sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Fique no Presente



Aluno – Os rituais, o transe, é zazen também?

Monge Genshô – Não. Na realidade, é uma maneira de você ser aquilo que está fazendo. É outra maneira de estar no presente. Eu sou a própria recitação, a recitação do conjunto das outras pessoas que estão recitando junto comigo. Eu sou aquele conjunto. Então, sendo o conjunto, você abdicou de si. A música tem muito disso: quando você toca numa orquestra, quando você canta num coral, existe essa sensação de conjunto, de estar fazendo tudo junto.

Aqui nós teremos uma coisa parecida hoje, quando formos fazer samu. Depois do almoço trabalhamos todos juntos, todo mundo faz um pouquinho, e nós vamos fazer uma porção de coisas para a comunidade, para o local onde nós estamos. Nós estamos trabalhando juntos, em conjunto. Esse “estar juntos” fazendo uma coisa que não sou só eu, diminui essa percepção de individualidade e nos dá a noção de conjunto. É outra forma de praticar.

A palavra “transe” aqui está sendo usada no sentido técnico, não é algo místico, é só um fenômeno cerebral. É um fenômeno cerebral que você usa para estar no momento presente, para abdicar dessas cogitações sobre passado e futuro, ficando só no presente. É uma técnica de treinamento, não é mais do que isso. Não é que o texto seja sagrado e produza efeitos miraculosos. Não, não é isso. Os efeitos são conseguidos através da própria técnica. A técnica é testada há mais de dois milênios, então está bem funcional, foram sendo introduzidas coisas com o tempo, marcações de ritmo que ajudam. Isso foram aperfeiçoamentos. Essas técnicas se consolidaram como válidas, não foram abandonadas.