sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Estudar ou praticar, os dois evidentemente.

             Principiantes praticando meditação, Sanghas de Londrina e Maringá

Pergunta: Suponhamos que a pessoa deseje aprofundar-se na prática. Além de sentar, o que mais pode ser feito? Me lembro de quando comecei a frequentar a Sangha e o Senhor dizia que ao ler muito corria-se o risco de ficar muito teórico, qual é uma boa opção para quem deseje aprofundar-se?

Monge Genshô – O melhor sem dúvidas é trilhar o caminho do meio.

Aluno - Mas para mim não ficou muito claro se devo ou não seguir algumas leituras, ou nenhuma, ou as descobertas vem com a experiência de sentar.

Monge Genshô – Você deve estudar, mas não deve pensar que no zen o estudo é todo o caminho. É um auxiliar muito interessante, pois quanto mais você ouve e entende o Dharma, melhor fica, mas se você estudar demais e se focar muito na teoria e suas múltiplas escolas filosóficas dentro do Budismo, acabará se perdendo em discussões sem sentido com seus colegas sobre as várias opiniões dos mais variados mestres. Esse é um erro, eu prefiro a pessoa que só senta e pratica mas é evidente que o melhor é o equilíbrio entre estudo e prática.

É possível atingir a iluminação sendo um ignorante sobre as teorias Budistas, desde que se sente para praticar. O contrário não ocorre, um erudito que não use uma prática não atingirá a iluminação.

Existem histórias de Mestres inteligentes e cultos que levaram muito tempo para se iluminar, pois eram muito instruídos, era muita coisa dentro da cabeça para pensar. No “Tripitaka”, que são as escrituras básicas do Budismo, o que se chama “Abhidharma”, são comentários muito complexos de Mestres Budistas sobre os Sutras e uma vez comentando com Saikawa Roshi sobre isso, ele me dizia que desgostava o Abhidharma, justamente pelo motivo de que leva as pessoas a discussões muito filosóficas.

Um aluno uma vez disse que deveria haver uma inteligência subjacente no universo, porque tudo é tão complexo. Realmente tudo é muito complexo, parece que a matéria inorgânica tende a se organizar na forma de vida, tanto que existem extremófilos, que são formas de vida que sobrevivem e até mesmo parece que necessitam de condições geoquímicas extremas, normalmente prejudiciais às demais formas de vida. Dos bilhões e bilhões de formas de vida que surgiram na Terra, apenas uma formou uma civilização. Se você afirmar que existe uma inteligência por trás disso terá que aceitar que esta mesma inteligência criou o mosquito da dengue, vírus da AIDS, etc., uma inteligência um tanto estranha.

O surgimento da vida parece aleatório e experimental em que algumas formas sobrevivem e outras não. Qual a utilidade de você saber e raciocinar sobre isso? Nenhuma. Se você pensa muito, não consegue enxergar a simplicidade das coisas. Existe um princípio chamado “Navalha de Ockham”, do filosofo e frade inglês Willian Ockham, que diz basicamente que as explicações mais simples provavelmente são as verdadeiras. No nosso mundo, as pessoas querem sempre explicações mais complexas e complicadas. O que é mais provável na morte de John Lennon? Um fã perturbado pela manhã lhe pediu um autógrafo e a tarde o matou com três tiros, isso é o mais provável, ou seja, esquizofrenia. O menos provável é que ele foi assassinado porque um ser lá em cima no céu estava indignado, pois ele havia dito que os Beatles eram mais importantes que Jesus Cristo ou uma religião qualquer.

Eu posso dizer que a matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distancias, e é por isso que vocês estão sentados nos bancos, porque são atraídos pela massa do centro da Terra. A explicação menos provável é que existam anjos com fios prendendo vocês e os puxando para o centro da Terra habitado por seres incríveis etc. Algumas pessoas procuram o Zen por causa de coisas maravilhosas e espetaculares, no Zen não há nada sobrenatural, é tudo muito simples, nada é especial. O Zen é o local para quem não deseja ilusões.