Aluno: O zen budismo é considerado uma
prática religiosa?
Monge: Depende por quem, porque a palavra religião não
se enquadra bem para descrever o budismo. Porque religião é uma palavra latina,
que vem de "ligar o que está desconectado", religare,
"ligar o que está separado", então o homem de um deus. O budismo
descarta a existência de um deus criador, ou que está lá em cima, ou a quem
você vai pedir alguma coisa. Então, chamar o budismo de religião… É um
problema. Em japonês nós chamamos de "buda kyo": o ensinamento de
buda. Agora, do outro lado, quando você olha o budismo, instrumentos, leituras,
roupas de monge, hierarquia, escolas formais, treinamento de forma, preceitos,
recitações, todos esses são aspectos religiosos. O budismo tem uma definição
que eu acho interessante, do Edward Conze: "o budismo é um pragmatismo
dialético, feito através do raciocínio, de métodos psicológicos". Porque
tudo que você usa é método para atingir alguma coisa. Mesmo os rituais, são
todos montados com intenções precisas, não são sagrados. E qualquer professor
pode mudá-los à vontade, como fazemos. Hoje o Lucas disse "não tem
incenso", "ah, não tem importância, vamos fazer sem incenso".
Não tem importância. Porque o incenso foi criado como uma forma tradicional de
ofertar um aroma, que cria uma memória, tem memória afetiva. A pessoa sente o
incenso e parece que naquele lugar tem um ambiente que ele está repetindo, não
é? Nós estamos usando esses fenômenos, mas não estamos fazendo mais nada que
usar o fenômeno. Sentar também. Nós estamos usando um método, que é muito útil.
Aí tudo que nós usamos tem propósitos assim. Até o monge, o monge fala, uso o
manto, que remonta aos tempos de Buda. Por quê? Porque isso cria uma relação
com as pessoas que estão olhando. Se eu sentasse aqui vestido com um short e
uma camiseta esportiva, teria menos força. Então as roupas de monge, os
símbolos, ajudam, porque todos nós temos esses arquétipos, que nos ajudam.