quarta-feira, 20 de junho de 2018

Budismo e a Pacificação da Sociedade



Se nós olharmos historicamente há também um outro fenômeno, que é o de expulsão do budismo em vários países. Isso começou na Índia e hoje quase não temos budismo lá, embora o Advaita Vedanta seja tão parecido que é chamado de cripto-budismo. 

Na China o budismo foi exterminado e três vezes ressurgiu das cinzas. No Tibete ele está sendo exterminado hoje. Isso ocorre porque as sociedades budistas são pacíficas e incapazes de enfrentar inimigos agressivos e externos. O Japão tornou-se um país agressivo no final do século XIX, até o fim da Segunda Guerra Mundial, por conta de uma tentativa também de destruição do budismo em favor do xintoísmo, que era religião nacional.

O budismo foi visto como um inimigo do estado e o xintoísmo foi elevado à categoria de religião oficial, a ponto de o budismo tornar-se uma religião estrangeira que deveria ser erradicada. Há textos propondo essa erradicação do budismo no Japão.

Houve uma tentativa, que foi um tiro que saiu pela culatra: na tentativa de desmoralizar o budismo, foi ordenado que todos os Monges se casassem, para que isso os desmoralizasse perante o povo. Então os Monges Zen hoje são casados, e a tentativa de desmoralização fracassou, rompendo uma tradição de mais de 2 mil anos, que era de ter Monges celibatários. Essa abertura, ao contrário do que se pretendia, acabou facilitando a difusão do budismo.



Vejam que mesmo no Japão houve essa tentativa, mas depois de séculos de forte influência budista a sociedade japonesa se transformou, e hoje nós vemos os bons frutos disso. Claro que não é uma sociedade perfeita - nenhuma delas é -, mas há muitos lados que podemos admirar. Então a essência do que eu falei nessa palestra é: a transformação no mundo é possível, nós não estamos cegos para isso, mas ela inicia-se dentro das pessoas e não do lado de fora. Ela não pode ser imposta e sim tem que surgir dentro da própria cultura, dentro dos nossos mitos e valores, e isso faz parte do trabalho budista.

[Trecho de Palestra proferida por Monge Genshô Sensei]