Pergunta:
Ouvindo suas palavras me veio à mente
uma analogia. É como se pegássemos um livro da Agatha Christie com 30 ou 40
personagens e de repente chega um personagem que diz: “não tem essa história de
crime, nós todos somos personagens de um livro e saímos todos da cabeça dessa
autora, somos todos uma coisa só”. Óbvio que a analogia tem um limite, mas
entra algum conceito desse tipo quando se diz que tudo é uma coisa só? A ideia
de haver algo maior e que quando tudo se dissolve surge algo, como uma mente
búdica?
Monge Genshô: Não
é bem isto. Na verdade nós somos diferentes, temos características, temos
personalidades e estamos aqui nos manifestando no mundo com essas ego-entidades.
O que o ensinamento de Buda quer dizer é: tudo bem, os redemoinhos que aparecem
na natureza estão ali de fato, eles existem, mas eles, assim que desaparecem,
são só atmosfera. O que realmente existe é a atmosfera. Redemoinhos são movimentos
cármicos, por conta desses movimentos você tem impulsos e isso se manifesta
como a ilusão de um eu, que é como o eixo do redemoinho. Tudo gira em volta do
eixo do redemoinho, mas é real esse eixo? Não, ele é só função do redemoinho.
Nessa analogia o carma é o movimento que faz girar, que levanta poeira e que
faz aparecer o redemoinho. Nós olhamos e dizemos: “aí estou eu”, mas na verdade
essa entidade é puramente ilusória, puramente temporária, evanescente, produto
de causas e condições, mas não é algo independente em si. O difícil é nós enxergarmos isso, esta interdependência,
em nós mesmos. (continua)