Aluno: Quando o discernimento se torna um julgamento?
Monge Genshô: Esse é um problema que às vezes acontece com o budismo. Nós dizemos: sente, faça zazen e não julgue. As pessoas começam a dizer: “fulano roubou a estátua de Buda e levou para casa” e o outro diz: “não julgue”. Não é assim. Ele é ladrão mesmo. Nós temos que pedir a estátua de volta, temos que agir contra o mal. Nós passamos o nosso tempo no mundo tendo que fazer julgamentos, julgamos se um programa de televisão é bom ou ruim para assistir e assim por diante.
Na minha casa tenho regras e uma delas é que lá não se compra nada de carne, mas temos um cachorro e sempre que eu compro a ração eu penso sobre como ela é feita, faço o julgamento, mas compro. Outro dia cheguei e um filho meu tinha passado de visita, comprou mortadela e pôs dentro da geladeira. Quando abri e vi aquilo dei para o cachorro. Quando ele chegou veio procurar a carne e expliquei que dei para o ser não consciente da casa. Temos outras regras lá em casa também, uma delas é não dizer palavrões. Já me perguntaram o que eu digo quando martelo o dedo. Digo: “burro”, porque é isso que tenho que ser para fazer isso, claramente eu não estava prestando atenção no que estava fazendo. Então você vai criando determinados comportamentos e regras e assim você vai mudando. Existem comportamentos que o próprio ambiente diz que estão errados, assim como nós estamos aqui no sesshin e ninguém fica conversando. O mundo é mutável, mas eu não posso impor as minhas regras na casa do vizinho, só posso fazer isso dentro de um ambiente limitado e com pessoas que concordem comigo. Mesmo com os meus filhos, eu não posso impedi-los de fazerem o que querem. As decisões são deles e as consequências também. A liberdade é essencial para podermos ter progresso espiritual. Julgar faz parte do caminho da virtude, faz parte de saber o que é certo e errado, é impossível agir certo o tempo todo, nós só tentamos.
Tive um mestre nos Estados Unidos que me contou que um dia lhe perguntaram: “eu estou lendo aqui como devo praticar, mas não consigo me reconhecer no texto de Dogen. O que o senhor tem a dizer sobre isso?”. E ele respondeu: “nós lemos isso todos os dias e todos os dias fazemos coisas erradas, nós somos seres humanos, nós não conseguimos, podemos apenas tentar”. Todos os nossos votos são impossíveis. Fazemos votos de não matar, mas quantos insetos matamos hoje, pisando? Posso tentar evitar, mas é impossível. Temos sistema imunológico, se eu coloco fungicida na unha eu mato o fungo. Isso faz parte do conjunto da vida, mas há outros pensamentos inclusos nisso tudo, temos a prática, queremos ampliar a nossa mente e queremos não nos manifestar nesse tipo de mundo e sim num mundo melhor. Para isso temos que mudar o nosso carma. (continua)
Monge Genshô: Esse é um problema que às vezes acontece com o budismo. Nós dizemos: sente, faça zazen e não julgue. As pessoas começam a dizer: “fulano roubou a estátua de Buda e levou para casa” e o outro diz: “não julgue”. Não é assim. Ele é ladrão mesmo. Nós temos que pedir a estátua de volta, temos que agir contra o mal. Nós passamos o nosso tempo no mundo tendo que fazer julgamentos, julgamos se um programa de televisão é bom ou ruim para assistir e assim por diante.
Na minha casa tenho regras e uma delas é que lá não se compra nada de carne, mas temos um cachorro e sempre que eu compro a ração eu penso sobre como ela é feita, faço o julgamento, mas compro. Outro dia cheguei e um filho meu tinha passado de visita, comprou mortadela e pôs dentro da geladeira. Quando abri e vi aquilo dei para o cachorro. Quando ele chegou veio procurar a carne e expliquei que dei para o ser não consciente da casa. Temos outras regras lá em casa também, uma delas é não dizer palavrões. Já me perguntaram o que eu digo quando martelo o dedo. Digo: “burro”, porque é isso que tenho que ser para fazer isso, claramente eu não estava prestando atenção no que estava fazendo. Então você vai criando determinados comportamentos e regras e assim você vai mudando. Existem comportamentos que o próprio ambiente diz que estão errados, assim como nós estamos aqui no sesshin e ninguém fica conversando. O mundo é mutável, mas eu não posso impor as minhas regras na casa do vizinho, só posso fazer isso dentro de um ambiente limitado e com pessoas que concordem comigo. Mesmo com os meus filhos, eu não posso impedi-los de fazerem o que querem. As decisões são deles e as consequências também. A liberdade é essencial para podermos ter progresso espiritual. Julgar faz parte do caminho da virtude, faz parte de saber o que é certo e errado, é impossível agir certo o tempo todo, nós só tentamos.
Tive um mestre nos Estados Unidos que me contou que um dia lhe perguntaram: “eu estou lendo aqui como devo praticar, mas não consigo me reconhecer no texto de Dogen. O que o senhor tem a dizer sobre isso?”. E ele respondeu: “nós lemos isso todos os dias e todos os dias fazemos coisas erradas, nós somos seres humanos, nós não conseguimos, podemos apenas tentar”. Todos os nossos votos são impossíveis. Fazemos votos de não matar, mas quantos insetos matamos hoje, pisando? Posso tentar evitar, mas é impossível. Temos sistema imunológico, se eu coloco fungicida na unha eu mato o fungo. Isso faz parte do conjunto da vida, mas há outros pensamentos inclusos nisso tudo, temos a prática, queremos ampliar a nossa mente e queremos não nos manifestar nesse tipo de mundo e sim num mundo melhor. Para isso temos que mudar o nosso carma. (continua)