A maneira de transformarmos o mundo é transformando a mente de cada um. Não importa qual o sistema, transformando as mentes, qualquer um funcionaria maravilhosamente bem - uma monarquia funcionaria maravilhosamente bem, uma ditadura também, um sistema totalitarista como o comunista funcionaria bem igualmente, a democracia funcionaria. Somente seriam necessárias pessoas, todas elas, com mentes compassivas, honestas, maravilhosas, dedicadas ao bem dos outros, abdicando de si mesmas, e o mundo seria perfeito. A raiz da mudança do mundo está nas mentes. É por isso que o budismo volta-se para o treinamento e a modificação da mente do homem, para, dessa forma, produzir o nirvana, um mundo onde a mente que olha transforma o samsara, que é o mundo da perambulação, do sofrimento, um mundo onde transitamos de um lugar para outro buscando a felicidade. Assim, mudamos de um amor para outro, de um emprego para outro, e vivemos sempre cheios de “se”: se eu ganhasse na loteria, se eu fizesse isso, se eu fosse amado, se eu tivesse um filho. Esses “se” são colocados como o que nos permitiria ser felizes.
Esse é o mundo da perambulação, o samsara, o mundo da procura e da insatisfação permanentes. Esse é o significado de dukka, a primeira nobre verdade. “A vida é dukka”, ou seja, a vida é insatisfatória, porque nela, embora haja momentos maravilhosos ou tristes, nenhum deles será permanente, sólido ou estável. A mudança é parte integrante da natureza das coisas. E assim, achando sempre insatisfação ao fim de qualquer processo de qualquer tempo, sofremos. Sofremos por não podermos agarrar e ficar com uma felicidade e satisfação permanentes. E o nirvana? O mesmo mundo, o mesmo lugar, mas onde os ventos dos impulsos não nos empurram e onde, por causa disso, não existe necessidade de perambular, porque onde estamos encontramos a completa felicidade e plenitude.
Dizemos no Zen que quando estamos sentados em meditação, isso é nirvana, é iluminação, porque, naquele momento, você imita Buda e imitando Buda você é nada mais do que Buda. Dizemos isso também para desarmar, porque em outro sentido você não é Buda, você sabe que não é, sabe que não está desperto, que não é um iluminado. Mas se você se senta com o desejo de ser um Buda, de se iluminar, de se libertar, de ser feliz, esse próprio desejo é samsárico, pois ele produz uma busca, uma insatisfação. A pessoas se perguntam, então: “para que estou praticando, se não alcanço nada, sou assim sempre, sou mau?” Pensar desta forma é estar em samsara sentado em meditação. Esse mesmo ser, no instante em que não é levado por nenhum impulso, por nenhum desejo e que não pretende alcançar nada, ele vê no próprio samsara o nirvana. Porque não há nenhuma diferença de lugar nessas duas coisas, a diferença está na mente.