domingo, 1 de setembro de 2013

Incompletude



1) Se a dor, como o Senhor falou, é um caminho para que a gente veja a inexistência do ego, esse vazio não abraçado não faria essa própria dor não existir?

Saikawa Roshi – Mesmo que a dor exista, sua raiz pode ser cortada. Com a aceitação de vida e morte, vida existe e morte também existe. Se você realmente vê isso, pode ir além, poderá ir além da raiz e o sofrimento poderá ser cortado.

2) Essa sensação de incompletude, que parece ser inerente à vida humana, tem como origem nossa visão das coisas de forma dual?

Saikawa Roshi – É muito bom ter este sentimento, pois pode impulsionar sua prática. Nos sentimos incompletos na nossa vida diária e este sentimento é que nos dá energia para praticarmos, mas durante o Zazen você pode ir além de sentir-se completo ou incompleto, você pode ir além da dualidade. Nesse sentido podemos sentir nossa completude praticando zazen. Somos cem por cento iguais a Shakyamuni Buda. Quando ele sentia sede, sentia sede exatamente como nós, sentia fome da mesma forma que nós. A diferença é que ele realmente viu dentro de si mesmo e tornou-se como um espelho vazio, um com todo o universo. Ele foi além da dualidade e pôde aproveitar sua vida. Sofria quando o sofrimento vinha e sorria com a alegria.

3) Se viemos de uma dimensão única e não dual, qual o objetivo de nossa dualidade? Porque temos que passar por essa experiência?

Saikawa Roshi – Não podemos ver os dois lados da moeda ao mesmo tempo. Um lado é não dual, perfeitamente vazio, mas o outro lado é cem por cento dualismo como nossa vida diária. Mesmo neste dualismo da vida diária, nós podemos tentar ver a situação ideal. Nós pensamos quando uma criança nasce, que ela realmente nasceu; mas na verdade a vida é uma continuidade, por isso, na verdade ela não nasceu. “Eu nasci em tal ano” é simplesmente uma expressão. Conforme vamos crescendo as pessoas vão nos ensinando o mundo da dualidade, você é Genshô, esses são seus pais e seus irmãos, esse é um dos lados da moeda. Desta forma, sem perceber a criança vai aprendendo a dualidade. Precisamos aprender a ver o outro lado da moeda através do shikantaza, o zazen. Se você vir o dualismo poderá cortar a raiz de todo sofrimento. Em um lado da moeda estou aqui tentando falar sobre o Dharma para livrar as pessoas do sofrimento. (continua)