sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
A verdadeira vida boa
(Continuação da palestra)
Então, vai aparecer lá, o insight, se você tiver preparado o terreno, no samadhi. E aí podem acontecer as oportunidades de kensho. “Ken” é ver, e “sho”, sua verdadeira natureza. Kensho é a experiência iluminada. Você nunca vê sua verdadeira natureza porque está perdido nesse mundo de ilusões. Nós estamos muito perdidos num mundo de ilusão própria, esse mundo não é bom, não é agradável, e por isso nós procuramos nos divertir e entreter, por isso procuramos outras vidas que são vidas falsas, não é? No cinema, na novela, em qualquer lugar. É aquela vida falsa substituta da sua vida, que é uma vida insatisfatória. Por isso procuramos nos divertir. Se uma pessoa tivesse uma vida absolutamente perfeita, maravilhosa, ele não iria querer se divertir, ele ia querer ficar “naquela” vida, aproveitando aquela vida, naquele momento. Para quê outro momento? Eu estou aqui apaixonado e feliz vivendo um amor maravilhoso, de mãos dadas com o meu amor, e alguém diz assim: “sai daí, vem aqui assistir uma novela”! Não, não vou, estou bem aqui, não quero ver novela. Isso seria vida realmente boa. Dá para entender? Isto não quer dizer abdicar das experiências prazeirosas e jogos se em cada um deles você estiver realmente presente, vivendo a vida plenamente.
Então a proposta no Zen é: vamos procurar a verdadeira vida boa? Mas a vida verdadeiramente boa, não está no resto, no mundo lá fora, está numa coisa interna minha. Se eu, dentro de mim, tiver olhos para ver, então eu posso achar o nirvana, pois ele está no mesmo lugar que o samsara. Os olhos de quem está olhando é que são diferentes. É por isso o nome do meu livro, “O pico da montanha é onde estão os meus pés”, porque a vida maravilhosa tem que ser aquela que você está vivendo naquele momento. Aqui e agora é o pico da montanha. Eu me preparei décadas para estar aqui sentado junto com vocês, estar vestindo essa roupa, e falando com vocês. Isso é o máximo, é um momento muito feliz, maravilhoso. Amanhã, é o pico da montanha de novo, e depois de amanhã, de novo. Isso é vida feliz. Assim é ser feliz, não é a euforia, é a sensação de justeza, eu estou fazendo o que eu queria, exatamente como eu queria. ( continua)