Monge Genshô – Não. Na realidade, é uma
maneira de você ser aquilo que está fazendo. É outra maneira de estar no
presente. Eu sou a própria recitação, a recitação do conjunto das outras
pessoas que estão recitando junto comigo. Eu sou aquele conjunto. Então, sendo
o conjunto, você abdicou de si. A música tem muito disso: quando você toca numa
orquestra, quando você canta num coral, existe essa sensação de conjunto, de
estar fazendo tudo junto.
Aqui nós teremos uma coisa parecida
hoje, quando formos fazer samu. Depois do almoço trabalhamos todos juntos, todo
mundo faz um pouquinho, e nós vamos fazer uma porção de coisas para a
comunidade, para o local onde nós estamos. Nós estamos trabalhando juntos, em
conjunto. Esse “estar juntos” fazendo uma coisa que não sou só eu, diminui essa
percepção de individualidade e nos dá a noção de conjunto. É outra forma de
praticar.
A palavra “transe” aqui está sendo usada
no sentido técnico, não é algo místico, é só um fenômeno cerebral. É um
fenômeno cerebral que você usa para estar no momento presente, para abdicar
dessas cogitações sobre passado e futuro, ficando só no presente. É uma técnica
de treinamento, não é mais do que isso. Não é que o texto seja sagrado e
produza efeitos miraculosos. Não, não é isso. Os efeitos são conseguidos
através da própria técnica. A técnica é testada há mais de dois milênios, então
está bem funcional, foram sendo introduzidas coisas com o tempo, marcações de
ritmo que ajudam. Isso foram aperfeiçoamentos. Essas técnicas se consolidaram
como válidas, não foram abandonadas.