quinta-feira, 21 de abril de 2011
O guia para a harmonia, a iluminação
Cerimônia do Chá na Comunidade Zen Budista de Florianópolis, Hanamatsuri 2011
Extratos de um texto de Monja Isshin sobre a harmonia:
"O Japão é um país onde se valoriza a “harmonia” acima de tudo. Todos os outros valores sociais e morais são secundários a esse valor. Portanto, é um país de “harmonia a qualquer custo”. Conseqüentemente, a história japonesa está cheia de relatos de casos onde a única saída que sobrava para uma pessoa “manter sua dignidade” e “provar a sua razão” era o “harakiri”, o suicídio ritual de cortar a barriga, pois, em nome da “harmonia”, não havia outra forma de ter uma relativa “justiça”. Eu demorei para compreender a função do “harakiri” e, quando finalmente passei a entender – mesmo um pouquinho – fiquei muito comovida. Não estou criticando aquela cultura, de jeito nenhum, pois me apaixonei pelo Japão e sua cultura – mas também reconheço que é uma cultura quase totalmente “estranha” para mim.
Os Estados Unidos, o meu país de nascimento, são um país onde talvez a “justiça” seja, junto com a “liberdade”, o valor principal. A defesa dos direitos (humanos, dos grupos étnicos, de gênero, etc. etc.) serve de exemplo desta valorização da “justiça”. Valores como “harmonia” passam a ter um valor secundário. Em certos momentos até parece que os americanos seguem um estilo aparentemente “agressivo” de se relacionar, com toda uma estrutura social “confrontativa”, de constantes debates, de sempre ouvir “um outro lado” – tudo em nome da “justiça”. O lado negativo disto vem a ser uma tendência dos Estados Unidos de querer se impor, achando-se do lado da “justiça”, defensor da “justiça”.
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O que isto significa para nós, na hora de criar a nossa Sanga Brasileira? Qual o valor supremo: “harmonia” ou “justiça” – ou será que podemos transcender esta dualidade e descobrir como o próprio Buda cuidava do assunto?
Talvez possamos ter a “Iluminação” como o nosso valor supremo. Talvez possamos imaginar um paralelo pensando na “harmonia” como uma expressão mundana do desejo da manifestação da Compaixão e na “justiça” como uma expressão mundana do desejo da manifestação da Sabedoria. E a Iluminação seria, neste caso, o equilíbrio entre a “harmonia” (Compaixão) e a “justiça” (Sabedoria).
E como podemos alcançar a “Iluminação”? A prática Budista verdadeira leva, naturalmente e inexoravelmente, à Iluminação – mesmo que isto possa levar “milhares de vidas”.
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Mesmo que os ensinamentos Zen falem de praticar “sem objetivos” e “sem metas”, por favor, tome cuidado para não cair na armadilha das más interpretações. Você precisa ter uma “direção” na sua prática, senão a sua prática ficará “desnorteada” e sem rumo, confusa. Não irá a lugar algum.
Assim, acredito que temos que “nortear” a nossa prática em “direção” à Iluminação (equilíbrio da Sabedoria e Compaixão). Existe a prática verdadeira, correta, que leva à auto-transformação e libertação das ilusões, e existe a prática falsa, errônea, de auto-ilusão. Se você não está crescendo em Sabedoria e Compaixão, a sua prática não será uma prática correta.
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A presença de uma Sanga correta e um Professor de Dharma (sensei) passam a ser imprescindíveis, pois a prática solitária ou com uma sanga “de cegos guiando cegos” não nos protege contra as armadilhas do Caminho.
Que possamos criar uma Sanga Brasileira forte e saudável, de praticantes caminhando em direção à Iluminação, cheios de Sabedoria e Compaixão! Que cada um de nós possa mergulhar na essência do Ser, descobrindo e manifestando sua Natureza Buda e que possamos juntos nos tornar o Caminho Iluminado.
Monja Isshin