Quando
nós nos sentamos para fazer cerimônia de oryokis, vocês receberam
instruções, então aprenderam as regras. Quando você está
fazendo, você esquece de determinada instrução e: “ah, me
esqueci”, e fica chateado. Alguém até pode olhar e dizer “aha,
errou!”, ambos estão loucos. Alguém pode chegar para mim e dizer:
“Sensei, o senhor não vê que está fazendo errado?”. É como
diz Saikawa Roshi, quando alguém diz: “o senhor não viu que no
ritual fulano fez assim e está fazendo errado”, ele diz: “errado
não, diferente”. Diferente, é o que ele tenta ensinar. Esse
conceito de errado e certo, aplicado sobre essas coisas não tem o
menor sentido. Sim, as regras foram criadas para seguir e fazer o
procedimento de determinada forma para que você fique atento a ela,
mas se você achar que essas formas são o verdadeiro, o certo, alguma coisa
transcendental que os Mestres do passado ensinaram, você está
louco, porque não foi nada disso.
Eu
posso chegar no próximo sesshin e dizer assim: “não vamos mais
fazer isso, vamos fazer assim, diferente”. Pronto, agora o certo é
o novo e o antigo, que era certo, não é mais certo. Isso é
constantemente feito dentro do Zen pelos Mestres e alguns Monges
ficam bravos, porque estão burlando as regras, estão modificando,
mas nada é fixo. Apareceu até um movimento no Japão dos que
queriam retornar à prática exatamente como era no tempo de Dogen,
800 anos atrás, que diziam: “você tem que entrar por aquela porta
assim, e tem que entrar de lá, e não de cá, tem que ser de tal e
tal forma, porque esta era a maneira que Dogen fez”. Só que Dogen
veio da China e trouxe métodos de lá e modificou. Tettsu Gikai
também modificou. No passado mais remoto ainda, lá pelo ano 800,
Pai-Chang, em japonês Hyakujo, mudou as regras para os mosteiros. Se
você ler as regras antigas do tempo de Buda, os Monges não
cozinhavam, era vedado aos Monges fazer qualquer coisa, eles tinham
que mendigar comida pronta. Se a comida não lhe fosse dada, eles não
iriam comer, porque eles não podiam amanhar a terra, cultivar,
plantar, colher, cozinhar, não podiam fazer nada disso. Está lá
nos Sutras no tempo de Buda, no Vinaya, mas quando o budismo chegou
na China e o Zen teve que ir para as montanhas, houve perseguições
e os Monges tiveram que fazer sua comida senão morreriam. Aquela
prática da Índia não era era possível lá.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]