quarta-feira, 21 de abril de 2010
Saber ouvir o Mestre
Monges no entardecer dirigem-se à sala de meditação em Yokoji, durante o angô de 3 meses em 2009/2010.
Trecho de "Orientações para a prática do caminho" de Eihei Dogen, íntegra em http://www.daissen.org.br/hp/index.php?id=&s=textos em "textos" "Dogen".
"A majestade do Budismo aparece conforme é feito ou não o esforço, e difere em função da prática ser ou não orientada por um mestre.
Aqueles que se devotaram durante muito tempo ao estudo dos sutras, bem como os que são versados no conhecimento secular, deveriam visitar um mosteiro Zen. Existem muitos exemplos de quem tenha feito isso. Nangaku Eshi era um homem de muitos talentos, no entanto treinou sob a alçada de Bodhidharma. Yoka Gengaku era o mais excelente dos homens; ainda assim praticou sob a orientação de Daikan Eno. A clarificação do Dharma e a realização do Caminho estão dependentes do poder obtido no treino com mestres Zen.
Quando de visita a um mestre Zen em busca de orientação, ouve o seu ensinamento sem tentar pô-lo de acordo com o teu ponto de vista auto centrado; de outra forma serás incapaz de perceber o que ele está a dizer. Purificando o teu corpo e mente, olhos e ouvidos, escuta simplesmente o seu ensinamento, excluindo qualquer outro pensamento. Unifica o vosso corpo e mente e recebe o ensinamento do mestre como água a ser vertida de um vaso para outro. Se assim fizeres, serás capaz pela primeira vez de entender o seu ensinamento.
No presente, existem algumas pessoas insensatas que se devotam a memorizar algumas palavras e frases dos sutras ou se apegam ao que ouviram anteriormente. Depois, tentam equacionar isso com o ensinamento de um mestre vivo. As suas mentes estão cheias de noções pessoais e das frases antigas. Nunca serão capazes de se tornarem unos com as palavras do seu mestre. Outros ainda, atribuem uma importância primordial ao seu pensamento auto centrado, abrem os sutras e memorizam uma ou duas palavras e imaginam que isso é o Buda Dharma. Mais tarde, quando um mestre Zen iluminado lhes ensina o Dharma, encaram o seu ensinamento como verdadeiro se corresponder às suas próprias opiniões; caso contrário olham-no como falso. Sem saberem como abandonar esta forma errada de pensar, são incapazes de regressar ao verdadeiro Caminho. São dignos de pena, pois permanecerão iludidos por kalpas incontáveis. Que lamentável!
Os praticantes Budistas devem perceber que o Buda Dharma está para além do pensamento, discriminação e imaginação, ou do entendimento, percepção e compreensão intelectual. Se não fosse assim, como se explica que, sendo dotado desde a nascença de todas estas várias faculdades, não tenhas ainda alcançado o Caminho?"
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