sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A mais alta ambição


Pergunta - Existe alguma linha na psicologia que possa ajudar nesse caminho?
Monge Gensho – A psicologia não tem essa abordagem. No geral, a psicologia tenta adaptar o homem ao mundo, ela não é tão ambiciosa. Não tenho conhecimento de uma linha psicológica que preconize a iluminação ou o abandono do eu. Muitas vezes tenta-se um eu mais estruturado, uma personalidade mais sólida. Algumas linhas da psicologia - me lembro da Gestalt - têm influência forte do zen, porque seu fundador praticou em um mosteiro zen. Em geral, quando uma pessoa não está bem equilibrada, é bom que faça terapia. A prática do zen não é para curar perturbações. Geralmente é melhor sentar em zazen quem já está razoavelmente bem equilibrado. Porque sentar em zazen é solitário, e alguns problemas podem crescer. A abordagem é completamente diversa da abordagem da psicologia. A psicologia pode ser um valioso auxiliar, mas a ambição da prática budista é muito mais alta. Não se trata de ser equilibrado, trata-se de ser realizado espiritualmente, muito feliz e com grande capacidade de superar problemas, dos mais difíceis, sem se deixar abalar. O que, convenhamos, pode ser bastante difícil no nosso mundo.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Centro de Retiros Nalandarama - Belo Horizonte



Sesshin Introdutório De Meditação Zen – 28 A 30 De Setembro


Orientador: Rev. Gensho da Comunidade Daissen Zendo de Florianópolis


Um Sesshin (retiro) é uma oportunidade de clarificar e aprofundar o que é realmente essencial para cada um de nós. Num retiro zen buddhista, tentamos criar as condições exteriores e interiores que nos permitem afastar a agitação e dispersão de nossa mente. O ambiente envolvente, com práticas de zazen (meditação), orioky (refeições formais), voto de silêncio, palestras e caminhadas meditativas.


Um sesshin oferece a oportunidade de experienciar a vida de uma forma mais leve e receptiva. Ao estarmos mais atentos e conscientes de tudo, das nossas relações e interdependência com os outros, refinamos a habilidade de vivermos no “aqui e agora”.

♦ 27/09 – praticantes podem chegar a qualquer hora do dia, a partir das 14hs; 19h00 será servida uma refeição leve.

♦ 28/09 – 9h00: abertura oficial do workshop – confira programa

♦ 29/09 – até as 9h00: entrada para aqueles que não podem chegar na sexta. Contate-nos sobre essa opção.

♦ 30/09 – 11h00: término oficial do workshop e almoço

♦ Contribuição: 280,00 se feito isoladamente / 240,00 se feito conjuntamente com o módulo anterior ou com o seguinte ~ os dois módulos ficam, assim, por 480,00.

Faça sua inscrição neste módulo


Ministrante: Reverendo Petrúcio Chalegre (Meihô Gensho) iniciou no Dharma através de Igarashi Roshi, em 1973, teve sua investidura leiga em 1992 com o nome de Meihô, sendo ordenado monge na forma limitada de ordenação particular em 2001, após passou para a orientação de Moriyama Roshi, de quem foi professor assistente, até que este também voltou para o Japão em 2005, foi então ordenado oficialmente pelo Sookan (Superior Geral) da América do Sul, Dosho Saikawa Roshi, monge da Soto Zen, em 2008 graduou-se Zagen na cerimônia de Hossenshiki (Combate do Dharma) tendo como Mestre o próprio Saikawa Roshi o qual lhe deu a Transmissão em 2011, o que o torna um dos seus sucessores, dirige a Comunidade Zen Budista de Florianópolis a qual tem grupos relacionados sob sua responsabilidade em Rio do Sul, Joinville, Rio de Janeiro, Itajaí, Maringá, Goiânia e Londrina. Na vida leiga atua como consultor de empresas de grande porte dirigindo uma empresa de consultoria em gestão.


Este sesehin faz parte do programa de nosso Retiro de Primavera, consistindo de 6 retiros curtos em sequência. Venha participar de qualquer um deles, parcial ou integralmente.
Características Gerais De Todos Os Módulos De Setembro/Outubro:


◊ Aulas diárias com a presença de um professor autorizado◊ Aulas opcionais de yoga em alguns dias◊ Entrevistas individuais opcionais diariamente◊ Meditação em grupo e individual◊ Meditação opcional solitária na floresta (estilo birmanês)◊ Quartos individuais◊ A hospedagem está inclusa, mas sem roupa de cama ou banho. Se você quiser um cobertor inclua 50,00 no momento da inscrição.◊ 3 refeições vegetarianas diárias: café da manhã, almoço e janta leve◊ Local: Centro de Retiros Nalandarama

Consulte-nos para mais detalhes do programa, esclarecimento e inscrição.◊ Ou Faça sua inscrição agora!

Todos chegam com grandes Eus


(continuação)
Pergunta – Essa busca do despertar, de eliminar os ganchos que a gente constrói pela vida, essa busca também é construída pelo próprio eu, “eu” quero. Essa questão me parece meio paradoxal, porque o próprio eu se empenha pelo despertar e nesse processo ele pode entrar numa armadilha, à medida em que se esforça demais.....
Monge Gensho - Essa é uma grande pergunta, porque inicialmente, todas as pessoas vêm à sangha com seus “eus”, e só vêm porque querem obter alguma coisa a mais. Nunca vi ninguém chegar à sangha e ao ser perguntado por que veio, responder – “Eu vim porque quero ajudar todos os seres, eu vim porque esqueci de mim mesmo e quero me esforçar para libertar outras pessoas”. Não é isso, ninguém faz isso, posso lembrar de mim mesmo. Por que você veio à sangha e senta para meditar? Porque você quer algo para você. Calma, serenidade, felicidade, quer se libertar de angústias, talvez, e, se for profundo, do medo da morte. Quer uma libertação. Depois é que começa a ser confrontado com o dharma, e o dharma irá sempre repetir, tudo começa no eu. 
Se nós olharmos para um treinamento budista, ele começa considerando que tem um eu treinando. Ele diz: “você senta, você pratica zazen, você se esforça, você, fique aqui. Olhem os preceitos. Os preceitos básicos - não matar, não roubar, não enganar, não causar sofrimento com sua energia sexual, não usar drogas, não falar das falhas alheias nem apontar e criticar membros da Sangha - são regras para você, para o seu eu, não são regras para quem perdeu o eu. Mas o caminho para chegar lá começa com o treinamento consigo mesmo. 
É claro que se alguém não tem eu, não pode ser ofendido nem perturbado, não ambiciona nada, não tem nenhum problema. Mas não é isso que acontece com um praticante. O praticante vem porque quer obter algo para si mesmo. Muitos querem graduações, querem fazer seu rakusu, querem progredir na sangha, querem ser melhores. As pessoas então começam com ambições, e só muito depois é que outras possibilidades começam a aparecer. Mesmo entre os religiosos isso é freqüente. Eu vi uma vez um texto Tibetano em que havia uma autocrítica porque religiosos, Lamas, queriam tronos para sentar e ficavam discutindo para ver quem ficava no trono mais alto. No zen não há tronos, mas há títulos e mesmo os monges querem títulos. Um homem chegou para Shunryu Suzuki, grande mestre zen que trabalhou na Califórnia, e lhe perguntou: “Quantos homens no mundo, o senhor diria que estão realmente iluminados? ”E ele respondeu: “Não mais que uma dúzia”. Estamos falando de um universo de quatorze mil monges só no zen. Então, a iluminação é rara. Resolver o problema do eu não é nem um pouco fácil.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os ganchos do eu


(continuação)
Voltando à questão dos ganchos. Eu com ganchos. Os ganchos podem agarrar coisas e nós ficamos pendurando muitas coisas em nós. Imaginem se fossemos como colunas com ganchos. Um colecionador tem muitos ganchos, porque ele precisa ali pendurar muitas coisas que são suas. Alguns ficam doentes, obsessivos e enchem suas casas de coisas porque não podem se desfazer de nada, juntam sem parar. Mas, muitos de nós, não são doentes, no entanto, temos muitos ganchos, onde se podem pendurar outras coisas. As ofensas são assim. Quando alguém toca na nossa sensibilidade, no nosso eu, aquilo fica pendurado.

Imaginem estas colunas cheias de ganchos. Como seria quem tivesse se livrado do seu eu? Ele seria liso e não teria nada onde algo pudesse se enganchar. De modo que se alguém passasse por ele na rua e dissesse um monte insultos, ele poderia continuar caminhando sem se importar com nada, porque não tem onde aquilo ficar pendurado. Não é assim? Então que nós consigamos ir retirando os ganchos de nós mesmos para que nada fique pendurado neles. Assim, então, nós seriamos verdadeiramente livres, porque quem tem muita coisa pendurada, é escravo desses sentimentos e não está livre. Porque esses sentimentos estão ali, eles nos perturbam e amarram.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A dor do outro


(continuação)
Muitos sistemas religiosos têm a noção de que só os homens têm almas e todos os outros seres não têm. Dias atrás, uma entidade pediu um habeas corpus para um chipanzé que estava preso numa pequena jaula num zoológico de Niterói. O que eles pediram foi um habeas corpus para que esse chipanzé pudesse ir para um lugar aberto, onde há outros de sua espécie, ainda uma prisão. Mas o habeas corpus foi negado, porque o chimpanzé não é um ser humano e nossas leis foram criadas para seres humanos. Talvez pudéssemos ir com uma criança até o zoológico e mostrar os chipanzés trancados em uma jaula com barras de ferro e chão de cimento e a criança nos perguntaria: “Pai, que foi que ele fez, por que ele está preso?” Nós não saberíamos responder. Nossa consciência com relação aos outros seres é muito estreita.
Agora Brasil e Argentina (2011) estão discutindo sobre questões de importações e exportações. Um país restringiu as exportações do outro, então o outro restringiu as exportações do primeiro. Nós sabemos que em economia quando o comercio é livre há progresso para ambos os lados, pois ambos podem vender aquilo em que são mais competitivos. Mas se um começa a querer obter vantagens maiores e começa a haver retaliações, é como aquelas mãos que começam a pedir vingança - “me dê o martelo de volta”. Esse é um caso pequeno, mas típico.
 Nós pensamos em nações, pensamos em seres humanos; é freqüente vermos discussões na nossa espécie entre homens e mulheres querendo saber quem é superior ou inferior. E a nossa espécie olha os seres das outras espécies como se fossem seres não dignos, achamos que podemos colocá-los em jaulas, podemos levá-los para matadouros e matá-los, comer seus pedaços. E se for possível ter uma iguaria mais fina, como um fígado doente, por exemplo, o de um ganso, como é o caso do foie gras. Esse ganso pode ser torturado para que fique doente. Seu fígado incha e fica cheio de gordura e assim mais saboroso para os homens comerem. Não é interessante nossa conduta? É muito interessante, mas ela parte toda da mesma noção, da mesma raiz. Eu, eu sou separado. A dor do outro não tem nada a ver comigo.

Palestra na Univali - Itajaí - 31/08

                                                    (clique na imagem para ampliar)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O EU separado de tudo




Poucos dias atrás eu vi um vídeo com um pequeno trecho de uma palestra de Thich Nhât Hanh. Vou reproduzir as idéias que ele expôs. É um vídeo bem curto.

Naquela pequena aula ele disse: “Minha mão direita escreve poemas. Minha mão esquerda não escreve poemas. No entanto, minha mão direita não menospreza nem diminui a mão esquerda dizendo: “Eu sou melhor que você”. Ela não tem complexo de superioridade com relação à mão esquerda. Nem a mão esquerda tem complexo de inferioridade com relação a minha mão direita. Há algum tempo eu estava pregando um prego na parede, e bati com o martelo no dedo da mão esquerda. Imediatamente, as duas largaram o que estavam fazendo e a mão direita segurou a mão esquerda para cuidar dela carinhosamente. Minha mão direita não disse: “Estou cuidando de você agora que você esta machucada, lembre-se, no futuro se acontecer alguma coisa você cuida de mim, não seja mal agradecida”. Minha mão esquerda não disse: “Você me feriu, dê-me o martelo, eu quero vingança”. Porque minha mão direita e minha mão esquerda, se sentem unas. Sentem-se em uma unidade. Sentem-se uma junto à outra em tudo. Não sentem inveja, nem sentimentos de cobrança, nem sentimentos de vingança, nem superioridade nem inferioridade.”

Nós somos, na verdade, mãos da grande unidade de todos os seres. E quando nos sentimos melhores ou piores, ou queremos justiça, ou compensações, é porque nós não vemos isso, porque começamos a ver a noção de eu dentro da mão. Se a mão direita sentisse “eu sou”, ela teria esses sentimentos. O mesmo ocorreria se a mão esquerda tivesse esse sentimento de “Eu sou, eu sou separada” – elas são separadas, não são? Fisicamente são separadas, mas não existe o sentimento “eu sou separada”. Por isso uma cuida da outra, não pedem compensação, por isso uma não pede vingança à outra. O que existe nas nossas duas mãos, é uma noção dentro da nossa mente de unidade; ambas se referem à mesma mente, ambas se comunicam com a mesma mente e por isso não se sentem separadas, embora o estejam fisicamente.

 Mas nós aqui nos sentimos realmente separados. Não sentimos que pertencemos a uma grande unidade. Sentimo-nos sós. Quantas vezes vocês já ouviram a frase “é possível estar sozinho dentro de uma multidão”? Na verdade, a iluminação significa o abandono de todo eu, então é impossível estar só daí em diante. É impossível sentir solidão. É impossível ter quaisquer desses sentimentos de que estávamos falando antes - superioridade, inferioridade, vingança, justiça. Qualquer coisa assim é impossível se houver percepção da nossa verdadeira natureza. Numa palestra, há algum tempo, eu disse que o eu possui ganchos, ganchos nos quais nós penduramos coisas - conceitos, nomes, cargos, títulos, noções de superioridade, inferioridade, raça, espécie. Eu sou homem, os outros seres não são homens. Aqueles que não são homens eu posso matar, não tem importância, eles não são da minha espécie.
(continua)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A vida é um sonho nítido

(continuação)
Há uma outra história, com balde, num famoso conto Zen, sobre uma monja que carregava um balde cheio de água, era noite e a luz da lua se refletia na superfície da água do balde, de repente o fundo do balde partiu-se, a água toda escorreu e ela viu: nem água nem lua, e neste momento despertou. O que é que vemos nas nossas vidas de sonhos, tão nítidos, que não é um reflexo na superfície, como a lua que se reflete na água? Esta vida é um sonho nítido, um discípulo perguntou a Joshu que morria: - "Mestre, diga alguma coisa! " e ele já com 118 anos disse: - "Não tenho nada para dizer." O discípulo insistiu: - "Mas nos diga alguma coisa, nos deixe alguma coisa !", e Joshu respondeu: - “A vida é um sonho”, e expirou.

Sim a vida é um sonho, mas um sonho muito nítido e como é tão nítido, nos perdemos nele. Sempre acorremos quando temos um amigo sofrendo de um pesadelo, vemos que ele sua, geme, sofre. Nos vamos lá, sacudimos seus ombros e dizemos: - "Acorda! Acorda! Ei, acorda!" E ele despertando diz: - Ah! Ai...era só um sonho"" , mas ainda o coração está acelerado. Nós nos perguntamos se é tudo ilusão, se a vida é um sonho, por que os mestres estão ensinando? Porque se compadecem do sofrimento do pesadelo e por isso tentam acordar seus alunos para que eles possam dizer: "Ah! Era só um sonho!"

Como o poema de Fayan:
“Por toda parte que eu vá, a lua da noite gelada cai como quer, nos vales adiante”, demonstrando o caminho incomparável da verdade última.

Monge Genshô, (Palestra como Shusô, na noite que antecedeu seu Hossenshiki, outubro de 2008)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sem remoer


(continuação)
Cuidadosamente olhamos à nossa volta, encontramos mestres escondidos , mestres para nos ensinar paciência, tolerância, não os enxergamos, os vemos sem ver, pode ser que tenhamos encontrado um Bodisatva à nossa frente e não o tenhamos reconhecido, porque nossos olhos não estavam preparados para ver. Meng Min da última parte da dinastia Han ficou em Taiyuan em uma de suas viagens. Uma vez, enquanto carregava um balde, este caiu no chão, mas ele seguiu adiante, sem se voltar. Guo Linzong testemunhou isto e lhe perguntou o significado, Meng Min replicou: - "O balde já estava quebrado, de que adiantava eu me voltar?" Linzong o considerava incomum por causa disso e o encorajou a estudar. 
Esta história revela a pura e instantânea compreensão dos fatos: ele andava, o balde quebrou, ele nem se voltou, continuou andando. Olhem e rememorem suas próprias vidas. Quantas vezes perdemos algo, mas, voltamos para trás, voltamos para a memória daquilo que perdemos, lamentamos, sofremos, reconsideramos, por que fazemos isto? Porque estamos profundamente agarrados as coisas, e o extraordinário neste caso é que ele não se voltou nenhum instante, simplesmente continuou andando. Se fossemos capazes de estarmos tão desapegados que quando algo assim sucede, pudéssemos continuar andando, sem voltar atrás e remoer aquilo que perdemos, aquilo que se quebrou, então estaríamos profundamente livres.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Eu o vi sem ver"


(continuação)
No fundo o que nos atrapalha é nosso apego ao eu, nosso apego ao si mesmo. Por isso Dogen Zengi diz: “Estudar o Dharma é esquecer de si mesmo” estudar a si mesmo é esquecer de si mesmo, se esquecermos de nós mesmos então estamos realmente livres. A Escritura da Marcha Heróica diz, “Se você criar uma compreensão do sagrado, sucumbirá a erros.” O imperador ficou ali feito um tolo: - "Quem é você que está na minha frente?" Para ele era uma boa intenção, mas para Bodhidharma é como se ele estivesse lhe cuspindo no rosto, porque se ele respondesse eu sou isto ou aquilo, imediatamente teria se perdido. Bodhidharma por isto não podia evitar de oferecer um “não sei”.

Mais tarde o imperador Wu sentiu que um homem superior tinha partido e escreveu um epitáfio para Bodhidharma em que dizia: “Eu o vi sem ver, conheci sem ter conhecido, agora como dantes eu me arrependo e lamento isto”. Na verdade, o esclarecimento e o despertar são invisíveis para olhos não despertos. Pode passar por nós Shakyamuni Buddha e se estivermos perdidos em nossos pensamentos, terá passado por nós apenas um homem, um ruído de passos, uma brisa, nada mais. Bodhidharma esteve em frente ao imperador e depois o imperador percebeu: - "Eu o vi sem ver".

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Sesshin de setembro - Para iniciantes no zen


Eka - Um aluno para sempre

(continuação)
A seguir Bodhidharma abandonou o palácio, pois o imperador não o compreenderia, atravessou o rio Yang Tsé , foi para Shaolin e sentou à frente de uma parede de pedra durante nove anos. Só ao fim de nove anos ele aceitou um aluno, o sucessor de Bodhidharma, Taiso Eka, e só o aceitou depois que ele ficou três dias sem comer nem beber, em pé, a frente de sua caverna, na terceira noite nevou e então, não sendo atendido, Eka cortou o braço. Vendo o sangue pingar na neve, Bodhidharma lhe perguntou:

- O que você quer?

Nós achamos difícil um retiro zen, mas Bodhidharma não aceitou nenhum aluno durante nove anos até que um aluno cortou seu braço para mostrar sua sinceridade com o sangue pingando na neve. Por que Bodhidharma deixou o palácio? Porque um genuíno praticante sabe por si mesmo o momento e a estação de sua aparição, ele não aparece no momento errado, ele tem uma estação própria para se manifestar. Bodhidharma não queria alguém que desiste à primeira dificuldade.

Nas nossas vidas diárias isso acontece quando somos incitados a falar do Dharma em um lugar qualquer onde não há respeito, e o Dharma não pode ser falado assim. O Dharma, só pode ser dado quando há reverência, por isso as palestras do Dharma só são dadas aqueles que se sentaram, aqueles que sofreram, aqueles que mostraram sua determinação em aprender. Se não há este propósito, este puro propósito e esforço, o Dharma não deve ser ensinado, porque ele só vai agravar os problemas das próprias pessoas que o ouvirem. Tianhuang disse: - "Somente termine com os sentimentos profanos." Não existe qualquer compreensão sagrada especial. Se ao menos isto, se deixássemos de lado todos os nossos apegos, cortássemos completamente nossas amarras ao nosso eu e aquilo que desejamos e tanto queremos, se tudo isto perdessemos, se fossemos capazes de abrir as mãos, e nos libertar inclusive dos sentimentos como orgulho, vaidade, pretensão, ambição em ser alguém no Dharma, se ao menos fossemos capazes de nos libertar da nossa condição de ganchos que seguram todas essas coisas e nos tornássemos lisos e retos de modo que nada pudesse ficar pendurado em nós, então estaríamos livres dos sentimentos profanos e não haveria necessidade nenhuma de procurar qualquer coisa sagrada, porque estar livre de tudo isso é obter a plena sacralidade de todas as coisas, todas as coisas e seres instântaneamente sagrados, porque nós somos capazes de nos libertar de nós mesmos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Com uma única palavra





(continuação)


Tão sensíveis somos, tão a flor da pele está nosso ego, que é fácil com uma única palavra ferir, perturbar, causar desconforto, causar atrito e quebra de harmonia.

Tanta insistência temos nos retiros zen budistas para não falar, porque quando fazemos uma observação a alguém ou quando respondemos a alguém, automaticamente aí se criou uma tensão. E essa tensão redunda na quebra de harmonia. Quando quebramos a harmonia, sentimos nosso ego ferido ou inflado, nosso orgulho tocado, e instantâneamente nos perdemos e voltamos mais profundamente para o vício do eu. E quando presos neste redemoinho, com nosso eu exacerbado, não podemos mais ver a unidade de todo o universo, não podemos mais ser um com as ondas do mar, não podemos ser ondas no zazen, não podemos ser chuva caindo no jardim, não podemos ser a unidade da sangha comendo junta, meditando junta, sofrendo junta, porque de repente nos tornamos eus separados.

Esta vida, aqui, esta sala, é uma sala de sonho, nós somos seres de sonho, estou falando para seres de sonho, palavras de sonho, estamos perdidos nos nossos eus exatamente neste momento, só um profundo despertar nos levaria a escapar disso e sentir a unidade de todas as coisas, e aqueles que sentem a unidade não podem ser feridos, não podem ser perturbados, não há lugar onde o orgulho possa se agarrar, onde a vaidade possa se localizar porque não há nenhum suporte para ela, nosso eu é o gancho no qual se pendura o orgulho, a vaidade e a sensibilidade. É sobre isso que Bodhidharma estava falando quando disse “vazio” e quando disse não há nada de sagrado, nesse mesmo momento ele integrou todas as coisas, porque ao mesmo tempo este chão é profano, ao mesmo tempo este chão é sagrado. Não há nada de sagrado no mundo, não há nada que não seja sagrado, nem o menor grão de arroz, nem a menor porção de molho perdida dentro da tigela na nossa refeição de oryokis (refeição ritual em tigelas praticada nos retiros), por isso a lavamos com água quente e bebemos a água, porque tudo é sagrado.

E o imperador disse: - "Quem é você que está na minha frente?" Porque ele não entendeu nem do que Bodhidharma falava quando dizia vazio. A China já tinha budismo há 500 anos, mas o zen não havia chegado, os textos estavam lá, a devoção estava lá, mas a compreensão ainda não havia chegado quando Bodhidharma expressa esta compreensão profunda. Por esta razão ele é um mestre zen nosso ancestral e recitamos todos os dias seu nome na lista dos patriarcas.

Quando dizemos seu nome estamos lembrando da sua obra de trazer o zen da Índia até à China. O imperador não entendeu nem “vazio”, nem “nada que possa ser chamado de sagrado” e, perguntou: quem é você que está na minha frente? Bodhidharma respondeu o que poderia responder:


- Não sei.

Quando ele disse "não sei", "não faço a menor idéia", "não há ninguém na sua frente", ele estava expressando a plena verdade de que não existe um eu aqui. Não há ninguém aqui. Quando o imperador pergunta quem é você na minha frente, ele, Bodhidharma, responde: - "Não sei," porque já perdeu a noção de um eu e está livre disso. Nele não há nenhum gancho onde pendurar algo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

De quem perdeu um filho




Eles não morrem

Não, as pessoas não morrem.
Os olhos fechados, o riso mudo, o peito inerte não existem.
Se você fechar os olhos e aguçar os sentidos vai ver o brilho nos olhos, o som do riso e da voz, sentir o calor da pele.
Feche os olhos, pegue a chave da sensibilidade e abra a porta da memória. Está tudo ali. Aninhadas e silenciosas, 
as memórias são aves pacientes à espera de um gesto para a revoada.
Feito o convite, sobem em bandos. Ressuscitam lembranças, revivem caminhos, abrem sorrisos, liberam lágrimas. 
Trazem, em suas asas eternas, lembranças pesadas como rochas e diáfanos sonhos encasulados em frágeis e inconclusos desejos. 
Essas realidades não são percebidas e armazenadas por todos da mesma forma. Para alguns, vão se materializando aos poucos em duras lições de muitas despedidas. Último sorriso da mãe, a voz do pai, o gesto do avô, a alegria do irmão. Essas lembranças de imorredoura névoa eterna que se fundem no bronze da memória. E ali permanecem, compondo a rede de nossa vida, tramas de alegrias e tristezas que herdamos desses queridos personagens.
Dizer que morreram é negar nossa própria capacidade de revê-los.
Meu filho partiu há anos, mas o revejo sempre que o quero perto de mim. Na idade que desejo, com o sorriso que escolho, com gestos e atitudes que satisfazem - mesmo que por instantes - a imensa saudade que trago comigo.
Ele está vivo dentro de mim e só morrerá quando eu me for também.
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(Ivo é meu amigo há 50 anos, e perdeu um filho já adulto, o mais velho deles, é um escritor extraordinário como podem ver acima. É editor do jornal Vida Integral há décadas.)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Vazio de Bodhidharma



Comentários sobre o Caso II do Shoyoroku, (texto clássico) em que narra-se o encontro do imperador Wu, da China, conhecido pelo seu interesse pelo budismo, e o Mestre Bodhidharma que trouxe o Zen da Índia, cerca do ano 600 DC.
"Liang era um reino do sul da China, quando Bodhidharma foi pra lá  foi alertado de que no sul prestavam muita atenção a mérito criado. Em várias versões desse caso, a primeira pergunta do imperador Wu para Bodhidharma é a respeito dos méritos que ele teria acumulado nos céus por haver construído templos e mosteiros  para o budismo, e a primeira resposta de Bodhidharma teria sido:
- Mérito nenhum, majestade. 

A seguir o imperador perguntou:
- Então, qual  a grande verdade da sagrada doutrina?  e Bodhidharma respondeu:
- Vazio.  Vastidão ilimitada,  e  não há nada que possa ser chamado de sagrado.
Neste momento Bodhidharma está descrevendo uma profunda verdade: Vazio, ou seja, todas as coisas são interconectadas, todas as coisas estão apoidas umas  nas outras e nenhuma delas tem um eu intrínseco, um eu inerente. Elas não funcionam por si mesmas, não tem uma substância  real por si, como nós mesmos não temos uma substância real independente, um eu intrínseco, temos apenas um eu criado e forjado pelos nossos pensamentos, preferências, conexões diversas das nossas  próprias vidas, funcionamento do nosso corpo.

A verdade de perceber que não há um eu intríseco, que pertencemos a um universo todo interdependente, mas não somos algo separado, que existe por si mesmo, é dita como aterradora em alguns textos budistas. E diz-se que apenas um bodisatva no 8º nível de iluminação poderia olhar de frente pra esta realidade, sem se sentir arrasado, de tal maneira nós somos profundamente agarrados a  nossos próprios egos e eus.

Tão sensíveis somos, tão a flor da pele está nosso ego, que  é fácil com uma única palavra ferir, perturbar, causar desconforto, causar atrito e quebra de harmonia. 
(continua)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tudo está contido e nada se perde



As folhas caem...o jardim está perdido?

Pergunta: 
Vou perder minha esposa, minha filha,  meus pais. Tudo muda o tempo todo. Pelo que o Sr. fala, a iluminação é ficar admirando as coisas se desmontando. Como posso ser feliz no budismo?

Resposta:  
Seria assim se nós fossemos isto, seres isolados com posses materiais e vínculos emocionais em um mundo impermanente, mas não somos isto, somos muito mais como sempre explico, somos unidade e o todo abrangente. Ver-se como indivíduo é este engano monumental que desemboca exatamente no que você falou, e o desespero fica grande o suficiente para corrermos atrás de alguma mentira consoladora. 
Se você enxergar a eternidade e a unidade não existem  surgimentos nem cessação. Leia de novo o sutra do coração da sabedoria, ao ver o vazio dos agregados o bodisatva livra-se instantâneamente de toda a dor e agonia, o budismo é para ser feliz e ver que não existe nenhum se desmontar das coisas, que estamos sempre juntos na unidade. No tempo tudo está contido e nada perdido pois neste universo nem a menor memória se apaga pois tudo está acessível aos olhos iluminados, nossos entes queridos estão aqui conosco para sempre, nossos ancestrais somos nós mesmos. Por não ver a unidade nos perdemos nesta fantasia de individualidades e assim sim não existe saída para o sofrimento das perdas em um mundo mutável.
Desta unidade falam os grandes místicos cristãos, sufistas, hassídicos, budistas, não podem os mais sábios de todos terem enxergado a mesma coisa em múltiplas doutrinas sem que houvesse algo atrás delas que indicasse a verdadeira sabedoria.

Monge Genshô



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Zazenkai em Florianópolis





Sábado 18/08, Zazenkai com Monge Genshô em Florianópolis.

Zazenkai, que significa literalmente "se unirem para a meditação" é um retiro zen-budista, geralmente menos intenso e de menor duração que um sesshin. Neste próximo final de semana, 18/08 sábado, seguiremos a agenda e teremos um Zazenkai na Comunidade Zen Budista de Florianópolis. É uma pratica aberta a todos os praticantes, inclusive iniciantes.

ENDEREÇO: CZBF - TRAVESSA JOSÉ GOULART, 59. SACO DOS LIMÕES. FLORIANÓPOLIS. SC. Mais informações: www.daissen.org.br

O VALOR SERÁ DE R$30,00 PARA OS NÃO CONTRIBUINTES E R$15,00 PARA OS CONTRIBUINTES (AS REFEIÇÕES ESTÃO INCLUSAS).
INSCRIÇÕES com Juliana: 48 99711323 - juliana@chalegre.com.br

Segue abaixo a programação:

ZAZENKAI
COORDENAÇÃO MONGE GENSHÔ
ORGANIZAÇÃO COMUNIDADE ZEN BUDISTA DE FLORIANÓPOLIS

8:00H – CHEGADA DOS ORGANIZADORES

8:30H – CHEGADA DOS PARTICIPANTES

8:45H - INSTRUÇÕES

9:00H – ZAZEN 40’

9:40H – CERIMONIA

10:00H – INTRUDUÇÃO AO ZEN, PERGUNTAS E RESPOSTAS

11:30H – ZAZEN 40’

12:10H - INTERVALO

12:20H – REFEIÇÃO

13:30H – INTERVALO

14:00H – SAMU

14:50H - ZAZEN 40’

15:30H - INTERVALO (CHÁ/CAFÉ COM BISCOITOS)

16:00H – PALESTRA COM O MONGE GENSHÔ, PERGUNTAS E RESPOSTAS

17:30H – ENCERRAMENTO DO ZAZENKAI

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Inesperado - Um sobrinho querido se foi

                                                    Lucas Gelatti Chalegre (1988-2012)

Um atleta, uma afecção cardíaca, uma morte súbita, que incerta é a vida!

Eu sei que para seus pais esta falta jamais será preenchida...

A árvore sem raiz



A Árvore sem Raiz

Tantas coisas a dizer sobre koan.
Até a definição do que é koan varia.

.........................................

Sem a realização.
A pessoa não pode ser realmente compreendida.
Então,como nós realmente estudamos o self?
A fim de estudar o self
nós usamos koans.


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Os koans que usamos, são os assim chamados
Koans kosoku, pois já foram originados
por outras pessoas e colocados em uma certa ordem
para serem estudados.Dogen Zenji fala sobre koans
de maneira um pouquinho diferente, não é?
Na verdade, essa era sua objeção quando foi à China.
A prática de koan, como estudos na China naquela época,
na Dinastia Sung, ele não achava que era a maneira correta,
não achava a maneira adequada de praticar koans.
Então, depois que voltou da China, Dogen
começou a apresentar sua própria maneira de apreciar um koan.
O Shoboghenzo, na verdade, é isso.
Seus escritos mais refinados,
conhecidos como Kaji Shobogenzo, distinguindo
mais de um tipo de Shobogenzo, são uma coleção de koans.

Mas o koan que estou pensando dividir com vocês
 neste sesshin não é da coleção de koans de Dogen Zenji,
chamada de Shinji Shobogenzo, o Shobogenzo chinês,
mas de outro de seus escritos em chinês, o Eihei Koroku.
No primeiro volume esse koan é encontrado.
Na verdade ele compõe koans.É isso o que eu quero partilhar com vocês,
dividindo esse único koan em três partes.
No Eihei Koruku,Dogen Zenji cita um trecho de um sutra
e então faz um koan a partir dali.
E faz comentários a respeito.
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Conta-se que ele (Indra) fez uma chuva de pétalas
Com fragrância, em celebração.
Ele desceu até elas e lhes disse:
“Vocês são maravilhosas!
Gostaria de lhes dar algo como prêmio.
O que vocês desejam?”

Essas damas eram de famílias ricas,
nascidas em uma classe muito alta.
De modo que disseram a Indra:
“Temos praticamente tudo.
Com relação à nossa vida nada nos falta.
Temos jóias suficientes.
Não desejamos nada particularmente.
Mas se você realmente quer nos dar algo,
gostaríamos de ter três coisas,
Se puder nos dar.”
E Indra disse: “Claro, digam.”
Então elas disseram: “Primeiro, por favor, nos dê
a árvore sem raiz.
Segundo, por favor, nos dê
o pedaço de terra onde não há yin e yang.

Yin e yang aqui é como dizer positivo e negativo.(Comentário de Monge Genshô)

Nem dia, nem noite,
nem mulher, nem homem,
nenhum par de opostos.
Esta é a terra que gostaríamos de ter.
E terceiro, nós gostaríamos de ter
um vale sem eco.
Essas três coisas gostaríamos de ter.”
Então Indra disse:”Não posso fazer isso,
e mesmo shravaka e pratyekabudas, os Iluminados, Arhats,

Shravakas são aqueles que se iluminam por ouvir o ensinamento  e pratyekabudas são os que praticam sozinhos para si mesmos...são três tipos.Shravakas, pratyekabudas e budas que se iluminam para os outros.(Comentário de Monge Genshô)

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não podem fazer isto.
Apenas grandes bodisatvas sabem o que elas são,
e apenas Buda sabe como conseguí-las.
Então por que não vamos a Buda pedir a ele?”

Na tradição budista os deuses são colocados abaixo de Buda.Então, na verdade aqui tem um fenômeno cultural do budismo que surgiu e se apropriou das simbologias hindus e as colocou como inferiores.(Comentário de Monge Genshô)

Dogen Zenji interrompe a história nesse ponto
e cria um koan.
“Como Indra não respondeu, vou falar
tomando o lugar de Indra.
O que é uma árvore sem raiz?”
diz Dogen Zenji.

Aqui há uma resposta de koan.(Comentário de Monge Genshô)

“O Cipreste no Jardim,
isso é que é.”
Alguns de vocês, tenho certeza,
já devem ter ouvido falar nesse koan,
...
O Cipreste de Joshu.
De qualquer forma, essa foi a primeira resposta de Dogen.
A Árvore sem Raiz é o Cipreste no Jardim.
Ele então disse: “  Se vocês não compreendem,
eu apanho meu bastão e digo:” É isso,
a Árvore sem Raiz viva.”
O que essa Árvore sem Raiz significa?
Podemos dizer todo tipo de coisas, como liberdade, libertação,
podemos até dizer que é nirvana
não fincado em lugar nenhum.
É fácil falar, mas quão difícil é
O Cipreste no Jardim!

Um monge perguntou a Joshu:

Joshu é muito famoso mestre Zen. Joshu viveu aproximadamente 120 anos. Então, um mestre que viveu muito velho, (778–897) D.C na China.(Comentário de Monge Genshô)

“Qual é a coisa mais importante no ensinamento de Buda.
Qual o ensinamento fundamental do Desperto?”
Ele responde: “Isso é o que é O Cipreste no Jardim.”
O monge continua a pergunta:
“não, não me responda
com esse tipo de dicotomia
de relação sujeito-objeto.
Não me mostre, tratando com o objeto.”
O monge olha para as árvores em jardins como objetos.
É assim que fazemos
então Joshu disse:
“não estou mostrando a você, tratando com o objeto.”
Então o monge coloca a mesma questão:
“qual é o princípio fundamental dos Budas?”
E joshu diz:
“O Cipreste no Jardim.”
E Dogen Zenji disse:
“Essa é a Árvore sem Raiz.”

Algumas pessoas imaginam que podem responder aos koans dizendo coisas sem sentido que vem na cabeça. Isso não vai funcionar.(Comentário de Monge Genshô)

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Algumas pessoas dizem que este é um texto Mahayana,
que sequer é um ensinamento de Buda.
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Nós tomamos tudo como ensinamento de Buda.
Essa é a nossa tradição.

Na nossa tradição (zen) Buda continua falando pela boca dos mestres.É tudo ensinamento de Buda.E é bobagem dizer que só o que foi escrito naquela época é ensinamento de Buda (isto é apenas a verdade histórica não a verdade mística). Não, os sutras Mahayanas são ensinamento de Budas, surgiram da boca de Budas, mestres iluminados.(Comentário de Monge Genshô)

No Denkoroku, Transmissão da Luz,

Denkoroku é uma coletânea de 52 episódios de transmissão.Exatamente episódios de transmissão ligados aos nomes que nós recitamos na cerimônia da manhã, mestre para mestre, como aconteceu nas transmissões.(Comentário de Monge Genshô)

Denkoroku, Trasmissão da Luz,
está escrito que Shakyamuni Buda,
olhando o planeta Vênus,
atingiu o caminho e disse:
“Eu e todos os seres, a grande terra,
simultaneamente atingimos a iluminação.”
Como você entende esse koan?
É exatamente o mesmo
o que Buda está falando
e o que Joshu está falando
e o que Dogen Zenji está falando.
Eles estão falando exatamente sobre a mesma coisa.
Sobre o que eles estão falando?
Claro que estão falando sobre a Árvore sem Raiz?
O que é esse koan ?
O que é isso?
Se vocês não sabem,
eu ergo este bastão e digo:
“É isso!”

Aquele ali,  este aqui,
o que é tudo isso, afinal?
Eu, você,
meu, de outra pessoa,
o que é isso?
“É isso!”
Sobre o que Dogen Zenji está falando –
A mesma coisa ou uma coisa diferente?
Se você disser a mesma coisa
você erra.
Se disser uma coisa diferente
você também erra.
Como você cuida
dessas duas expressões diferentes
“Cipreste no Jardim”
e
“é isso!”?
De qualquer modo que o diga,
está errado.
Então, o que é que você faria?
Com sua próprias palavras,
o que é que você diria?
Se alguém me pergunta, eu digo:
“Árvore sem Raiz tem raízes maravilhosas”,
simplesmente assim.
Não uma boa resposta tão boa,
com certeza.
De qualquer modo, onde está aquela raiz?
Quão profunda e firmemente ela está enraizada?
Todos esses pontos de teste do koan
São parte da prática do koan.
É uma prática maravilhosa,
o koan.

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É isso que é o koan.
É sobre isso que eles estão falando,
e Dogen Zenji, ele se opõe à prática do koan,
no entanto ele próprio
sempre fala sobre koan.

(Extratos de Texto de Maezumi Roshi)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sofrimento, o caminho curto



Pergunta: Com dor e sofrimento devemos persistir na almofada ou procurar o conforto da cadeira?
Resposta: A resposta é assim esse sofrimento do corpo também é muito bom, tem uma espécie de tortura, mas ela faz com que realmente a gente fique aqui. Quando você está aqui o mundo lá fora, o passado ,presente, desapareceram. E por isso quando tem um grande sofrimento físico também tem progresso, se quebra o ego mais rápido. O sofrimento é o caminho mais curto para o crescimento espiritual. Grandes sofrimentos podem ser bênçãos maravilhosas. Basta ver que muitas pessoas crescem espiritualmente quando têm, por exemplo,um câncer. Eu já tive esta experiência várias vezes de falar com pessoas que me procuraram porque estavam com câncer. E aí ele sabe o que é importante na vida, ele descobre que o carro não tem importância nenhuma, o que ele queria era ver o filho crescer. Este sofrimento é maravilhoso para abrir portas para realização espiritual.

Pergunta: Numa segunda fase que o corpo está dominado e começam as músicas lá no fundo, tem que combater ou pode deixar tocando?
Resposta: Se você não colocar nenhuma tensão nelas elas vão embora. Vocês prestem atenção, por exemplo, nas coceiras. Se sente coceira no nariz não coce  e coloque toda a sua atenção na coceira, diga assim: eu vou ficar olhando essa coceira. Tente não desviar a atenção dela nenhum segundo.Fique atentamente olhando a coceira. Vocês vão descobrir que não conseguem fazer isso por um minuto,  vão se distrair e quando se derem conta a coceira não está mais lá. Aí nós descobrimos como todas essas coisas são evanescentes.
(Estes dias uma pessoa que não faz zazen disse: "se não coçar uma coceira não para", eu respondi: "se você coçar nunca saberá o que é uma coceira".)

Pergunta: E se ele entrasse na música e passasse a ser a própria música?
Resposta: Se a música existisse, se ela fosse real, mas essa música é uma fantasia.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Níveis


Pergunta: A iluminação tem diferentes níveis?
Resposta: Há diferentes níveis. Mesmo que você consiga uma realização espiritual o mestre pode dizer: você conseguiu, agora vou lhe dar esse koan. Por exemplo:você obteve uma noção clara da vacuidade  – primeiro nível. Quer dizer que você respondeu todos os koans? Não.Os koans ligados a isso você consegue responder, mas os koans ligados a outros temas você não consegue responder ainda. O Koan Mu, o cachorro de Joshu é primeiro nível. O que é mu? Mostre-me o mu. Não é nem um pouco fácil porque na frente do professor olhando para você e pedindo a resposta instantânea, normalmente você não sabe, você trava, gagueja, ou tenta achar uma resposta com a sua mente, mas não funciona. Está claro que está errado. Não é uma resposta que veio das entranhas. A resposta correta ela vem de imediato, não precisa procurar, não tem raciocínio.É resposta de quem sabe. Neste nível que estamos, qual é a cor das folhas? Vocês já sabem, é conhecido, mas se começar a pensar já sai outra coisa.


Antigamente, no modelo oriental, esperava-se que o aluno estivesse mergulhado na cultura. Quando você tem um aluno que pratica artes marciais, por exemplo, eu noto que o treinamento é mais fácil porque o aluno já se habituou com a disciplina e para quem não passou por isso é mais complicado porque precisa aprender que tem que ouvir primeiro e não ficar questionando quando está começando.O questionamento é para depois. Quando os atletas praticam esporte também fica facilitado porque eles não ficam questionando e sabem que não dá para explicar todos os detalhes. O aluno que fica perguntando é o aluno que leva mais tempo. E os professores na tradição oriental nem respondem. Um mestre como Saikawa Roshi, na posição dele como superior da América do Sul não fala, chama um monge mais graduado e manda falar com o aluno e se o aluno não aceita e diz  “quem é você para me dar dicas, eu só aceito se for o mestre”, isso complica tudo porque na tradição oriental é assim. Então neste caso o aluno é abandonado e o mestre não faz nada enquanto ele não abandonar aquele ego. Por exemplo, na cozinha tem uma tenzo. A responsabilidade dela é treinar as pessoas para trabalhar na cozinha. Se alguém não gosta da instrução dela na cozinha o que se vai fazer? Tem que ir lá para servir e esse é um grande privilégio servir os outros.(Comentário de Monge Genshô)