[Nota da Edição: trata-se de palestra ministrada pelo Rev. Meihô Genshô Oshô que foi dividida em oito postagens. Esta é a primeira delas]
Minha atenção foi chamada por uma pergunta de um aluno. Através de sua pergunta, ficou nítido que se sabe pouco sobre a originação dependente.
A originação é uma construção filosófica budista
muito diferente das nossas concepções tradicionais ocidentais sobre a
existência das coisas. O primeiro assunto que se deve entender é a questão fundamental de que o budismo é um
rompimento com certos conceitos anteriores do hinduísmo. O hinduísmo
tinha, em primeiro lugar, o conceito da existência de deuses. E mesmo de um deus
que, de certa forma, era um deus criador, porque o mundo era decorrência da sua
própria respiração, da respiração de Brahma.
O
outro conceito fundamental, e que está profundamente impregnado em nossa
concepção de mundo, é o conceito de que existe algo dentro de nós que é independente
do corpo. Em sânscrito isso é chamado de atman: é tecnicamente o que Platão chamou
de alma, e que o cristianismo adotou firmemente, contrapondo-se ao judaísmo, que
não o tem, e que praticamente todas as religiões adotaram. Tal conceito está tão entranhado
que quando eu pego livros, por vezes escritos por pessoas cultas que falam sobre
o budismo, eles, muitas vezes de forma simpática, atribuem ao budismo uma crença
qualquer sobre alma ou reencarnação, o que não é budista.
O
ensinamento básico de Buda é anatman. Ou seja, o “a” é como em português (o
sânscrito é parente do português: é uma língua descendente do próprio hindo-europeu),
esse “a” é negação. Anatman significa sem alma, sem atman. Então, o ensinamento budista é, basicamente, que não existe dentro do homem, nem de nenhum ser, uma partícula
permanente, eterna, indivisível, que é ele mesmo e que independe do corpo, e que
transmigra de corpo para corpo, reencarna ou qualquer coisa que o valha. Este
não é o ensinamento de Buda. O ensinamento de Buda é que o carma é que
continua, ou seja, existe uma onda de energia no universo que nos manifesta e
que tem uma certa coesão e, portanto, quando nós morremos, essa onda continua e
se manifesta em outro ser que diz a si: "eu sou", e tem noção de uma identidade