terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Divertir-se
Monge Genshô: Essencialmente os homens sofrem de angústia existencial porque eles se deram conta que vão morrer. Esses dias eu dei um exemplo de que nós somos gente que caiu da beira de um precipício. Todo mundo com a corda amarrada no pescoço. A única coisa que a gente não sabe é o comprimento da corda. Em algum momento, ela se esticará. É assim. Nós estamos aqui agora e não sabemos quem de nós vai morrer primeiro.
Então todos nós procuramos um caminho espiritual e começamos a praticar porque temos essa angústia existencial.
E como é a prática do zazen? Como ela funciona?
Primeiro a gente senta em zazen com o corpo completamente quieto e isso ajuda muito a fazer a nossa mente se acalmar, porque você não tem estímulos. Veja que nós andamos pela vida bombardeados com uma quantidade de estímulos impressionante. A maioria das pessoas não tem idéia de a quantas mensagens publicitárias nós estamos expostos por dia, mas são milhares.
Nós tentamos escapar da vida usando duas palavras: divertir-se e entreter-se. As pessoas dizem que precisam se divertir e se entreter. Mas veja a estrutura desta palavra, “divertir-se”, é escapar da realidade para uma outra realidade qualquer que nos retire dali. Por exemplo, nós temos a nossa vida e nós vamos ao cinema e entramos na vida de outras pessoas, na vida daqueles personagens, naquela estória, nos comovemos, choramos, damos risadas, mas enquanto estamos ali, todos lá fora sumiram e, se você estiver ali naquela sala escura e mergulhar profundamente naquela estória, a sua vida desapareceu. Você vive momentaneamente uma vida por procuração, é outra vida. E nessa vida por procuração você “di” de dividir, de divergir, “divertir-se”. Ou, se entreteu, saiu também da sua vida para uma vida qualquer que obscureça a sua vida, porque sua vida pessoal não é muito suportável. Então você procura outra.