segunda-feira, 11 de julho de 2011

A clareza



P: – Eu queria entender um pouco a diferença entre esse estado de iluminação e o estado de adormecimento. Porque para vocês esse estado de iluminação, teoricamente, seria um estágio onde nada ocorre, onde essa mente esteja obliterada, mas...




R: – Eu acredito que essa visão não seja bem correta. Não se trata de uma obliteração da mente em absoluto. Trata-se de um estado em que você tem clareza, ou seja,você pensa, raciocina e age, mas age com clareza. Você vê claramente o resultado de suas ações, porque deve agir de determinada forma e toma decisões com clareza. A diferença da mente iluminada para a mente deludida é a clareza. Quando alguém está iluminado ele sabe o que deve fazer, quando, como e de que maneira, sempre, límpidamente. Mas não significa que não age no mundo, que não fala, que não lhe ocorrem pensamentos, o que ocorre é que ele não é levado de um lado para outro por seus pensamentos. Não é que ele sente e não lhe surgem pensamentos, é que nenhum pensamento o arrasta. Se nós dissermos, sentamos e ficamos com a mente completamente vazia, sem nenhum pensamento, do ponto de vista de Hui Neng, famoso mestre Zen do século sete depois de Cristo, chamaria isso de quietismo e ficaria furioso.



Vou contar uma pequena historia Zen, o zen fica melhor com anedotas e histórias. Um monge chegou num mosteiro de um grande mestre Zen e disse, “O senhor pode me ensinar, pode me aceitar?”. “Pode ser, disse o mestre, o que você já fez?” disse o mestre. “Já treinei muito meditação, vou lhe mostrar”. Sentou-se rapidamente em posiçãode lótus com as pernas cruzadas e entrou em samadhi profundo em segundos. O mestre pegou um bastão e começou a surrá-lo expulsando-o do mosteiro e disse,”Buda de pedra já tenho muitos nesse mosteiro”. Não é isso que é desejável, a libertação não é apagar-se, não é morrer, é outra coisa completamente diversa disso. A libertação tem dentro de si a ação, ação iluminada.