sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As bolhas que dizem "eu sou"


Quando surge um universo, dentro dele há naturais irregularidades,essas irregularidades acabam provocando fenômenos, por sua vez esses fenômenos num crescendo de complexidade fazem surgir vidas, essas vidas quando atingem consciência, dizem a si mesmas, “eu sou”. Mas o que são os fenômenos? Um bom exemplo é o que são bolhas dentro de uma garrafa. Dentro de uma garrafa de champanhe, por exemplo,há gás carbônico dissolvido no líquido, quando diminuímos a pressão tirando a rolha, formam-se bolhas, essas bolhas surgem, expandem e formam espuma, mas as bolhas em si, quando nós as olhamos, são fenômenos, mas são vazios de um eu. Esse conceito, vazio de um eu é muito importante. Vamos examinar o que é a bolha. A bolha é gás carbônico dentro da água,nós a olhamos e ela tem superfície, é como se tivesse um invólucro, é como se ela fosse algo, no entanto ela é nada mais que um fenômeno provocado pela interação entre o gás expandido dentro do líquido, que tem uma forma, surge, cresce e desaparece, deixa de existir como fenômeno.
Podemos imaginar que uma bolha pense, “eu sou independente das outras bolhas,
sou separado, sou algo, eu existo”. Mas ela é interdependente, interconectada com todo o gás e todo líquido. Ela é dependente das outras coisas para existir. Nós também somos assim, nós somos fenômenos, somos forma extremamente mais complexas do que uma bolha numa garrafa de champanhe, mas somos fenômenos no universo, dizemos a nós mesmos, “eu sou”.
O que o budismo essencialmente ensina é que isso é uma ilusão, não poderíamos dizer “eu sou”, porque todos os fenômenos no universo são vazios de um eu, não tem um eu inerente,esse eu que acreditamos tão sólido e nítido é uma ilusão proporcionado pelo funcionamentoda nossa mente, assim como existe um funcionamento do gás com o líquido na garrafa, que faz com que a bolha pareça ter uma existência, nós, por pensarmos, termos memoria,conceituarmos, percebermos, sentirmos, termos formações mentais e consciência,acreditamos que temos um eu. Esse “eu” é essencialmente ilusório. Se não escaparmos desse “eu” ilusório não conseguiremos perceber nossa verdadeira natureza nem nos integrarmos ao universo como um todo, ficamos pensando como nós mesmos separados. Essa ilusão, ignorância fundamental, provoca uma coisa nessa consciência que faz com que ela continue se manifestando repetidas vezes como fenômeno, com as mesmas características e impulsos, conservando-os e congelando-os nas suas existências. Por isso dizemos que existe um renascimento uma “re-manifestação” cármica no universo. Mas essa “re-manifestação” nada mais é do que a permanência da ignorância. Permanência da ignorância da existência de um “eu”. Essa ignorância é que faz com que surja o nascimento e todas suas consequências,
velhice, doença, sofrimento e morte.

Trecho de palestra de Monge Genshô, decupada por Ápio San.