De tempos em tempos, havia a tentativa de voltar ao deus superior. A primeira
talvez tenha sido a de Akhenaton, no Egito. Akhenaton seria o deus sol, deus único.
E isso aboliria os outros deuses inferiores.
A cada vez que se tentou
monoteísmo, tentou-se também a eliminação, digamos, dos concorrentes, os
concorrentes das outras tribos, os concorrentes locais, tentando uma espécie de
divindade universal.
O grande problema da divindade universal sempre foi o seguinte: se ela era
onipotente, onipresente, onisciente, se ela era tudo, como ela permitia o mal?
Uma opção seria que ela se comprazia com o mal também, mas ninguém optou por
isso de verdade. Optou-se, no lugar, por ideias de dualismo: a existência de um deus do
bem e um deus do mal, o encarregado do mal.
Essa ideia de dualismo muitas vezes
penetrou nas religiões monoteístas. Religiões dualistas a rigor eram o
zoroastrismo e o maniqueísmo que contemplavam a existência de deuses que lutavam
entre si - um do bem e um do mal. Houve ainda uma ideia interessante de Abraxas, um
deus que reunia em si mesmo o bem e o mal, que era o bem e o mal, mas não
sobreviveu. A opção que sobreviveu foi tentar justificar o grande deus do bem
com interferências ocasionais do mal, que, por algum motivo, ele não eliminava, e
desculpar o deus onipotente, o criador, através do mecanismo, por exemplo, do
livre arbítrio, dizendo que era o homem que realizava o mal.
Outra opção foi
dizer que o espírito era o bem e que a matéria teria sido criada pelo mal. Isso
sobreviveu mesmo no Cristianismo, nos seus primórdios, como com o bispo Orígenes,
que castrou a si mesmo para retirar do seu corpo o implante do mal. Houve
seitas na idade média que preconizavam isso: já que o mal está no corpo, nós
temos que eliminar esse mal, íncubo do demônio, que seria, neste caso, deus do
mundo.
(continua)