Monge Genshô:
Há muitos degraus de compreensão, mas depois que você ouve a música, aquela
música você não esquece mais. Vamos dizer que você ouviu uma melodia simples,
mas ainda é incapaz de ouvir uma música mais complexa. Eu me lembro que quando
eu era jovem e tocava violino, um dia eu comprei o concerto em ré maior de Beethoven
para violino e orquestra. Botei no disco, a música tocou e eu não entendi. Me
pareceu só que eram muitos sons, muitas notas, mas eu não compreendi. É a mesma
música que eu ouço hoje, começa com percussão e é um concerto fabuloso. Hoje eu
ouço e penso: “como é que eu não consegui ouvir naquela época?”, mas é assim
mesmo. Só que depois que você ouve mesmo, de verdade, sempre escutará. É como
mostrar um desenho em duas dimensões para um índio que jamais viu isso. Ele
olha e só vê riscos, não vê o desenho, depois de algum tempo é que consegue
traduzir para três dimensões essas duas dimensões. Funciona assim para muitas
coisas que fazemos hoje ainda e é a mesma coisa que acontece com a compreensão
espiritual. A compreensão espiritual precisa acontecer em saltos, se ela não
ocorreu, ela é incompreensível, é cega e é intraduzível, você não consegue
explicar. (Continua)