Se nós olharmos historicamente há também um outro fenômeno, que é o de expulsão do budismo em vários países.
Isso começou na Índia e hoje quase não temos budismo lá, embora o Advaita
Vedanta seja tão parecido que é chamado de cripto-budismo.
Na China o budismo
foi exterminado e três vezes ressurgiu das cinzas. No Tibete ele está sendo
exterminado hoje. Isso ocorre porque as sociedades budistas são pacíficas e incapazes de
enfrentar inimigos agressivos e externos. O Japão tornou-se um país agressivo
no final do século XIX, até o fim da Segunda Guerra Mundial, por conta de uma
tentativa também de destruição do budismo em favor do xintoísmo, que era religião
nacional.
O budismo foi visto como
um inimigo do estado e o xintoísmo foi elevado à categoria de religião oficial,
a ponto de o budismo tornar-se uma religião estrangeira que deveria ser
erradicada. Há textos propondo essa erradicação do budismo no Japão.
Houve uma tentativa, que foi um tiro
que saiu pela culatra: na tentativa de desmoralizar o budismo, foi ordenado que
todos os Monges se casassem, para que isso os desmoralizasse perante o povo.
Então os Monges Zen hoje são casados, e a tentativa de desmoralização fracassou,
rompendo uma tradição de mais de 2 mil anos, que era de ter Monges celibatários. Essa abertura, ao contrário do que se pretendia, acabou facilitando a difusão do budismo.
Vejam que mesmo no Japão houve essa
tentativa, mas depois de séculos de forte influência budista a sociedade
japonesa se transformou, e hoje nós vemos os bons frutos disso. Claro que não é
uma sociedade perfeita - nenhuma delas é -, mas há muitos lados que podemos
admirar. Então a essência do que eu falei nessa palestra é: a transformação no
mundo é possível, nós não estamos cegos para isso, mas ela inicia-se dentro das
pessoas e não do lado de fora. Ela não pode ser imposta e sim tem que surgir
dentro da própria cultura, dentro dos nossos mitos e valores, e isso faz parte
do trabalho budista.
[Trecho de Palestra proferida por Monge Genshô Sensei]