segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Angústia


Kanzeon, bodisatva da compaixão, Mosteiro de Yokoji/ 2010.

P: Estou lhe escrevendo apenas nos momentos de angústia e desespero, peço desculpas desde já. O caminho não está sendo fácil, até hoje tudo que eu tinha passado era apenas uma repetição, dia a dia (acordo, medito, vou trabalhar, estudo, medito novamente e durmo), mais hoje foi um dia especial, acabei ultrapassando meu tempo de
meditação, o que me deixou irritada (não sei o motivo), fui trabalhar e a sensação de angústia e medo me tomaram novamente, como se as minhas máscaras tivessem caído e a sensação de não existência foi horrível, como se estivesse entrado num estado de depressão, acho que estou entrando... não estou legal, tem sido muito difícil para mim me ver só, hoje a dor está insuportável. Realmente não sei o que está ocorrendo comigo, peço-lhe auxílio.

R: Na realidade isto mostra um momento de grande oportunidade na prática. Eu o vivi e ele foi tão assustador que parei de meditar durante dois meses.
Quando o relatei a um professor ele disse: - Perdeu grande oportunidade!
Nesta hora você devia descobrir de onde vem este medo!
Na realidade é nosso eu fabricado que tem receio de ser destruído, quer manter suas máscaras, como bem disseste, mas logo ali, após a sua destruição, há uma grande felicidade, uma descoberta de que somos muito mais do que pensáramos. Nesta hora você tem que morrer sinceramente, mergulhar até o fundo, sentar e não levantar como Buda, dizendo que vai vencer esta batalha contra seu maior inimigo, seu próprio eu que quer sobreviver no engano.
Você é a própria unidade, esta é a hora de mergulhar nela, sendo una com ela, em lugar de separada, pequena e solitária. Se for muito difícil, visualize o Buda em pessoa a sua frente e deixe que ele tome com a mão sua mão e a conduza para um lugar puramente luminoso. Lá esta imagem desaparecerá e você apenas se deixe envolver na luminosidade calorosa e plena, onde não há mais nenhuma forma de solidão.