quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tudo como sempre


Pergunta – Se a maioria absoluta dos seres vivem nesse estado de inconsciência, e o estado de consciência, o despertar é tão bom, quem é o responsável por esse estado de ilusão? No filme Matrix, que tinha uma base filosófica grande, haviam as máquinas que eram responsáveis por esse estado, pela ilusão, existia um motivo por trás disso. Entendo a questão do ego, do eu, não entendo quem me boicota, quem não quer que eu desperte e por que, se é o ego, com qual intenção ele me mantem nesse estado de ilusão?

Monge Gensho – Ele é um surgimento natural, na verdade nós somos uma coisa magnífica. De um lado é plena ilusão, de outro é a grande consciência se manifestando, o grande ser se manifestando. De um lado você é onda individual, mas porque é onda e tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, percepção, formação mental, você é como se fosse o olho do universo, você vê e isso é maravilhoso, porque a vida é maravilhosa e você é um fenômeno do universo, fantástico, lindo. Infelizmente esse fenômeno, por ver as coisas, ouvir e perceber, sente-se separado de todo o resto, é só por isso. É como se olho estivesse separado de você e visse, não tivesse o resto do corpo para conduzi-lo e o olho então pensasse, “eu vejo” e perdesse todo o
resto, pois nítidamente ele enxerga e pensa, “eu sou”. Mas esse olho, não consegue ver a si mesmo, o ouvido não ouve a si mesmo, sua mente não vê a si mesma. Você inteiro é como se fosse uma partícula que se pensasse só, isso é uma grande solidão, uma solidão imensa que nós temos, e pensamos que porque estamos sentindo, pensando e vendo, somos só nós, estamos profundamente presos a essa noção e assim perdemos todo o resto.
Os sutras dizem, “a verdade do não nascimento”, nós não podemos deixar de pensar que nascemos, nós sentimos, “eu nasci, eu sou, eu penso, não quero morrer” e assim nos perdemos, porque somos muito mais que isso, nós somos o grande ser e perdemos o grande ser, perdemos tudo na ilusão de um pequeno ser, um pequeno ínfimo ser que se pensa e que se percebe sozinho, esse é o grande drama, o grande despertar é perder-se de si mesmo para mergulhar no grande ser, ser o grande Ser e não uma pequena partícula pensando em si mesma, é difícil de explicar, mas se em algum momento você sentir, mesmo que em um pequeno instante, que você é o grande ser, naquele instante não há nascimento e não há morte, essa fugaz existência que vocês têm, perdidos em prazeres tolos dessa vida, em dores deste pequeno ser, estas pernas e joelhos que doem por ficar tanto tempo parados, esse é o nosso engano, como despertar? Primeiro é necessário abandonar nossa maior ilusão que é nossa mente, uma mente que não para, se essa mente ao menos pudesse parar um instante de conceber, poder sentir tudo, como é parte do grande ser, se nós abandonamos a noção individual, o grande ser pode tomar conta de nós, perceber isso é libertar-se de tudo, é despertar, não é algo extraordinário, fantástico, é tudo como sempre, só que completamente diferente.
(trecho de resposta em palestra de retiro, decupada da gravação por Ápio San)