segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Paciência


Akiba Roshi

Pergunta – Falando um pouco mais sobre compaixão, terminei de ler um livro que se chama Budismo e Ensinamentos Profundos, em que o autor fala muito sobre a paciência. Na minha vida, por exemplo, eu percebo, a esse respeito, que posso falar de uma certa evolução, mas sempre falta mais. Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre a paciência no caminho budista para alcançar, ou para minimizar ou diminuir o sofrimento.

Monge Genshô – Essa questão passa pelos mesmos caminhos de que já falamos. Quem é que se irrita? Quem é este que está irritado? Às vezes, a pessoa não entende a pergunta, mas essa pergunta pretende iluminar a mente. Entenda que é o mero fato de você não aceitar que irrita. Por que nós nos irritaríamos com foguetes e bombinhas? Só porque nós imaginamos que existe uma intenção ou um agente por trás. Porque se fosse um trovão, um acontecimento natural, não tendo um ser humano por trás, não nos sentimos irritados. Irritamo-nos porque imaginamos, porque nossa mente pensa: “tem alguém estourando foguetes”. Constate, está na mente. A mente acredita que existe uma entidade chamada “Atlético” ou “Cruzeiro”. Alguém se comprometeu com isso, e se você examinar como surgiram essas entidades, trata-se de um grupo de pessoas que se reúne, cria uma bandeira, uma cor, entre outras características definidoras de identidade, cria os símbolos, e as mentes olham para tudo aquilo e transformam em um significado. A cruz suástica sempre foi um símbolo magnífico, e em muitas tradições é usada até hoje. Hitler se apropriou dela, inverteu-a, e os acontecimentos da segunda guerra mundial juntamente com o que decorreu das ações do nazismo, transformaram-na em um símbolo de ódio. Somos nós que olhamos e vemos um símbolo de ódio, porque ele em si, nunca foi nada mais que alguns traços. Nossa paciência é alterada pelo que nós acreditamos, apenas por isso. Devemos exercitar em nossa mente a compreensão da raiz de onde surgem as coisas. Por exemplo, na meditação, você se senta, surge um pensamento, o pensamento mobiliza você e você pode se perguntar, “Porque me mobiliza, porque isso me irrita? De onde veio, de onde surgiu?” Você rapidamente irá descobrir que ele surge de algumas raízes como vaidade, orgulho, crença no seu ego, ou seja, de algo em que você acreditou. Se você apagar isso, evitando julgar e considerar, se continuar sentado calmamente, você adquire serenidade. Quando na vida surgem os acontecimentos, você pode, com simples treinamento, ver que eles não têm substância real, que é você que atribui a eles a força de mobilizá-lo. Então, para cultivar a paciência deve-se, em primeiro lugar, praticar a meditação. Naturalmente surge uma mente pacífica, naturalmente surge uma mente paciente. Em absoluto, não é o controle, porque mesmo que o controle tenha a virtude de não provocar carmas, ações e reações, ele não é a solução final, porque sempre vai falhar. Você está sendo arrastado pelo seu carma e diz: “Vou ser paciente, de agora em diante não me irrito mais.” Mas acontece um evento acima de sua capacidade de controle, e você perde a paciência. O correto é que a impaciência não surja, devendo ocorrer somente a compreensão de como as coisas estão se manifestando.