terça-feira, 17 de janeiro de 2012
O rato branco e o preto
Há uma famosa história zen de um homem que caí em um precipício, ele estava sendo perseguido por um tigre. Ao cair ele se agarra à um arbusto que havia na beira,olha para baixo e vê outro tigre.
Percebe, então, dois ratos roendo a raiz do arbusto, um rato preto e outro branco. Ele observa que no arbusto existem umas frutas vermelhas. Então ele segura-se firmemente com uma das mãos, com a outra pega uma das frutinhas e coloca na boca. “Que gostoso” ele diz.
Alguém arrisca me dizer o que representam os ratos preto e branco? O rato branco é o dia, o rato preto a noite. A cada momento, dia e noite, roem a raiz de nossa vida. O arbusto irá se romper e nós vamos cair com ele, lá onde o tigre nos espera. O que nos resta fazer senão comer as frutas doces da vida? Existe a frequente pergunta, “qual o sentido de existir?”, “para que tudo isso?”, a resposta é, “Porque há frutos vermelhos doces para serem saboreados”.
Nós corremos dos sofrimentos, porque fugimos dos sofrimentos, do tigre, caímos em um
precipício. Nos agarramos tenazmente à vida, mas se prestarmos atenção, o dia e a noite, roem as raízes da existência e nós vamos cair, é só uma questão de tempo. Na verdade a vida é doce e bela se soubermos aproveitar o momento.
Percebam, é muito bom estarmos sentados nas cadeiras agora, não é maravilhoso? Sintam essa maravilha, agora os joelhos não doem, como quando sentamos em zazen muito tempo, e podemos nos encostar, não é uma felicidade isso? Então, o sofrimento que nós enxergamos na vida é temporário, impermanente e é construído por nós. Como? Ele é construído como Buda nos ensinou dentro das Quatro Nobres Verdades. Existe uma causa, a causa é nosso apego, é o nos agarrarmos as coisa flutuantes querendo que elas sejam estáveis,nos agarramos ao arbusto querendo que ele seja firme e sólido e nunca caia. Mas isso é impossível, pois não é a natureza da vida, a natureza da vida é ser instável, nada é certo. Para sabermos viver temos que olhar nossos projetos como instáveis, nossos negócios como vendáveis, como falíveis, nossos empregos como passiveis de se perder, nossa saúde como passível de estragar. Se virmos que a vida é toda instável e não sólida, então, não poderemos construir nossa felicidade nos agarrando a estabilidade dela, a fantasia de uma estabilidade.
Temos que considerar todas as coisas como findáveis, amores, pessoas, filhos, casas,
empregos, negócios, empresas, todas as coisas são flutuantes, e a felicidade não está em esperar que elas sejam boas, estáveis e firmes, elas não serão. A vida é um fluxo e um fluxo cheio de coisas boas e ruins acontecendo.
(Trecho de palestra ministrada pelo Monge Genshô para a Sangha de Florianópolis,decupada por Ápio San)