Já
expliquei algumas vezes as virtudes do discípulo, pois em geral todas as
pessoas que estão praticando são alunos. O aluno senta, ouve,
discorda, tem suas próprias ideias. Com o tempo as ideias podem
mudar, mas ele tem ideias naquele momento e isso é perfeitamente
admissível. No tempo de Buda, as pessoas faziam perguntas capciosas
ou mesmo tentavam debater com ele, e isso é legítimo no Zen, é bem
estruturado e até ritualizado. Existe uma cerimônia em que você
interroga o Mestre com a pergunta mais louca que você imaginar e o
Mestre responde. Chama-se Mondô.
Eu
já fiz essa cerimônia algumas vezes, você vem com a pergunta que
você preparou, faz a pergunta se ajoelha na frente do Mestre que
está em pé com kyosaku na mão, ele responde e bate em seu ombro.
Então você recua de costas agradecendo. O que as pessoas tentam é
colocar o Mestre num beco sem saída, e o Mestre precisa ter
confiança para fazer esse tipo de cerimônia. Ela de certa maneira
repete o que acontece na cerimônia de graduação
do monge noviço, quando ele passa a Zagen, depois de um treinamento.
O Mestre pode pedir para o Monge fazer essa cerimônia. O Monge fica
sentado e diz a todos: “desafiem-me”. Então as pessoas fazem
perguntas sobre o Dharma e ele tem que responder sem hesitar, sem
escapar de alguma maneira fácil, e pode ser contestado, podem dizer
que não gostaram da sua resposta, pedir para que explique-se melhor,
etc. É um combate do Dharma e ele tradicionalmente é feito da forma
em que as pessoas subam de tom até os gritos, e o Monge tem que se
impor. Após essa cerimônia, ele deixa de ser um noviço e continua
praticando até o próximo passo que seria, se o Mestre reconhecer
nele uma realização espiritual, a transmissão.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]