. É muito mais difícil ter paz vivendonum mundo onde existam dívidas, cobranças, processos, onde existe todo o tipo de conturbação. Buda tinha, então, recomendado aos monges e essa tinha sido a pratica durante alguns séculos, que os monges se mantivessem completamente alheios a sociedade. Não comerciassem, não trabalhassem, não guardassem dinheiro e apenas mendigassem sua comida. Eles sobreviviam da sangha. Esse modo de vida ainda existe em monges de algumas escolas do sul da Ásia, onde a mendicância é admitida. No momento em que o budismo entrou na China e em países mais frios, ao norte da Índia e sul da Ásia, a mendicância não era bem vista, não só isso, havia perseguição e os monges tiveram que se ocultar em montanhas e viver em comunidades reservadas, mosteiros.
No momento que se começou a viver em mosteiros eles tiveram que trabalhar, criou-se então uma ética do trabalho, uma cozinha, e essa está profundamente impregnada no Zen, porque o Zen foi para a China pelo século VII depois de Cristo e a maneira de viver passou a ser “dia sem trabalhar, dia sem comer”. Então para os monges não havia feriados, todos os dias tem trabalho, ou coletivo ou para si mesmo. Existe uma história de um mestre já em idade avançada, e os discípulos temerosos de que ele morresse em razão de sua dedicação ao trabalho, esconderam seus instrumentos. Imediatamente o mestre parou de comer. Os discípulos preocupados disseram: “Por favor, o senhor não comeu ontem, está se recusando a comer hoje” e ele respondeu, “Dia sem trabalho, dia sem comida”. Então os discípulos devolveram seus instrumentos de trabalho e ele voltou a comer.
( Trecho de palestra, Monge Genshô, decupada por Ápio San)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vegetarianismo budista


P: É necessário comer carnes?

R: Se fosse necessário eu estaria morto ou doente... Meu pai era vegetariano e não comi carnes toda a minha vida de 63 anos. Uma dieta com produtos de origem animal sem carnes,nem peixes, é perfeitamente completa, dizer o contrário é falta de informação nutricional em que incorrem mal preparados nutricionistas e médicos.
Os mosteiros zen tem há já 1400 anos uma tradição de comida estritamente vegetariana, desde que se estabeleceram na China, e sabe-se que os monges zen em mosteiros vivem longamente e com lucidez. O fato de o budismo não ser vegetariano como regra não altera estes fatos simples.

P: Como se sente aquele que é vegetariano e budista em relação a uma criança passando fome?

R: A pergunta tem sentido, mas precisamos aprofundar.

Podemos perceber que qualquer ampliação do eu em direção ao mais abrangente é um ganho de consciência. A prática é a ampliação, não importa onde começa: importa seu processo de expansão, porque uma vez iniciado abrangerá cada criança faminta e ser sofredor sem distinção.

Se alguém sente compaixão, ela será em todos os casos uma ampliação. Para alguns, a compaixão vai somente até os limites de seu próprio corpo. Para outros, abrange o seu próximo. Para a maioria, restringe-se àquilo que se vê; se não estiver vendo não se condói. Para outros, até os limites das fronteiras de seu país, de sua raça. É etnocêntrica e cessa com os diferentes; é fácil ver tais limites em ação nas guerras tribais e religiosas.

É muito difícil conhecer alguém que vê toda a humanidade como objeto de seus sentimentos. Para quase todos, a compaixão tem os limites da espécie humana, e não lhe dói um cavalo escravizado e o chicote que zumbe à frente da carroça. Tampouco os matadouros em que as 'Auchwitz' de animais funcionam. Para quem o planeta e suas pedras torturadas doem? E a finitude das estrelas entristece?

A dor por alguém de nossa espécie não desqualifica a compaixão por um animal, apenas demonstra até onde vai o limite da consciência. Quantos são incapazes de matar, mas permitem ou pagam para que outrem o faça? São mandantes e não se creem cruéis porque não agiram por suas mãos, apenas outorgaram procuração.

Quantos dizem não gostar de política, e deixam de influir nos destinos de seu povo deixando que outros decidam tudo por eles? Deixam que os outros decidam, até mesmo, os destinos das crianças de quem se apiedam, mas evitam olhar.

Assim, repita-se: qualquer ampliação do eu em direção ao mais abrangente é um ganho de consciência. Por esta razão, o voto do bodisatva fala em todos os seres sencientes como objeto da prática. Falharemos nesta incorporação inevitavelmente.

Mas ao fim, como ocorre com alguns monges que conheço, nenhum país, nem pessoa , nem comunidade, estará fora de seu objetivo. Essas pessoas percorrem o mundo em um permanente esforço de ampliação da compreensão para libertar todos os seres do sofrimento, por todos os meios possíveis, sacrificando, até o limite, seus próprios corpos. Isso porque sua compaixão quer abranger tudo que puder tocar.

Aí não há mais distinções estreitas para a mente iluminada, homem, criança, animal, ou rios e pedras.

Mas ao fim e ao cabo, a compreensão final mostrará a ilusão que mesmo o sofrimento carrega. É ilusão, mas dói naqueles que nela estão mergulhados. Por isso, os bodisatvas permanecem no mundo tentando acordar os seres até que este tempo cósmico se esgote. Eles sabem que o bem e o mal não existem, nem o certo nem o errado, nem a dor. Mas, para quem a sente, ela é angustiante e é uma alegria libertar qualquer ser de seu grilhão.

( Mais respostas podem ser encontradas em www.daissen.org.br na secção "Perguntas")

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Perseguição aos budistas



Infelizmente houve perseguição ao budismo em numerosos países do oriente, e ainda há, o Tibete é um exemplo de combate institucionalizado pela ditadura chinesa contra a religião de todo um povo. No Japão e China várias vezes a acusação de "religião estrangeira" vicejou, queria-se restaurar o que fosse autóctone, como o taoísmo ou o shintoísmo. Na foto acima a perseguição moderna que surge na Coréia do Sul, este país tem atualmente 30% de cristãos convertidos, movidos pelo pensamento de combater as heresias antigas, alguns fundamentalistas tem incendiado templos e destruído obras de arte budistas, a foto (2006) é um registro de um destes tristes episódios de intolerância religiosa.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Filmes nos zazenkais



Passar filmes nos zazenkais, (prática conjunta de zazen, trabalho e confraternização) está se tornando tradição na Sangha de Florianópolis. Sentados no chão com a projeção excelente do novo data show adquirido para a comunidade pelo Michel Seikan, todos partilham uma experiência focada numa discussão sobre o Dharma que se abre logo depois. Uma parede foi pintada de branco para servir de tela, e a pipoca é preparada na cozinha e vem em tigelas, sensação de ambiente familiar...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Moriyama Roshi - Oficialmente desaparecido


Moriyama Roshi em Florianópolis em 2004 com seu então professor assistente, atual Monge Genshô

No dia 25 de julho, o "secretário" de Moriyama Roshi, Abe Tessan postou no blog do Zuigakuin, em japonês, uma mensagem a respeito - o Rev. Wagner gentilmente traduziu para nós deste endereço que recebemos de Isshin San: http://zuigakuin.blogspot.com/2011/07/blog-post.html


"Já se passaram cinco meses desde que não se tem nenhuma notícia do Moriyama-Roshi.
Desde então não se sabe o rumo de seu paradeiro.
Apesar de investigações dos acontecimentos do dia de seu desaparecimento e dias posteriores, e perguntando às pessoas de seu relacionamento, neste momento não se sabe nem as condições e nem o que pode ter ocorrido com Moriyama-roshi.
Atualmente o Zuigaku-in (o seu templo) está fechado.
Quanto à reabertura do Zuigaku-in e posterior programação, favor contactar o Kissho-in que é um templo “irmão”.
Aqueles que desejam praticar o zazen em meio à natureza devem se dirijir ao Chogaisan-kokusai-zendo do templo Kokenji. O monge superior do templo Kokenji, Rev. Sato, fez o seu treinamento com o mesmo mestre do Moriyama-roshi, o rev. Shirayama-Roshi.
O blog Zuigakuin será encerrado até o final de agosto. Para posteriores notícias sobre Moriyama-roshi, favor acessar o blog “Shibaura Zazenkai”.

- Gasshô

Rev. Wagner (Sh. Haku-Shin)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Harmonia


Novo texto postado aqui na secção Textos, Monge Genshô, do site www.daissen.org.br

Trecho:

HARMONIA

Quando dizemos na cerimônia, “tomo refúgio na sangha o lugar da harmonia”, isso é de fato o que a Sangha deveria ser: o lugar da harmonia. Mas a Sangha é feita de pessoas e as pessoas são cheias de egos e defeitos e por causa disso, produzem atrito. Dizemos, então, que a Sangha funciona como um pilão de arroz: batemos no arroz e porque um arrasta no outro, perde a casca. Nós, na Sangha, sofremos atritos; porque sofremos atritos, perdemos nossa casca e porque perdemos nossa casca, podemos nos tornar puros. A Sangha não é o lugar onde a harmonia existe, mas é o lugar onde buscamos ficar de tal forma que a harmonia se crie. Como fazemos isso?

Os preceitos são cheios de regras a esse respeito. Já nos dezesseis primeiros preceitos, existe um que diz: “Não se eleve”, principalmente “não se eleve rebaixando os outros”. Então, quando vemos defeitos nos outros e citamos esses defeitos, automaticamente estamos dizendo que não temos os defeitos apontados no outro. Na verdade, a prática budista significa, para esse preceito, que “eu não vejo defeitos nos outros, sei das dificuldades que as outras pessoas têm, mas não posso ser cego para as dificuldades que tenho”. Por causa disso, quando encontro defeito em alguém, devo procurar me concentrar nas qualidades dessa pessoa e imediatamente devo citá-las: “tal pessoa tem esses e esses defeitos, porém, tem todas essas outras qualidades”. Devemos apontar suas virtudes, virtudes que muitas vezes nós mesmos não temos.

O que mais nos atrapalha, a todo momento, é termos um ego, uma vaidade e uma noção de separação. Estou separado dos outros, por causa disso, eu penso que ajo melhor do que os outros. Devo me calar a respeito de todas essas coisas e devo procurar fazer com que as pessoas manifestem suas qualidades. Sobre minhas qualidades devo me calar. Sobre minhas dificuldades, também devo me calar, pois sei que tenho dificuldades e não é útil ficar falando sobre elas, apenas devo tentar me corrigir. O melhor caminho é o silêncio. Calar e agir. Não devemos enxergar, quando os outros apontam alguma dificuldade nossa, um ataque ao nosso ego. Nesse momento, devemos nos perguntar: “Quem se incomodou?” “Quem se importa com isso?” Meu orgulho e minha vaidade se importam com isso, por isso me importo e não quero ser criticado. Meu orgulho e minha vaidade são meus grandes inimigos, pois são a manifestação do meu ego, portanto, eles fazem a separação. Se me sinto separado, então, estou prisioneiro do ego, se estou prisioneiro do ego, sou prisioneiro de nascimento e morte. Eu nasço e morro porque tenho um ego. Se eu morrer para mim mesmo, não existe mais ninguém para morrer, me livro da morte. Para perder o medo da morte, devemos perder o medo de ter um ego ferido e um ego que desaparece. Para nos livrarmos da morte, temos que morrer agora.
(continua)