Pergunta:
Sobre essa questão da doença tem um livro tibetano que diz que há causas do
condicionamento humano, geralmente genéticas, que te fazem ter um bebezinho com
problemas, por exemplo, mas a forma como
você trata a doença é relevante, porque
tem gente que continua no mesmo padrão e não muda, enquanto há pessoas que
tratam doenças com o intuito de continuar ativas mais tempo para cuidar de
outras pessoas. A ponto de que esse cuidado da saúde seja capaz de mudar uma
manifestação nova, isso procede?
Monge
Genshô: Isso tudo é lógico, e, portanto, raciocinemos em termos
lógicos. Se você tem uma existência humana, ela é preciosa. Se você transforma
isso em algo precioso também para os outros, auxiliando e ajudando a diminuir o
sofrimento no mundo você criou carma, você vai todo o tempo criando carma e
inclinações que vão mudando o próprio rumo da sua vida. Nesse caso, quando você
cuida da sua saúde e tem o propósito de ter uma vida útil, isso muda seu carma.
No zen nós temos o costume
de comer comida vegetariana nos retiros. Alguns Monges levam essa prática
também para a vida, outros não. Quando eu nasci, por exemplo, já nasci numa
família vegetariana, então minha família está comemorando 100 anos de
vegetarianismo contínuo. Semana passada eu fui ao médico e quando contei que
era vegetariano e que não ia ao médico desde 2008, ele pediu uma bateria
completa de exames. Fiz e quando peguei os resultados junto à minha esposa
ficamos rindo, porque eram números de jovens de 30 anos. Quando levei o exame
ao médico, ele se surpreendeu e a sensação era de diversão.
Quando eu tinha 40 anos, fiz
um check-up completo para uma empresa e me chamaram para conversar, porque foi
a primeira vez que tinham um executivo nessa idade sem nenhuma restrição nos
exames, então me perguntaram o que é que eu fazia. De um lado existe a questão
do carma, porque nasci nessa família, mas também tive a escolha de continuar
esse comportamento.
Então o carma pode tanto
continuar como alterar, ou seja, pode ser que seu comportamento altere heranças da
própria família. No momento estou me lembrando, sei onde estou, então o
Alzheimer ainda não se manifestou, mas se manifestar, espero que se manifeste
e ao mesmo tempo eu não tenha medo das pessoas, porque as enxergo como amigas,
que eu não perca a noção de que sou muito feliz e que minha vida é muito boa.
Esses são privilégios da vida de um Monge. Agora você vai vivendo, vai agindo
no mundo e as coisas mudam outras vidas, retornando de outras formas.