quinta-feira, 6 de março de 2014

Iluminação é despertar de um sonho


Kodo Sawaki Roshi disse que “o pior vício do ser humano é o desejo de fama”. Poder, coisas que nem são materiais, mas pelas quais os homens estão dispostos a fazer tudo. Para conservar o poder ditadores podem jogar fora o dinheiro que acumularam ou roubaram de seus povos, matar pessoas, mandar bombardear, fazer qualquer coisa. Esse desejo de poder e fama é um desejo terrível. Às vezes nos perdemos com desejos de coisas e ficamos infelizes atrás de uma casa nova, um carro qualquer coisa. Esse “estar perdido” é frequente quando olhamos as crianças pequenas que ainda não aprenderam a esperar, se você disser – Não, agora não, chocolate agora não, depois do almoço, daqui a vinte minutos, depois que você comer, eu lhe dou essa barra de chocolate – então eles começam a chorar desesperados, muito infelizes pois eles querem o chocolate agora, não conseguem esperar um instante. Isso é uma falta de clareza da percepção de como o tempo transcorre.

Mas nós adultos também nos perdemos, não vemos a vida com clareza porque não percebemos que a morte ilumina a vida. Se nós colocássemos as coisas numa perspectiva de que vou morrer em uma semana – O que é relevante agora, o que eu realmente faria, o que seria importante? – Aí as coisas ganhariam um significado diferente. Nós vemos que pessoas que passam por experiências mais radicais de vida, ou o anúncio de uma doença grave, podem passar a ver a vida com mais clareza depois, porque ela se esvazia das coisas minúsculas, das coisas que não tinham importância. Quando as pessoas estão no leito de morte perdoam todo mundo, é freqüente estar lá e não ter mais importância a briga que eu tive com meu irmão por causa de um terreno ou de uma herança, não tem mais importância, porque o que eu quero morrendo, é me reconciliar com meu irmão. É comum ouvir um médico dizer que ele vê no leito de morte as pessoas se importarem com isso, com as reconciliações e não mais com as coisas, porque eles não levarão as coisas, é claro que haverão aqueles que estão morrendo e pensarão que vão levar e ficam desesperados de como fazer para levar as suas coisas.

Li um conto uma vez de um homem que era muito rico e pediu para ser jogado no mar, então ele mesmo preparou seu caixão. Ninguém sabia o que ele havia feito da sua fortuna. E no conto eles decifram o que ele fez. Pegou todo seu dinheiro e comprou e platina, que é mais caro que ouro, e fez seu caixão de platina. Sem que ninguém soubesse do que era feito o caixão ele foi jogado ao mar com todo seu dinheiro. Isso pode acontecer. Mas isso conduz a um renascimento com o mesmo tipo de angústia, mas sem a platina. Vai ter que acumular e procurar de novo e pode repetir isso mil vidas sem nunca se libertar. Então o que é acordar? O que é iluminação? A iluminação é despertar de um sonho. Nós estamos mergulhados em um sonho, o sonho de nossa identidade. Eu acho que sou eu, eu estou me importando com as coisas do “eu” aqui e agora. Não estou enxergando a unidade de todas as coisas, a interconexão, o fato de que todas as coisas e eu somos um e, como não enxergo isso, então estou sonhando e esse sonho do “eu” que tanto amamos, da nossa identidade pessoal, é nossa perdição. Por isso que quando Buda se ilumina ele diz para o vulto dele mesmo “tu não me enganas mais!” porque quem nos engana somos nós.