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quarta-feira, 23 de maio de 2018

A Continuidade da Vida



Você pode olhar para trás e pensar: “como eu era com 20 anos?”, “eu faria as mesmas coisas que fiz antes com a cabeça de hoje?”, de jeito nenhum, porque você mudou. Sua próxima manifestação vai de alguma forma procurar a família, o país e as condições que repetem aquilo que você já é. Nós vivemos presos num processo de repetição. Não tem porque você ter medo da morte, porque vai acontecer simplesmente a continuação. É muito importante o momento em que você morre, porque ele determina a próxima manifestação, então você tem que estar preparado. O bom mesmo para mim seria morrer no sesshin (retiro), com essa mente, então me manifestaria num mundo propício para continuar essa mente.

Há uma história de um Monge, que não é da nossa escola, mas que era professor de Karatê. Ele perdeu a esposa, voltou para o Japão e se tornou Monge. Voltou para o Brasil, estava em Brasília e de manhã foi tocar o sino do templo. A dinâmica é: toca-se o sino, você faz prostração, dois minutos depois se levanta, toca novamente e faz outra prostração. Enquanto ele fazia uma das prostrações ele morreu e o acharam ali, naquela posição da prostração. O que vocês acham dessa morte? Boa, não é verdade? Então, uma boa morte para vocês.


[Trecho de palestra proferida por Monge Genshô Sensei]

quarta-feira, 14 de março de 2018

A Grande Ilusão




Pergunta: Mas a gente também não dá nome às folhas que caem na floresta, ou às ondas do mar.

Monge Genshô: E por que damos nomes aos homens? Nós não somos nós. Não é você. Se eu pergunto: quem é você, qual é a resposta?

Pergunta: Posso dizer que sou eu?

Monge Genshô: Pode, mas ainda será uma ilusão, porque você construiu esse eu, essa noção de um eu separado. Você construiu, atribuiu um nome a si e diz “eu sou eu”. Na verdade, se retirarmos sua memória, você não saberá mais quem é. Porque você depende da memória para sustentar essa ideia. Então você depende do passado para sustentar a sua noção de eu. Na verdade, todos os nossos eus são sem sentido, assim como seria sem sentido darmos nomes às ondas. Se você desse nomes para ondas ou para as folhas, não seria porque a folha chama Joana que você iria chorar quando ela caísse no chão.

Pergunta: Mas a gente precisa se alimentar, trabalhar, etc., como o senhor falou, e tudo isso gera um sentido de que tudo é tão concreto e real.

Monge Genshô: Tudo é tão nítido que você sofre por ele. Por isso a maior ilusão é a nossa crença num eu pessoal. Essa é a sua maior falha. Você acredita em você e por isso você vai morrer. O eu não vai sobreviver a uma morte. Se não sobrevive a uma amnésia, vai sobreviver ao apodrecimento de seu cérebro? Vai sobreviver aos vermes saindo pelos seus olhos?

segunda-feira, 12 de março de 2018

Nascer e Morrer




Pergunta: O senhor poderia falar sobre morte e renascimento? Bodhisattva eu imagino como um ser que atinge a iluminação, mas que continua aqui para ajudar, então fiquei com isso na cabeça.

Monge Genshô: Mas isso não significa que ele não morre; significa que ele retorna para isto, para ajudar. Morte e nascimento, em última análise, não existem. É o que está escrito no Sutra do Coração, eles são eventos para os seres. Você nasce e morre, mas a sua verdadeira natureza não é nascer e morrer, é muito mais do que isso.

É muito fácil de entender quando fazemos símiles. Por exemplo, quando você olha para uma floresta e vê as folhas caindo e morrendo, você acha triste? Ou acha a floresta linda? Com um tronco caído no chão, com cogumelos nascendo, com orquídeas, etc. A floresta é toda essa obra de nascimento e morte e é linda. Ninguém chora as folhas que caem, porque você sabe que tem folhas novas nascendo.

Nós olhamos para o nascimento e morte dos seres humanos com sofrimento, porque não olhamos a humanidade como olhamos uma floresta, não olhamos a humanidade como olhamos as ondas do mar que morrem na beira da praia - nunca vimos ninguém chorando as ondas que morrem.