segunda-feira, 16 de junho de 2014

Compaixão e amor


(Sangha zen de Concórdia assiste palestra em vídeo)
(continuação)
Pergunta – O senhor disse que devemos ter compaixão pelo próximo, como é a visão do amor dentro do budismo?

Eu não gosto da palavra “próximo” porque parece que ele está mais próxima de mim, e você está mais distante. Mas na realidade não é o próximo, a nossa compaixão tem que ser por todos “os seres”. A nossa compaixão nasce do fato de você perceber que você não é você sozinho. Enquanto você acreditar em você sozinho, é natural que o sofrimento do outro seja só o sofrimento do outro, afinal, não precisa se importar.

Qual é a nossa noção de festa há milhões de anos? É pegar um outro ser, matar, estraçalhar, colocar os pedaços na fogueira, colocar em cima da mesa e comer dando risada. Não é assim? Essa é a nossa noção sobre os outros seres, é ou não é?

Pergunta – Se não há o eu não há o outro e então não há fronteiras?

Isso, se não há o eu não há o outro. Se não há eu e não há o outro, então a dor do outro dói em mim. Isso é que é compadecer-se. Quando você tem pena da dor do outro, é só isso, pena, não é compaixão.
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Bem, eu espero que vocês tenham um quadro do budismo  espero que aproveitem. Nós não fazemos nenhum esforço especial para que pessoas venham praticar, até porque a prática do Zen é tão chata. Normalmente a gente senta as pessoas de frente para parede, e mandamos elas ficarem imóveis e quietas, sem pensar no passado e futuro. Se vocês quiserem experimentar, podem, mas, o Zen por tradição não é proselitista, e a tradição é dizer: “vocês estariam melhor em outro lugar”. E essa destruição toda das crenças costuma fazer as pessoas se sentirem soltas no espaço, mas  na verdade, esse é o primeiro passo. Porque eu gostei do Zen? Porque  eu não aguentava mais acreditar. Então quando escutei um Monge Zen falar pela primeira vez, eu tive a sensação: “ até que enfim não estão me enrolando”. E então eu comecei a praticar e ao longo desses 40 anos eu fui me aprofundando devagar, e, em 2001, eu já estava suficientemente louco para virar monge. Isso acontece. Mas também não é muito comum, então não precisam ter medo.
(Fim)