segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A compaixão ilumina a questão do aborto


Kanzeon é a representação da compaixão no budismo, não por acaso tomou a forma feminina na China e Japão. Yokoji, inverno de 2010.

A discussão sobre o tema do aborto, adotou um viés legalista, pior ainda, eleitoreiro, com candidatos mudando de opinião ao sabor das pesquisas, pessoas flexíveis, para quem o poder vale qualquer venda de suas convicções.
Quer-se saber se o aborto é um crime ou não, quer-se definir se o estado deve ou não preocupar-se com as centenas de mortes de mulheres vítimas de complicações ou se devem ser socorridas sem ameaças legais, e elas são simplesmente 1 000 000 a cada ano nesta nação.
Existe uma outra forma de olhar as questões humanas que não é a meramente legal, esta pode levar, como aconteceu recentemente, a obrigar uma mulher com um feto sem cérebro, condenado à morte automática após o nascimento, a arrostar toda a gravidez sabendo o que a esperava na sala de parto, porque a lei a proibiu de interromper a gravidez, já que o aborto era “ilegal”, posto que esta eventualidade não estava prevista nas exceções dos legisladores.
O olhar que pode alterar tudo é o de ver os eventos, não da maneira engessada de um texto legal, mas através da consideração do sofrimento que envolve os participantes, o olhar que o budismo propõe.
Se olharmos através desta ótica veremos que lei alguma poderá abranger todas as nuances do que ocorre com a humanidade, e que os casos apresentados precisam de um intérprete flexível com um olhar para o sofrimento. Visto assim, um juiz, com as melhores informações, poderia decidir se o caso acima era, não um crime, mas uma intervenção destinada a diminuir o sofrimento da mãe e de toda a família que circundava uma tragédia, já de per si intensa. Este intérprete não poderia tardar em seu julgamento, sua decisão é urgentíssima e não se presta ao lento trâmite a que estamos acostumados em nosso judiciário, um rito veloz precisa ser criado.
Quanto a grossa maioria dos abortos, usados como método anticoncepcional tardio, basta olhar de novo pela ótica do sofrimento maior, melhor o acesso livre a anticoncepção que a pílula abortiva, melhor a pílula do dia seguinte que um aborto cirúrgico, melhor o apoio a um nascimento do que o remorso de uma vida inteira com uma voz ao fundo da consciência se perguntando, “como seria o filho que não deixei nascer”?
Para o budismo a questão deve ser: "Qual a maneira de agir que provoca menor sofrimento a todos os envolvidos, todos inclui o ser que deseja nascer, e abrange o tempo infinitamente longo das consequências"

Monge Genshô