É
difícil demais enxergar e superar nossa prisão, porque nós estamos na situação da rã no
poço: ela nasceu num poço. Quando ela olha para cima, vê um
pequeno círculo de luz no céu, as paredes do poço e aquela água
no fundo. A rã está lá, um pássaro vem e ela conversa com ele. O
pássaro diz que há um mundo imenso lá fora e ela diz que não pode
ser, que o universo é aquele cilindro de pedras que ela conhece,
com aquela poça no fundo. Não pode existir alguma coisa maior e nem um
céu maior do que aquele círculo que ela vê lá em cima, nem mais
alimento, nem mais insetos que caem no poço todos os dias. À rã tudo é
tão suficiente, tão pleno, mas para o pássaro não. Para o pássaro
existe o oceano, florestas, luz, milhares de poços, muitos seres lá
fora. Ele viu. A rã nunca viu, e ela acha que tudo é aquilo que ela
já tem.
Nós não somos diferentes da rã, pois nós olhamos para nós
mesmos e pensamos: o universo é isso tudo que esta embaixo da minha
pele. Eu sou estes pensamentos, este corpo, estes sentimentos, eu sou
isto. Você senta-se em zazen e vê isto, o seu poço, a sua cela. O Zen
é um convite para que você abandone a cela, é um convite à rã
para que pegue uma carona com o pássaro e voe lá fora, e veja o
mundo de forma completamente diversa. Mas para isso é necessário
abandonar nossa identidade, que é a nossa cela, que é esse acreditar
em si mesmo, em “minhas opiniões”, “meu eu”, “minha vida”,
“minhas doenças”, “meu corpo” - tudo isso é o
aprisionamento, a cela, a limitação, não tem nada a ver com o
infinito, com universo. No entanto, é possível para a rã pegar
carona com o pássaro, está disponível, ela só precisa ter coragem
para isso.
[Trecho de Palestra proferida por Monge Genshô Sensei]
[Trecho de Palestra proferida por Monge Genshô Sensei]