(...) Mas nossas vidas têm significado, porque se você jogar uma pedra no
mar, a configuração das ondas é alterada por toda a eternidade. Então, de um lado somos
insignificantes, e de outro somos incrivelmente poderosos. E nossas vidas têm
significado cármico, porque mudam o universo. E é isso que temos que pensar:
pertencemos ao universo, temos a capacidade de mudar o universo.
Então vale a
pena viver e fazer coisas significativas. E no mínimo vale a pena viver essa
vida no que ela tem de maravilhoso. Por isso no budismo dizemos: enjoy your
life! Aproveite plenamente sua vida. Mas, para aproveitar plenamente a sua vida,
você não pode ficar se preocupando com bobagem. Tem que ver a vida como ela
realmente é, com o fluxo passando, e nós como fluxo dentro do próprio universo. E se isso é assim, pode sumir essa Terra, mas o universo continua, e nós
continuamos, como ondas nesse universo.
Eus são enganos, não existem, são só
sensações momentâneas. Eu acredito em mim agora, mas não me lembro de um
passado anterior a mim nem ninguém lembra. Por isso tem sentido a prática
espiritual, porque em geral as pessoas estão perdidas e infelizes. Porque se
preocupam com tolices e não aproveitam a vida bem, tal como ela é: ler um bom
livro, comer um prato delicioso, ter um amor, são coisas maravilhosas.
Por outro lado, no momento
em que você causa sofrimento aos outros, aí sim não valeu a pena essa
vida. É uma vida tola, um mau carma. E tudo tem causa e efeito - portanto as
coisas sempre retornam, é esse o sentido de tudo.
Existe, portanto, sentido e valor
na vida. Não é um nada, e também não somos Eus eternos. O budismo nega
as duas coisas: o eternalismo, a permanência das coisas, com almas eternas ou
deuses eternos, e nega também o niilismo, ou seja, nada tem sentido e não tem
valor fazer coisa alguma.