quinta-feira, 26 de junho de 2014

Identidades


Pergunta – Me remetendo à uma pergunta anterior, de que quanto menos identidades tivermos menos sofrimento teremos e, com essa nossa busca por essas identidades e crescimento, como alcançar essas identidades não em um sentido literal,  mas com um outro significado?

Monge Genshô - Nós precisamos dessas identidades para transitar no mundo, então você precisa ter identidade. Veja, eu ponho as roupas de monge e venho aqui falar pra vocês com as roupas de monge, eu uso a identidade “Monge Genshô”, meu mestre me deu esse nome. Fazem 14 anos que eu tenho esse nome, mas essa identidade é uma utilidade que eu estou usando aqui. Se eu chegar em casa, tiro as roupas de Monge,  penduro no cabide e digo: “ah, eu estou lá”, não, eu não estou lá, é só um cabide. São só as roupas de monge que estão lá, aqui há um homem nu que vai tomar banho.

Então, eu chego em outro lugar e sou consultor. Aí dizem: “qual o seu nome”? Eu sou o Chalegre, consultor. O Chalegre, eventualmente usa gravata, terno, é outra identidade. Quem sou eu? Nenhum dos dois. Essas são fantasias que eu estou usando para entrar nesse baile à fantasia.

Aluno – na verdade então, o que traz essa raiva, esse sofrimento, é o apego que se tem a essas identidades?

Monge Genshô - Exato. Se você insultar o Monge Genshô, eu posso chegar em casa e dizer: “ah, fui insultado”, o monge foi insultado, posso tirar as roupas e pendurar no cabide e colocar a roupa do Chalegre e dizer: “poxa monge, foi insultado hein”? Isso seria lucidez. Se eu me identificar com a roupa e o nome, aí eu sofro. Se eu não me identificar e usá-los, aí eles são uma utilidade. É diferente. Deu pra entender melhor?

Pergunta – No zazen nós temos que pensar em quê?

Monge Genshô - Quem realmente está atento? Quem é esse que está atento? Você senta em zazen junto com todos os seres, a grande terra, os pássaros, cães, formigas, todos estão sentados junto com você, você é o centro do universo, o universo gira e você está ali, imóvel. Se é assim, você está atento a quê? Quem está atento, se você e tudo são uma coisa só? Deixe a atenção fora. Você começa com a atenção, mas tem um momento em que você tem que estar além de estar atento, além de percepção e não percepção, mas essa já é uma resposta mais difícil.