quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Qual a posição budista sobre o aborto de fetos inviáveis?
Inscrição em pedra do tempo do imperador budista Ashoka. Índia.
P: Autorizar o aborto de uma mãe que sofre por albergar em seu ventre um bebê anencéfalo (sem possibilidade de sobreviver após o nascimento) poderia ser visto como um ato de compaixão para com a mãe e com o "nascituro"?
R: Não pensemos no Budismo como uma religião legalista tipo Catolicismo Romano, que tem uma série de respostas prontas para todas as dúvidas, respostas que são dadas de cima para baixo, como decretos dos Deuses do Olimpo. A postura básica do Budismo é, como não pode ser, o respeito à vida em todas as suas formas. Mas a grande contradição da vida é que ela precisa devorar outras vidas para se perpetuar. Se quiséssemos seguir 100% o preceito de não matar, teríamos de morrer de inanição porque, alimentando-nos, estamos sacrificando outras vidas para sobrevivermos. Essa questão do aborto deve ser meditada a partir dessa perspectiva contraditória. Devemos, talvez, considerar, no caso em questão, qual das duas alternativas provocará mais sofrimento no mundo e optar por aquela que nos parecer que irá causar menos sofrimento. Sempre não esquecendo de lamentar pelas eventuais vidas que somos obrigados a sacrificar em determinadas circunstâncias. Não há respostas prontas, cada caso é sempre um novo desafio a ser enfrentado.
Gasshô,
Shaku Riman
(Prof. Dr. Ricardo Mário Gonçalves)